quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

Encontro, desencontro, reencontro

(Reflexão de renovação de votos de Giovanni e Simone)

O amor é feito de altos e baixos, encontros e desencontros. Pessoas que se amam se encontram. Pessoas que deixam de se amar ou que sofrem revezes no amor, podem se desencontrar. Mas felizes são aqueles e aquelas que encontram o caminho do reencontro. Que podem recomeçar, refazer, reconstruir.
O livro de Cantares fala de um casal que passou por esses três momentos em sua trajetória. Outro dia, sentados na mesa em conversas teológicas, Moisés Coppe e eu falávamos desse livro. Ele me contou ter lido uma teoria de um autor, do qual não me lembro o nome, para quem o livro de Cantares falava de um possível triângulo amoroso. A camponesa, o jardineiro e o rei. O jardineiro que amava a camponesa, que foi levada pelo rei para o palácio. Lá, entre outras concubinas, ela deseja reencontrar seu amado. Ele chamava da porta, mas ela se recusava a atendê-lo, dando desculpas como a roupa trocada ou os pés descalços. Talvez porque temesse o castigo do rei, talvez para proteger o amor. Às vezes tentamos proteger nosso amor e acabamos nos desencontrando dele. Assim foi com a moça. Depois que resolveu se levantar e abrir a porta, o amado não estava lá.
O desencontro do amor faz sofrer. Ela vai pela cidade atrás dele, chorando. Os guardas a veem. Quem não ama ou não entende o amor pode não compreender. Os guardas não entendem. Para eles, uma mulher sozinha à noite ou é ladra ou é prostituta. Eles a batem, a ferem. Ela volta sozinha para casa, machucada. Quer recusar o amor porque ele faz sofrer: "Não acordeis nem desperteis o amor".
Mas o amor, uma vez despertado, às vezes adoece: "Se encontrardes o meu amado, que lhe direis? Que desfaleço de amor". O desencontro amargura e entristece: "Eu sou do meu amado e ele tem saudades de mim".
Mas o reencontro acontece. Se o rei percebe que não adianta deter a jovem, que seu coração é do jardineiro, aquele que "apascenta entre os lírios"; ou se ela foge pra ficar com ele, no estilo judaico de ser shakespeareano, não sei, Deus o sabe. Mas o amado faz um convite: "Já passou a chuva e se foi. Chega o tempo de aparecerem as flores na terra. Vamos, minha amada".
E por fim, ele faz um pedido para que o reencontro não seja passageiro como o encontro e o desencontro: "Coloca-me como um selo sobre o seu coração".
Houve na história daquele casal, pobre mas apaixonado, uma busca constante pelo outro. O encontro pode ser por acaso, o desencontro pode ser por descuido, mas o reencontro tem que ser consciente. Para ele, é preciso maturidade. É preciso que a relação no reencontro seja selada, isto é, posta em garantia. Um selo sobre o coração é coisa de vida ou morte. É definitivo. O reencontro requer mais investimento que o encontro e mais perdão do que o desencontro. É o reencontro que hoje celebramos.
Oramos a Deus para que na vida de vocês este novo estado de vida seja como a imagem final que temos daquele casal: "Quem é aquela moça que sobe do deserto e vem abraçada ao seu amado?" Talvez vocês tenham passado por um deserto para chegar até aqui, mas o momento agora é de subida, de reconstrução.
Que o abraço e o afeto sejam as marcas perenes deste reencontro, selado não apenas no coração de vocês dois, mas no coração da comunidade que celebra junto com vocês e selado no coração de Deus.

O povo do coração aquecido

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