Há lindas montanhas em Minas e no Espírito Santo, lugares mais frequentes por onde passo, por pertencer à Quarta Região. Enquanto viajamos, podemos contemplar sua grandiosidade e exercitar a imaginação. No Espírito Santo, há uma linda formação montanhosa que o povo chama de “A freira e o frade”. De qualquer ângulo, especialmente ao pôr do sol, é uma paisagem impressionante aos olhos. A formação rochosa dá mesmo a impressão de serem dois personagens olhando um para o outro.
Formações rochosas naturais em todo o mundo desafiam os estudiosos e acendem a imaginação. São produtos do acaso da natureza? São obras esculpidas pelos homens primitivos ou por civilizações desaparecidas? São obras de aliens que visitaram a terra em tempos imemoriais? Bem, as pessoas podem apresentar as mais variadas interpretações e motivações. O povo bíblico, em sua sabedoria, fazia algo mais simples: elevava os olhos e observava, deleitando-se na apreciação e exercitando a fé.
Cântico das subidas
O salmo 121 é um dos preferidos do público cristão. Ele está logo no início dos chamados “cânticos dos degraus”, “cantigas das subidas” (bloco dos salmos 120 a 134). Algumas traduções bíblicas, equivocadamente, chamam-nos de “cantigas de romagem” – mas como o povo estava indo era para Jerusalém mesmo, romagem é uma escolha, no mínimo, engraçada...
As pessoas entoavam esses cânticos enquanto iam de suas casas para as festas populares que aconteciam em Jerusalém. Jesus mesmo vai para lá na Páscoa, e a cidade estava cheia de gente, conforme as narrativas dos evangelhos. Há uma teoria segundo a qual Jerusalém, como cidade sagrada, era entendida pelo povo como “cidade alta”. Independentemente de onde você estivesse, sempre estaria subindo quando fosse para Jerusalém. Por isso, “cântico das subidas”.
Para outros autores, as subidas significavam os tons crescentes dos cânticos no bloco que, ao chegar ao 134, último salmo do bloco, ficariam mais agudos, sinalizando a alegria da chegada ao templo. Há, ainda, uma interessante nota do Talmude (que é uma compilação de tratados dos rabinos, datado de 499 d.C., contendo leis e tradições judaicas, em sessenta e três tratados abordando temas legais, éticos e históricos). Segundo esta nota, os quinze cânticos das subidas corresponderiam aos quinze degraus do Templo.
Seja lá como for, até hoje persiste em nosso imaginário cristão que ir ao encontro de Deus é subir, ascender de uma condição mais abaixo para uma mais alta, acima de nós. Este sentimento é muito forte e toca profundamente nossa vida e nossa perspectiva de espiritualidade. Um exemplo prático disso é que muitos de nós apreciamos a oportunidade de “subir ao monte” para orar... A questão não é onde Deus está, mas onde nós estamos e como nos sentimos ali para estar em comunhão com Ele...
Elevo os olhos para os montes...
Há uma interessante narrativa em 1 Reis 20.23-30 que pode nos inspirar acerca do entendimento dos montes no Salmo 121. O povo de Deus, nômade que foi durante muito tempo, estava acostumado a viver em montanhas, especialmente por causa da busca de pasto para os animais de pequeno porte que costumavam criar. Os siros são vencidos em batalha e atribuem isso ao fato de “o Deus dos israelitas era Deus dos montes”. Talvez a questão estivesse mais ligada à habilidade de um povo nômade em entender os meandros geográficos, mas existia uma ideia bem fundamentada de territorialidade dos deuses nos povos ao redor de Israel. Volta e meia esta ideia se manifestava no próprio povo de Israel, como Jeremias lhes lembra, dizendo que Deus não estava restrito ao templo (Jeremias 7). E ainda hoje, há aqueles que acreditam nisso, mesmo atribuindo tal territorialidade a demônios ou sacralizando tanto os espaços que se esquecem das pessoas.
O salmista supera tais questões. Permitam-me poetizar sobre a forma pela qual ele faz isso, pois acho que é um pouco parecido com o que ocorre com todos nós em nossas caminhadas pela vida. Ele anda pela estrada para estar em Jerusalém, celebrando. Esta caminhada é, ao mesmo tempo, uma reflexão sobre sua vida, seus sentimentos, sua fé, suas lutas. Ao seu redor, barulho de gente andando, ou às vezes, silêncios compartidos com sons da natureza. A água que escorre nos pequenos oásis onde param para descansar; passarinhos e animais que passam aqui e ali, montanhas altas ao redor de Jerusalém quando se vai chegando. A natureza convida a refletir e ele ergue os olhos, observando o horizonte.
... e olho além dos montes
Grandes montanhas costumam nos tirar o fôlego. Elas nos lembram o esforço a ser feito para vencer a caminhada. Exigem concentração e entrega a cada passo. Como os problemas da vida, às vezes, não dá para contorná-las – a gente tem de encarar a subida. Porém, há momentos em que as forças vacilam e o desafio fica grande demais: De onde virá o socorro? O salmista supera aqui a territorialidade de Deus – ele olha para as montanhas e olha acima delas.
Deus não está restrito a um lugar, mesmo que nós, seres humanos, precisemos de lugares de referência, como o templo. Ele é o criador do céu e da terra e isso O coloca em qualquer espaço e lugar. De modo especial, ele está acima das montanhas. Quando elevamos os olhos ao nível das montanhas, também podemos ver o céu – que é mais amplo, aberto e infinito do que as montanhas queremos nos fazer sugerir que a vida seja. E Deus não se restringe; ao contrário, como diz Paulo, podemos “perfeitamente compreender, com todos os santos, qual seja a largura, e o comprimento, e a altura, e a profundidade, e conhecer o amor de Cristo”. Este é um amor que “excede” e nos deixa “cheios de toda a plenitude de Deus” (cf. Efésios 3). O Senhor que fez o céu e a terra não é apenas alto como as montanhas, mas profundo como as cavernas. Não apenas largo como os lagos, mas comprido como os rios. Qualquer obstáculo, por maior que se apresente, encontrará em Deus formidável adversário, exponencialmente mais capaz.
Pensando nisso, o salmista se acalma. As montanhas não parecem mais tão insuperáveis. Ele sabe que pode sair de casa e a ela retornar, depois da peregrinação, pois Deus “guardará a saída e a entrada” (razão por que as melhores traduções colocam a saída e depois a entrada, nesta ordem), não apenas durante esta viagem, não apenas por este ano, mas “desde agora e para sempre” (Sl 121.8).
Hideide
ResponderExcluirOff Topic.
Infelizmente a Igreja Metodista do Brasil tem se desviado de seu caminho histórico. Nossa liderança não mais lidera. Não mais segue a linha teológica histórica. Ou temos uma ala adepta ao neo pentecostalismo ou uma ala por demais liberal.
Não tenho mais encontrado na igreja Metodista um caminho equilibrado que nos leva ao verdadeiro evangelho de Jesus Cristo sem demagogias.
Feliz Natal e um abençoada Ano de 2012 para você e todos os seus leitores
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