sexta-feira, 23 de julho de 2010

Ebenézer, até aqui nos ajudou o Senhor! (1 Samuel 7.12 - pastoral escrita para a Igreja Metodista em Cataguases)

Havendo avançado em suas batalhas, Samuel pegou uma pedra e a colocou como marco para que o povo lembrasse até onde tinha ido e pudesse agradecer ao Senhor, pois a vitória só fora possível porque haviam recebido ajuda divina. Viajando muito, como é nossa prática, eu vejo cruzes ao longo da estrada. Elas também são marcos que servem para lembrar que, naquele ponto, uma vida foi ceifada pela violência do trânsito. Quando passo pelas estradas e observo as cruzes, fico pensando em quem teriam sido aquelas pessoas: em que trabalhavam, se eram jovens ou maduras, se tinham filhos ou não. Fico pensando nas pessoas em quem deixaram saudades por sua súbita partida e o vazio que ficou pela sua ausência. As cruzes da estrada são marcos de perdas, mas as pedras de Samuel eram marcos de vitória. Marcos, de qualquer modo, são testemunhos de uma história que alguém deseja que seja lembrada. Mas, na trajetória cristã, vale mais lembrar os ganhos que as perdas, uma vez que a morte não é a última resposta. Por isso, pergunto a você: o que deseja deixar como marcos em sua vida? Cruzes ou pedras?
No sentido em que estamos refletindo, deixar cruzes como marcos significa memórias tristes, de perdas e fracassos. São sinais que apontam a morte, a decepção e a tristeza. Há cristãos deixando estas marcas quando seu proceder contraria a lógica do Reino de Deus. Uma tristeza invade famílias, igrejas, relacionamentos, quando a morte é a marca que deixamos. Nosso testemunho é de ressurreição, de mudança; de transformação. Qualquer coisa distinta disto contraria a expectativa de Deus em nós e frustra o discipulado em nossa vida. Onde você tem sido visto? O que tem feito? Como tem agido diante dos desafios? Sua palavra é a rocha que edifica ou a cruz que apenas marca o lugar da perda, da morte, da dor?
Ao contrário, os marcos em nossa vida devem ser as pedras, até porque Jesus não está mais na cruz, mas ele permanece sendo a pedra angular. Pedras nos lembram durabilidade, resistência. Pedras também nos lembram construção. Nossa vida deve ser um testemunho das verdades que duram, sobre as quais podemos construir vidas que valham a pena. A pedra de Samuel lembrava que até ali eles tinham ido, mas que ainda podiam avançar adiante. A pedra era o marco de uma vitória, de uma nova possibilidade, da derrubada de obstáculos.
Nossa igreja está em tempo de construção. Haverá muitas ocasiões para falar: "Ebenézer", pois há muitos momentos de expectativa adiante de nós. Mas Samuel não pôs a pedra sozinho - como a liderança desta igreja também não fará. O povo estava junto, vencendo o desafio e celebrando a vitória. O povo reconheceu naquela pedra um símbolo de sua unidade tanto entre si como com o Senhor. O povo reconheceu na pedra o sinal da misericórdia divina. Sua vida deve refletir a vida do Senhor. Neste sentido, as cruzes, como aquelas das estradas, não são adequadas.
A cruz que nos serve de símbolo é aquela que marca o caminho do sepulcro vazio. A pedra que nos motiva é aquela rolada para o lado na boca do túmulo. A pedra que marca uma nova vida, a cruz que sinaliza tão somente a morte do velho ser e abre passagem ao novo. Seja você também parte daqueles que colocam pedras à beira do caminho, como marcos de uma vida sólida com o Senhor. Seja um discípulo/uma discípula com autenticidade. Não dá para viver duplicidades, para balançar de um lado para o outro, para vacilar. Seja você uma pedra viva no edifício de Deus. Faça parte do Ebenézer! (Hideide Brito Torres)

