Eu acredito em projetos coletivos. Creio que um caminho para eles é a gente jogar ideias, espalhar trilhas de sonhos, recolher indícios de paixões pelo ensino, pela pregação, pela vivência... e disso tudo pensar coisas concretas, com as ideias de cada um. Pela construção de um projeto
coletivo de participação, visando ao avanço e maturidade do corpo de Cristo que
se reúne como Igreja Metodista, particularmente na minha Região de origem, na qual, junto com os colegas, a gente vê a nossa realidade (e os colegas e membros de outras Regiões podem contribuir, trazendo também as suas), achamos por bem colocar por
escrito algumas ideias, sonhos, proposições para fomentar a discussão que se
propõe por outros canais, mas que precisa ser conduzida a um fim proveitoso.
Entendemos que ela sempre se fez presente ao longo da história do povo de Deus,
uma vez que a necessidade faz surgir a vontade e a vontade se transforma em
reflexão, em proposição e, eventualmente em clamor. Isso é evidente em textos
como 1 Samuel e Juízes. As necessidades concretas do povo o levava a clamar por
líderes com perfis adequados aos desafios propostos. Eles não podiam responder
a tudo, mas foram bem-sucedidos muitas vezes por terem a clareza necessária ao
seu chamado específico.
Devemos recordar este caminho
trazendo à tona algumas justificativas, as quais se encontram nos textos
bíblicos e também nos nossos documentos. Os Cânones, no seu artigo 127,
estabelece os critérios para a eleição episcopal quanto ao caráter e
características da pessoa a ser eleita:
Art. 127. As eleições ao
episcopado da Igreja Metodista se processam por escrutínio e são realizadas por
meio de processo do qual participam os Concílios Locais, Distritais, Regionais
e Geral, da Igreja Metodista, em diferentes etapas, observando-se o seguinte:
I - o processo de escolha leva em
conta as condições básicas mencionadas na Bíblia Sagrada, em 1 Timóteo 3.1-7 e
Tito 1.7-9 e, em especial, os seguintes requisitos:
a) integridade moral e
espiritual;
b) probidade;
c) coerência entre discurso e a
prática;
d) capacidade de liderança;
e) facilidade de expressão oral e
escrita;
f) firmeza doutrinária, segundo os padrões da
Igreja Metodista;
g) reconhecida competência no
exercício pastoral em igrejas locais, inclusive capacidade administrativa;
h) boa condição de saúde física e
mental;
i) não ter pendências judiciais
que o desabonem para o exercício do Episcopado na Igreja Metodista.
(Tais critérios pressupõem que os
candidatos e candidatas deveriam apresentar algum material comprobatório ou
fossem questionados quanto a esses critérios uma vez que se apresentassem ao
exercício do episcopado. Ou que as listas de candidatos apresentadas ao
processo da igreja local já trouxessem os nomes aprovados a partir dos
critérios apresentados. Ainda não sabemos de forma isso se dará, mas, enfim, é
preciso demonstrar prévia competência em áreas relacionadas com a atividade pastoral
a ser desempenhada.)
Os versículos bíblicos constantes
no texto canônico trazem as seguintes recomendações:
Esta é uma palavra fiel: se
alguém deseja o episcopado, excelente obra deseja. Convém, pois, que o bispo
seja irrepreensível, marido de uma mulher, vigilante, sóbrio, honesto,
hospitaleiro, apto para ensinar; não dado ao vinho, não espancador, não
cobiçoso de torpe ganância, mas moderado, não contencioso, não avarento; que
governe bem a sua própria casa, tendo seus filhos em sujeição, com toda a
modéstia (Porque, se alguém não sabe governar a sua própria casa, terá cuidado
da igreja de Deus?). Não neófito, para que, ensoberbecendo-se, não caia na
condenação do diabo. Convém também que tenha bom testemunho dos que estão de
fora, para que não caia em afronta, e no laço do diabo. (1 Timóteo 3.1-7)
Aquele que for irrepreensível,
marido de uma mulher, que tenha filhos fiéis, que não possam ser acusados de
dissolução nem são desobedientes. Porque convém que o bispo seja
irrepreensível, como despenseiro da casa de Deus, não soberbo, nem iracundo,
nem dado ao vinho, nem espancador, nem cobiçoso de torpe ganância; mas dado à
hospitalidade, amigo do bem, moderado, justo, santo, temperante; retendo firme
a fiel palavra, que é conforme a doutrina, para que seja poderoso, tanto para
admoestar com a sã doutrina, como para convencer os contradizentes. (Tito 1.6-9)
Há na Bíblia diversos textos que
qualificam aquelas pessoas chamadas para o serviço do santuário e ministérios
relacionados com o anúncio profético: os ajudantes de Moisés, os profetas do
tabernáculo, os diáconos da igreja primitiva, entre outros. Todos eles contavam
com um testemunho público acerca de seu caráter, sendo, a partir disso,
incontestável a presença do Espírito Santo, confirmando sua vocação. E eles
operavam por áreas de ação. Desta forma, estamos trazendo algumas ideias para
que sejam debatidas e, em parecendo bem ao Senhor e a nós, levadas adiante como
um projeto. Algumas dessas ideias já vêm sendo debatidas há algum tempo entre
pessoas de várias regiões eclesiásticas interessadas num projeto de bases
comuns e biblicamente estabelecidas.
