terça-feira, 30 de junho de 2009

O consolo de Deus - Isaías 35.1-8

Tenho dito a Deus que estou cansada de ficar triste. Há muitos motivos hoje para chorar. Certamente, cada pessoa que me ouvir ou que ler este texto vai pensar a mesma coisa. Contas inesperadas, enfermidades na família, mortes de pessoas queridas. Um acidente de avião no qual morrem mais de uma centena de pessoas. Vizinhos que se atracam com violência por causa de um muro ou de um aparelho de som muito alto. Coisas inexplicáveis que nos deixam entre a tristeza e o riso, como se escondessem um pouco de comédia. Fiquei penalizada ao ler que o Michael Jackson morreu, porque a vida dele foi muito triste, eu imagino. Seus últimos dias foram de expectativa de voltar a um antigo tempo de sucesso perdido no horizonte. Ele não teve tempo para realizar seus sonhos, nem para pensar em Deus ou na sua vida eterna. Mas depois de poucas horas de sua morte, muitos CDs e DVDs sobre ele foram vendidos. Achei engraçado pensar que enquanto ele estava vivo as músicas não prestavam, mas agora que ele morreu, tudo é sucesso! Pra mim, isso é uma prova contundente da superficialidade e da hipocrisia do mundo em que nós vivemos...

E eu fico triste. Faz tempos que vivemos cansados. Que uma noite de sono não nos desperta para um dia animado. Encontramos pessoas tristes por onde quer que olhemos. Entramos num hospital para visitar pessoas que estão se aproximando da morte ao mesmo tempo em que, ao lado, nasce um bebê. E quando olhamos para esse neném, não é raro a gente pensar: Coitadinho, mal sabe o mundo em que está entrando...

As pessoas estão sempre reclamando de alguma coisa. Estamos sempre com frio, com calor, gripados, estressados, atrasados, cheios de trabalho, nervosos, com TPM, com pressão alta, com pressão baixa, com falta de ar, com alguma coisa no olho... Nunca temos dinheiro para nada e estamos sempre gastando mais. O mundo é um lugar de desânimo. Nós nos sentimos impotentes para fazer a diferença.

Por isso, tenho falado para Deus que estou cansada de ficar triste. Estou cansada de ver problemas na igreja ou nas lideranças. Estou cansada de pregar e parecer que não faz diferença. Estou cansada de chorar as pessoas que estão morrendo. Estou em busca de consolo. Estou ansiando por dias melhores. Estou desejando que Jesus volte logo ou que um avivamento real aconteça, no qual milagres na vida das pessoas, na economia, na política, na sociedade. Quero algo novo no mundo ou um mundo novo. Não importa como Deus o faça – o importante é que eu veja acontecer.

Então eu me deparo com o sonho de Isaías – sua visão de um futuro consolador. São palavras que Deus escreveu para mim, para você, para cada um de nós. Ele fala de uma visão de esperança. Uma visão que quero partilhar com vocês nesta noite.

Uma terra alegre

Isaías fala nos primeiros versículos deste capítulo que a terra toda estaria em flor no momento em que o consolo de Deus se manifestaria ao povo. Eu vejo isso quando estou em viagem, toda semana para Juiz de Fora. São duas horas que normalmente eu tenho só com Deus, para ir e depois duas horas para voltar. Na noite, a gente fica mais tenso e nem dá pra ver muito as belezas ao redor. Mas na ida, mesmo com o corre-corre do dia-a-dia, Deus tem me agraciado com visões consoladoras de beleza...

No caminho de Astolfo Dutra, eu vejo umas árvores de todas as cores... Agora, nesse tempo frio, mesmo assim há muitos ipês com um sem fim de flores cor-de-rosa. Outro dia, fiquei uns quarenta minutos parada porque eu fui pela estrada de Leopoldina. Enquanto eu ficava meio que preocupada por chegar atrasada à aula, as pessoas desciam de seus carros em busca do barulho de água forte que vinha até nós. Lá embaixo, uma cachoeira enorme. Os minutos passaram mais depressa. Um moço veio vendendo mexericas. Como estavam suculentas, bonitas e saborosas... Olhando aquele alaranjado tão bonito das frutas, eu agradeci a Deus. Pensei no quanto minhas filhas gostam dessa fruta. Louvei a Deus pela alegria de vê-las com saúde para comer o que querem. Pensamentos que alegraram minha tarde, visões de Deus que me deram consolo.

Então eu penso que mesmo com as tristezas da nossa vida, temos de aprender a nos alegrar. Mesmo tristes, temos de aprender a ser felizes. Porque um pensador chamado Teilhard de Chardin disse: “A alegria não é a ausência da dor, mas a presença de Deus”. Ele também disse: “Não vejo outra saída, senão seguir em frente”. Ele devia saber do que estava falando, porque ele sofreu bastante ao longo de sua vida, por causa de sua fé.