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Confissões de Agostinho

Quem me fará descansar em ti? Quem fará com que venhas ao meu coração e o inebries a ponto de eu esquecer os meus males, e me abraçar a ti, meu único bem? Que és para mim? Tem misericórdia, para que eu fale. Que sou eu aos teus olhos, para que me ordenes amar-te e, se eu não o fizer, te indignares (2) e me ameaçares com imensas desventuras? Como se o não te amar já fosse desgraça pequena! Dize-me, por compaixão, Senhor meu Deus, o que é tu para mim? Dize à minha alma: Eu sou a tua salvação. Dize de forma que eu te escute. Os ouvidos do meu coração estão diante de tu, Senhor; abre-os e dize à minha alma: Eu sou a tua salvação. Correrei atrás destas palavras e te segurarei. Não escondas de mim a tua face: que eu morra para contemplá-la e para não morrer!
Minha alma é morada muito estreita para te receber: será alargada por ti, Senhor. Está em ruínas: restaura-a! Ela tem coisas que ofendem aos teus olhos: eu o sei e confesso. Mas quem pode purificá-la? A quem, senão a ti, eu clamarei: Purifica-me, Senhor, dos pecados ocultos, e perdoa a teu servo as culpas alheias?  Creio, e por isso falo, Senhor: tu o sabes. Não te confessei contra mim as minhas faltas, meu Deus, e não perdoaste a maldade do meu coração? Não discuto contigo , que és a verdade, e não quero enganar a mim mesmo, para que a minha iniqüidade não minta a si mesmo. Não discuto contigo porque, se te lembrares de nossos pecados, Senhor, quem suportará teu olhar?

Sobre Deus...

Estava pensando acerca de como falar de Deus quando encontrei o texto de Ricardo Gondim, que postei aqui no outro dia. Sabe quando a gente encontra alguém que diz tanto o que a gente queria dizer, que parece nada mais haver para ser dito? Foi assim...
Também não sei explicar o que me faz amar a Deus. Não é a igreja, não é a função clerical, não é o serviço ou o culto. Não é nada tangível, ou visível aos olhos... Amar a Deus é assim, como estar num ônibus de madrugada, sentindo frio, cansada e sem vigor para enfrentar um monte de reuniões no dia seguinte, cheia de problemas insolúveis perturbando a alma, e erguer os olhos para ver uma lua como há muito não via... E esquecer de mim, da vida, do mundo todo, porque existe uma lua cheia no céu mesmo quando o coração está em pedaços...
Deus não existe simplesmente, porque muitas coisas existem e não são. Não. Deus não existe, Deus é... E ser é a essência dele. Ser o que ninguém espera. Deus é este mágico travestido de criança, brincando e sorrindo na minha frente, nos olhos das minhas filhas. Deus é a poesia da música que elas fazem, para me lembrar das poesias que eu fazia antigamente, quando não tinha tanta coisa na cabeça e, para dizer a verdade, muito mais  coisa que valia a pena no coração. Deus é aquele que reordena essas minhas prioridades tão equivocadas e que me entende quando eu não me entendo...
Deus é esta saudade no meu peito, é esse sonho teimoso na minha alma, a única coisa que me mantém de pé no meio das insanidades deste mundo... Deus é meu refúgio secreto, é a mão invisível que guarda minhas lágrimas. Eu encontrei nele um sentido que faz a vida possível e uma razão única para pensar que existe algo além desta vida... e, para ser sincera, nem me preocupo com o céu, nem com os tesouros tão propalados da vida no além... Se me fosse possível adentrar a eternidade para me perder na imensidão dele, como uma névoa que se dispersa sob o sol, então eu encontraria a plenitude... existir nele e nele estar, sem precisar consciência ou razão, só a alegria de abrir os braços ao infinito... Ele é a alegria e a liberdade de comer manga com as mãos e não se preocupar em limpar o queixo. Ele é o gosto único da água fria de nascente no meio do mato, que a gente nunca mais vai beber igual... Ele é o mistério daquela folhinha no meio da grama, que a gente toca e se fecha todinha... Ele é a cor súbita do peixe na vara de pescar e o gosto inigualável de comer o que a gente pegou com a mão no pé de fruta. Ele é a dor insuperável de uma contração de parto que explode em duas bolinhas de jabuticaba olhando você pela primeira vez, e o som do primeiro choro que te faz esquecer como é dura a vida e lembrar como é boa e fugaz a felicidade...
Ele é o bicho do mato que aparece no meio da estrada quando você está viajando sozinha e passa tão depressa que não te deixa ver o detalhe, só para te ajudar a exercer a imaginação tão enferrujada... Ele é a vontade que eu tenho de passar a mão num urso panda...
Ele é toda a minha vontade de céu... por causa dele, eu podia chegar lá só para ver seu rosto e morrer de novo para sempre que nem ia ligar... vê-lo só uma vez vale uma eternidade inteira... eu o amo porque ele é a única coisa que vale a pena, a única coisa que podemos dizer com certeza que é da gente...
Sim, ele é meu... é o meu Deus... tu és o meu Deus, a minha alma anseia por ti, o meu corpo te almeja, meu coração bate porque o teu bate... eu te amo, Senhor, te amo como eu posso, jamais como tu mereces... tu és a minha riqueza e só em ti encontro a paz...

