Atos 2:1 Ao cumprir-se o dia de Pentecostes, estavam todos reunidos no mesmo lugar.
Atos 2:4 E todos
ficaram cheios do Espírito Santo, e começaram
a falar noutras línguas, conforme o Espírito lhes concedia que falassem.
Atos 2:6 Ouvindo-se, pois, aquele ruído, ajuntou-se a multidão;
e estava confusa, porque cada um os
ouvia falar na sua própria língua.
Atos 2:8 Como é,
pois, que os ouvimos falar cada um na própria língua em que nascemos?
Atos 2:11 cretenses e árabes - ouvimo-los em nossas línguas
falar das grandezas de Deus.
Temos recebido de Deus uma
vocação e um chamado missionários. Se é melhor dar do que receber, como dizem
as Escrituras, tal vocação e tal chamado constituem um ponto de partida.
Recebemos, então é preciso dar. O oferecimento de nós mesmos/as a Deus e ao
mundo é uma profunda negação de nossos instintos humanos. Somos seres egoístas,
que tendem a fechar-se em si mesmos. Por isso, o Espírito Santo precisa vir
sobre nós. Os discípulos e discípulas estavam reunidos no mesmo lugar, com as
portas fechadas. Por terem medo do que estava lá fora, sentiam-se em segurança
em seu lugar especial. Mas não recebemos um chamado a estar no mesmo lugar, mas
a estar em todos os lugares. Há algumas deduções que o texto de Atos nos permite,
ponderações que imagino serem úteis para nos sentirmos fortalecidos e
fortalecidas pelo Espírito em nosso ministério leigo e clérigo:
1. Quando o Espírito age, as portas são
abertas: Sentir-se fortalecido/a pelo Espírito é perceber a necessidade
missionária como expansão. Expandir significa, em termos bíblicos, “sair da
tenda”, “pôr-se a caminho”, “alargar as estacas”, “abrir a boca para que Deus
lha encha”. Quando o Espírito Santo veio, as portas do esconderijo dos
discípulos e discípulas teve de ser aberta, para que a proclamação pudesse ser
ouvida pelo povo que estava na cidade. Precisamos abrir caminhos, tanto em
termos missionários quanto em relação a nós mesmos, nossos conceitos, nossos
limites, nossas incapacidades, nossas desculpas. A ação do Espírito não pode
encontrar em nós, agentes do Reino, portas fechadas. Começando a abrir-nos a
nós mesmos/as, o Espírito também abrirá as portas nas quais a missão pode se
encontrar presa em nossa vida, igreja e ministério.
2. Quando o Espírito age, as pessoas se sentem
cheias: Recebemos um chamado de Deus a encher as pessoas. Elas se encontram
vazias de esperanças, vazias de perspectivas, vazias de sonhos, vazias de
salvação. Elas precisam de um conhecimento que salve, nos termos do profeta
Oseias. Elas precisam de uma doutrina que as santifique. Precisam de uma
adoração que as inspire a “ouvir as maravilhas de Deus”. O Espírito, como dá a
entender a palavra em grego, é como um vento, uma propulsão, uma dinâmica que
permite avanço... Ser uma pessoa cheia do Espírito é ser motivada, despertada.
Ao encher-se do Espírito, somos, como os discípulos, capacitados e capacitadas
a falar das coisas de Deus. Isso tem a ver com nossa motivação. Se olharmos as
circunstâncias, nos fechamos. Se Deus nos move, por meio do Espírito, temos
condições de falar. Não podemos dar o que não temos. Cumpre-nos encher-nos,
para que possamos encher os demais. Isso também significa que algo precisa ser
jogado fora, para dar lugar ao agir do Espírito. Os discípulos tiveram que
abrir mão do medo e da autopreservação para se tornarem cheios do Espírito.
3. Quando o Espírito age, as pessoas se
reconhecem como são, resgatam sua história e sua humanidade: é maravilhoso
que, ao “ouvir as maravilhas de Deus”, as pessoas começam a reconhecer-se na
pregação. A ver a si mesmas, refletidas no que ouvem: “estamos ouvindo em nossa
língua materna”... “somos pessoas deste ou daquele lugar”, mas nos
identificamos. Muitas pregações hoje falam a pessoas que não existem, que não
conseguimos ver... Pessoas idealizadas demais ou inalcançáveis nos abismos nos
quais as colocamos. Estamos errados nisso. Precisamos retornar, cada vez, a uma
mensagem que tenha sentido para quem ouve. Este é o valor da experiência, do
testemunho. As experiências da vida falam à nossa humanidade, independente do
idioma que se diz. Mães que sofrem por seus filhos; pessoas que sofrem perdas,
traumas e dores; gente que perdeu tudo e precisa recomeçar... A história da
vida da gente faz grande sentido para nós. É quem somos... por isso, quando o
Espírito age, nós nos reconhecemos e, por isso, nos irmanamos, nos aproximamos,
jogamos por terra as barreiras. Porque nossa história se enche de significado.
Não é por isso que um dos dogmas maiores da Igreja é a encarnação? A quem você
pode contar hoje, do seu jeito, na sua maneira de falar, sobre as maravilhas
que Deus tem feito em sua vida?
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