O episcopado e o pastoreio
A vocação pastoral precisa ser
seguida. Há um distanciamento entre o episcopado e as demandas do pastorado,
por conta da institucionalização dessa função. O bispo ou a episcopisa precisa
de uma igreja local, na qual possa estar, conjuntamente com sua família,
ministrando e recebendo ministração. Não há necessidade, em sua função, de que
esteja fora da igreja local todos os domingos. Sua agenda pode prescindir de
muitos compromissos não essenciais em nome de uma cabeça e um coração focados
na missão e que, desta forma, inspire colegas em seus próprios ministérios.
Aquilo que é pedido do pastor e
da pastora precisa ser feito pelo bispo ou episcopisa. Portanto, é mister que
ele ou ela conduza um grupo pequeno ou pelo menos participe de um, se essa é a
atual ênfase da igreja. É sua forma de manter ativo o ardor evangelístico na
base.
O episcopado é um espaço de
ministração ao corpo pastoral da igreja. Com uma redução drástica nas viagens
que nada acrescentam ao processo de cuidado, essa pessoa poderá e deverá estar
presente com mais assiduidade em momentos como retiros e encontros distritais,
que ocorrem geralmente durante a semana, sem prejuízo de sua igreja local e com
grande ganho para os pastores e pastoras. O investimento correto nessa área
pode significar custos mais reduzidos para encontros e possibilidade de ter
mais a presença da família pastoral sendo cuidada de perto.
Em sua tarefa junto ao corpo
pastoral, garantir ampla transparência, prestação de contas e fiscalização por
técnicos e profissionais de aspectos relativos ao pecúlio pastoral, uma grande
fragilidade nacional e que gera incertezas quanto ao futuro da família pastoral.
Para dar prioridade ao processo
de pastoreio e discipulado, é mister não agir de modo centralizador,
principalmente na área técnica, financeira, institucional e burocrática da
instituição e suas instituições, que atualmente consomem grande tempo e com míseros
resultados para a missão.
Zelar com
especial atenção pelas famílias pastorais, provendo espaços de reflexão,
encontro, partilha e atendimento às necessidades.
Zelar com
especial atenção pelo corpo pastoral que é viúvo, solteiro e do sexo feminino, por
suas particulares necessidades, muitas vezes não contempladas pela ação
episcopal contemporânea, em função do foco na família a partir da perspectiva
do casal.
Definir, em
projeto junto às igrejas locais e distritos, o número de pastoras/es que a
Região suporte pagar e o número de pastores/as de tempo parcial.
A nomeação em
tempo integral ou parcial e seus critérios serão justos e claramente
discutidos. O mérito de trabalho, de conhecimento, de estudo e atualização, os
frutos e a dedicação aos votos feitos como membro clérigo da Igreja serão
efetivamente levados em conta, bem como o projeto da família pastoral, evitando
traumas desnecessários e súbitos.
Casais em que
ambos são do corpo pastoral da igreja não podem ter prejuízo em seu subsídio e
trabalho em função de sua situação conjugal. Há que se propugnar meios para
trabalhar essa questão que se arrasta por tempos esquecidos, em nome de uma
pretensa “praxe” que pode acabar por abalar o relacionamento.
Seminaristas e
recém-formados não serão enviados para abrir novas igrejas sem a experiência ou
suporte necessário por meio das igrejas-pólo em cada distrito.
Preferencialmente sob a supervisão de um pastor ou pastora que exerça o
mentoreamento e acompanhamento para dar estabilidade emocional e espiritual ao
novo pastor e pastora.
Rever os
processos e conceitos de itinerância, adequando-os ao novo momento histórico e
buscando humanizar os processos, forjando o pastor e pastora para pensar um
ministério mais longo em cada igreja local.
Desenvolver um
cuidado intensivo, igualmente, junto aos pastores e pastoras aposentados da
Igreja, verificando a possibilidade de gestar junto a eles e aos mais
experientes um projeto real de mentoreamento e cuidado “interpastoral”.
O episcopado e a administração regional
Priorizar pastor
e pastora no ministério pastoral, na igreja local ou em ministérios pastorais
específicos, não em cargos administrativos, a não ser que tenham a qualificação
acadêmica e a experiência necessária. Essa relação distorcida prejudica, pois
se tratam muitas vezes de cargos regidos por CLT, caracterizando desvio da
função pastoral.
