E, saindo eles da sinagoga, foram, com Tiago e João,
diretamente para a casa de Simão e André. A sogra de Simão achava-se acamada,
com febre; e logo lhe falaram a respeito dela. Então, aproximando-se, tomou-a
pela mão e a levantou; e a febre a deixou, passando ela a servi-los.
Jesus, neste texto, nos dá um
exemplo concreto do que significa a vida do Reino de Deus. Ele havia estado na
sinagoga como estamos nós, todos os dias no templo. Ele havia entoado canções, certamente
havia orado e lido as Escrituras. Talvez ele tenha pregado naquele dia, talvez
tenha apenas ouvido. Mas agora, o culto havia acabado. O que fazer depois do
culto? Jesus vai para a casa de amigos. Em Cataguases, sempre fazemos alguma
coisa depois do culto. Comemos um lanche, conversamos longamente na porta da
igreja, saímos juntos, vamos para a casa de alguém. Jesus foi para a casa de
seus amigos, Simão e André.
Mas as coisas não estavam bem
naquela casa. A sogra de Simão estava acamada. Uma casa onde existe alguém
doente é um lugar de clima pesado. As pessoas falam baixo, pelos cantos.
Choram. As sombras muitas vezes persistem sob janelas fechadas. Uma casa
doente. Muita gente canta, ora e busca a Deus na igreja, mas volta para uma
casa doente. Têm vizinhos em casas doentes, parentes doentes, amigos doentes.
Doentes de muitos jeitos, de muitas formas.
Na Bíblia, a doença não é algo
apenas físico. Ela é um sinal de separação de Deus. No Antigo Testamento
principalmente, as pessoas doentes são vistas como próximas da morte. A gente
as evita, porque elas podem contaminar e espalhar a morte a partir do toque. Teme-se
a doença. Hoje em dia, com os médicos dando diagnósticos, prescrevendo
remédios, a doença já não causa tanto medo como antigamente. Mas ainda há
doenças que, por causa das deformidades que geram no corpo do doente, afastam
as pessoas. Assim é que o doente, além de doente, também fica sozinho, isolado,
abandonado.
A sogra de Pedro estava doente.
Ele havia ido até a sinagoga com Jesus. Mas ele não contou a Jesus lá na
sinagoga que a sogra estava doente. Lá na igreja, ninguém saberia de nada. É
quando se entra na casa que a verdade vem à tona. Por isso é que o discipulado
é algo tão importante na nossa vida. Em nossa igreja, aos poucos estamos
decidindo abrir nossas portas, não apenas para receber as pessoas nos grupos
pequenos, mas aprendendo a perdoar nossos pecados e sermos curados uns pelos
outros e outras. Decidimos que lá no templo é tudo muito bom e perfeito, mas
apenas quando reflete casas curadas. Então, decidimos a cada dia levar Jesus
conosco para casa e permitir que Ele veja as enfermidades que o povo da igreja,
do templo, da sinagoga, não poderia contemplar. E quando Jesus vem, Ele opera
três movimentos de cura:
1. Aproximando-se: Jesus não cura de
longe. Ele faz questão de tocar o ferido toda vez que cura alguém. Poucas vezes
no Evangelho ele apenas envia a palavra. Porque a cura envolve a acolhida, o
abraço. Cuidar de um doente é tocar nele, limpar suas sujidades, trocar seus
curativos, sentir o cheiro da doença e dos remédios. Sem compartilhar a dor do
doente, todo tratamento é superficial. Quando vamos ao médico, queremos que ele
nos toque para termos certeza de que ele não apenas está dando o remédio de que
precisamos, mas que, antes disso, ele se preocupa, de fato, conosco. Se a
igreja avança aos longo dos anos, mantendo suas portas abertas no culto, mas
sem sair de si mesma para tocar os outros, jamais promoverá a cura verdadeira.
Se os doentes é que precisam de médico, então o médico tem que ir na casa do
doente. Encontrá-lo lá onde suas dores estão. A igreja não é diferente do
médico dos médicos. Ela é a enfermeira dele. Ela tem de ir aonde ele vai. Ao contrário
disso, muitas vezes a igreja fere, magoa, usa placebos, que são remédios
falsos. A igreja põe band-aid onde deveria haver uma cirurgia. E os doentes
continuam morrendo das portas para fora, porque a igreja não é o hospital de
excelência que deveria ser.
