quinta-feira, 24 de julho de 2008

Sermão: Deus sara a terra

Sermão temático: Deus sara a terra

Texto bíblico: 2Cr 7.11-22

Pra. Hideíde Brito Torres

Introdução

No mundo do Antigo Testamento, existe uma idéia muito arraigada: a de que Deus castiga o erro e premia o acerto. É o que os teólogos chamam de “Teologia da Retribuição”. Por causa desse pensamento é que os amigos de Jó o acusam de ter feito algo errado para estar doente; seria um castigo de Deus. Ao mesmo tempo em que essa era uma idéia forte, ela também encontrava resistência, especialmente entre aqueles que queriam defender sua reta observância dos mandamentos de Deus e mesmo assim eram passíveis de sofrer algum revés na vida.

Especialmente no contexto da graça de Deus, trazida por Jesus a nós e explicitada no Novo Testamento, a idéia da teologia da retribuição caiu por terra. Deus não nos trata em termos de “olho por olho, dente por dente” quando se fala em pecado. Ele nos ensina, nos admoesta, nos exorta. Mas isso não elimina uma outra realidade que nós temos de encarar: mesmo que Deus não nos castigue, o pecado tem conseqüências desastrosas para nós. Diz Paulo em Romanos 3.23: “todos pecaram e por isso carecem da glória de Deus”. E ainda: “O salário do pecado é a morte”. Que o pecado tem conseqüências, disso não há dúvidas. Assim, não mais leremos o texto desta noite na perspectiva em que ele foi redigido, isto é, da teologia da retribuição do Antigo Testamento. Mas, à luz do Novo Testamento, vamos falar do pecado e de suas conseqüências; da doença mortal e seus sintomas, bem como da cura divina que Deus quer realizar em nós e por meio de nós.

A profilaxia divina

O texto que lemos é a resposta de Deus à oração que Salomão fizera quando inaugurou o templo. Tudo era festa, luz, cores, sacrifícios e alegria. O povo estava fiel e regozijante diante de Deus. Já a redação dessa história acontece muito tempo depois, quando o povo está cativo na Babilônia. Era um tempo em que se buscava essa esperança para animar a reconstrução da vida. Portanto, temos dois momentos: o do evento e o da memória.

Quero fixar-me porém, neste texto como evento, isto é, entendê-lo a partir do momento em que Deus, na hora da festa, fala a seu servo. Para isso, quero afirmar que esse é um texto de profilaxia divina. Isto é, a doença ainda não chegou, nada de ruim aconteceu. A terra está saudável, festeira. Deus fala de um tempo que poderia vir a acontecer, mas que está distante dos olhos do povo no momento.

E o que é uma atitude profilática? É aquela que a gente toma antes de ficar doente. Quando tomamos uma chuva forte e chegamos em casa, qual a primeira providência? Um banho quente e um chá especial, para não ficarmos doentes. Deus também não quer que a terra adoeça. Para isso, ele toma medidas profiláticas. Ele avisa ao povo, por meio de seu líder, Salomão, que existe a possibilidade da doença.

É sinal disso o fato de que, quando lemos este texto no original, todos os verbos aparecem no futuro. Isto é, nada disso aconteceu ainda; é um tempo de prevenção.

A Palavra de Deus tem para nós diversos ensinos preventivos, conselhos para o bem. O livro de Provérbios é todo baseado no ensino de uma sabedoria que evite o mal para aquele que a escuta. No salmo 119, encontramos diversas expressões singulares: “De que maneira poderá o jovem guardar puro o seu caminho? Observando-o segundo a tua palavra”. “Lâmpada para os meus pés é a tua palavra e luz para o meu caminho”. E ainda: “De todo o coração te busquei, não me deixes fugir aos teus mandamentos”. Com Cristo, temos o mesmo ensino: “Aquele que está de pé, vede para que não caia”. Os apóstolos e mestres do Novo Testamento prosseguem, nos ensinando a evitar a doença mortal que é o pecado: “Essas coisas vos escrevo para que não pequeis”. “Sede santos como santo é o vosso Pai celeste”; “Buscai as coisas lá do alto, onde Cristo vive, assentado à direita de Deus”. Enfim, poderíamos listar uma série de medidas que funcionam em nossa vida como um banho quente e um chá especial depois de uma chuva.

