sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Como crerão se eu não creio?


Tem sido difícil falar de Jesus às pessoas. Elas não querem absolutos. Quando dizemos que sem ele a única rota é a da perdição eterna, somos tachados de radicais e intolerantes. Mas se abrimos mão de nossa fé, se nossa confiança for abalada pelos relativismos deste mundo, o que nos restará? Longe de mim querer com isso afirmar a salvação ou a perdição de alguém. Só creio que o meu salvador é bom. Minha salvação depende de minha confiança na capacidade do meu salvador em salvar. E ele é bom nisso, bom de verdade, essencial! De fato, não encontrei ninguém melhor do que ele para me salvar. Ou para salvar qualquer um. Isso devia ser tão simples quanto defender um time de futebol. Ninguém contesta sua preferência, mesmo quando não concorda com ela. Mas querem que eu diga que meu time é tão bom quanto qualquer outro. E isso, sinceramente, não posso, não quero, nem devo fazer. Se tenho o melhor de todos os técnicos, se creio completamente em suas estratégias e procuro obedecer a todas as suas instruções, por que razão deveria eu supor que outro time possa estar na mesma classificação que o meu? Não seria isso trair a confiança de meu técnico? Deixo para ele as perguntas difíceis. Meu papel é apenas confiar. E na limitação da minha fé, do meu pecado e da minha visão de mundo, entro no campo para ganhar. Não porque eu seja boa jogadora. Mas porque o técnico é o melhor que existe. Coloquei minha eternidade nas mãos dele. Se eu duvidar disso, por um segundo que seja, quem poderá garantir a salvação da minha alma?

Ainda vai levar um tempo...


Existe uma música popular que diz: "Ainda vai levar um tempo, pra fechar o que feriu por dentro. É natural que seja assim..." A sabedoria popular é correta. Sarar leva tempo. Quando a gente pensa que sarou, esbarra no machucado e ele sangra novamente. É hora de repor o band-aid, de repassar a pomada ou revisitar o doutor. É preciso tratar enquanto não sara de vez. De vez em quando, a trombada será mais forte e podemos chorar de novo a mesma ferida, quando ela abre, sangra e parece que nunca cicatrizará. Mas um dia, a gente acorda e estão lá apenas as cicatrizes. Elas nos mostram tudo por que passamos. Elas nos indicam que é impossível esquecer, porém, a marca é lembrança e não doerá novamente. As cicatrizes são a graça de Deus que nos mostram que a cura é possível. Quando uma ferida sangrar hoje, devo olhar para as cicatrizes que tenho e crer. Amanhã vai ser diferente... Ainda vai levar um tempo, mas esse tempo é kairós, é tempo de Deus. Sua cura virá, como o alvorecer da aurora, disse o profeta Isaías. A cura será resplandecente, brilhante como o sol. E ficaremos tão deslumbrados com ela que nem sentiremos quando o sol secar nossas lágrimas. Tudo depende de erguer o rosto para receber seu calor...