sexta-feira, 9 de julho de 2010

Sobre Deus - Ricardo Gondim

Não sei explicar as razões de minha fé. Não sei dizer os porquês de minha devoção. Sinto-me inadequado para convencer os indiferentes. Como fazer que desejem o mesmo sal que tempera o meu viver? Limitado, reconheço que tudo o que sei sobre o Divino é provisório. Não tenho como negar, minhas convicções vacilam. As certezas que me comovem são, decididamente, vagas. Sei tão somente que Ele se tornou a minha meta, o meu norte, a minha nostalgia, o meu horizonte, o meu atracadouro. Empenhei o futuro para seguir os seus passos invisíveis. No dia em que o chamei de Senhor, a extensão do meu meridiano se alongou e os fragmentos de meu mapa existencial se encaixaram. Ao seu lado, caíram os tapumes da minha estrada e o ponteiro da minha bússola se imantou.
Sei tão somente que Ele se fez residente no campus dos meus pensamentos. Presente nos vôos da minha imaginação, transformou-se no mais doce ponto de minhas interrogações. Causa de toda inquietação, tornou-se a fonte de minha clarividência.
Sei tão somente que Ele se desfraldou como flâmula sobre meus ombros. Por amar tanto e tão formidavelmente, cilício, purgações, sacrifícios, tudo foi substituído por desassombro. No porão da tortura, nos suplícios culposos, achei um ambulatório, o seu regaço.
Livros contábeis, que registravam meus erros, foram rasgados. Encaro a eternidade com a sensação de que as sentenças estão suspensas. Já não fujo dEle como de um Átila. Eu o chamo de Clemente.
Sei tão somente que Ele ardeu o delicado filamento que acendeu a luz dos meus olhos. Ele foi o mourão que marcou o outeiro de minha alma; sou um jardim fechado. Ele é o badalo que dobra o sino do meu coração e o alforje onde guardo acertos e desacertos do meu destino.
Sei tão somente que Ele me fascina com a sua luz refratada em muitos matizes. Dele vem o encarnado que tinge a minha face com o rubor do sol. Seu amarelo me brinda com o açafrão do mistério transcendental. Vejo um roxo que me colore de púrpura real. Seu branco é lunar e me prateia. Seu preto me imprime de um nanquim celeste. Por sua causa, a minha alma espelha o azul dos oceanos virgens.
O que dizer de Deus? Tão pouco! Calado, só espero que o meu espanto celebre o tamanho da minha reverência.
Soli Deo Gloria