Os mandamentos de Deus para nós são medidas profiláticas, para que evitemos a doença. Que doença é essa? O pecado, em suas diversas manifestações. A desobediência à vontade divina. Deus antecipa seu cuidado e disposição em perdoar. O povo precisa saber que existe uma doença a ser evitada. Precisa evita-la. Mas, se não o fizer, Deus, de antemão, ensina o caminho para a cura.

O caminho da cura divina

O texto, se o tomarmos ao pé da letra, diz o seguinte: “E humilhar-se-ão meu povo que chamou pelo meu nome sobre eles e orarão e buscarão minha face e converter-se-ão dos caminhos maus deles e eu ouvirei dos céus e perdoarei os pecados deles e curarei a terra deles”.

Quero destacar que essas palavras, tais como se apresentam, indicam para nós o caminho da cura dessa doença que é o pecado. Sim, pois nos versículos anteriores podemos entender que a causa da doença da terra (cujos sintomas são a fome e a peste, a seca) é a desobediência aos mandamentos de Deus. Como cristãos, não acreditamos que Deus, de forma simples e direta, castiga o mal e premia o bem, como acreditavam os antigos na teologia da retribuição. Sabemos que muitas coisas ruins também acontecem a pessoas boas e que coisas boas acontecem a pessoas ruins. O juízo de Deus é algo mais misterioso e profundo.

Entretanto, existe uma regra da Física que serve para todas as realidades, mesmo as espirituais: “toda causa tem uma conseqüência”. Isto é, tudo o que fazemos terá um resultado, bom ou ruim. Assim, o pecado cometido pode não ser diretamente castigado por Deus, mas ele desencadeia uma série de coisas em nossas vidas.

Quando o texto foi redigido como está em nossas Bíblias, isso deveria estar claro para o cronista. De fato, desobedecemos a Deus. Fomos exilados na Babilônia e nossa terra está sofrendo com a peste, a fome, a seca. Qual o caminho para voltarmos a celebrar, como nos tempos de Salomão? Deus dá a resposta no sonho do rei.

E meu povo que chamou meu nome sobre si se humilhará

Em Tiago, lemos: “Humilhai-vos sob a potente mão de Deus, para que ele, a seu tempo, vos exalte”. A verdade é que Deus quer que olhemos para dentro de nós mesmos com toda a sinceridade. Humilhar-se diante de Deus pode ser entendido, pura e simplesmente, como “cair em si”, “cair na real”. É como o filho pródigo que, ao olhar para si mesmo, tira de seus olhos uma venda que o impedia de enxergar sua real situação: estava num chiqueiro; aos olhos do patrão, era quase um porco com os porcos. Era ainda pior, pois nem poderia comer a mesma comida que eles. Ao ver-se como era, foi possível tomar o caminho de volta para casa.

Mas não gostamos de nos humilhar diante de ninguém, ainda mais diante de Deus. A essência do ser humano é querer ser Deus. O salmista diz: “Vocês são todos deuses, gostam de se achar os filhos do Altíssimo. Mas é como homens que vocês vão morrer, em sua real condição, pois pensam que são deuses, mas não são...” Pensemos agora em quantas desculpas encontramos para justificar nossos pecados. “Não, Senhor, eu não pequei. Foi a mulher que o Senhor me deu... Não, Senhor, eu não pequei, foi a serpente que me enganou”. Humilhar-se diante de Deus é reconhecer onde exatamente erramos. Onde é preciso consertar. Por isso é que temos, a cada domingo, um momento de confissão no culto. Para não deixar a soberba humana e o orgulho endurecerem nosso coração. Para reconhecer a soberania que é de Deus; a santidade que emana dele. “Cair em si” é o primeiro passo para a cura divina.

