sexta-feira, 29 de abril de 2011

A fé e o medo (Salmo 27)


O comentarista Arthur Weiser (WEISER, 1994, p. 177) diz que este salmo é composto por duas partes (1-6 e 7-14), que são dois vigorosos hinos: um fala da confiança em Deus e o outro consiste na lamentação de um homem necessitado de ajuda num momento de grande tribulação. Estes dois cânticos teriam sido unidos num só salmo porque trazem algumas expressões similares. Eu gostaria, portanto, de meditar com você acerca da primeira parte, dos versos 1-6. A estrutura do texto é muito simples: os primeiros três versículos falam da confiança em Deus de forma contundente e os versículos 4-6 ressaltam o desejo do salmista por intimidade para com Deus.
Fé: luz e proteção
O incompreendido Kierkegaard dizia que a “fé é um salto no escuro”. Ele dizia isso porque entendia que a fé, quando totalmente explicada e definida, não é fé. A objetividade anseia a tudo entender, mas se sabemos tudo sobre Deus, Ele deixa de ser Deus, o totalmente outro, o incompreensível, o transcendental. Como não podemos entendê-Lo ou explicá-Lo, temos de aceitar a subjetividade e acolhê-Lo por fé. Este é o salto no escuro. Significa que não há garantias, embora muita gente gostaria de tê-las. E, ingênua e equivocadamente, paga por elas, por meio de indulgências antigas e modernas, penitências antigas e modernas, escambo cristão pós-moderno, etc. (Quem lê, entenda!)
O salmista afirma que não sente medo de nada e de ninguém porque Deus é a sua luz, sua salvação e a fortaleza de sua vida. Podemos estabelecer uma interessante relação entre estas três figuras e a definição de fé de Kierkegaard. A fé cristã pode ser um salto no escuro porque seu objeto é a própria luz! Sim, se Deus é a luz, acabou-se o motivo para o medo ocasionado pela escuridão, diz o salmista.
Luz e trevas
A oposição entre luz e trevas é uma das mais exploradas no universo bíblico. Há uma grande variedade de textos que citam esta oposição, comparando a luz a Deus, a Cristo (Jo 8.12) e aos próprios cristãos (Mt 5.14). A luz é a fonte da vida, do bem, da justiça (Jo 1). As trevas simbolizam o estado de vida sem Deus, uma condição de perdição e falta de direção (Is 9.1). Já no princípio, segundo Gênesis, Deus fez separação entre a luz e as trevas e viu que a luz era boa (Gn 1).
A necessidade humana por segurança nos levou a produzir milhares de possibilidades de gerar luz, desde a mais simples fogueira nas cavernas aos sistemas sofisticados de iluminação encontrados em estádios, prédios, etc. Tudo para não ficar no escuro, o lugar da insegurança, da inaptidão. Mas o problema é que as luzes exteriores não eliminam as trevas que podem existir dentro de nós: temores, ansiedades, problemas não resolvidos, falta de Deus. O salmista demonstra uma admirável confiança, que é fruto de sua relação com Deus. Ele a expressa em termos de luz versus medo. O Senhor é a minha luz – minha iluminação, a fonte da minha segurança. Assim sendo, que razão há para ter medo? Que escuridão pode resistir a esta luz tão intensa, confiável e perene?
Em Mateus 6.22-23, Jesus diz que os olhos são a luz do corpo. Não apenas a forma como olhamos, mas para que olhamos e de que maneiras projetamos nosso olhar, podemos trazer luz ou trevas para dentro de nós. Isso pode gerar fé ou medo. E as trevas estão dentro de nós, que grandes elas serão! Tomarão conta de nosso ser e nos levarão à imobilidade e à morte espirituais!
Sabedor desta realidade, o salmista nos diz porque a luz está em seu interior e ele mantém sua confiança em Deus. Ele faz isso porque contempla a beleza do Senhor e medita no seu templo (v.4). Ele coloca seu olhar sobre as coisas de Deus, pois contemplar não é simplesmente olhar, mas investir tempo observando, percebendo, reconhecendo e refletindo sobre o que se vê.
Fé em meio às trevas
O salmista, ao manifestar sua confiança em Deus como luz, nos ensina que as trevas podem até estar ao nosso redor, mas não dentro de nós. A confiança vem da certeza de que a fonte da luz caminha conosco. Ele diz que ainda que os malfeitores se levantem ou um exército se acampe contra ele, ainda assim, terá confiança.
Será que muitas das coisas que hoje nos atemorizam não se originam do fato de não permitirmos que a luz de Deus ilumine nosso interior e nos confronte? João, em seu Evangelho, diz que os seres humanos amaram mais a luz do que as trevas porque não queriam que suas obras más fossem manifestas. O primeiro desafio da fé é vencer a nós mesmos, nossa autorresistência, nossa pecaminosidade e limites pessoais. É lançar luz para dentro de nós. Para adquirir a verdadeira fé e superar o medo, temos de permitir a Deus que faça sua obra em nossa vida e remova o medo e as trevas que queiram resistir dentro de nós. Aí, sim, poderemos dar saltos no escuro, como disse Kierkegaard. Não precisaremos de luz para saltar, uma vez que ela já estará conosco!

