quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Como da água para o vinho (Salmo 66)


A capacidade humana de superação parece ser um dos atributos divinos inseridos por Deus em nós quando da criação. À Sua imagem e semelhança, nós também podemos transpor os problemas que nos afligem e nos tornamos vencedores. Todos os dias, vemos histórias de pessoas com problemas mentais e que fazem coisas extraordinárias, como tocar um instrumento musical dificílimo ou complexos problemas matemáticos. Pessoas que perderam um membro do corpo ou nunca o tiveram e tocam instrumentos musicais.
Lembro-me do músico Tony Melendez, que nasceu sem os braços e toca violão maravilhosamente. Ou do vídeo que recebi, contendo a história de uma mulher que, igualmente desprovida de braços, ia ao supermercado, cuidava do bebê e fazia ginástica na academia, como outra pessoa qualquer. Sim, somos capazes de vencer os obstáculos, de passar da água para o vinho, como na memória das bodas de Caná. Da falta à abundância, da perda ao ganho. Esta também foi a experiência rememorada pelo povo no salmo 66.
O salmo inicia com uma exaltação a Deus por suas obras, fazendo até mesmo alguma ironia. Segundo o versículo 3, até os inimigos de Deus o bajulam (ou literalmente, como diz a Bíblia de Jerusalém, mentem a ti). Não são capazes de assumir sua oposição por causa da muita grandeza divina. Diante deste cenário de deslumbramento, que envolve a natureza, os inimigos e o povo que louva, o salmista faz um convite: “Venham ver os atos de Deus” (v. 5).

A contemplação de Deus como caminho da superação
No versículo 6, o salmista relembra a travessia do Mar Vermelho e do Rio Jordão.                                          Os judeus atravessaram o rio a pé, devido à abertura das águas. A memória salvífica de Deus, isto é, a recordação dos seus feitos do passado é um dos instrumentos que o povo de Deus sempre utilizou para enfrentar os problemas do presente. É uma rocha antiga em meio à tempestade atual. Somos incentivados/as, tanto neste salmo quanto em outros, a resgatar o que Deus tem feito em nossa vida.
Nossa tendência frente a um momento difícil, em geral, é perguntar: “Por que isso aconteceu comigo?” Assumimos imediatamente o lugar de vítimas na história e, por conta disso, muita gente se perde na autocomiseração, na autopiedade. O povo de Deus também se perguntava pela razão dos acontecimentos difíceis. Eles poderiam tanto ser resultado do acaso quanto consequência de algum pecado pessoal ou social. Ou ainda, uma ação de inimigos, mormente quando se tratava de uma invasão ou guerra. O povo refletia sobre as causas dos problemas com vistas a tomar a postura mais adequada, mas, acima de tudo, confiava na ação de Deus na história, pois dela já fora testemunha no passado.
O que Deus tem feito em nossas vidas? O que ainda fará no futuro? Esta confiança deve nos ajudar nos momentos em que nos sentimos incapazes de superar um problema que nos aflige. Devemos contemplar o Senhor, suas obras, sua Palavra, seus feitos, sua memória viva em nossa história. Olhar para Deus nos lembra de que, não importa a origem ou causa de nossa aflição, o final último de nossa vida está em Deus e em suas promessas de aliança e resgate.

A dureza das provações e a alegria da vitória
Nos versículos 10-12, o autor rememora uma série de dificuldades pelas quais o povo passou, recordando, possivelmente, da história do Egito e de outros momentos de opressão. São termos de falam da dureza daqueles instantes da vida: depurados como prata (passados pelo fogo); armadilhas... A Bíblia TEB traduz o v. 11 como “puseste nossos rins num torno”!
Também nós temos experimentado em nossas vidas momentos em que nos sentimos sob a pressão das circunstâncias. Pessoas perversas dominam sobre nós ou interferem na nossa vida de modo destrutivo. Somos acometidos/as por enfermidades ou problemas financeiros alheios a nosso agir ou vontade. Entendendo que Deus era Senhor de todas as coisas, o povo lhe atribuía, no Antigo Testamento, tanto o bem quanto o mal que lhe sobrevinham. Por isso, lhe dirigiam orações pedindo por livramento ou para que Deus “mudasse o rosto de sobre eles”.
Apesar disso, entendiam o final dos tormentos como uma oportunidade de vibração, festa e alegria: “finalmente, nos fizeste sair para um banquete”... Esta experiência nos mostra que a verdadeira superação não é ser liberto dos problemas, mas sentir-se livre deles. Sim, de fato, muita gente já não está debaixo do jugo do passado, mas vive como se estivesse. Relembra e se amargura. Rememora e sofre. O povo de Deus não fazia este caminho. Toda a memória de dor do passado só fazia aumentar o sentimento de liberdade do presente. Esta é uma preciosa lição para nós, nos dias de hoje. Jesus, de certo modo, orienta o mesmo quando nos convida a chorar com quem chora e alegrar-se com quem se alegra. A viver o momento como se apresenta e não se deixar prender nem pela tristeza do que foi nem pela angústia do que pode vir a ser. Neste mundo, tristeza e alegria alternam-se em nossa jornada. Mas a única que pode nos dominar é a alegria, uma vez que a “alegria do Senhor é a nossa força” (Ne 8.10).

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