segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Denúncia

VERA MATTOS escreve : "O BANHO DE SANGUE EM SALVADOR ATINGE A TODAS AS MULHERES" Salvador vive um dos momentos mais trágicos de sua história. O que parece simples constatação, estatística e números transforma em banal o que é doloroso, vergonhoso, vil. Corajosamente, a Tribuna da Bahia vem publicando uma série de matérias sobre a matança que está sendo realizada em Salvador. Contrariando diversos interesses, o jornal vem publicando em seu dia a dia matérias sobre a barbárie que acontece dentro da capital da alegria, da felicidade, do ?sorria você está na Bahia?. Estamos na Semana Internacional da Mulher e uma série de acontecimentos festivos surge para que possamos avaliar os avanços. De novo eu pergunto: comemoramos o que? O banho de sangue em Salvador? A matança de jovens negros? Em uma das fotos publicada pela Tribuna já não me chama mais a atenção os corpos cobertos apenas por sungas. Há um detalhe mais cruel: os três jovens estão de braços atados por uma espécie de lacre plástico . Ou seja, a execução se deu após terem suas roupas retiradas, e os braços colocados para trás, e somente depois executados. A execução destes jovens é de uma violência que clama uma denúncia maior. Se eles são ou não integrantes do tráfico, se são ladrões, assassinos eu não sei. Sei apenas que a Bahia retrocede e envergonha o Brasil. Envergonha a América do Sul. É uma guerra urbana que se desenvolve aqui. Estes homens que morrem diariamente têm mães, tem mulheres, tem filhos. Então, como comemorar o Dia Internacional da Mulher? As mães, mulheres e filhas destes assassinados pela sociedade por acaso não são mulheres? Levantei esta questão por diversas vezes em reuniões com representantes e lideranças femininas. Que tipo de assistência presta o Estado a estas mulheres? Que órgão do governo procura saber da origem desses rapazes, quem leva atendimento psicológico, cesta básica, medicamentos, e uma palavra qualquer a estas famílias? É a marginalização absoluta. Chega doer a expressão ?pertence ao tráfico? E por isto o grupo de extermínio mata. Ministério Público deve avançar a passos largos para tentar conter esta matança. O que se passa na Bahia não é mais caso para governo do estado e para a presidência da República. A dureza e a cara da morte banalizada como ?assepsia social? fere a todos os princípios e a todos os direitos. Provem que eles pertencem ao tráfico. Provem que existe grupo de extermínio e informem a origem. Não podemos viver em uma sociedade que tolera que os seus valores sejam colocados vergonhosamente em praça pública. Jovens não podem ser abatidos desta forma. A sociedade baiana precisa ir às ruas, precisa se mobilizar. Um jornal e alguns programas locais não podem fazer sozinhos esta empreitada. A sociedade tem que denunciar internacionalmente os episódios que aqui se desenvolvem. O medo ronda a cidade, Se está em casa, existe medo. Se está no carro, existe medo. Se está no ônibus, existe medo. Falar pode ser proibitivo. Calar e consentir é a grande saída para a maioria das pessoas. Não. Não a indiferença. Não ao descaso. Não a vergonha de ser baiana e brasileira. Esta terra está sendo banhada pelo sangue jovem e pela sanha criminosa de justiceiros. Assepsia social? Os jovens negros e pobres querem ter o que os jovens brancos e de classe média possuem? O que é isto minha gente!!! Que vergonha é esta? Onde está a força do povo baiano? Onde está a força de quem construiu o Dois de Julho? Onde estão as forças do Caboclo e da Cabocla? Mães que perderam seus filhos, Mulheres que estão perdendo seus companheiros, Filhas que perderam seus pais. Viúvas adolescentes. Este é o drama que envergonha Salvador. Não podemos viver em uma sociedade em que estes valores parecem não sensibilizar a sociedade. Isto talvez seja mais podre ainda do que o grupo de extermínio. Eu, pessoalmente, tenho grande orgulho de ter iniciado a minha vida jornalística na Tribuna da Bahia. Ao companheiro Josalto Alves posso dizer sobre sua árdua missão. Experiência, capacidade e excelência em jornalismo você tem. Experiência em segurança pública você adquiriu ao longo de uma história iniciada em momentos terríveis da ditadura. Louvo Walter Pinheiro e Paulo Roberto Sampaio pela dedicação ao tema. E nos prontificamos para em conjunto com a Tribuna da Bahia honrarmos os compromissos éticos, o respeito a Constituição e, sobretudo, buscando a revalorização da vida. Vera Mattos Jornalista Postado no blog por Vera Mattos às Sexta-feira, Março 07, 2008

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