segunda-feira, 29 de março de 2010

Avanço econômico passa por mãos femininas -COOL!

(na foto, as mulheres da família: Amanda, Giovanna e euzinha!)

Por Fernanda Pompeu, especial para o Yahoo! Brasil
Os poderosos do Fórum Econômico de Davos poderiam aprender com as mulheres como se virar em crises agudas. Pois, em circunstâncias de pobreza e até de extrema pobreza, elas seguram o rojão da subsistência e alimentam a lamparina da esperança. Um dos primeiros a chegar a essa conclusão foi Muhammad Yunus, criador do bem-sucedido banco do povo para pessoas de baixíssima renda de Bangladesh. No Grameen Bank, 97% dos clientes são mulheres.
Ao receber o Prêmio Nobel da Paz de 2006, Yunus declarou: "Elas criam micronegócios em cenários altamente adversos, ajudam toda a família e pagam seus empréstimos em dia." A partir da experiência do banco do povo, vários países, entre eles o Brasil, adotaram modelos de microcrédito, cerca de 1% de juro ao mês. Em todos, a história se repete: a maioria da clientela é feminina.
A parceria das mulheres impressiona também nos programas sociais. Estão nos mutirões de habitação e nas campanhas de saúde. São presença acachapante em iniciativas voltadas para crianças e adolescentes. São a maioria esmagadora dos cadastrados do Bolsa Família, um dos maiores programas de transferência de renda do mundo. Além de cumprirem com as condições impostas - manter as crianças na escola e o calendário de vacinação infantil em dia - são milagreiras. Inventam jeitos de transformar o quase nada em algumas coisas.
Estudiosas e estudiosos da cultura de gênero ressaltam o quanto o machismo empurra as mulheres para assumirem totalmente as responsabilidades da sobrevivência. Em condições de pobreza severa, muitos homens costumam pular fora. Ou vão para os bares torrar o pouco dinheiro em cerveja e partidas de sinuca, ou mudam de endereço abandonando mulheres e filhos.
Sandra dos Reis, beneficiária do Bolsa Família, lamenta: "Eu estava esperando o quarto filho quando meu companheiro 'pedalou'. Sumiu nesse mundão de Deus."
Outro fenômeno correlato e de grande impacto é o aumento de mulheres chefes de família. Segundo a Síntese de Indicadores Sociais de 2008, divulgada pelo IBGE, 34,9% das famílias brasileiras são chefiadas por mulheres. Sendo que a mulher é a pessoa de referência em mais da metade dos lares.
Ilda Ferreira da Silva, trabalhadora doméstica, não se surpreende com as estatísticas: "Sustentei meus dois filhos trabalhando sempre. Mesmo quando meu companheiro morava comigo, eu era o esteio de todos. Sou mãe e pai ao mesmo tempo. Sou a mulher e o homem da casa."
Explicar as causas do crescimento das mulheres na posição de provedoras principais não caberia em uma tese, mas em muitas. A educadora popular Bia Cannabrava, uma das fundadoras da Rede Mulher de Educação, chama a atenção para os ativos das mulheres, isto é, seus recursos interiores.
Plasmados em condições de dificuldade, elas os utilizam para minimizar os imensos obstáculos econômicos, sociais, educacionais, culturais. "Mas não só isso, as mulheres têm ativos para seguir em frente e propor formas criativas de superação", a educadora ressalta.
As feministas apontam que, nessa dinâmica, as mulheres se sobrecarregam ainda mais. Assumem papéis duplicados. Fiscalizam o que tem na panela e o que tem no caderno dos filhos. Trabalham dentro e fora da casa. O tempo e a energia para investir em si mesmas fica reduzidíssimo. Essa é a realidade para milhões de mulheres no planeta.
Mas o envolvimento das mulheres na roda do dinheiro não aparece apenas em situações de pobreza e de extrema pobreza. O empreendedorismo delas não está só ligado à necessidade de sobrevivência própria e da prole. Ele aparece associado ao desejo de melhorar os padrões de vida e de satisfação profissional. As mulheres estão taxiando na pista da economia de mercado.
O consultor de políticas públicas do Instituto Brasileiro de Excelência em Liderança e Gestão (Ibelg), Silvério Crestana, informa: "A partir de 2007, a capacidade empreendedora das brasileiras superou a dos homens. A cada 100 empresas criadas no país, 52 são dirigidas por mulheres."
Ele acrescenta que elas já são maioria no comércio varejista de vestiários e complementos, bem como capitaneiam as pequenas fábricas de alimentos e confecções.
A outra boa notícia é que no mundo das redes, no qual as relações são cada vez mais entrelaçadas e fluidas, as mulheres levam vantagem porque de tecer fios sempre entenderam. Também tomam a dianteira em outra habilidade muito requisitada: a capacidade multitarefa. Afinal, fazer várias coisas ao mesmo tempo é algo que estão acostumadas desde tempos imemoriais.
Mas, apesar dos números promissores, ainda falta um bocado para as mulheres decolarem e ganharem altitude no grande capital. Falta melhorar a divisão do trabalho doméstico e do cuidado com os familiares. Falta, principalmente, aprender com os homens como se atarefar menos para negociar mais.

