Eu acho uma pena que os jovens de hoje em dia não queiram mais mudar o mundo. Eles só passam por ele, despercebidos, como alguém que está diante de um tesouro, mas não sabe o preço que ele tem. A vida é uma só, de certo modo. Eu sou cristã e pastora, creio na ressurreição, mas a vida eterna é diferente da temporal e, por causa da forma como eu creio, sei que aquilo que fazemos aqui tem repercussão direta em como viveremos lá. E eu não falo isso em termos de céu e inferno, como muitos podem pensar... Eu falo de intensidade e alegria de viver. Eu quero viver intensamente aqui e lá. Quero amar intensamente aqui e lá. Quero fazer diferença aqui, porque lá eu acho que não vai precisar fazer muita, não é? Assim eu creio (a não ser que eu não vá exatamente para onde espero ir... brincadeirinha...). Sim, suponho que um cristão deveria fazer diferença ainda que estivesse num inferno. E pra vida de muita gente, infelizmente, o inferno tem sido aqui. Então, temos uma oportunidade ímpar de mudar completamente a nossa vida, a vida do próximo, a vida de quem virá. Eu acredito nisso, porque, caso contrário, de nada adianta viver. Vida plena é vida compartida, retalhada, distribuída. Vida inteira porque partida, completa porque dividida, plena porque dá para todos viverem... Assim eu quero que seja a minha. Mas encontro um problema dentro de mim, que acho que o mesmo que os jovens vivem lá fora e os professores e professoras aqui hoje também vivem... Chama-se motivação... Gostaria de partilhar com vocês alguns elementos que são fundamentais para manter nossa motivação em alta e nos fazer sentir-nos capazes de fazer a diferença no mundo em geral e no desempenho de nosso trabalho em particular. A motivação tem a ver muito mais conosco mesmos, com a forma como olhamos nossa vida. Não podemos esperar que a motivação venha de fora. Podemos até usar muletas na vida, por exemplo, mas todos nós sabemos que o melhor é quando nossos ossos conseguem sustentar nossos corpos enquanto andamos aqui e lá!
Gere um ambiente motivador ao seu redor
Bill Hewllwtt, fundador da HP, empresa que produz artefatos de tecnologia, disse certa vez que "Homens e mulheres querem fazer um bom trabalho. E se lhes for dado o ambiente adequado, eles o farão". Ambiente não tem a ver com o melhor mobiliário, equipamentos de última geração, datashow e tudo o mais. Ambiente tem a ver com a forma como interagimos com o espaço à nossa volta. Temos vivido tempos em que os ambientes de trabalho são altamente competitivos. Como é que podemos fazer diferença se estamos sempre "correndo atrás do prejuízo"? Aliás, o certo seria dizer "correr atrás dos lucros", né? Quem é que quer prejuízo? Por que corremos atrás dele?
Um ambiente motivador é um ambiente de partilha e de acolhida. Dizem que nossa vida é como um banco, no qual fazemos retiradas e depósitos. Se a gente faz retirada demais da vida dos outros, ou seja, exige sempre, cobra demais, então o que acontece é que a conta daquela pessoa, emocionalmente falando, fica vazia. É preciso depositar. O ambiente de trabalho pode mudar muito pela forma como tratamos uns aos outros, e isso significa ir além do coleguismo de trabalho. Fazer depósitos conscientes. Os professores estavam em greve há um tempo atrás, querendo aumento de salário. É certo e justo, mas, honestamente, não é a forma como o governo nos trata que nos deixa mais indignados do que o quanto recebemos? Se o dinheiro vier como queremos, o problema não será resolvido a longo prazo. Daqui a pouco vamos começar a nos inquietar novamente, porque não se trata apenas de dinheiro. Queremos dignidade, respeito, atenção, queremos ser reconhecidos e valorizados. Isso não acontece. Ninguém quer ser professor porque sabe a dureza que é. Isso aumenta o nosso valor, aumenta o valor de vocês e pode ser, apesar da adversidade, um motivo de motivação... Vocês são lutadores, estão aqui porque também têm uma causa na qual acreditam. Há pessoas aqui que certamente já viram passar gerações de famílias por suas salas de aula e sentem um orgulho interno quando veem isso. Então façam depósitos nas contas uns dos outros. Transformem esta escola num refúgio para vocês, apesar dos problemas. Elogiem mais as iniciativas uns dos outros; não se ressintam quando alguém elogiar o outro perto de vocês. Reconheçam os esforços dos seus alunos de modo mais eficaz, não apenas quando fazem provas, mas quando demonstram o interesse, menor que seja, por aquilo que está sendo dito. Investindo nos outros, vocês vão transformar este ambiente, pouco a pouco, num espaço automotivador. É melhor ser feliz um pouquinho cada dia do que infeliz o tempo todo, não é?