E orarão e buscarão a minha face

Gosto muito dessa expressão. Quando pedimos perdão a alguém, mas não o fazemos sinceramente, é comum desviar o olhar. Buscar a face de Deus parece para mim o mesmo que dizer: “olhar nos olhos dele”. Ir fundo no processo do arrependimento. Não é orar formalmente, fazer por fazer, mas buscar aquilo que no momento parece distante e escondido. O pecado, a desobediência fizeram o rosto de Deus desaparecer no horizonte da vida do povo. Para retomar a vida, é preciso trazer esse rosto novamente diante dos nossos olhos. É preciso encarar Deus, olho no olho, demonstrar a ele nosso sincero arrependimento. Para isso, é preciso intimidade. É difícil encarar o estranho olho no olho. Porque isso revela nossa alma. Olhando nos olhos de alguém é difícil esconder a emoção, dissimular, mentir. Deus quer nos curar, mas para isso ele quer olhar nos nossos olhos, ter intimidade conosco, entrar nos nossos sentimentos mais profundos do coração. O povo que conhece o nome do seu Deus sabe que esse nome indica misericórdia e favor. Por isso, esse povo ora; busca a face de Deus, encara seu olhar. Um olhar que não é de cobrança ou ira, mas de amor, como Jesus fez com o jovem rico certa vez. Depois de cair em si, é preciso encarar Deus olho no olho. Esse é o caminho da cura.

E se converterá do mau caminho dele

Esse é o momento da virada; a cura final para a desobediência é fazer meia-volta nesse caminho. A conversão é uma nova direção de vida. A palavra “mau” que aqui aparece demonstra a essência do caminho do povo distante de Deus. Não é apenas uma prática, mas é um caráter mau que existe no caminho da desobediência. É uma essência de morte. Não dá pra prosseguir assim. É preciso dar meia-volta. Se alguém está doente porque determinada comida lhe faz mal, não adianta mudar o tempero. É preciso parar de comer aquilo. O pecado não pode ser disfarçado sob outro nome ou outra prática. Ele é mau em essência; tem que ser deixado! Converter-se é a conseqüência natural de “cair em si” e olhar nos olhos de Deus. Ao olhar para mim e olhar para Deus, não existe alternativa possível para mim: sou como que obrigada a me converter a ele, pois sou interiormente convencida de que esse é o único caminho possível de vida!

Então eu ouvirei, perdoarei e sararei

Muita gente acha que Deus não pode ou não quer ouvir. Muita gente confia apenas em seus próprios sentimentos. Já ouvi até alguém dizer: “Deus pode até me perdoar, mas eu não me perdôo”. Deus, ao contrário do que pensamos, está mais do que disposto a perdoar. Tanto que ele deu essa receita de cura para o povo antes mesmo que ele pecasse. Deus ensinou a cura antes mesmo que a doença surgisse! Por isso, ele diz: Eu ouvirei. Ouvir é fácil. Às vezes, podemos errar contra alguém e essa pessoa pacientemente nos escuta pedir perdão. Ela observa nosso choro. Sente nosso tremor. Mas não aceita nosso pedido. Deus ouve e dá um passo além: perdoa. Ele age para mudar a situação gerada pela morte, pela desobediência, pelo pecado. E mais: ele sara a ferida que a desobediência causou. É como uma mãe que alerta o filho para uma brincadeira perigosa, mas jamais se recusa a passar remédio na ferida ou dar um beijinho pra sarar.

Conclusão

Deus não recusa seu amor só porque uma vez o desobedecemos. O caminho da cura é um caminho aberto para nós, porque Deus nos dá a receita. Ele nos convida a evitar o pecado e as conseqüências trágicas do pecado em nossa vida. Mas, se pecarmos, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda a injustiça. Deus não apenas ouve, não apenas perdoa, mas dá a real chance do recomeço.

E o mais interessante a se destacar: é uma cura completa. No caso do povo, não apenas o perdão do pecado, mas a volta para a casa depois do exílio, a reconstrução das casas, a retomada das plantações, das chuvas, da fertilidade, da saúde tirada pela peste. Não apenas nossa vida eterna, mas nossa família, nosso trabalho, nossa dignidade como seres humanos, nossa vida na sociedade hoje e agora. O caminho para a cura, porém, passa por esses pontos fundamentais: humilhar-se, buscar a face de Deus e fazer a volta no caminho mau. Queremos a cura de Deus para nossa vida? Vamos aviar a receita divina, fazendo dela uma prática constante em nosso caminho; mais ainda, vamos ouvir o conselho divino e permanecer na saúde espiritual, fugindo dessa doença mortal chamada pecado. Deus é conosco!

