sábado, 24 de maio de 2008

Os retalhos, a agulha e a linha

"E, partindo dali, (Jeú) encontrou-se com Jonadabe, filho de Recabe, que lhe vinha ao encontro, ao qual saudou e lhe perguntou: O teu coração é sincero para comigo como o meu o é para contigo? Respondeu Jonadabe: É. Então, se é, disse Jeú, dá-me a tua mão". (2 Reis 10.15)

Alguém já disse que a vida é encontro. Nós somos quem somos por causa das pessoas que cruzaram nosso caminho, das lições que aprendemos com elas. Existe um filme, chamado Colcha de Retalhos, em que a atriz Winona Ryder representa uma jovem que está se decidindo a casar. Ela vai para a casa de suas tias e avó e ali, enquanto elas fazem uma colcha de retalhos, vão partilhando com ela as histórias da família, os valores, os sentimentos. A vida da personagem se mescla à costura, suas emoções são tecidas enquanto a agulha vai passando, unindo parte a parte. É um belo filme para a gente assistir no início de um relacionamento, para nos inspirar a ver o que é realmente importante e para ver o perigo das decisões erradas. Afinal, como diz uma das amigas da família, para se fazer uma colcha de retalhos é preciso escolher as combinações com cuidado. As combinações certas vão embelezar sua colcha, enquanto as erradas vão embotar as cores.
Eu tenho aqui uma colchinha de retalhos. Ela é um símbolo para o casamento de vocês. Quero que a guardem porque ela trará recordações muito importantes, tanto do dia de hoje quanto dos dias anteriores. Na verdade, é uma colcha que ainda pode ser aumentada, porque a vida de vocês só está começando. Do tamanho que ela está, talvez possa enfeitar a mesinha de centro da sala, ou tampar o pão na cesta da cozinha. Mas, se vocês quiserem investir nela e acrescentar novos retalhos, poderão ter uma colcha maior. Quem sabe, uma que vai dar para cobrir vocês dois. E depois, quem sabe, filhos. E, quem sabe, netos... Talvez dê até uma pontinha para um amigo ou amiga que precise de calor humano. A gente não se casa para viver os dois numa concha.
A colcha de retalhos de nossa vida é um trabalho a muitas mãos, que nem no filme que eu citei. É aquilo que cada um conta, que traz de si, uma amizade, um sorriso, até mesmo uma decepção, uma briga, que trouxe vocês dois até aqui. Os amigos em comum, os parentes, os valores, as mudanças drásticas da vida. Vocês podem juntar todas essas coisas que vocês dois trazem e fazer uma colcha. Ou podem deixar os pedaços separados e ter, na verdade, um monte de lixo e bagunça. E se vocês forem deixando os pedaços ficarem espalhados, sem ordenarem todos eles na colcha, um dia eles vão ocupar tanto o espaço que não sobrará nada para vocês. E vocês poderão achar que não vale mais a pena estar juntos. Isso tem acontecido muito hoje em dia.
Mas aí eu me lembro do texto bíblico que lemos. Ele não é um relato de amor. São dois homens, dois reis numa frente de batalha, que têm de decidir se serão aliados ou inimigos. E Jeú faz uma pergunta que, para mim, é a marca de qualquer relacionamento humano: “Seu coração é sincero para comigo do mesmo jeito que o meu é para com você? Se assim for, dá-me a tua mão”. Só é possível apertar a mão de uma pessoa, para firmar um pacto ou um acordo, se a gente sente segurança de que ela está dizendo a verdade quanto à sua parte no acordo. Em Amós 3.3, ele pergunta: “Duas pessoas andarão juntas, se não houver acordo entre elas?” Talvez elas queiram e possam até estar na mesma estrada, mas não estarão juntas. Serão transeuntes, não companheiras.
A sinceridade é a agulha que pode unir os retalhos da vida de vocês numa bela colcha. Tão importante é a sinceridade, que ela será capaz de transformar toda a vida de vocês numa colcha bonita, mesmo se a combinação de cores não parecer boa a princípio. Porque a colcha de uma vida não é feita só dos momentos bonitos e alegres. A gente tem que aprender a costurar ali as tristezas, as indignações, as brigas, as perdas, aquilo de que abrimos mão e aquilo que conquistamos. Se ignorarmos essas coisas, o que vai acontecer é que nossa colcha ficará torta. Não podemos é permitir que esses retalhos fiquem com pontas soltas, que possam desfiar. Temos de costura-los bem com a agulha da sinceridade. E porque eu digo agulha? Porque para costurar é preciso furar, e isso significa, na verdade, um sacrifício, uma pequena ferida aberta. A sinceridade é muito importante para costurar a vida, porque embora ela possa ferir, essa ferida é leal, é autêntica, é para o melhor. Provérbios diz: “Leais são as feridas feitas pelo que ama, porém os beijos de quem odeia são enganosos” (27.6). De nada adianta vocês passarem por cima dos problemas. É preciso vê-los e enfrenta-los com sinceridade, pois sem as agulhadas, tão sofridas, mas necessárias, a colcha não ganha durabilidade.
Do mesmo modo, quero dizer a vocês que a linha é o amor. O amor de Deus, que vem para vocês, o amor derramado pelo Espírito Santo nos seus corações. Porque só o amor é capaz de manter unidos retalhos tão diferentes e fazer uma figura bonita surgir ao final. Pensem em tudo o que vocês passaram até chegar aqui. Quais os rumos que suas vidas poderiam ter tomado tão somente se vocês tivessem feito uma opção diferente das que fizeram. Mesmo quando algo deu errado, Deus pôs a bênção e trouxe as coisas de volta ao rumo. Ele continuará fazendo isso, tão somente se vocês levarem a ele cada retalho, apresentando em oração, antes de costura-lo à vida de vocês. Deus é que vai mostrar o modo de costurar, de tal maneira que, vendo um pouco à distância, não vamos perceber sequer como as emendas de cada retalho foram feitas. Vamos ver uma obra de arte, porque o amor de Deus cobre os pecados, o amor de Deus tudo pode, tudo crê, tudo espera, tudo suporta. Como um tecido bem costurado, ele pode ser puxado, lavado, torcido. Mas quando estendemos no varal e permitimos que o sol da justiça o seque, ele renovará suas cores e nos mostrará uma colcha limpa, nova, reutilizável quantas vezes forem necessárias.
No filme de que falei, existe um momento em que a avó cobre sua neta com a colcha pronta, como se a cobrisse com todas as histórias de amor que elas foram contando enquanto costuravam. A colcha é um presente de casamento para a neta. A colcha que vocês estão recebendo hoje das minhas mãos tem a história de muita gente que ora e torce por vocês. Muita gente que colocou a agulha da sinceridade e a linha do amor nesses retalhos tão pequenos. Sozinhos, eles são apenas um monte de pedaços. Juntos, eles contam uma história. Eu desejo que vocês possam dizer hoje, como Jeú, um para com o outro: “Se o seu coração é sincero como o meu, dê-me a sua mão”. De mãos dadas é que podemos fazer a vida a dois. Não dá pra cobrir com uma só colcha quando a gente não fica bem pertinho, a ponto de os dois poderem se aquecer. Que Deus os abençoe!