2. Tomou-a pela mão: O ato de estender a
mão é um gesto de hospitalidade por excelência. A hospitalidade invertida,
pois, numa casa, espera-se que o visitante receba a mão estendida do dono da
casa. Mas Jesus, ao invés de ser servido, serve. Tomar pela mão também é um
gesto de condução. Pessoas doentes podem fazer escolhas erradas. Podem se
aprofundar na doença e na depressão. Podem perder-se na alucinação da febre. Podem
morrer. Frequentemente sentem-se desamparadas. A mão é a parte do nosso corpo
com a qual primeiramente manifestamos aproximação. Ao conhecer alguém, é o
primeiro gesto para romper a indiferença. Estender a mão é superar a barreira
que separa. Eu sempre me preocupei, ao corrigir minhas filhas, para jamais
bater nelas com as mãos... Uma chinelada no bumbum até rolou, mas beliscão,
puxões, arrancos, gestos bruscos? Não! Minhas mãos precisam ser símbolo de
afeto, de acolhida. Minhas mãos têm que servir para abraçar, acolher, amar.
Meus dedos só apontam se for pra apontar o caminho. Se eu estender minhas mãos
na direção delas, não as quero com medo. Jesus tomou a mulher pela mão. Esse
também é um gesto de condução. A cama não é o lugar do corpo. Ele não foi feito
para quedar-se deitado eternamente. Foi feito para estar de pé. Jesus quer
curar, tirar as pessoas da inércia da morte, colocá-las de pé. Tem que haver
hospitalidade na igreja. Membros adoecem, pastores e pastoras adoecem,
visitantes enfermos chegam... acolhemos ou criticamos? Estendemos a mão ou
apontamos o dedo? Se a igreja é a casa de Deus, aqui dentro tem que haver mãos
estendidas. Gente pronta para fazer curativo, operar, dar comida na boca,
trocar fralda, dar injeção de ânimo! Gente que serve, que estende a mão...
3. E a levantou: Há muita gente que quer
curar os outros, mas os mantém seguros pela mão. Escraviza as pessoas com
ideias distorcidas sobre pastoreio e discipulado. Jesus levantou a mulher para
que ela andasse por si mesma. Há pessoas que precisam de um empurrãozinho de
fé. De autoestima. Elas são tão oprimidas pela vida que esquecem que Deus as
dotou de grande valor. A igreja está aqui para ser fonte de cura. Para levantar
as pessoas, é preciso primeiramente que estejamos de pé. É a ilustração das
máscaras de oxigênio no avião: Ponha a sua primeiro, antes de ajudar. Como está
sua vida pessoal? Em nossos GPs muitos líderes compreenderam que eles precisam
ser exemplo para que as outras pessoas se levantem. Se você tem problemas
conjugais não resolvidos, então casais problemáticos virão para o seu GP. Se
você tem problemas com dinheiro, vai ter de lidar com gente devedora. Se tem
problemas com o perdão, então um bando de gente revoltada vai estar no seu
grupo. E o que você vai fazer se não puder ser exemplo? Devemos perceber que
Deus não vai mandar vidas machucadas e feridas para uma igreja que não tem o
poder para curá-las. Elas já estão mal, ele não vai piorar... se nossa igreja
está com problemas, tem que se tratar primeiro, para que depois tenha forças
para curar outras pessoas... aí sim, a cura brotará sem detença.
E ela passou a servi-los: uma pessoa
curada por Deus é uma pessoa que cuida das outras. Vamos consolar com a mesma
consolação que recebemos de Deus, diz Paulo. Só podemos dar o que nós temos. Às
vezes, as pessoas vêm para a igreja e queremos que elas sirvam, trabalhem,
rendam, deem lucro, antes que possam ter sido curadas, tratadas, amadas e
acolhidas. Queremos que falem o dialeto dos crentes e saibam tudo de Bíblia
antes que possam falar de Jesus. Mas elas precisam de quem se aproxime delas,
estenda a mão e as ajude a levantar antes que estejam prontas a servir. E elas
farão isso como resposta ao amor de Deus e não às nossas exigências eclesiais.
Se assim não for, de nada servirá. E como é que isso acontece? Porque depois de
curar a mulher e outras pessoas, Jesus se retirou para orar.
Conclusão: Jesus se aproximou, tocou e levantou a sogra de Pedro. Mas a cura não
terminou porque a mulher ficou de pé. Cristo seguiu intercedendo junto ao Pai
por ela e por todos nós. Siga lendo o restante do capítulo e você perceberá que depois da cura, veio novamente a busca pela intimidade com o Pai. Jesus nos sustenta com suas orações eternas de João 17.
Você se torna eternamente responsável pela vida que você toca. Para bem ou para
mal. Faça ser para o bem. Ao curar a sogra de Pedro, Jesus interferiu na
dinâmica de uma casa doente e dali pôde tirar um líder que seu povo precisaria.
E esta igreja? Como é que ela atua depois que o culto acaba?
Bênção essa palavra. Muito edificante.
ResponderExcluirÉ o que a Igreja do Senhor Jesus precisa entender e colocar em prática!
Abraço