quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Deixe para amanhã.


Tem gente que diz que não se pode deixar para amanhã. Que tudo tem que ser hoje. Mas há coisas que se pode deixar para amanhã. A raiva por exemplo. Para que estragar este dia de hoje, tão bonito, ficando irritado com o trânsito? Olhe pela janela... deixe a raiva para amanhã. A mágoa que nos impede de perceber que aquele alguém pode ser roubado de nós de um momento pode esperar até amanhã. Dor não, que se dor não se guarda. Nem alegria. São dois itens de consumo imediato: logo estragam, ocasionando graves problemas... A dor tem que sarar, a alegria tem que rir. Então, mesmo que cura completa só venha amanhã, hoje eu ponho remédio, hoje espero na esperança. Hoje rio, dou gargalhada. Hoje espero.
Lágrimas não se guardam. Nem sorrisos. Nem abraços. Não se deve deixar para amanhã o que se pode resolver hoje. Mas não dá para resolver tudo hoje. Existem coisas grandes demais para caber no hoje. Coisas a ruminar. Lidar com elas no hoje é aumentar seu poder destrutivo. Deixem-nas repousar por um pouco na indiferença e na incerteza do amanhã e logo perderão seu poder de fogo. O amor não pode esperar até amanhã. Nem a justiça. Nem a paz. 
Mas o poder pode esperar. O dinheiro – ou a falta dele – muitas vezes pode esperar, se o caminho para consegui-lo estiver por demais de percalços. Mas olhar o pôr-do-sol não pode esperar. Rever o amigo distante não pode esperar. Pedir perdão não pode esperar.
Deixe, porém, para o amanhã o que lhe cabe. Bom é pedir o pão de cada dia hoje. O pão de cada dia de hoje não serve para amanhã. Bom é pão fresco. Antecipar preocupações é aumentar o mal de hoje. O mal de amanhã pode esperar. Podem esperar a ansiedade, o estresse e a depressão. Podem esperar as cobranças descabidas. A ira extravasada. A sede de vingança. A despedida. Podem esperar. Problemas podem esperar. Pessoas não. O mercado pode esperar, mas não a vida. Frustração pode esperar, mas não a esperança. Deixe para amanhã o que você não pode resolver por suas próprias forças. Normalmente, nossos maiores problemas sequer existem. Se ao menos soubéssemos...
Sabe, dizem que não podemos deixar para amanhã porque não sabemos se ele virá. Mas é exatamente por isso que podemos deixar para amanhã o que pode ser deixado. Só assim conseguiremos viver o que o hoje tem e é, vencendo um dragão por vez, rindo um riso livre por vez.  É a lição de Auschwitz: "Amanhã fico triste. Amanhã. Hoje não. Hoje fico alegre. E todos os dias, por mais amargos que sejam, eu digo: Amanhã fico triste, hoje não”.

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