terça-feira, 9 de março de 2010

Contemplando a beleza da santidade (Salmo 96)

“Que amo eu, quando Vos amo? Não amo a formosura corporal, nem a glória temporal, nem a claridade da luz, tão amiga destes meus olhos, nem as doces melodias das canções de todo gênero, nem o suave cheiro das flores, dos perfumes ou os aromas, nem o maná ou o mel, nem os membros tão flexíveis aos abraços da carne. Nada disto amo, quando amo meu Deus. E, contudo, amo uma luz, uma voz, um perfume, um alimento e um abraço, quando amo meu Deus, luz, voz, perfume e abraço do homem interior, onde brilha para a minha alma uma luz que nenhum espaço contém, onde ressoa uma voz que o tempo não arrebata, onde se exala um perfume que o vento não esparge, onde se saboreia uma comida que a sofreguidão não diminui, onde se sente um contato que a saciedade não desfaz. Eis o que amo, quando amo meu Deus. (Confissões de Agostinho, II, X, 6).
Ricardo Barbosa de Souza, escrevendo na revista Eclesia, traz a citação acima de Agostinho. Logo me apaixonei por ela. As pessoas de hoje, que tanto desprezam a tradição e o passado, dizendo que “quem gosta de coisa velha é museu”, não têm mais olhos para apreciar que as verdadeiras riquezas da humanidade não estão nos galhos altos, muito embora cheios de frutos, mas nas raízes, que a tudo sustentam e a tudo tornam possível. Aqueles homens e mulheres, sejam do passado longínquo, sejam do passado recente, não eram pecadores que nada sabiam e que impediram o avanço do Evangelho. Eram pecadores tementes, fiéis, que tomaram as pedradas que hoje não nos ferem, que foram arrastados por cavalos que hoje não nos ameaçam. E foi a fé deles que nos possibilitou até mesmo a liberdade de falar as besteiras que muitas vezes falamos hoje...
Bem, desculpe-me o desabafo, mas é porque fui convidada a refletir sobre o tema mais fútil de todos os tempos para estas pessoas que, como disse o pastor Ricardo em seu belo artigo, estão “reduzindo a vida a esquemas produtivos” do tipo: “como fazer sua igreja crescer”, “como ser um ministro eficiente”, “como obter o melhor de Deus”, etc. Falar de beleza é falar de contemplação. E contemplar significa parar tudo o que estamos fazendo, simplesmente para olhar... olhar e encantar-se, olhar e absorver, olhar e dizer: “Que bonito”, sem pretensão extra, sem nada prático, senão deslumbrar-se. Se contemplássemos mais, falaríamos menos. E como isso seria bom, você não acha?