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

RAZÕES POR QUE NÃO GOSTO DA CRUZ


Dia desses, recebi um e-mail de uma pastora amiga, contando um episódio em que uma pessoa manifestava seu desafeto em relação à cruz, abominando-a como símbolo do Cristianismo. Em diversos altares de Igrejas, já se vê retratos de pastores e bispos, ou grandes propagandas das últimas campanhas, mas a cruz não está mais lá. Pasmados, alguns descobrem que existem cristãos que, de fato, não gostam da cruz. Eu também não gosto... Quem gostaria? E passo a explicar o porquê em razões sucintas, com fonte bíblica, para justificar meu desgosto.
1. Eu não gosto da cruz porque ela me mostra o custo do meu pecado. Sim, de fato, “Cristo morreu por nós, sendo nós ainda pecadores” (Rm 5.8). No mundo de hoje, ninguém mais gosta de ser chamado de pecador. Quero falar da ressurreição, mas bem que eu queria ignorar que, para acontecer tal vitória, houve antes um terrível preço...
2. Eu não gosto da cruz porque ela me exige compromisso: Gosto de ir e vir à igreja, mas é muito difícil assumir os votos feitos como membro da Igreja e, muito mais, os votos requeridos para ser um verdadeiro cristão (isso vai muito além dos deveres exigidos pela Igreja!). Estremeço só de pensar que Jesus disse: “E quem não toma a sua cruz, e não segue após mim, não é digno de mim” (Mt 10.38).
3. Eu não gosto da cruz porque ela me exige renúncia: Eu quero ser abençoado, ser feliz e ser cheio de dons e de poder. Essa idéia de esvaziar de si mesmo é muito contrária ao atual ‘mercado da fé’, que me diz que eu sou filho do ‘dono do ouro e da prata’. Esquecem alguns que nem sempre a gente herda o que é do pai somente por ser filho... É doído aos ouvidos o discurso severo de Jesus: “Se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz, e siga-me”. (Mc 8.34)
4. Eu não gosto da cruz porque ela requer minha separação do mundo: Todos os prazeres terrenos que sou incentivado a buscar todos os dias por meio das tentações e visões deste mundo são totalmente contrários ao espírito de renúncia da cruz! Não há meio-termo possível: “por meio dela o mundo está crucificado para mim e eu para o mundo” (Gl 6.14).
5. Eu não gosto da cruz porque ela indica que sofrerei perseguições: Ninguém gosta de sofrer, é ou não é? Na época de Paulo, muita gente queria seguir os rituais dos judeus (religião autorizada pelo Império Romano) e se circuncidava para parecer judeu e não cristão, evitando assim a perseguição. Hoje, também “todos os que querem ostentar boa aparência na carne (seguem modismos religiosos) somente para não serem perseguidos por causa da cruz de Cristo”(Gl 6.12).
6. Eu não gosto da cruz porque ela exige que eu pregue o Evangelho: A cruz exige que eu anuncie... Na ceia, eu devo “anunciar a morte do Senhor até que ele venha” (1 Co 11) - anunciar sua morte é o mesmo que falar da cruz! Mas vai além! “Porque Cristo (...) me enviou para (...) para pregar o evangelho; não em sabedoria de palavras, para não se tornar vã a cruz de Cristo (1Co 1.17). Se eu não anuncio o Evangelho, torno a cruz vã... Que peso!
7. Eu não gosto da cruz porque ela exige que eu imite a Cristo na obediência: Ao olhar a cruz, não posso jamais ignorar a humildade que marcou a vida de Jesus. E como sou chamado a imitá-lo, me sinto sem escapatória, pois ele,” achado na forma de homem, humilhou-se a si mesmo, tornando-se obediente até a morte, e morte de cruz” (Fp 2.8). O apósto Paulo ainda diz que chegar à ressurreição, considerou as outras coisas como perda, “para conhecê-lo, e o poder da sua ressurreição e a e a participação dos seus sofrimentos, conformando-me a ele na sua morte” (Fp 3.10). Não tem jeito de conhecer a ressurreição sem encarar a cruz...
O problema é que tudo isso mostra uma única verdade: se eu não gosto da cruz, é porque ainda não sou um convertido, “porque muitos há (...), e agora vos digo até chorando, que são inimigos da cruz de Cristo” (Fp.18) e se eu sou inimigo da cruz é porque “a palavra da cruz é deveras loucura para os que perecem” (1Co 1.18). Se eu tão somente me converter, amarei a cruz, pois descobrirei, enfim, que ela me reconcilia com Deus (Ef 2.16; Cl 1.20), que por ela minha dívida foi paga (Cl 2.14); que o diabo e as potestades foram na cruz envergonhados (Ef 2.16); porque por meio da cruz fui feito nova criatura (Gl 6.15); por ela fui resgatado da maldição da lei (Gl 3.13) e, por fim, “levando ele mesmo os nossos pecados em seu corpo sobre o madeiro, para que mortos para os pecados, pudéssemos viver para a justiça; e pelas suas feridas fostes sarados” (1Pe 2.24). Isto posto: como não pasmar ante a cruz? Sim, "quero estar ao pé da cruz, que tão rica fonte corre franca, salutar, de Sião, no monte"...

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

As tentações do sofrimento (Revista Ultimato)

O homem está sujeito a inúmeras tentações: tentações do egoísmo, tentações do ódio, tentações do orgulho, tentações do dinheiro, tentações da lascívia e assim por diante. Mas ninguém se lembra das tentações do sofrimento. Elas também existem. Quando mal enfrentado, o sofrimento pode levar ao álcool, às drogas, ao desespero, à apostasia, à descrença e ao suicídio. “O sofrimento sempre significa tentação e até o homem piedoso está sujeito a se revoltar passageiramente contra Deus”, avisa o teólogo alemão Josef Scharbert. Em seu livro O Problema do Sofrimento, C. S. Lewis explica que “o sofrimento como o megafone de Deus é um instrumento terrível, podendo levar à rebelião final, que não dá lugar ao arrependimento”.

