Este texto é um resumo da pastoral que escrevi, a pedido da Federação de Jovens da 4ª. Região Eclesiástica, sobre o uso cristão e ético dos meios de comunicação, em particular, a internet. Creio que o tema se aplica a todos nós e tem tudo a ver com a questão da santidade, proposta nesta edição, por isso, resolvi partilhá-lo também com as pessoas que lêem a nossa Voz Missionária. O texto na íntegra pode ser encontrado no site da Federação de Jovens.
Uma das principais ênfases da Igreja Metodista é na vida de santidade. Isso não se faz em termos formalistas ou moralistas, mas na vivência da fé diariamente, em busca da mente de Cristo, purificando os corações de todo o mal. O Salmo 15 nos inspira em direção à santidade, porque ele é bem prático quanto ao que isso significa: “viver com integridade, praticar a justiça e falar a verdade”, entre outras posturas requeridas da pessoa que teme a Deus.
De muitas maneiras, temos visto como a tecnologia atual permite rapidamente esquecermos esses princípios. Devemos resgatar o princípio de que a comunicação deve ser feita visando à verdade, à vida e à justiça.
“Intern-ética”
O Salmo 15 afirma que a pessoa que tem acesso ao Monte do Senhor, ao lugar da sua intimidade, é aquela que “o que não difama com sua língua; não faz mal ao próximo nem lança injúria contra o seu vizinho; o que, a seus olhos, tem por desprezível ao réprobo”. Como essa palavra tão antiga se aplica hoje ao contexto das novas tecnologias? Poderíamos, numa releitura, dizer: “o que não difama com seu teclado, não faz mal ao próximo divulgando mensagens de conteúdo distorcido ou ofensivo, nem envia e-mails anônimos. O que, aos seus olhos, tem por desprezível toda página de internet que traz conteúdos reprováveis”.
Como podemos estabelecer para nós uma forma de conduta que nos permita de modo consciente utilizar esses meios e ser neles promotores e promotoras da vida de Cristo? Chamaremos a isso de “intern-ética”!
Primeiro ponto: Não receber nem transmitir mensagens anônimas que se refiram a acusações contra quaisquer pessoas. Quem realmente tem confiança no que diz não precisa se esconder. A pessoa justa manifesta sua indignação contra algo que a aborrece e assume a responsabilidade pelo que diz. Anonimato é covardia e a Palavra de Deus condena veementemente tal disposição.
Segundo ponto: O respeito às pessoas não perdeu seu lugar quando o confronto passa do pessoal ao escrito. Só porque a gente não está falando “cara a cara” não significa que podemos escrever o que nos der na idéia, sem medir as conseqüências. Muita gente se aproveita do universo online para ser desrespeitosa, usando mesmo palavras torpes, pesadas, que não combinam com o linguajar cristão. Adotam um viés destrutivo para falar de situações muitas vezes justas, que requerem atenção, mas que, tratadas assim, geram apenas confusão e rompimento de relacionamentos.
Terceiro ponto: Cuidado com aquilo que retransmitimos sem verificar a origem dos fatos. João Wesley ensinava a seus pregadores que nada deveria ser passado adiante entre eles sem primeiro verificar, junto às pessoas envolvidas na informação, qual a veracidade dos fatos. Todas as pessoas têm o direito de confrontar quem as questiona, expor seu lado da história, defender-se ou pontuar aspectos relevantes. Isso é muito bom. Quando a coisa é feita da maneira correta, vemos que isso tem acontecido. As versões são postas lado a lado, as dificuldades são superadas.
Quarto ponto: Reconhecer o perigo das tentações em ver e clicar em qualquer banner que aparece. Não minimizar os pecados decorrentes da leitura e observação de páginas que não trazem conteúdos cristãos. Só porque é virtual não quer dizer que os danos à nossa espiritualidade não sejam reais. E pensar: “ninguém está vendo” pode funcionar com os seres humanos, mas certamente, não funciona com Deus. E ponto final.
Quinto ponto: Perceber que, embora esteja ali você e o seu computador, os “pecados virtuais” afetam também outras vidas. Páginas de conteúdo impróprio sinalizam a exploração de mulheres, crianças e adolescentes no mercado da ponografia, por exemplo. E-mails anônimos expõem seus amigos e amigas ao perigo de hackers e golpistas. Transmitir mensagens e correntes de origem desconhecida pode levar um vírus a “limpar” a conta bancária de gente que você ama... E, quando se trata da vida da Igreja mais especificamente, mensagens aleatórias podem aumentar a ansiedade, o estresse e a divisão no corpo de Cristo... Sexto ponto: Ter a intenção correta ao utilizar os meios de comunicação. Não usar a internet (emails) para fofocar, criar intrigas, portar-se de modo destrutivo. Tampouco de modo a expor dificuldades particulares entre as pessoas como se fosse um problema de âmbito maior, atingindo outras pessoas que nada têm a ver com o fato. A pessoalidade dos relacionamentos ainda é ponto fundante para nós, cristãos. A Palavra nos orienta a procurar as pessoas e tratar com elas as nossas dificuldades, antes de envolver outros no processo.
Sétimo ponto: Respeito à privacidade do outro, da outra é fundamental. Muitas coisas são constituídas como correspondências entre pessoas e, de repente, aquilo aparece divulgado de modo não aceitável ou ético, ferindo e prejudicando. Devemos ser cuidadosos na maneira como também recebemos informações de outras pessoas. E respeitar os seus direitos a todo o tempo.
Expressando-se com a liberdade de Cristo
Vivemos hoje uma crise de integridade e ética, em todos os sentidos. As pessoas têm perdido de vista a mística da autoridade espiritual. Líderes se arrogam dela para evitar discutir os reais problemas e os membros a rejeitam por se sentirem tolhidos em seus direitos. Usam-se os meios “do mundo” para se falar das coisas da Igreja. Tudo isso gera um sentimento de desconforto, desânimo e desunião. É por isso que tantos novos modos de pecaminosidade, de distorção de valores e de descaminhos aparecem nos meios de comunicação, em especial, a internet... Esse é um fato a ser reconhecido por todos nós, trabalhado e superado com seriedade. Resgatar a mística do corpo de Cristo, do amor fraternal, do respeito nas relações é fundamental para a Igreja e para sua missão no mundo. Não precisamos que “o mundo julgue os santos”, para usar uma expressão paulina. Os critérios devem estar em nós, como representantes e cooperadores com Deus...
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