Em 1 Crônicas 28, Davi apresenta ao povo seus planos de
construção do templo e seu herdeiro ao trono, Salomão. Davi está idoso, prestes
a falecer. Ele quer garantir que tudo o que Deus determinara vai ser feito,
mesmo após sua morte. A construção do templo é uma dessas determinações. É um
sonho de Davi, há muito acalentado e que ele sabe que não poderá ver realizado.
Imagino que seu sentimento é o mesmo de Moisés sobre o Monte Nebo. Uma
perspectiva de tarefa cumprida, um desejo de ir além, uma impossibilidade. Mas também
a confiança na promessa de Deus de que outras pessoas alcançarão o que eles
apenas vislumbram.
Deve ter sido muito difícil para Davi abrir seu coração ao
povo, mas ele admite abertamente que não poderá construir o templo porque Deus
o considera um homem de guerra, que havia derramado muito sangue. Alguém assim
não poderia construir um templo que deveria ser em louvor a Deus. No culto, não
há espaço para guerras, contendas, violência. Diante da presença de Deus deve
haver quietude, festa, quebrantamento, alegria, celebração. O cenário de
distúrbios e dores de um campo de guerra, os apetrechos de um soldado ou a empáfia
de um capitão são coisas que não cabem no contexto da adoração.
E então, em meio às suas instruções, Davi diz a Salomão para
ser forte. A palavra em hebraico para forte
é transliterada como “rhazac”. Muitas vezes a gente pensa que a força está
relacionada com a capacidade de causar impacto ou com vigor físico. Ainda mais
quando no contexto das conquistas, como é o caso de Josué 1.9. Mas Salomão não
era um moço de guerra. O que a palavra “forte”, que é a mesma de Josué, pode
significar?
Algumas traduções trazem: “esforça-te”. No dicionário
hebraico, o termo pode ser entendido como “ser constante, ser obstinado”. Também
pode ser traduzido como fortalecer no tempo verbal causativo. A voz causativa
ocorre quanto o sujeito da frase pratica uma ação mandada por outra pessoa,
implícita no discurso. Isso significa que quando Deus diz a Josué: “Sê forte”, ele
está concedendo a força para que seu servo seja forte, obstinado, determinado.
Davi abençoa a Salomão com esta mesma palavra e, por ser um mandado de Deus,
isso significa que é uma bênção, uma ordem e uma palavra profética ao mesmo
tempo.
Porém, a perseverança ordenada e a bênção predita possuem um
condicional muito claro. Várias vezes neste texto temos uma pequena palavra que
faz toda a diferença: “Se”. “Se perseverar ele em cumprir os meus mandamentos e
juízos”; “Se o buscares, ele se deixará achar por ti; se o deixares, ele te
rejeitará para sempre”.
Às vezes nos perguntamos por que razão algumas das coisas
que sonhamos e cujas promessas encontramos na Palavra de Deus parecem tão
distantes de nós. Nesses momentos, temos de nos perguntar pelos “ses” de Deus.
São os “ses” que nos explicam a maneira de sermos fortes. A força de que a
Palavra fala é, portanto, a força de permanecer, obstinadamente, nos
propósitos divinos. Não tem a ver com capacidade humana, nem talento, nem dom, mas de
foco. É fácil a gente se esquecer dos propósitos. Na dieta, nos estudos, na
leitura de um livro, no casamento, na promoção no trabalho... quantas vezes nos
pegamos saindo do foco? Por que seria diferente na vida espiritual?
Eu me lembro de ter ouvido recentemente um pregador, chamado
Rick Vallotton. Ele nos disse que às vezes, quando sentimos que não podemos ir
à frente em algum propósito, pode ser tempo de fincar os pés no chão e
sustentar a posição até que passe o momento calamitoso. Isso nos dará condições
de seguir em frente. O retrocesso é considerado por Deus como fonte de
desprazer, porque significa desconfiança em suas promessas. Mas a permanência
garante o avanço.Assim, hoje, devemos, como Davi orientou a Salomão, observar os mandamentos divinos, focar em cumprir os mandamentos e os juízos de Deus, guardar seus mandamentos, empenhar-nos por eles; servir a Deus de coração íntegro e alma voluntária e atender a tudo (1Cr 28.7-10a). Assim como no exercício físico, é a força da perseverança que garantirá a saúde e o vigor que dará o impulso para as conquistas prometidas por Deus. E como no verbo causativo hebraico, a palavra que Deus profere é, em si mesma, a garantia do cumprimento. A nossa parte é sustentar-nos firmes no “se” para termos o “sim”.
Boa palavra!
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