Este artigo pretende nomear e analisar as tentações do sofrimento.


A tentação da apatia

A apatia é uma das conseqüências da frustração. É ausência de sentimento e de resposta aos apelos emocionais. Algo como indiferença, desinteresse e entorpecimento emocional.

Não se pode confundir resignação com apatia. Resignação é virtude e refere-se à submissão paciente aos sofrimentos da vida. Jó suportou seus infortúnios e não “atribuiu a Deus falta alguma” (Jó 1.22), mas não foi apático. Ele amaldiçoou o processo todo de seu nascimento, da concepção ao parto, e terminou com o clamor: “Não tenho descanso, nem sossego, nem repouso, e já me vem grande perturbação” (Jó 3.26). Jesus chorou em público, frente à dor causada pela morte de Lázaro (Jo 11.35) e não escondeu dos discípulos a sua reação ante o sofrimento do Getsêmani: “A minha alma está profundamente triste até à morte” (Mt 26.38).

A apatia não ajuda nada. É quase sempre uma mentira mental a uma porta aberta ao fatalismo, aquela atitude que desencoraja qualquer resistência ao sofrimento. O fatalista diz com muita simplicidade e pressa: “É como Deus quer”.



A tentação da autoflagelação

A autoflagelação tem a sua gênese na infeliz associação entre o sofrimento e o misticismo. O raciocínio é este: como a dor em alguns casos alimenta a religiosidade, ela é boa e atraente. Pendem para este comportamento aqueles que acreditam que a salvação é pelas obras e não pela graça de Deus. A pessoa se acostuma com a dor, passa a gostar dela e se aproveita dela para chamar a atenção e os cuidados dos outros. É algo doentio. Alguém observou que “quando não temos uma cruz pesada para suportar nós a fabricamos com dois palitos”. Mas é C. S. Lewis quem denuncia: “Em todo o reino da medicina não existe nada mais terrível de contemplar do que um indivíduo com melancolia crônica”.

Na declaração de Paulo — “sinto prazer nas fraquezas, nas injúrias, nas necessidades, nas perseguições, nas angústias, por amor de Cristo” (2 Co 12.10) — não há nenhuma idéia de autoflagelação. O prazer não está no sofrimento, mas naquilo que o sofrimento produzia: maior dependência de Deus e melhor apropriação dos recursos provenientes de Deus. O contexto mostra que o apóstolo lutou o quanto pôde contra o espinho na carne. Aceitou-o como uma imposição de Deus com fins benéficos.



A tentação da superindagação

A preocupação com a causa do sofrimento é até certo ponto justa e sadia. Tem enchido páginas e páginas de muitos livros, desde os tempos mais remotos. É o assunto do livro de Jó, no Velho Testamento. O grande problema é que o homem tem errado muito na tentativa de descobrir a razão do sofrimento. Ele apresenta respostas simples demais, embora o problema seja complexo demais. Às vezes gasta mais tempo com a análise do sofrimento do que com a solução dele. Com freqüência esta superindagação toma ares altivos e desrespeitosos para com Deus.

Naturalmente há algumas possíveis respostas, mas não para todos os casos de dor. O sofrimento pode ter como causa muitos fatores simplesmente humanos e removíveis, como, por exemplo, a imprevidência, a indolência, o vício, a estrutura injusta e o mais citado de todos: o pecado. O rabino Harold S. Kushner, autor do livro Quando Coisas Ruins Acontecem às Pessoas Boas, lembra que o “Holocausto aconteceu porque milhares de pessoas foram persuadidas a juntar-se a Hitler em sua loucura, e milhões de outras pessoas deixaram-se amedrontar, sendo induzidas a cooperarem”.

Todavia é necessário que não se atribua ao pecado próprio e ao pecado alheio toda a razão do sofrimento. A Bíblia não nos permite pensar assim. O livro de Jó conta que Elifaz, Bildade e Zofar estavam tremendamente enganados quando atribuíram o sofrimento do homem da terra de Uz a alguma iniqüidade daquele que Deus declarou ser íntegro e reto (Jó 1.1). Quando os discípulos viram o cego de nascença, perguntaram a Jesus: “Quem pecou, este ou seus pais, para que nascesse cego?” A resposta foi contundente: “Nem ele pecou, nem seus pais; mas foi para que se manifestem nele as obras de Deus” (Jo 9.1-3). Em outra ocasião, Jesus corroborou este mesmo pensamento, afirmando que os galileus, cujo sangue Pilatos misturara com os sacrifícios que realizavam, e os dezoito sobre os quais desabou a torre de Siloé, não eram mais pecadores ou culpados do que todos os outros (Lc 13.1-5).