Pra. Hideide Brito Torres, 24 de maio de 2008 (Casamento de Lígia e Kiarley)

terça-feira, 20 de maio de 2008

Falar e cantar as coisas de Deus (Salmo 40)

O Salmo 40 é um dos mais conhecidos e cantados salmos de nosso repertório judaico-cristão. Diversos grupos já musicaram suas palavras e muita gente gosta de recitá-lo quando passa por uma situação difícil. Ao receber a proposta da Revista para escrever a respeito da fala, imediatamente me lembrei deste texto, pela quantidade de vezes em que o salmista se refere à fala – mas de modo bem específico a fala a respeito de Deus e de suas maravilhas.
Um hino antigo dizia, em sua letra: “Falamos do mau tempo, do frio e do calor. Oh, bem melhor seria, falar do salvador! Irmãos, irmãos falemos do nosso salvador. Oremos ou cantemos, rendendo-lhe louvor”. De fato, nossa fala gira em torno de muitas coisas, a maioria delas dizendo respeito a nós mesmos. Mas o salmista proclama o que Deus fez em sua vida e desloca o eixo de seu discurso de si mesmo para o Senhor, libertador e restaurador.
Este salmo possui algumas peculiaridades redacionais que fazem com que alguns estudiosos vejam nele uma espécie de colcha de retalhos de temas sálmicos, como a oração de ação de graças (versículos 2-12) e a oração individual por socorro, retomada no salmo 70 (v.13-18). Muitos salmos, de fato, retomam e repetem expressões uns dos outros, mostrando formas mais ou menos fixas de orações, bem como atualizando preces de uso coletivo, adaptando uma ou outra condição da oração à particularidade de quem orava naquele momento. Isso nos mostra a riqueza do falar israelita que sempre faz com que a oração não seja produto de um indivíduo, numa formatação personalista ou egoísta. Mesmo quando o problema é particular e a prece é pronunciada na intimidade, ainda assim a fé fala do povo, do coletivo, dando a idéia de uma família que ora, que transmite e recebe as experiências com Deus. Isso é uma grande riqueza, especialmente nos tempos modernos, quando mais e mais se quer individualizar a fé e o próprio Deus na experiência religiosa que desaprende o valor da comunidade!