A beleza de cantar

O Salmo 96 fala de explorarmos os nossos sentidos na adoração a Deus. Ele fala do cântico novo, que para mim tem muito mais a ver com o espírito com que se canta. Mesmo uma canção nova, com espírito envelhecido, deixa de ser algo digno de admiração. A beleza de cantar surpreende. Foi como aconteceu com aquela cantora do show de televisão, que correu o mundo. As aparências enganam, não é? A gente se surpreende com tanta gente que tem a estética, mas não a ética. É belo, mas, ao abrir da boca...
O cantar para Deus, por outro lado, é belo porque inclui. Cantai ao Senhor “todas as terras”. É uma canção comunitária, uma canção de abençoar: “bendizei o seu nome”, uma canção de anunciar “a glória” (em hebraico, kabod) do Senhor. O prof. Tércio Machado Siqueira explica que “a tradução mais comum de kabod é glória quando a referência está ligada a Deus, o Templo e a cidade de Jerusalém (Ex 29.43; 40.34-35; Lv 9.6-23; Nm 14.10). Nesse sentido, kabod, com o sentido de autoridade, honra ou glória, é usado, no AT, para descrever a presença, o poder e a reputação de Deus diante de Sua criação. Isaías diz que o kabod, glória, de Deus enche toda a terra (Is 6.3). O que caracteriza a glória de Deus é a Sua presença carregada de bondade, graça e compaixão (Êx 33.19)”.
Anunciar a glória e as maravilhas de Deus é cantar sua beleza. Por isso, a liturgia do culto deveria tocar mais profundamente nossos sentidos e nos levar à contemplação. Nos cheiros, nos sons, nos toques, deveríamos ser capazes de contemplar a beleza que Deus nos revela e conosco quer partilhar. Culto que não emociona, neste sentido profundo de parar e contemplar, observar, enlevar-se, embeber-se de beleza... não deveria ser chamado de culto. Por isso o louvor tem esta capacidade de encantar. A música consegue ir além da língua, da cultura, dos esquemas sociais, da qualidade do conhecimento. Pessoas diferentes podem ouvir uma mesma canção e se encantar com ela, independentemente do idioma que falem. O mesmo acontece com a poesia.
A beleza de olhar
Na Semana Wesleyana de 2009, fui convidada a palestrar. Noutro dia, ouvi o prof. Luiz Carlos Ramos falando acerca da importância da imagem em nosso tempo. Ele ressaltou que a gente se satisfaz mais na imagem gravada do que na participação do evento. Ele falou que a gente vai a uma festa, por exemplo, e vê alguém filmando. E a gente diz: ‘Não vejo a hora de assistir ao filme!’ Poxa vida, mas estamos vivendo a festa! Isso não deveria ser mais importante?”
O salmo nos convida a ver a beleza de Deus. Ele começa falando do culto, mas logo estende seu olhar para fora da Igreja e nos convida a fazer o mesmo. A participar dessa sensação boa que é olhar o que de bonito existe. Glória e majestade estão diante dele. Força e formosura, no seu santuário (este é o lado de dentro). Os céus se alegram, a terra exulta. O mar faz barulho com suas ondas e com os seres vivos dentro dele. O campo faz folga e todos os bichos dentro dele pulam de alegria. As árvores do bosque fazem música quando seus galhos balançam e nós nos regozijamos quando pegamos o fruto com a mão e o seu gosto escorre pelo canto da boca (este é o lado de fora).
Contemplação, gosto, riso, dança, festa, alegria. É bonito de se ver... Interessante é que há mais coisas do lado de fora do que do lado de dentro. E a gente limita tanto nossa vida... Ficamos contentes em assistir ao filme, ao enquadramento que nos é dado pelas estratégias, pelos planos, pelos encontros, pelo ‘quebrantamento’, pelas estruturas de poder... que esquecemos que a verdade está lá fora também. Que é preciso olhar. Um místico, chamado Merton, assim se expressou: “Devemos reverenciar toda a criação, porque o Verbo se fez carne. O universo criado é o templo de Deus, onde o mosteiro é como que o altar, a comunidade, o tabernáculo, e o próprio Jesus está presente na comunidade, oferecendo Sua homenagem de amor e louvor ao Pai e santificando almas e coisas”.
E eu me lembro de uma frase, no início do movimento de Dons e ministérios, que fala sobre esta capacidade de contemplar: “Orar com os olhos abertos”. Contemplar, sentir, tocar, cheirar, experimentar Deus na vida inteira e na inteireza da vida... E concluir, como o salmista: “Senhor, como tu és bonito!” (Salmo 104).

O povo do coração aquecido

“O justo viverá pela fé” (Romanos 1:17, Habacuque 2:4, Gálatas 3:11, Hebreus 10.38) Uma experiência de mais de um dia John Wesley era um jov...