Sermão: A vitoriosa herança de Calebe

Texto: Josué 14.1-14

Tempo litúrgico: Aniversário das SMM – 20 de julho de 2008


Introdução

Há lutas na história da humanidade que levaram muito tempo para serem vencidas. A vitória dependeu, em muito, da persistência dos que acreditavam nos ideais. Muitas vidas foram perdidas ao longo do processo, mas houve um dia em que a vitória pôde ser proclamada. Uma das mais antigas foi a Guerra do Peloponeso, que aconteceu de 431 a 404 a.C. Foram 27 anos de batalha entre as cidades-estado gregas, provocada pelas disputas entre atenienses e espartanos na Antiguidade Clássica. Recentemente, temos longas guerras civis ainda em andamento, especialmente na África. Existem vários fatores que podem motivar esses conflitos, mas eles devem ser fortes o suficiente para levar até mesmo gerações diferentes a entrar na luta por ideais que consideram elevados.

Na vida cristã, existem batalhas que levamos muito tempo para vencer. Na verdade, lutamos o tempo todo, até que a morte nos traga o descanso enquanto aguardamos o Senhor, ou até que ele volte nas nuvens para levar seu povo escolhido. Jesus disse: “No mundo tereis aflições, mas tende bom ânimo, eu venci o mundo!” (João 16.33).

A Sociedade de Mulheres da Igreja Metodista existe no Brasil, segundo documentos oficiais, desde 1884, quando teria sido organizada a primeira delas, na Igreja do Catete. Há relatos, porém, que antecipam essa organização em alguns anos, no interior de São Paulo. Certo, porém, é que celebramos oficialmente hoje 124 anos dessa organização.

Subsistir não é fácil. Diz o ditado que existem mil razões para não fazer alguma coisa e apenas uma para fazer. Isto é, quando queremos alguma coisa, não precisamos de muitas justificativas para isso. Um só motivo basta. Precisamos de muitas desculpas é para não fazer.

A história de Calebe

Na história do povo de Deus no Antigo Testamento, há um lindo relato a respeito da perseverança para conquistar algo. É a história de Calebe. Ele foi um dos espias enviados por Moisés à terra prometida. Naquele tempo, ele tinha quarenta anos de idade. Era um homem maduro, no vigor físico e mental requeridos de um soldado. Estava alerta, pronto e saudável. Pronto para lutar e para vencer. Mas seus companheiros de guerra e de espionagem vacilaram. Em Números 13, é contado que eles voltaram de espiar a terra e declararam ao povo como se sentiam diante de seus adversários. Os inimigos eram fortes, altos, grandes e numerosos. Aos olhos deles, os hebreus nômades eram como gafanhotos. E eles se comportaram como gafanhotos, fugindo em debandada diante dos inimigos. Seu olhar era pequeno, bem como sua fé. Por causa disso, não foi possível a conquista. Eles pagaram um preço pela incredulidade. Deus fez uma dura promessa: eles não entrariam na terra prometida. Vagariam pelo deserto por 40 anos até que toda aquela geração morresse e um novo povo, que não fosse rebelde e descrente como eles, veriam a promessa da qual eles duvidaram (Números 14). Todos, exceto Josué e Calebe, os únicos que tiveram a visão de Deus para a conquista. Eles que não se viram “como gafanhotos”, mas como “filhos de Deus”, escolhidos pelo Senhor para a conquista. A eles, deu o Senhor outra promessa: “Porém o meu servo Calebe, porquanto nele houve outro espírito, e perseverou em seguir-me, eu o levarei à terra em que entrou, e a sua descendência a possuirá em herança” (Números 14.24).

Depois de aproximadamente 45 anos, estava Josué à frente do povo, diante do Jordão. Ele mesmo, agora já também idoso. Não sabemos quantos anos ele tinha quando foi espiar a terra. Mas Deus havia prometido que todos aqueles com mais de 20 anos de idade não veriam a terra. Se tivesse por volta de 30 naquela época, já que foi escolhido como um homem experiente para a espionagem e a guerra, teria ele pelo menos uns 75 anos. Estava idoso e um pouco cansado. Imagine o que seja peregrinar sem rumo por 40 anos de sua vida, sem pouso, sem parada, sem uma casa onde morar, sem dar estabilidade à família. Mas a perseverança agora estava sendo recompensada. Diante da terra, na noite anterior à guerra, certamente Josué reviveu tudo o que tinha experimentado. Aquela era a mesma terra, quem sabe o mesmo lugar de onde ele observava ao longe 45 anos antes... E seu colega Calebe se aproxima dele para rememorar as palavras ditas por Deus há tempo tempo atrás. Calebe nos ensina algumas lições importantes para a vitória em nossa vida no dia de hoje. Lições que muita gente do passado também aprendeu e deixou hoje para nós. Lições que quero partilhar, de modo especial, conosco que hoje celebramos 124 anos do trabalho feminino organizado em Sociedades na nossa Igreja Metodista!

