quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Mutações (um poema antigo, do baú dos meus arquivos)





É verdade: não nascemos prontos,
nem prontos morremos.
Somos seres em permanente mutação.
Corpos, mentes e corações que nascem, crescem
e nunca páram de se alterar.
Mudamos a cor dos olhos e o jeito de ver a vida;
                 a cor dos cabelos e a forma de sonhar.
Ganhamos rugas e mágoas, cicatrizes e realizações...
Somos humanos porque somos mutantes.
E por assim sermos, somos infinitos, ainda que morramos.
Porque morremos e viramos lembrança.
É apenas a lembrança que pode nos fazer imutáveis:
nela, quase todos tornamo-nos perfeitos, porque idealizados.
E é a nossa última forma de mutação:
revestidos do amor e da saudade dos que nos acalentam,
assumimos novos corpos, novos jeitos
e passamos a habitar nas conversas sentidas,
                                   nas noites solitárias,
                                  nas fotos antigas.
Somos mutantes infinitos mesmo quando não há lembrança.
Porque até o nada tem sua forma de ser.
É verdade: não nascemos prontos e nem prontos morremos:
Somos seres em permanente mutação.
É por isso que jamais nos conheceremos inteiramente.
Por isso reagimos de modos tão surpreendentes à vida.
Por isso choramos e rimos, desistimos e resistimos.
Por isso sempre queremos algo mais.
É que há um sopro de Deus dentro de nós e é fascinante,
um Deus que é sempre o mesmo e faz sempre o novo.

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