Atendendo ao dispositivo
do Concílio Geral que determinou que as cidades com mais de 100 mil habitantes
sejam priorizadas como possibilidades de implantação de igrejas, antes de abrir
novas frentes priorizar as cidades e seu potencial e não a realidade da igreja
local no processo de nomeação. Apoiar integralmente ao pastor ou pastora que
realiza sua tarefa com desvelo e apego à doutrina, costumes e tradições da
Igreja Metodista, sob a unção e direção do Espírito Santo, para as alterações
necessárias visando ao avanço missionário nessas localidades e nas demais.
Investimento no
corpo pastoral: pastores/as de tempo integral a cada cinco anos teriam o
incentivo para fazer um curso de mestrado ou outro relativo ao seu campo de
atuação ministerial, com a criação de parcerias com instituições ou criação de
aportes regionais por meio da disponibilização de livros e materiais para a
criação de um fundo com este fim, administrado pela Ordem Presbiteral, com
critérios estabelecidos em assembleia dos pastores e pastoras.
Estruturação
da Ordem Presbiteral na Região, com amplo debate, conforme as orientações
canônicas, para atuação junto ao gabinete episcopal na tarefa de cuidado,
disciplina e doutrina metodistas, no que couber.
Não é
necessário abrir mão de autoridade ou responsabilidade, mas é possível à pessoa
no exercício do episcopado terceirizar bastante de suas tarefas
administrativas. Ela deve voltar a ser a cuidadora de almas do corpo pastoral e
famílias, bem como as demais lideranças regionais e ministérios.
Redução dos
gastos do Gabinete Pastoral com visitação às igrejas locais pelo
estabelecimento de parcerias com as igrejas locais quando necessário. Os
recursos daí gerados servirão para subsidiar a formação de pastores e pastoras
com bolsas de participação em eventos que interessem ao distrito e às igrejas
locais, conforme agendamento dos superintendentes distritais, bem como a
redução de taxas de participação em eventos e convocações regionais.
Também, de
acordo com o crescimento regional, alocar recursos para investimento na saúde
da família pastoral, por meio de ações diversas de cuidado, desde cursos até
ajuda para descanso, refrigério e renovo, bem como apoio financeiro e
psicológico em casos de crise, doenças e eventuais. Prevenir ao máximo.
O episcopado e a expansão missionária
Os encontros
regionais da liderança pastoral devem abordar temáticas como a história,
doutrinas e documentos da Igreja Metodista, sempre em amplas discussões e
atualização, para evitar ou prevenir eventuais saídas motivadas por projetos
pessoais ou igrejas independentes, como vêm ocorrendo em larga escala na Igreja
atualmente.
Os pastores e
pastoras, missionários e outros obreiros e obreiras devem ser relembrados de
seus votos à Igreja, renovando-os periodicamente em seus encontros e tendo
espaço para expor, sanar e sarar suas questões e reinvindicações, nos termos
dos pactos que Wesley estabelecia com seus obreiros no passado, sempre com foco
na missão.
Pensar juntos
um projeto de reconhecimento e valorização do corpo pastoral, sem o qual o
avanço missionário fica prejudicado, com vistas a garantir um subsídio adequado
e a satisfação interior do obreiro e da obreira enquanto ser humano e “bom presbítero”
no sentido discutido por Paulo em suas cartas a Timóteo, sem abuso de poder,
autoridade ou falta de transparência do pastor e da pastora na igreja local.
Nenhum pastor
ou pastora poderá exercer função regional ou coordenar ações regionais se sua igreja
não estiver em dia com suas obrigações junto à sede regional, por uma questão
de caráter e coerência, que prejudica e pesa sobre todas as demais igrejas,
sempre considerando situações alheias à vontade da igreja, no que couber.
Os pastores e
pastoras da região coproduzirão o material de discipulado, podendo contribuir
com sua produção por meio do site da Sede Regional e sendo convidados para
projetos específicos de produção de estudos, materiais para grupos pequenos,
Escola Dominical e outros. Garante-se assim a multiplicidade de olhares,
ministérios e práticas que abarquem a multiforme necessidade humana sob a
multiforme graça de Deus que opera em todas as pessoas.
A avaliação
pastoral passará por profunda revisão, em parceria com a Ordem Presbiteral,
visando ao conhecimento da realidade dos pastores, pastoras e igrejas e não
apenas para fins de nomeação. Estratégias missionárias, planos de ação e
encontros regionais levarão em conta os resultados dessas avaliações, a serem
elaboradas por profissionais da área e com a intenção de conhecer profundamente
o corpo pastoral e as igrejas. Seus resultados mais relevantes poderão
divulgados visando à construção de um projeto coletivo, como acontece em
instituições como universidades e grandes corporações.