Calebe venceu porque guardou a promessa

Imagine Calebe diante daquele povo descrente, há 45 anos. Imagine o furor que deve ter subido ao seu coração no primeiro momento, como um homem corajoso e guerreiro que ele era. Seu rosto deve ter ficado crispado de ânsia pela guerra, pela conquista. Seu coração devia estar cheio de fé na promessa divina. Mas seus companheiros não pensavam como ele e logo desanimaram todo o povo. Ele deve ter insistido, chamado o povo à razão. Um Deus que põe água e carne no deserto, que põe comida à mesa diariamente, que faz milagres incríveis, que abre o Mar Vermelho não pode ser alvo de tamanha descrença! Vamos à guerra!, ele deve ter clamado. Em vão. E o resultado da incredulidade é a promessa de que não poderão chegar ao destino no tempo certo. Que existe mais a esperar. Uma espera mortífera e inútil. Apenas para que uma geração inteira morra. Isso seria de desanimar qualquer um.

“A esperança adiada desfalece o coração, mas o desejo atendido é árvore de vida”, diz Provérbios 13.12. Calebe deve ter lutado muito contra os sentimentos de desânimo ao longo dos anos. Eu, no lugar dele, talvez amaldiçoasse meus conterrâneos, porque a incredulidade deles tirou a minha bênção. Pelo menos, esse pensamento me assaltaria de quando em vez...

Mas Calebe não se deixou amargurar pela incredulidade dos outros. Temos tanta facilidade para guardar as palavras más que nos dizem, mas tanta facilidade em esquecer os elogios. Sabemos dizer quando e como Deus nos provou no passado, mas talvez não tenhamos riqueza de detalhes para descrever o que ele nos prometeu ao longo do caminho. A vitória não é uma batalha rápida, que se vence de uma vez. A verdadeira vitória pode consistir de longas e contínuas batalhas, até que se chegue ao final. Por isso, diziam os generais antigos: “Ganha-se uma batalha, mas ainda se pode perder a guerra”! Vencer requer perseverança, requer um coração forte. Isso não se consegue guardando ressentimentos, mas mantendo o foco nas promessas. Esse era o coração de Calebe, porque ele mesmo declara a Josué: “Quarenta anos tinha eu, quando Moisés, servo do Senhor, me enviou de Cades-Barnéia a espiar a terra; e eu lhe trouxe resposta, como sentia no meu coração; mas meus irmãos, que subiram comigo, fizeram derreter o coração do povo; eu, porém, perseverei em seguir ao Senhor, meu Deus”.

No coração de Calebe não havia espaço para a incredulidade há 45 anos e não havia espaço para ressentimentos 45 anos depois. A hora era de conquista e isso requeria um ânimo de espírito que havia sido forjado em anos e anos de deserto, de luta e de espera.

Que promessas Deus fez a você e a mim e que ainda não foram cumpridas? Você as jogou fora? Você desistiu delas? Ou você as mantém vivas no seu coração, alimentando-as com oração e perseverança, aguardando pelo resultado? As promessas de Deus podem ser como o bambu chinês. Já ouviu falar nele?

“O bambu-chinês (Bambusa mitis) é uma planta da família das gramíneas, nativa do Oriente - Sul da China. Caracteristicas: Possui colmos verde-escuros e folhas compridas e largas, verde-claras. Nome científico: Dendrocalamus latiflorus Utilidade: Fornece material pouco resistente utilizado em marcenaria e cestaria, porém é excelente para lenharia. Os brotos do Bambu Chines, são comestivés 'Variações de nome:'bambu-bengala e bambu-verde. Depois de plantada a semente deste incrível arbusto, não se vê nada por aproximadamente 5 anos, exceto um lento desabrochar de um diminuto broto a partir do bulbo. Durante 5 anos, todo o crescimento é subterrâneo, invisível a olho nu, mas... uma maciça e fibrosa estrutura de raiz que se estende vertical e horizontalmente pela terra está sendo construída. Então, no final do 5º ano, o bambu chinês cresce até atingir a altura de 25 metros” (Wikipédia).