Corpos restaurados

Outra imagem do consolo de Deus está nos versículos 3-6: todas as limitações de nossos corpos físicos serão superadas. Seremos pessoas plenas em nossa humanidade, teremos saúde tanto física quanto emocional. Mãos e joelhos, que evocam o trabalho e o sustento corporal, serão restaurados. Corações desconsolados receberão a bênção de ter a certeza da presença de Deus.

Eu vejo este consolo de Deus um pouco ausente hoje de nossas expressões de fé. Falamos pouco sobre a vida futura e quando fazemos isso é negando a vida presente. Eu acredito na vida depois da morte, mas acredito na vida antes da morte também. Rubem Alves fala, num de seus livros, sobre a ressurreição do corpo, de como ele acredita nisso porque nossos corpos precisam ser redimidos de toda a dor que enfrentamos neste mundo. Mas eu creio também que Deus ressuscita nossos corpos quando nos leva além de nossas limitações. Eu vi na internet um vídeo de uma mãe que não tem braços e carrega seu bebê, faz compras sozinha no supermercado, cuida da casa, faz ginástica... Vi um homem que não tem as mãos e toca violão com os pés. Minha afilhada não pode ouvir, mas ninguém enxerga um mundo mais colorido do que ela, basta ver como são brilhantes e coloridos os quadros que ela pinta. Eu acho mesmo que ela enxerga os sons... Deus ressuscita nossos corpos quando nós não nos permitimos os limites que esta vida impõe a eles. A jovem paraplégica que é modelo, o cientista que depois de diagnosticado com uma doença degenerativa fez grandes descobertas sobre a astronomia. Deus ressuscitando corpos.

E mesmo quando as pessoas morrem. Como estamos vivendo dias de luto, eu penso que Deus ressuscita nossos corpos na saudade. Rubem Alves, o pensador que citei, escreveu: “É preciso não esquecer a saudade. É ela que faz toda a diferença. Deus mora na saudade, ali onde o amor e a ausência se encontram”. Quando alguém morre e nós não permitimos a Deus ressuscitar a esperança em nós, então morremos com aquela pessoa e a vida deixa de existir. Perdendo a vida, perdemos a alegria. Por isso é que, embora difícil, é importante a frase do ritual fúnebre que diz: “Há coisas a fazer, pessoas a cuidar, providências a tomar...”

Quem aprisiona o amor e nega a ausência jamais vai experimentar, em profundidade, qual ressuscitadora é a esperança que nasce da saudade! Jamais encontrará o consolo de Deus, porque só tem morte dentro de si e ainda não experimentou a vida...

Um novo caminho

O consolo de Deus aponta um novo caminho para a gente. Pra mim, esta é a parte onde entra a nossa tarefa para receber o consolo de Deus. De nada adianta um novo caminho se ninguém anda por ele. O caminho não é difícil. Até o doido anda por ele, diz o texto. Deus não escolhe somente uns e outros para este caminho de consolo. Mesmo quem não bate bem das ideias humanas pode entender as ideias de Deus! Não é preciso ser superdotado, é preciso apenas andar.

Não adianta pedir a Deus que nos console de nossas tristezas e dores se continuamos a andar no caminho das dores e tristezas. É como aquele burro que trabalhou no moinho a vida toda. Quando o tiraram do moinho, para uma vida livre na aposentadoria, o burro passava todo o dia andando em círculos no pasto. Tiraram o burro do moinho, mas não tiraram o moinho do burro... Não adiantam bênçãos novas se nossos olhos ainda estão embotados pelas lágrimas antigas.

Este novo caminho que Deus nos propõe, em Jesus, é um caminho seguro. Um caminho de canções de alegria. Tão altas essas canções, tão esfuziantes e vibrantes que a tristeza e o gemido fugirão diante delas. Se nos entregarmos demais à tristeza e ao abatimento, teremos esquecido como é estar alegre quando todos estiverem cantando.

2 comentários:

  1. Que Linda msgem..! Realmente viver nesse mundo vem se tornando um infórtunio... mas Deus não permite que isso nos abale, sempre nos mostra de diversas formas alegrias para darmos Graças á Ele..! Deixarmos "lutos" e a tristeza pela perda de quem amamos é o que faz a difenrença para que não vivamos um eterno caminho de infelicidade.. vivenciei isso nos últimos meses me permitindo e querendo sentir toda dor da perda da pessoa que mais amava... mas Deus com sua eterna miserricórdia me fez enxergar que não era isso o que Ele queria para mim, e a saudade hoje já não é uma dor inconsolável e sim a demonstração do meu " amor pela ausência" de quem eu perdi..! Um grande abraço! =*

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  2. Nossa!!!!
    Que grande bênção este texto na minha vida..tudo muito verdadeiro o seu desabafo......Deus é o único que pode nos consolar,mas também cabe a nós querer realmente este consolo.....abraçossss

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