sexta-feira, 13 de março de 2015

Que tipo de líder pastoral você gostaria que colocasse a mão sobre a sua cabeça?

Alguém me fez esta pergunta esses dias. Eu me pus a pensar sobre ela. E me lembrei de certo dia, na sala de aula da Faculdade de Teologia. O professor era o Paulo Garcia. Ele falava sobre o Novo Testamento, a formação dos pastores e líderes daquelas comunidades paulinas, quando um dos alunos interveio, falando que se fosse ele resolveria o problema de tal e tal maneira, expondo suas ênfases. O professor ouviu atentamente e respondeu: Eu escolhi ser pai das minhas filhas, então, agora que elas estão maiores, elas me têm como pai e têm a outras pessoas por pastores e pastoras. Acho que assim é melhor do que confundir os papéis. Mas como pai, eu escolho quem vai pastorear minhas filhas. E baseado na percepção que você está me dando sobre seu caráter agora, eu lhe digo: Você jamais seria pastor delas!
Foi um pouco chocante naquele momento e hoje, quinze anos depois, a lembrança do episódio ainda me marca. Da mesma forma, o professor Jung Mo Sung, que nos pôs em crise ao indagar: Se alguém provasse, sem sombra de dúvida, que Deus não existe, vocês continuariam a fazer o que fazem? Iriam ser pastores e pastoras? A maioria, desconcertada, não soube o que responder. E ele afirmou que devemos fazer as coisas porque achamos certo, porque isso nos mobiliza e jamais para almejar o céu ou fugir do inferno, razão de muita gente que diz ser temente a Deus.
E agora, essa pergunta que incomoda: Que tipo de líder sou eu quando coloco minha mão sobre a cabeça de alguém? Que tipo de líder eu gostaria que pusesse a mão sobre a minha cabeça?
Bem, eu gostaria primeiramente que fosse alguém que me amasse. Isso por princípio e não por aquilo que eu pudesse fazer. Alguém que, me vendo em pecado, me amasse o suficiente para arriscar sua posição por mim. Ainda que não soubesse se na próxima avaliação pastoral eu o "detonaria", esse ser pastoral fosse ousado o suficiente para me dizer: Você pecou, conserte a sua vida! E isso por me querer bem, não por causa do nome da igreja ou qualquer outra coisa. Por me almejar como discípula de Cristo.
Eu também gostaria que fosse alguém que assumisse sua fragilidade. Confesso que parece difícil confiar em alguém assim, mas eu tenho compartilhado algumas das minhas e, por incrível que pareça, as pessoas costumam confiar em quem se mostra falível com mais facilidade do que alguém com superpoderes. Na verdade, dá medo de gente assim. Acaba que não abrimos o coração porque tememos constantemente a reprovação. Mas a gente consola com a mesma consolação que recebemos de Deus, diz Paulo. E alguém assim consolado oraria por mim com mais poder, por ser mais humano.
Não sei... gostaria que fosse alguém que tivesse tempo para bater um papo. As orações mais profundas são aquelas que surgem da intimidade e da conversa. Eu sentiria que a pessoa estaria confidenciando a Deus em meu lugar como uma verdadeira intercessora. Sei que não dá pra fazer isso com todo mundo, a toda hora. Nem todas as pessoas querem isso também. Mas se eu quisesse e se eu procurasse essa pessoa para isso, gostaria de saber que ela seria capaz de prover um espaço em sua apertada agenda para mim. Seria um precioso tesouro.
Talvez alguém que soubesse ouvir e soubesse falar. Há momentos em que a gente precisa escutar a voz de Deus, não para saber o que fazer, às vezes nem pra tomar decisões, só para não se sentir tão só na caminhada. Sabe, é casa, trabalho, marido, filhas, estudos, atendimentos, textos, leituras... cansa. A gente fica com uma canseira de alma e não tem muito pra quem dizer. Ou ouvir, para ser relembrada do que me trouxe até aqui, das coisas que eu ouvi há muitos anos quando escolhi seguir a Cristo...
Talvez alguém que pudesse me inspirar, ser meu exemplo, não de perfeição do ato, talvez de perfeição da busca. Alguém que pudesse me falar sempre de algo novo que está aprendendo, de alguma coisa nova que ouviu, de uma lição recente de vida, que me mostrasse que ainda posso crescer e aprender. Alguém sobre quem não pesasse a dúvida sobre o caráter, os atos, o enriquecimento ilícito, a pompa judaizante, as cabeças de gado, a banheira de ouro, o jatinho particular. Alguém que me mostrasse que ainda é possível dizer: "posso todas as coisas naquele que me fortalece", no contexto paulino mesmo, da resiliência.
Queria alguém que pudesse colocar a mão na minha cabeça e orar: Senhor, nós que somos gente... Nós que erramos... Nós que precisamos de ti... te clamamos.
Cada vez que a pergunta me volta: "Que tipo de líder você gostaria que pusesse a mão sobre a sua cabeça"?, me vem a responsabilidade. Se eu quero essa pessoa para colocar as mãos sobre mim, então, quem as pessoas com quem convivo esperam que eu seja, para ser digna de colocar a mão sobre a cabeça delas e esperar por alguma intervenção divina em nossas histórias de fé e de vida?
O discipulado tem me ensinado que eu não posso dar o que eu não tenho. Antes de esperar tudo isso, confesso, resignada e humildemente, que ainda me falta alguma coisa de cada expectativa dessa, antes de colocar a mão sobre a cabeça de alguém. E então espero que alguém possa colocar a sua mão sobre a minha cabeça. Ou, antes disso, quem sabe, possamos andar algumas milhas de mãos dadas mesmo.

5 comentários:

  1. Puxa! Tive de tomar uns picos de fôlego e respirar fundo! Ainda sinto meu coração pulsar... Como disse o profeta: "as palavras me foram como fogo ardente para o meu coração". Que bom que você compartilhou esta Palavra. Na semana passada, precisamente na terça-feira, 10 de março de 2015, um líder jovem de nossa igreja fez-me, exatamente a mesma pergunta. Estou compartilhando seu texto. É isso: as pessoas tocadas por Jesus eram pessoas doentes, "impuras", moribundas, desvalidas, cansadas, machucadas. O toque (con--tato), então devolvia àquelas pessoas o sentido de pertencimento e acolhida na vida do outro. Por isso elas eram curadas, libertas e salva. Vejo hoje que muita imposição de mãos, traz mais juízo e condenação do que propriamente saúde. Assim, o melhor mesmo é tentar caminharmos de mãos entrelaçadas, o que já constitui um grande desafio. Paz.

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    1. Obrigada, colega! A ressonância de vocês na leitura é muito importante. Deus abençoe sua vida e ministério.

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  3. opa. não tenho blog. como comentei foi automaticamente no blog do Adriel. Mas fui eu que mandei, tá. bjo da Viviane.
    (KKKK)

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