Nossa vida nos planos de Deus

Rick Warren, no livro “Uma vida com propósito”, afirma que “é somente em Deus que descobrimos nossa origem, nossa identidade, o que significamos, nosso propósito, nossa importância e nosso destino. Todos os outros caminhos levam a um beco sem saída” (p. 18).
A palavra de Deus diz que aquele que anda nos caminhos do Senhor é como uma árvore plantada junto a ribeiros de águas, que dá fruto no devido tempo (Salmo 1.1). Jesus nos diz que ele é a videira verdadeira, o Pai é o agricultor e nós, os ramos. Somente firmados na videira é que nossa vida pode ser verdadeiramente alimentada e produzir frutos. Estes textos nos lembram que nosso propósito na vida é produzir os frutos para os quais fomos criados; os  frutos bons, que Deus tem para nós. Contudo, por causa do pecado, este fruto bom foi contaminado. Precisamos ser enxertados novamente na videira verdadeira, a fim de produzirmos os frutos originariamente sonhados por Deus para nós.
Somos convidados e convidadas por Deus a viver a aventura de descobrir o propósito de nossa vida Nele, iniciando nossos passos na fé ou aprofundando nossa jornada, dependendo de onde estivermos no caminho da maturidade cristã. Pergunte hoje a Deus quais são os planos Dele para você. Abra o coração para a resposta divina. Você descobrirá que sua vida é uma semente divina, dentro da qual reside um grande potencial. Mas você só pode florescer se for plantado/a por Deus, firmado/a em suas raízes, podado/a pelo Senhor e transformado/a de glória em glória.
Venha conosco nesta grande aventura! Estamos todos/as sendo cuidados/as pelo Deus da vida!

quinta-feira, 21 de abril de 2011

Poema: Nada era dele (Gioia Junior) - A propósito da Páscoa


Disse um poeta um  dia,
fazendo referência ao Mestre amado:
"o berço que Ele usou na estrebaria,
por acaso era dele? Era emprestado!

E o manso jumentinho,
que em Jerusalém chegou montado
e palmas recebeu pelo caminho,
Por acaso era dele? Era emprestado!

E o pão - o suave pão,
que foi por seu amor multiplicado
alimentando a multidão
Por acaso era dele? Era emprestado!

E os peixes que comeu junto ao lago,
ficando alimentado. Esse prato era seu? Era emprestado!

E o famoso barquinho?
Aquele barco em que ficou sentado
Mostrando à multidão qual o caminho
Por acaso era seu? Era emprestado!

E o quarto em que ceou ao lado dos discípulos
Ao lado de Judas  que o traiu, de Pedro, que o negou
Por acaso era dele? Era emprestado!

E o berço tumular, que depois do calvário foi usado
de onde havia de ressuscitar
Por acaso era dele? Era emprestado!

Enfim, nada era dele!
Mas a coroa que Ele usou na cruz era dele!
E a cruz que carregou e onde morreu,
Essas eram de fato de Jesus! "

Isso disse um poeta certa vez,
numa hora de busca da verdade;
mas não aceito essa filosofia
que contraria a própria realidade.
 