Acredite nas suas escolhas
Frequentemente o mundo nos faz duvidar de nós mesmos... desistimos de projetos, de estudar mais, de conhecer mais, de viajar para um outro lugar que queríamos conhecer... desistimos de um amor, de uma família, de uma profissão porque não conseguimos nos ater a nossas escolhas. Se vocês consideram que ser professor é algo mais do que apenas uma profissão, se isso dá a vocês um raro senso de pertencimento a um projeto mais ambicioso, se vocês puderem, alguma vez na vida, acreditar que este espaço que vocês ocupam é especial de alguma forma, ainda que invisível aos olhos, então invistam na sua escolha. Sejam os melhores que puderem ser, da forma que puderem ser, por todo o tempo em que puderem ser. O mundo está cheio de gente medíocre. E nem todos são assalariados. Ganhar pouco, passar dificuldades, enfrentar crises com seus alunos, lutar contra pais que não estão nem aí para o que os filhos estão fazendo parece um desafio insuperável. Mas você está aqui para fazer diferença. Então faça. Um professor acomodado faz um aluno acomodado. Como era cruel eu levantar da minha casa de manhã para ir para a sala de aula e chegando lá me deparar com um professor com folhas amarelas, dando a mesma aula que dava há um século atrás! Até uma CDF como eu queria matar aula! Mas eu me lembro de uma professora da quinta série, lá na FIDE, em Itabira. Chamava-se Lalu. Bem, era o apelido dela, que eu não sei mais o nome. Era sempre Lalu... Pequenina ela - eu me espantava porque ela calçava 33! Com ela, eu tirei 100 em história! Pode isso? Ela acreditava nas aulas que dava. Fazia a gente viajar pro Egito, pra Grécia Antiga, pro tempo dos dinossauros. Ela acreditava. Então eu acreditava. Já estudei tanto depois disso e nunca encontrei alguém que me marcasse tanto como a Tia Lalu. Por causa dela, eu queria ser o Indiana Jones...
Mantenha-se firme ao seu compromisso
Estamos precisando reformular nosso mundo urgentemente. Essa cultura do descartável, além de poluir o planeta e as emoções da gente, vai acumular uma enormidade de lixo emocional e cultural, social, religioso, político e social na vida da gente. Se não gostamos de algo, mudamos de ideia. Um compromisso com a educação é como um compromisso com a fé. Ou é pra vida toda e pra toda a vida, ou não adianta nada. A gente não muda uma situação de um dia para o outro. Suzanna Wesley, mãe do fundador do Metodismo, dizia que era preciso ensinar uma criança até que ela aprendesse, não importava quantas tentativas fizesse. Se ela desistisse na 19ª tentativa e o resultado viesse na 20ª, todas as tentativas anteriores teriam sido jogadas fora. O resultado não é o da última tentativa, mas o conjunto de todas elas. Suzanna teve 19 filhos, então eu acredito que ela devia saber do que estava falando...
Você tem um compromisso consigo mesmo antes de ter com os outros. Como disse certo preletor, encha seu tanque cotidianamente. Não se esgote em si mesmo. Descubra formas de manter seu compromisso no foco. Distraia o coração com coisas que alimentem sua alma, mas não tire os olhos do foco. Faça de seu trabalho uma parte importante e válida da sua vida, não um fardo, um apêndice pra você. Renove suas esperanças. Se a aula hoje foi boa, alegre-se nisso! Se alguém subiu um pontinho na média, regozije-se com essa vitória. Nenhuma alegria é tão pequena que não valha a pena ser vivida. Não se preocupe com as conquistas, porque elas virão para aqueles que trabalham com os olhos no foco. Compromisso, de acordo com a definição do livro "O monge e o executivo" é ater-se às escolhas feitas. Só compromisso gera conquistas. E todo mundo quer conquistar coisas que permaneçam, que sejam lembradas quando não estivermos mais aqui. Não queira mudar o mundo de todas as pessoas. Mude uma pessoa de cada vez e mudará o mundo. Comece pelo seu próprio. A vida vale muito a pena. Pena que a gente só se dá conta disso quando é muito tarde... Comprometa-se de verdade com alguma coisa que você acha que vale a pena. Faça essa coisa realmente valer a pena. Seja feliz porque acredita que vale mesmo a pena. Empenhe-se, porque, afinal, vale a pena. Seja feliz...
E, por fim, seja bobo, seja boba, porque o bobo é que é feliz de verdade!
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