Um cântico que faz crer
De dentro de uma situação caótica, ilustrada pela imagem do “poço de perdição”, um “tremedal de lama” (edição revista e atualizada de João Ferreira de Almeida); um “precipício tumultuoso”, um “lamaçal do atoleiro” (TEB) e ainda “poço de destruição”, “atoleiro de lama” (NVI), o salmista clama por socorro. Sua situação não lhe permite sair sozinho, pois se sente sem chão como em lama ou areia movediça e, além disso, está no fundo do poço. Quando o livramento lhe vem da parte de Deus, ele é descrito com três expressões da ação divina: “inclinou”, “ouviu” e “tirou” (v.1-2). Aqui, o salmista retoma a idéia geral presente no mundo do Antigo Testamento, de que Deus reside nas alturas e é do alto que vem a salvação e o socorro divinos: “Quem é semelhante ao Senhor nosso Deus, que tem o seu assento nas alturas, que se inclina para ver o que está no céu e na terra?” (Salmo 113.5-6).
É por isso que o livramento de Deus é caracterizado pela “elevação”, isto é, Deus faz o salmista “subir de nível”: os pés são colocados sobre a rocha, os passos são firmados (v.2). O “grito de socorro” se transforma em “novo cântico, um hino de louvor” (v.3).
Como resultado do livramento e do cântico, um processo de testemunho e de salvação se desencadeia entre aqueles que ouvem o relato destes acontecimentos (v.3). Novamente aqui se expressa a característica coletiva da fé em Israel, quando a salvação de um indivíduo repercute na geração de temor e de conversão nos demais! Além disso, reforça a idéia do valor e da importância do testemunho, que é um tema que o salmista passa a desenvolver até o final de seu texto, como veremos.

Antes de falar de Deus
Como dissemos no início deste texto, existem muitas falas em nossa vida e, se pararmos bem para observar, a maioria delas gira em torno de nós mesmos. Essa fala egoísta impede que proclamemos as grandezas de Deus, pois optamos por falar de nossas mazelas e pequenezas...
O salmista quer nos levar em outra direção. Primeiramente, ele observa que existe muito o que se falar, quando pensamos nas realizações divinas: “São muitas as maravilhas que tens operado... São mais do que se pode contar” (v.5).
Antes de falar de Deus, porém, alguns outros sentidos devem ser exercitados. Primeiramente é preciso ter ouvidos para ouvir suas instruções, indo além de rituais e ofertas (v.6). O formalismo com que realizamos muitas das atividades ligadas à nossa espiritualidade muitas vezes nos leva a fazer as coisas de modo superficial. Não se trata de apenas ter ouvidos, mas de tê-los “abertos” por Deus. Não se trata de ouvir qualquer som, mas a instrução divina que pode ter o efeito transformador definitivo em nossa vida! Em segundo lugar, é preciso ter olhos para ver a vontade de Deus. Esse uso do sentido aparece na expressão “no rolo do livro está escrito a meu respeito” – a Palavra de Deus traz para nós o conhecimento de que necessitamos para a nossa vida, os planos e a vontade de Deus para conosco. Temos de abrir nossos olhos para ler a Escritura Sagrada como uma orientação divina, um mandamento a ser seguido e não somente como uma devocional que nos agrada no momento ou meramente nos inspira para o restante do dia! A Palavra de Deus é desafiadora, exige postura, resposta: “Eis aqui estou” (v.7), para o que der e vier! E em terceiro lugar, é preciso ter um coração que abrigue essas palavras. Uma fala que faz diferença não sai da boca, mas do interior. É fruto da alegria, não da obrigação (v.8a) e é fruto de uma profunda convicção interior (v.8b). Assim é que ouvindo, vendo e meditando sobre a Palavra de Deus, o salmista se torna preparado para falar sobre ela!