Desvincular
sistematicamente o concílio regional do processo de avaliação e nomeação
pastoral para fortalecer sua vertente missionária e de pensar a igreja.
Episcopado e ministérios
Investir sistematicamente
na educação e atualização dos pastores e pastoras da igreja. O nosso futuro
está no passado do metodismo primitivo dialeticamente aplicado aos nossos
tempos pós-modernidade.
Restauração do
pressuposto do sacerdócio universal dos crentes, atuando na parceria entre
grupos pequenos e ação ministerial dos dons, numa igreja, de fato, conciliar.
Ênfase na
igreja como comunidade missionária, lugar e povo de serviço. Priorizar uma
formação para além do culto, engajando-se na comunidade por meio de ações de
evangelização, cuidado, ação social, políticas públicas, investimento na
formação de jovens, educação e parcerias com escolas e poderes públicos.
Entender a
equipe de SDs como alvo primeiro do processo de discipulado. Esse grupo deverá
ser escolhido numa percepção dupla da sua relação com o gabinete episcopal e com
as igrejas locais em cada distrito. Deverão, de igual modo ao gabinete,
apresentar seu plano de ação, alvo, objetivos e formas de atuação, com os
respectivos resultados anualmente.
Atuar, junto
às Federações, em busca de um modelo de ação que preencha a atual necessidade
das igrejas, sem engessar a missão, sempre com ampla discussão e debate nas
bases. Investir nas Federações como elemento de aglutinação distrital para
projetos de impacto nas cidades e movimentos missionários distritais e
regionais.
Pensar os
processos de emancipação de igrejas, implantação de novas igrejas e
transformação dos campos distritais e regionais em Igrejas locais autônomas,
com investimentos previstos no orçamento regional, a partir de parceria com as
igrejas-pólo em cada distrito, SDs e gabinete episcopal.
Reestruturar
as pastorais regionais para que consigam uma atuação mínima real possível,
junto às diversas realidades, principalmente junto a crianças e jovens, pessoas
em situação de risco, mulheres, grupos étnicos e outros.
Estabelecer
formas de parcerias com outros grupos que trabalham o discipulado e com igrejas
comprometidas com a missão de modo a agregar conhecimento, sem o risco da
desagregação das igrejas locais, como hoje se vê, ou minimizando-a ao máximo
sempre que possível por meio da efetiva ação pastoral de cuidado.
Discipulado e sacerdócio de todos os santos
Em minha
prática pastoral, tenho crido que a igreja em pequenos grupos foi um fator de
favorecimento do surgimento de novas lideranças e ministérios, com grande
atuação dos leigos e leigas. Sei que existem modelos negativos de células e
grupos, mas nossa história com John Wesley demonstra efetivamente o valor dos
leigos e leigas na ministração da palavra, visitação, cuidado aos doentes e
enfermos, sem clericalismo ou formalismo.
Gerar espaços
de formação para os leigos, não apenas para a liderança dos pequenos grupos,
mas também de ministérios específicos como pastorais urbanas, missões com
grupos minoritários, direitos humanos, atuação carcerária.
Desenvolver
parcerias com igrejas locais que realizam esse tipo de trabalho para
ministração de workshops durante congressos de federações, concílios ou
quaisquer reuniões do povo metodista, para divulgação e formação de novos
agentes nessas áreas.
Restaurar
espaços formativos de leigos e leigas para atuar nos diversos ministérios, por
meio de parcerias com os distritos, com o fim de realizar eventos que abarquem
o maior número de pessoas com menores distâncias. Essas celebrações servirão
para unir o povo em projetos comuns, juntamente com a capacitação por meio de
oficinas, cursos, trocas e intercâmbios entre distritos e igrejas locais que
poderão oferecer seus dons.
Organismos
regionais, como os institutos teológicos, ministérios de apoio a famílias
pastorais, pessoas de referências poderão acolher em seus quadros pessoas
indicadas pelas igrejas locais, com reconhecida atuação como membros, para
formar um quadro de consultores, professores e afins para dinamizar e atualizar
a Escola Dominical nas igrejas locais. Aliás, a ED precisa de um estudo
profundo para responder à nova demanda de ensino, considerando a realidade das
regiões e distritos.
Espaços
voltados à arte, à reflexão, ao estudo são oportunidades desprezadas atualmente
para forjar a identidade e o caráter metodistas em nossos membros.
Oportunidades de contemplação, de adoração e louvor num culto racional podem
ser incentivadas de diversas formas, desburocratizando em alguns casos e
evitando o excesso de espiritualização em outros, pela formação de grupos distritais,
com representação regional, para atuar em fomento, orientação e produção de
materiais, sempre sob a supervisão teológica episcopal.
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