A tetraplégica Joni Eareckson Tada, que experimentou tremendo sofrimento, sugere uma atitude muito sábia: “Quando as peças do quebra-cabeça não se encaixam, deixemos que Deus seja Deus”. Essa reação acertada acaba com a tentação da superindagação.



A tentação da exageração

É muito fácil dramatizar. É muito fácil espalhar a dor por todo o corpo, quando apenas o joelho está doendo. É muito fácil esticar a dor de ontem para hoje e a de hoje para amanhã, quando ela já passou ou já diminuiu de intensidade. É muito fácil exagerar o tamanho e o tempo do sofrimento. É muito fácil fazer coleção de dores e de doenças. É muito fácil esquecer o precioso recado do salmista: “Ao anoitecer pode vir o choro, mas a alegria vem pela manhã” (Sl 30.5).

O povo de Israel várias vezes caiu nessa tentação de exagerar o sofrimento. Os espias exageraram a altura e o número dos gigantes da terra de Canaã: “Perto deles nós nos sentíamos tão pequenos como gafanhotos” (Nm 13.32-33). Até Elias exagerou a situação de apostasia na época do reinado de Acabe e Jezabel, quando disse que só ele havia permanecido fiel diante de Deus, embora houvesse mais sete mil que não dobraram a Baal os seus joelhos (1 Rs 19.14-18).

Um dos exageros que cometemos hoje gira em torno da atuação satânica. Estamos enriquecendo o currículo de Satanás, atribuindo-lhe poderes e proezas que ele não tem. Esse expediente torna a nossa caminhada cristã mais agitada e mais difícil. O já citado C. S. Lewis diz que “não devemos tornar o problema do sofrimento pior do que já é, falando vagamente de uma soma inconcebível de miséria humana”.

Para vencer essa tentação bastante comum é necessário ter em mente que Deus controla o número, a freqüência e a intensidade da dor, como se vê claramente no livro de Jó e na declaração de Paulo de que Deus não permitirá que sejamos tentados além das nossas forças (1 Co 10.12).



A tentação da fixação

Há pessoas que recusam qualquer alívio. É o caso de Jacó, cujo filho José fora dado como morto. Todos os seus filhos e filhas levantaram-se para o consolar, mas o patriarca não quis ser consolado: “Chorando, descerei a meu filho até à sepultura” (Gn 37.35). Essa tentação é muito comum.

A fixação fecha a porta ao alívio e dispensa o consolo que o passar do tempo produz. Pode provocar traumas, que mais tarde provocarão sofrimento maior. As vítimas da fixação da dor acreditam que a não fixação é um desrespeito à memória do morto. Conservam intactos o quarto e os pertences do ente querido que partiu. Criam um ambiente mórbido. Param no tempo. Entregam-se à dor e não esboçam a menor reação.

Não foi assim que Davi se comportou quando soube da morte do filho recém-nascido, por cuja cura orou com intensidade. Ele encerrou definitivamente o assunto da morte da criancinha e explicou aos seus amigos surpresos: “Enquanto o menino estava vivo, eu jejuei e chorei porque o Deus Eterno poderia ter pena de mim e não deixar que ele morresse. Mas agora que ele está morto, por que jejuar? Será que eu poderia fazê-lo viver novamente? Um dia eu irei para o lugar onde ele está, porém ele nunca voltará para mim” (2 Sm 12.22-23, BLH). O rei não fez cara triste nem ficou zangado com Deus. Ao contrário, facilitou e apressou o processo da superação da dor e readaptou-se à realidade, retornando rapidamente às atividades normais.

Para o nosso próprio bem e dos que nos cercam, não devemos nos amarrar à dor, afastando de vez o necessário alívio.



A tentação da amargura

Amargura não é só tristeza. É muito mais do que tristeza. É a infeliz mistura do sofrimento com o ressentimento e seus associados: decepção, ódio, ira e agressividade. O coração amargurado é tão desagradável e nocivo que a Palavra de Deus declara: “Não haja em vós alguma raiz de amargura que, brotando, vos perturbe e, por meio dela, muitos sejam contaminados” (Hb 12.15).