O berço, o jumentinho, o suave pão,
os peixes, o barquinho, a sepultura e o quarto
eram dele a partir da criação;
Ele os criou - assim diz a Escritura;
mas a cruz que Ele usou, a rude cruz,
a cruz tosca e mesquinha,
onde meus crimes todos expiou,
essa cruz não era sua! Essa cruz era minha!

sexta-feira, 15 de abril de 2011

Eu creio, apesar das dúvidas. E pergunto, por causa da fé.

Não gosto de ouvir as pessoas me dizerem que não se pode questionar Deus sobre as coisas ruins que acontecem. Questionar é parte do ato de aprender, e na Palavra está incluído o ponto de interrogação. Foi a partir de uma pergunta que Jesus deu uma das mais belas lições de vida e adoração, para a mulher samaritana, no Evangelho de João. Creio - embora pareça paradoxal - que minhas dúvidas é que sustentam minha fé. Minhas perguntas me permitem aprender o novo sobre Deus, de modo a não me deixar enjaular pela institucionalidade da religião e depois tombar, resignada e no sentimento da falsa liberdade, para abrir mão de Deus, como muitos fazem. Não deixam a fé, como querem transparecer, mas se cansam. E se cansam exatamente porque sua razão se obscurece quando chega a um beco sem saída. Pode ser que a fé seja uma válvula de escape para muitos frente às contradições da vida. Para mim, muitas vezes foi. Quando a situação estava tão aterradora que, de fato, não havia saída, se eu abrisse mão da minha fé eu teria aberto mão da vida. Pois ouço muitos que dizem que a fé não tem sentido e por isso se tornaram ateus. E quando a vida perde o sentido? Simplesmente tiramos nossa existência da perspectiva?
Eu pergunto, meu Deus, como pode acontecer uma tragédia como esta, em que as pequenas vidas são tiradas por um doido? Mas também pergunto: como pode acontecer uma tragédia dessas, que transforma alguém que já foi uma criança como aquela num doido desses? Algo muito errado aconteceu e foi há muito tempo atrás.
Eu me sinto incomodada quando vejo, por exemplo, comunidades surgindo no orkut, com crianças e adolescentes, com mães e pais aderindo a elas. Comunidades chamadas: "Que ele arda no inferno" e similares... porque, se não percebem, estão agindo exatamente como ele agiu, reproduzindo e motivando o ódio. Por mais que todos achem que ele deva ser condenado, a mim me parece que ele já tinha sido há muito tempo atrás. E é isso que devemos evitar: que nossos jovens sejam condenados de tal modo que cometam atrocidades como estas...
Choram as mães daquelas crianças, como Raquel chorou por seus filhos, inconsoláveis, porque eles não mais existem. Choro com elas, olhando minhas filhas e pensando em que tipo de mundo eu as introduzi. Os herodes persistem, assassinando nossos pequeninos, inclusive o perpetrador deste hodiondo crime, que um dia também foi assassinado em suas esperanças, em seu motivo para sorrir e viver.
A vida dele perdeu o sentido. E quando a nossa vida perde o sentido, animais que somos, a vida do outro perde também. Este é o perigo a ser evitado. Esta é a pergunta que deve ser feita. Esta é a razão que deve ser pensada. A fé que deve ser mantida... Acima de religiões, instituições ou igrejas, embora eu siga crendo na importância delas para nós, não para Deus, eu creio no Deus da vida. Eu creio que Ele não tem prazer na morte de ninguém. Eu creio que Ele chora esta tragédia. Eu creio que Ele vê a corrupção e o mal que nos rodeiam todos os dias. Eu creio, apesar de minhas dúvidas, que é possível um mundo melhor. Eu creio, e me esforço. E pergunto. Porque quando achar que tenho todas as respostas, tenho receio de ter chegado ao final da linha. Sem nada mais a ler ou a escrever. Terei perdido a esperança.

O povo do coração aquecido

“O justo viverá pela fé” (Romanos 1:17, Habacuque 2:4, Gálatas 3:11, Hebreus 10.38) Uma experiência de mais de um dia John Wesley era um jov...