Os verbos da fala divina
O salmista usa frases afirmativas e negativas para falar a respeito de sua experiência com Deus:
“Proclamei as boas novas de justiça” e “jamais cerrei os lábios” (v.9)
“Não ocultei no coração”; “proclamei” e “não escondi da grande congregação”. (v.10)
A proclamação é o tipo da fala que não se pode fazer sem grande estardalhaço. Não é uma fala da conversa privada, mas o discurso público, político, profético. Ninguém proclama algo em voz baixa, a proclamação tem a característica da notoriedade. Hoje em dia, o testemunho da fé muitas vezes tem se tornado restrito e até inexistente. Quando muito, nos propomos a declarar as bênçãos recebidas. Não é disso que trata o salmista. Não é o que Deus faz por mim, senão a fala ainda maior, do que Deus é, de sua natureza. As boas novas são da “justiça divina”, um atributo de Deus muito valorizado no Antigo Testamento. Ele proclama a fidelidade, a salvação, a graça e a verdade de Deus (v.10). Devemos ir além do discurso do que Deus tem feito para proclamar a essência dele e da sua lei. Milagres e sinais são circunstâncias temporárias da vida humana e até mesmo são situações que podem enganar nossos sentidos e percepções, mas a natureza de Deus é imutável e eterna!

Convite à proclamação comunitária
O salmista volta a pedir a ajuda divina nos versículos seguintes, porque ele reconhece sua limitação humana e admite que seus problemas pessoais podem interferir na qualidade de sua proclamação, bem como seus inimigos são, de fato, ferozes e poderosos (v.12-15).
Mas existe força na proclamação comunitária da fé. Aqueles que buscam a Deus não ficam por demais presos em falar de suas tribulações, pois existe para eles a folga e o júbilo! (v.16). O salmista afirma que existe um discurso na boca das pessoas que amam a Deus e esse discurso consiste em exaltar o Senhor: “Seja Deus magnificado!” (edição revista e atualizada de João Ferreira de Almeida); “O Senhor é grande!” (NVI e TEB).
Na experiência pessoal e na convivência comunitária, que nosso discurso revele nossa experiência com este Deus que nos tira dos poços e buracos da existência, que nos põe em lugares altos e seguros, de onde nossa voz possa ecoar com mais facilidade. Deus nos dá a voz e o discurso, ele é que põe o cântico em nossa boca. De nossa parte, só resta proclamar...

Deus, o criador e sustentador da vida (Salmo 104)

Gosto muito de poesia. Acho que a maioria das pessoas que, como eu, gostam de escrever e de ler, reconhece de imediato o valor da poesia, das rimas e metáforas usadas para descrever coisas que, de outra forma, não se poderiam mostrar tão belas. Quero dizer, a poesia parece ser um retrato em forma de palavras. Sua capacidade descritiva é capaz de encher nossos olhos de imagens que não estão ali. Com a vantagem de trazer os sentimentos, as sensações, os gostos, os cheiros... que uma simples foto não consegue mostrar.
É assim que me sinto quando leio o Salmo 104. Ele parece um desses dias claros de sol, depois de ter caído uma chuvinha à noite, quando a gente abre a janela e sente o ar friozinho da manhã. E a natureza parece ter se banhado, limpando suas cores. Para mim, o Salmo 104 deveria ser uma espécie de Salmo de ano-novo.
Digo isso por causa de uma perolazinha que ele traz, lá no versículo 30: “Quando sopras o teu fôlego, eles são criados, e renovas a face da terra”. Mas, antes de chegar lá, o salmista pinta para nós um retrato do Deus que criou, sustenta e renova nossa vida a cada dia, a cada ano...