Calebe plantou a semente da promessa divina em seu coração. Todos os dias, ele rememorava o que Deus tinha lhe dito. Essa semente, invisível a olho nu, pois ele continuava peregrinando, se tornou verdade naquele dia, 45 anos depois. Guarde a promessa que Deus fez a você. Ele vai cumpri-la a seu tempo. Tão somente mantenha seu coração focado na promessa, não nas desavenças, nem nas dificuldades. As promessas de Deus são sementes que não morrem...

Calebe venceu porque manteve a resistência

Muitas lutas que enfrentamos podem extrair nossas forças a ponto de desfalecer. O desfalecimento é um grave perigo, tanto espiritual quanto fisicamente. Vemos os atletas que desmaiam depois de longas corridas e sabemos que é muito perigoso, pois o excesso de fadiga pode sobrecarregar pulmões e coração, levando à morte. O cristão deve manter-se no foco da resistência.

Paulo diz: “E não nos cansemos de fazer o bem, porque a seu tempo ceifaremos, se não desfalecermos” (Gálatas 6.9). Em Lucas 18, Jesus conta a história da mulher que constantemente ia a um juiz, até que ele atendeu à sua causa. Lucas nos fala que Jesus queria ensinar-nos sobre o dever de orar sempre e nunca desfalecer.

No Salmo 119.81-83, o salmista faz um paralelo entre a situação difícil que vivia e a disposição em que procurava manter o seu coração: “Desfalece a minha alma pela tua salvação, mas espero na tua palavra. Os meus olhos desfalecem pela tua palavra; entrementes dizia: Quando me consolarás tu? Pois estou como odre na fumaça; contudo não me esqueço dos teus estatutos”.

Dizem que Thomas Edson, o importante pesquisador, considerado um dos mais fecundos inventores da humanidade, após dois anos de experiências fracassadas, ouviu atenciosamente um dos seus colaboradores que, desanimado, argumentou: "Vamos desistir desse invento. Já fizemos 700 experiências inúteis! Não há mais o que tentar!" Thomas Edison teria respondido: "Não podemos abandonar a tarefa neste momento, quando já sabemos que 700 testes não devem mais ser experimentados!" E, insistindo um pouco mais, em outubro de 1879, ele descobriu a lâmpada elétrica, a mesma que usamos até os dias de hoje em nossas casas...

De que você tem desistido? Que orações você tem abandonado por achar que já passou tempo demais sem resposta? Que caminhos ou tentativas você deixou de lado sem tentar um pouco mais? A palavra de Deus diz que o Senhor não tem prazer nas pessoas que retrocedem, mas naquelas que seguem adiante. Um dos versículos que sempre gosto de trazer à mente é exatamente este: “Desembaraçando das coisas que para trás ficam e caminhando para as que diante de mim estão”... Muitas vezes, não resistimos porque ficamos amarrados ao erro do passado. Deus não quer que desistamos, mas que tentemos outra vez. Que mantenhamos a resistência, pois o desânimo, na longa batalha da vida, é fatal!

Calebe venceu porque renovou suas forças

A resistência não é mantida por si mesma. Só adquirimos resistência pelo esforço: o atleta que treina, o jogador de xadrez que exercita a mente para as jogadas, o médico que se aprimora em sua arte de curar são exemplos de pessoas que se renovam na busca por uma performance melhor naquilo que fazem.

Calebe, ao se aproximar de Josué, lhe diz: “E agora eis que o SENHOR me conservou em vida, como disse; quarenta e cinco anos são passados, desde que o SENHOR falou esta palavra a Moisés, andando Israel ainda no deserto; e agora eis que hoje tenho já oitenta e cinco anos; e ainda hoje estou tão forte como no dia em que Moisés me enviou; qual era a minha força então, tal é agora a minha força, tanto para a guerra como para sair e entrar”.