sexta-feira, 2 de julho de 2010

Pagar o preço

Mas o que para mim era ganho reputei-o perda por Cristo. Filipenses 3.7

Uma frase vem ganhando cada vez mais expressividade entre os evangélicos capitalistas de nosso tempo: pagar o preço. Ela é de inspiração bíblica e de interpretação muitas vezes demoníaca... Tem suas origens nas Escrituras e sua deturpação em muitos púlpitos. No entanto, ela é autenticamente importante no contexto do discipulado...
Para muita gente, pagar o preço significa tentar comprar a bênção de Deus por mesquinharias humanas. Na Bíblia, pagar o preço é o que Cristo fez, cumprindo o que fosse necessário para que a vida humana fosse preservada, salva, resgatada e purificada do pecado.
Para muita gente, pagar o preço significa abrir mão dos seus prazeres pessoais, num falso ascetismo cristão, com o fim de alcançar algum benefício divino ou poder sobre a comunidade dos fiéis. Na Bíblia, pagar o preço foi o que o apóstolo Paulo fez, sendo açoitado, aprisionado, ferido, apedrejado, para que as pessoas de seu tempo pudessem ouvir a mensagem da salvação.
Para muita gente, pagar o preço significa deixar de fazer o que se quer, com o fim de obter alguma vantagem institucional ou eclesiástica. Para os primeiros cristãos, pagar o preço era ser o pária da sociedade, abandonando espaços e status para viver em catacumbas, com o fim de permanecer fiel a Cristo.
Para muita gente, pagar o preço significa desvalorizar a graça - "Deus não faz exigência alguma de nós", dizem eles, com isso abrindo mão da ética, da moral, do respeito aos valores mais elevados da vida. Deus não exige estas coisas dos cristãos - Ele o demanda de cada ser humano que, criado à sua imagem e semelhança, deve ver no outro e na outra tanto um reflexo de Deus como de si mesmo. Por isso é que Jesus disse: "Façam aos outros o que querem que seja feito a vocês..." A graça nos concede não a liberdade de fazer o que queremos, mas de ser capazes de fazer o que é preciso, tendo o outro e a outra como fonte do nosso amor, não do nosso sacrifício, neste sentido pejorativo com que se vê...
Temos, sim, de pagar o preço pela nossa fé, pelo nosso compromisso com Deus. Um preço que é o desagradar a nós mesmos... temos sido tão agradados por esta fé falseada e mercadológica, hedonista e egoísta, que desvalorizamos o alto preço que ela custa...
A Igreja e, nela, cada um de nós, deve ser convidada a repensar se deseja pagar o preço de servir a Cristo. Isso significa reconhecer o valor daquilo que temos. Esta é uma lição que aprendi na infância. Meus pais sempre me ensinaram a valorizar cada roupa, brinquedo e passeio, fazendo-me saber quanto aquilo tinha custado em termos de esforço, trabalho, dinheiro e tempo. Assim, eu não seria como o filho pródigo, desperdiçando aquilo que não era fruto do meu suor. Lição aprendida também para com a minha fé em Cristo - ela custou um preço alto ao meu Senhor. O preço que ele requer de mim é a fidelidade, o coração atento, a vida comprometida. Não é barganhar com a graça, mas dar a ela o seu devido valor... Observe seu proceder, sua forma de conduzir sua vida, os valores que a regem, a forma como as outras pessoas se referem a seu respeito: tudo isso mostra e realça o valor de Cristo e da salvação em sua vida? Caso contrário, você está barateando a graça, não está pagando o preço. Pagar o preço não é fazer sacrifício - é dar o valor devido, é viver à altura da graça... Paulo sabia disso ao declarar: Mas o que para mim era ganho reputei-o perda por Cristo... Somos capazes de dizer o mesmo, num mundo que valoriza tanto o lucro, de qualquer natureza que seja? Esta é a reflexão que quero deixar para você no dia de hoje.

O povo do coração aquecido

“O justo viverá pela fé” (Romanos 1:17, Habacuque 2:4, Gálatas 3:11, Hebreus 10.38) Uma experiência de mais de um dia John Wesley era um jov...