Quando Esaú se viu enganado por seu irmão Jacó a respeito da bênção da primogenitura, ele bradou com profundo amargor: “Abençoa-me também a mim, meu pai!” (Gn 27.34). O contexto revela que Esaú estava tomado de tristeza e de ira. Foi nesse dia que ele passou a odiar Jacó e resolveu matá-lo em ocasião oportuna. O sofrimento fica muito mais pesado se for associado à amargura. O escritor francês Alphonse Lamartine dizia que “tudo cresce e se renova, menos a vida do homem quando se gasta em amarguras”.

Quando a amargura é contra Deus, então o problema torna-se muito mais sério e perigoso. A esse respeito é oportuno lembrar a declaração de um sobrevivente do Holocausto: “Enquanto eu fui um dos habitantes de Auschwitz, nunca me ocorreu questionar o que Deus fez ou deixou de fazer. Nunca fiquei mais ou menos religioso com o que os nazistas nos faziam. Nunca acreditei que a minha fé em Deus fosse minada em suas bases. Nunca me ocorreu associar a calamidade que estávamos experimentando a Deus, censurá-lo, acreditar menos ou deixar de crer nele de todo, só porque Ele não vinha em nosso socorro”.

O conselho de Paulo é mais do que oportuno: “Abandonem toda amargura, ódio e raiva” (Ef 4.31, BLH).


A tentação da apostasia

A maior tentação do sofrimento é a perda dos padrões de fé e comportamento. Por causa da dor uma pessoa pode se desencaminhar moral e religiosamente, entregando-se ao álcool, às drogas, às orgias sexuais, à violência, ao crime e ao desregramento total. Não é à toa que o enorme abuso de drogas coincide com os sérios problemas do mundo de hoje. O raciocínio é simples: Deus falhou, deixando-nos sofrer, logo, também não temos compromisso com Ele.

Pior que a perda de padrões de comportamento, certamente é a perda dos padrões de fé. Nesta área duas coisas podem acontecer: o abandono do evangelho e o abandono de Deus. No primeiro caso, abandona-se a fé cristã e adere-se à outra doutrina, contrária à Palavra de Deus, como, por exemplo, ao espiritismo, que apresenta uma explicação ou teoria sobre o sofrimento humano, cujo fundamento dispensa a pessoa e a obra de Cristo. No segundo caso, abandona-se o próprio Deus e parte-se para a completa descrença: Deus não existe. No primeiro caso, comete-se mais propriamente uma heresia, que é a negação ou rejeição voluntária de uma ou mais afirmações da fé bíblica. No segundo caso, comete-se mais propriamente uma apostasia, que é o abandono total da fé bíblica.

Naturalmente esse processo é, às vezes, vagaroso. Começa com um sentimento de decepção com Deus e de revolta contra Ele. Em seguida surgem dúvidas cruciantes sobre o amor, o poder e a justiça de Deus. Nessa altura, o sofredor assenta-se na cadeira do juiz e coloca Deus no banco dos réus. Se as dúvidas não forem superadas, então o que vai restar é o completo abandono de Deus, uma espécie de suicídio espiritual.

Não obstante as muitas e variadas tentações do sofrimento, há uma série enorme de benefícios causados por ele. O rabino Joseph B. Soloveitchik lembra que “o sofrimento serve para enobrecer o homem, para eliminar de sua mente o orgulho e a superficialidade, para ampliar seus horizontes e reparar os defeitos de personalidade”. Já o teólogo luterano Erhard S. Gerstenberger, em seu livro Por que sofrer?, ensina que os sofrimentos querem que a atenção do sofredor seja voltada de si para Deus e do presente para o futuro, para a plenitude da salvação. Para C. S. Lewis, “o efeito redentor do sofrimento jaz principalmente em sua tendência a reduzir a vontade rebelde”. Sendo assim, é preciso vencer todas as tentações do sofrimento, com o auxílio daquele que exclamou: “No mundo vocês vão sofrer, mas tenham coragem. Eu venci o mundo.” (Jo 16.33, BLH).

O povo do coração aquecido

“O justo viverá pela fé” (Romanos 1:17, Habacuque 2:4, Gálatas 3:11, Hebreus 10.38) Uma experiência de mais de um dia John Wesley era um jov...