"A vida é como a fumaça, nem bem se fez, se desfaz
E cada instante que passa é um passo a menos e a mais,
Na direção do fim, frio, feroz, o fim de todos nós..." (João Alexandre)
A noite começou animada, cheia de risos e planos, de roupa bonita, salto alto, cabelos ao vento, beijos, abraços, amigos... a noite prometia. E eles, novos, sem preocupação, a maioria ainda sem contas a pagar, sem filhos pra sustentar, sem IPTU, sem IPVA, estavam lá... Canções e acordes, danças e sonhos... Nossos filhos estavam lá. Sim, agora são filhos de todo mundo, pois não tem quem não tenha filhos que não traga esse susto em suspense dentro do coração. Ontem mesmo perguntei aos meus alunos quantos receberam ligações de suas mães logo depois da tragédia de Santa Maria. Quase todos. Mães aflitas, perguntando: Onde você está?
Aquela noite que começou sem pretensões e entrou para a história foi uma noite de fumaça. Fumaça, símbolo do efêmero, sinal de comunicação, aviso de alerta. Fumaça tóxica, embriagante, aniquiladora. Fumaça que representou não apenas o fim da vida dos meninos e meninas de todos os lugares que ali estavam, meninos e meninas do Sul, nossos meninos e meninas... Fumaça que foi o fim da vida deles e dos sonhos, planos, projetos, aspirações de todos os pais e mães e familiares e amigos deste país.
Sim, porque ouvindo tanta gente que perdeu seus queridos, uma lição importante aprendi. Quando se perde um filho jovem, a gente perde o filho presente e o filho futuro. O que ele é e o que a gente sonhava que ele fosse... e a vida da gente precisa de sonhos constantes... Um filho morto é um sonho que não acaba, que fica em suspenso, que a gente não consegue achar o fim da história... Pais e mães que foram roubados dos seus sonhos e nunca mais dormirão da mesma forma... Sem os temores dos filhos lá longe, sem a segurança do filho cá perto, só essa ausência, doída, doida, sem fim.
Por isso mesmo, meu Deus! Vamos ter misericórdia! Não vamos nos colocar a explicar o que não tem explicação. A condenar os mortos, que nada mais sabem dessa vida... Como pode esse povo que diz servir a um Deus de amor ser tão rápido pra jogar a vida dos outros no inferno, a tecer loucuras teológicas, a se meter a entendidos do divino mistério?
Meninos foram roubados, meninas foram sequestradas à existência. Meninos e meninas... estavam vivendo o que a juventude pretensamente deve viver... Não deviam pagar com a vida por isso. É errado sempre, e injusto... A hora é de chorar, chorar, chorar... A hora é de indignar-se pelas condições equivocadas desta vida... De lamentar e de sofrer... De abraçar, de beijar, de manifestar amor e solidariedade...
Jesus mesmo disse que tragédias acontecem a todos e ninguém é melhor ou pior do que o outro... (Lc 13). Estamos sujeitos às perdas... e no meio delas somos todos humanos...
Vidas feitas fumaça numa noite qualquer... uma história pra não se esquecer, pra recontar, pra evitar... Eu peço é que o tempo passe, com seu bálsamo remediador, pra tirar a urgência da dor e abrir espaço para aquele momento mais terno das lembranças que consolam, que confortam... pra recordar, olhando as fotos e, em meio às lágrimas, de repente a gente rindo, rindo de doer a barriga, uma frase engraçada, uma peraltice da infância, uma arte, um poema escrito com letra de criança numa folha de papel... E depois o silêncio de novo, o suspiro, o erguer dos olhos para ver aqueles que continuam vivos e também esperam amor, alegria, novas razões pra sorrir...
terça-feira, 29 de janeiro de 2013
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Parabens pelo texto. Acho que o momento é de reflexão, oração e de palavras de conforto aos parentes e amigos desses jovens maravilhosos e tão cheios de vida que se foram!!!! Abraços pastora (Thiago e Alessandra)
ResponderExcluirSaudades de vocês! Que tudo vá bem!
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