Como tu és bonito!
O salmista começa dando uma ordem a si mesmo: “Bendize ao Senhor, ó minha alma!” Sabemos que “alma” no sentido do hebraico é a existência toda, o ser em si, sua capacidade criativa e emotiva, psicológica e física, integral enfim. Assim, ao menos a cada ano que começa, deveríamos bendizer ao Senhor.
A palavra “bendizer” traz o sentido da fala que elogia, exalta, reconhece as potencialidades. Recentemente, entrei em uma livraria e o dono logo me reconheceu como a pastora metodista da cidade. Ele me veio com um calhamaço, do tamanho de uma Bíblia de estudos, e me disse: “Desse, a senhora vai gostar (a bem da verdade, me chamar de senhora sempre me gera um frio na espinha...)”. Olhei o livro e era de um cientista americano que afirma que Deus é a causa de todos os males da humanidade, e que, se as religiões acabassem, tudo ficaria bem. Olhei para o dono da livraria com certa pena. Ando querendo ouvir belezas, não estou com tempo para controvérsias sem fundamento. Já tentaram matar Deus antes – o problema (para essas pessoas) é que Ele insiste em continuar vivo... Teve até uma vez que ficou três dias enterrado, mas... você já sabe!
Mas os servos de Deus não têm tempo para essas discussões fúteis. Estão trabalhando, amando, vivendo fielmente. Estão bendizendo. Estão contemplando. Olhando para Deus. Para além das máscaras de nossa religiosidade ou entendimento pessoal, Deus Se revela lindo em todas as coisas lindas e boas que criou. O salmista sabia disso. Ele olha para Deus, refletido nas coisas criadas, retratado na criação, sintonizado com os sons da natureza... e dá um suspiro de felicidade: “Deus, como tu és lindo! Estás vestido de esplendor e de majestade... Só tu podes usar a luz como um manto e fazer do céu uma grande tenda. Só tu podes ter tua morada fincada sobre as águas... Parece até uma daquelas imagens que a gente vê nos filmes de mitologia: Deus cavalgando no céu em uma carruagem de nuvens, puxada pelo vento...
Bela poesia a gente imaginar Deus. Nós, protestantes em particular, não somos muito bons em visualizar, mas precisamos desse exercício para ter a mente mais sensível às falas de Deus que não são meramente intelectuais, racionais, discursivas. Deus também ensina no gosto, no tato, na visão, na audição... O salmista sabe disso. E fala da beleza de Deus que vê: as águas (v.6), os montes, os vales (v.8), os animais (v.11,12,17,18,20-22; 24-30), os seres humanos (v.14, 23). Fala também da beleza de Deus que ele ouve: o trovão (v.7), as aves (v.12), os leões (v.21). As belezas que pode tocar também não faltam: as plantas cultivadas pela mão do ser humano (v.14). E, é claro, as delícias do paladar: vinho, azeite e pão (v.15).
Todas essas coisas, em seu conjunto, mostram a beleza de Deus, de Seu caráter, de Seus intentos, de Sua mente criativa. Tudo o que Deus faz tem contornos, cheiros, gostos, texturas e está por toda a parte. O salmista menciona a terra, o céu, o mar, o campo, o firmamento, a floresta... beleza em todo o lugar. Capaz de vê-la e de nela reconhecer a ação e a manifestação de Deus, ele bendiz. E bendizer é fazer a vida mais bonita, é cantar a canção da vida, renová-la, recomeçar.

Renovas a face da terra (v.30)
O sopro de Deus é a expressão bíblica para o “fôlego da vida”. Deus soprou nas narinas dos primeiros seres e eles se tornaram “viventes”. A imagem do sopro, do vento, da brisa é usada em toda a Bíblia para falar da presença animadora do Espírito de Deus. A dependência da criação em relação a Deus é manifesta nos versículos 27 a 30. Deus é quem sustenta a criação. A retirada do fôlego divino significa a morte (v.29). É uma grande expressão de fé e esperança essa. A razão de não sermos destruídos, muito embora o mereçamos em função de nosso pecado e arrogância contra Deus, é que Ele deseja renovar Sua criação! Deus insiste em soprar vida em meio a nossas queimadas, usinas, bombas nucleares, efeito estufa, aquecimento global, derramamento de óleo, guerras absurdas. Deus insiste em fazer Seu sol e Sua lua trabalharem em favor de nosso planeta, mesmo que nós, seres humanos, estejamos maldizendo ao invés de bendizer. Esse é o milagre maior da renovação da vida: ela não é um desejo humano, mas uma iniciativa divina! Cada ano-novo é, portanto, graça – favor imerecido.

Possa Ele sempre se alegra com o que criou
Esta é a tradução da Bíblia Sêfer para o versículo 31. Eu penso ser um bom desejo para a renovação da vida neste início de 2008. Talvez Deus não tenha tantos motivos para se alegrar, é verdade. Talvez você também não tenha. Talvez o ano-novo esteja começando com velhos problemas, velhas angústias, velhas dúvidas. Talvez com novos desafios, novas dificuldades... Mas não se deixe abater, porque Deus não Se deixa. Ele é teimosamente amoroso, energicamente terno, profundamente suave. Ele não desiste de renovar Sua criação. E jamais perde as esperanças em nós. Por que o faríamos em relação a Ele? Sejamos nós as pessoas que vamos fazer esse desejo do salmista se cumprir. Que a minha vida e a sua alegrem a Deus. Como faremos isso? Seguindo o conselho do salmista. Contra toda a desesperança, contra mesmo os intentos de quem almeja destruir a Deus e à nossa fé, renovar a vida: cantar a Deus, louvar enquanto vida houver, ter pensamentos agradáveis, ter alegria em Deus (v.33-34). A renovação chegará a seu ápice um dia, quando o pecado e a impiedade deixarem de existir (v.35). Até lá, façamos nossa parte: bendigamos, bendigamos ao Senhor!

O povo do coração aquecido

“O justo viverá pela fé” (Romanos 1:17, Habacuque 2:4, Gálatas 3:11, Hebreus 10.38) Uma experiência de mais de um dia John Wesley era um jov...