Que coisa maravilhosa! Alguém que mantém suas forças em dia! Calebe não aposentou sua espada enquanto não conquistou o que era a promessa de Deus para ele! Ele treinou e esperou por anos a fio a fim de estar pronto para o que fosse necessário! Sua resistência não era algo apenas motivacional, mas físico, por tomar todo o seu ser!

Quantas vezes achamos que já fizemos o que tínhamos de fazer. Tiramos folga de nossos ministérios, abrimos mão de nossos espaços, achamos que estamos melhor sem fazer nada do que se estivermos envolvidos, nos sentimos cansados pelo serviço de Deus. Achamos que somos novos demais, velhos demais, casados demais, ocupados demais, pecadores demais. E perdemos as forças porque não as usamos!

Calebe venceu porque nunca esteve fora da batalha. Porque não tirou folga, nem amorteceu os músculos. Que homem de 85 anos pode dizer o que ele disse senão aquele que se manteve em forma ao longo de toda a sua vida?

A palavra de Deus diz, em Isaías 40.31: "Mas os que esperam no Senhor, renovarão as suas forças, caminharão e não se fatigarão."

Você tem se sentido cansado de suas lutas? Você tem se desanimado? Tem vontade de jogar tudo para o alto? Isso pode nos acontecer muitas vezes ao longo do caminho, é natural e humano. Mas não ceda a essa tentação ou você não verá a terra prometida! “Descansa no Senhor e espera nele”; “Vinde a mim todos vós que estais cansados e sobrecarregados e eu vos aliviarei” – é Jesus que promete a você que é possível ser renovado em suas forças, é possível continuar no campo de batalha, é possível vencer! Renove suas forças no Senhor e em suas promessas que não falham. “Aquele que perseverar até o fim, será salvo!”, ponha em prática as promessas de Jesus e encontre nele o vigor...

Calebe venceu porque lutou a última batalha

“Agora, pois, dá-me este monte de que o Senhor falou aquele dia; pois naquele dia tu ouviste que estavam ali os anaquins, e grandes e fortes cidades. Porventura, o Senhor será comigo, para os expulsar, como o Senhor disse. E Josué o abençoou, e deu a Calebe, filho de Jefoné, a Hebrom em herança. Portanto, Hebrom ficou sendo herança de Calebe, filho de Jefoné o quenezeu, até ao dia de hoje, porquanto perseverara em seguir ao Senhor, Deus de Israel.” Calebe, em seus oitenta e cinco anos de idade, não permitiu que lutassem a luta final por ele. Ele subiu com seus companheiros e conquistou o monte que Deus havia lhe prometido. Antes, aquele lugar era chamado de Arba, um dos nomes dos grandes entre os gigantes que ali viviam. Era uma homenagem a um ser humano, que embora fosse forte e valente, era apenas humano. Mas Calebe deu a sua herança um novo nome, um nome significativo e que nos revela o caráter de vencedor que havia neste homem de Deus. Hebrom significa união, aliança. Sinaliza não somente que Calebe não teve sua vitória final sozinho, mas que ele a partilhou com seus companheiros de luta e com Deus, seu Senhor. A conquista verdadeira é aquela que vem como resultado de uma aliança feita com o Deus verdadeiro. Uma aliança perene, que resiste à incredulidade ao nosso redor, que resiste aos castigos impostos pela vida, que resiste às tempestades e lutas do deserto, que resiste ao tempo e encontra seu cumprimento em Deus.

Calebe venceu porque guardou a promessa, porque manteve a resistência, porque renovou as forças e porque lutou as batalhas que havia para lutar. Eu e você também podemos usar esses mesmos princípios espirituais para vencer nossas lutas hoje. Para continuar no caminho dos que creram antes de nós e para deixar uma herança para quem vier depois. Que sejamos Calebes para nosso tempo. Quando todos deixarem de crer, creiamos. Quando todos desanimarem, alimentemos nosso coração com as promessas. Quando todos se cansarem, renovemos nossas forças. E a vida ao redor se extinguir, prosseguiremos vivos para sempre. Não se trata de nós, mas do Deus que é fiel em suas promessas... Quem viver, verá! Quem será?

O povo do coração aquecido

“O justo viverá pela fé” (Romanos 1:17, Habacuque 2:4, Gálatas 3:11, Hebreus 10.38) Uma experiência de mais de um dia John Wesley era um jov...