quarta-feira, 12 de setembro de 2007

Herdeiros da Reforma

John Wesley era um jovem pastor anglicano, que queria mudar a si mesmo. Ele se perguntava pela verdadeira fé, que não tinha; pela verdadeira confiança, que nunca demonstrara. Em busca de respostas, ele viajou para a América, entrevistou-se com morávios, judeus, espanhóis. Leu pietistas, aprendeu a arte do bem viver e do bem morrer, estudou a Bíblia, defrontou-se com pregadores leigos. Wesley dizia: “Eu quero amar a Deus, mas não o amo. Quero ser um bom cristão, mas não o sou.” Peter Bohler, um morávio, até escreveu em seu diário que a vantagem que Wesley lhe demonstrou é que ele era sincero.
Então, um dia, ele foi de má-vontade a uma reunião na Rua Aldersgate. E lá, ele ouviu alguém ler o que Lutero escreveu, como Prefácio à Epístola de Paulo aos Romanos. Entre outras palavras de Lutero, Wesley ouviu:
“Fé não é aquela ilusão humana e sonho que algumas pessoas pensam que é. Quando elas ouvem e falam muito sobre a fé e ainda vêem que nenhum progresso moral e nenhumas boas obras resultam disso, elas caem no erro e dizem: "Fé não é tudo. Você deve fazer obras, se quer ser virtuoso e ir ao céu". O resultado é que, quando elas ouvem o Evangelho, tropeçam e fazem para si mesmas, com suas próprias forças, um conceito em seus corações que diz: "Eu creio". Este conceito, pensam ser fé verdadeira. Mas desde que isso é uma fabricação humana e pensamento e não uma experiência do coração. Isso não sucede em nada, e então segue-se nenhum progresso.
Fé é um trabalho de Deus em nós, o qual nos muda e nos traz a nascer um novo, proveniente de Deus (cf João 1). Ela mata o velho Adão, nos faz pessoas completamente diferentes no coração, pensamento, sentido, e todas nossas forças. E traz o Espírito Santo com ela. Como é viva, criativa, ativa, cheia de poder, a fé! É impossível que a fé em alguma ocasião faça parar o fazer bem. A fé não pergunta se boas obras estão para serem feitas. Ao contrário, antes que ela seja questionada, já as fez. Ela está sempre ativa. Seja quem for que não faça tais obras está sem fé; ele anda se apalpando e se examinando em busca de fé e boas obras, mas não sabe o que a fé ou boas obras são. Mesmo assim, tagarela com muitas palavras sobre fé e boas obras.
A fé é uma confiança viva, inabalável na graça de Deus; é tão certa, que alguém poderia morrer mil vezes por ela. Esse tipo de confiança e conhecimento da graça de Deus faz uma pessoa cheia de alegria, confiante e feliz, com consideração a Deus e a todas criaturas. Isso é o que o Espírito Santo faz pela fé. Por meio da fé, uma pessoa fará bem a todos sem uso de força, espontânea e alegremente. Servirá a todos, sofrerá tudo pelo amor e louvor a Deus, o qual lhe tem mostrado tal graça. É tão impossível separar obras da fé como separar as chamas do brilho do fogo.” (trecho do Prefácio de Lutero à Epístola aos Romanos)
Então Wesley entendeu que estivera o tempo todo buscando em si mesmo algo que só Deus tinha a oferecer. E mais: que Deus estava diante dele, com os dedos abertos, deixando escorrer por entre eles um rio de graça e amor sem fim. Foi então que Wesley creu, e num minuto ele e Lutero superaram a barreira de tempo e espaço que os separava, e fizeram-se irmãos na descoberta de um Deus que é amor. Foi então que Wesley confiou. E porque ele creu, e porque pregou, e porque testemunhou e repartiu o calor de seu coração com todos a quem viu, é que nós também nos tornamos herdeiros da reforma.

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