Quando um judeu morria, seu corpo era envolto em faixas. A
roupa da morte travava todo o corpo. Devia ser linho branco. A pessoa ficava
como a múmia egípcia, mas sem todo
aquele preparo. Todos os órgãos deviam ser enterrados com a pessoa, seu corpo
não poderia ser profanado. Perfumes eram colocados em seu corpo. As carpideiras
– choradeiras profissionais – deviam lamentar e chorar pelo falecido.
As roupas da morte escondiam quaisquer feridas, deformações
ou podridão. Ao contemplar as roupas da morte, ninguém poderia ficar
escandalizado ou assustado. As roupas da morte escondem a morte, despistam,
minimizam a dor.
A Bíblia diz que a gente também estava morto em nossos pecados
e delitos – Efésios 2. E usamos muitas roupas de morte e também perfumes para
esconder os cheiros da morte ou a feiúra dela. Se ao menos as pessoas pudessem
ver nossas almas, poderiam descrever quanta podridão e tristeza, quanta
corrupção e que desastre algumas delas poderiam, ou talvez ainda podem, trazer.
As roupas da morte podem ser o sucesso, a beleza, o sorriso sempre aberto, a
família margarina, o dinheiro, as palavras bonitas, o círculo de amigos... as
roupas da morte podem ser, de igual modo, o distanciamento, a ausência de
relacionamentos profundos. Tudo o que possa afastar as pessoas para que elas
não sintam o cheiro da morte em nós.
Jesus foi envolvido nas roupas da morte. Seu corpo ficou
totalmente coberto por ela. Não era possível ver o seu rosto, porque um lenço
foi colocado sobre ele. Tudo escondido. Ele entende perfeitamente, portanto, o
que a morte espiritual significa para nós, porque ele a experimentou no seu
físico, do jeito mais intenso – e voltou para contar como é; para nos impedir
de passar por isso de modo definitivo.
Seu rosto ficou coberto. Sua face sofrida foi escondida.
Assim também você e eu podemos usar máscaras ou lenços para cobrir nossas
verdadeiras feições. Ninguém vai ver o quanto a nossa alma está agonizando ou
sofrendo de morte. Ninguém pode saber a dor que a gente traz lá dentro.
Escondemos e achamos que tudo está bem.
Eu me espanto de João ser o único dos evangelhos que gasta
tanto tempo para descrever o que aconteceu com as roupas da morte. Na verdade,
a gente não pensa muito nelas. Há anjos, há mulheres chorando, há Jesus
aparecendo... mas quem iria reparar num monte de panos jogado no canto?
Eu só posso imaginar. Só posso imaginar o corpo de Jesus se
remexendo dentro do túmulo quando ele despertou da morte. Ele não conseguia se
mover. Estava amarrado como Lázaro (João 11). Estava restrito em seus
movimentos. Aqueles panos deviam estar meio fedidos, porque sequer seu corpo
foi lavado antes de ser sepultado. Havia neles marcas de sangue, de terra, de
ferro, pedacinhos de madeira. Sei lá. Ele não podia se mover.
Eu só posso imaginar que os anjos estavam ali no sepulcro
não apenas para contar aos discípulos, mas também para ajudar Jesus. É como no
Salmo 91 – os anjos receberam ordens para cuidar de Jesus. Eu imagino que eles
estavam ali para tirar os panos da morte e para receber seu Senhor
ressuscitado! Eles o desenfaixaram para que ele pudesse andar novamente por
este mundo, como Rei e Salvador, aquele que venceu a morte!
Jesus recebeu novas roupas. Não sei de onde vieram. Mas elas
são simbólicas para nossa reflexão. Jesus recebeu novas roupas porque as roupas
da morte não servem. Adão e Eva haviam recebido roupas e as deles eram de
peles, sinal de morte (Gênesis 3-4). Jesus, como sumo sacerdote, deve ter
recebido roupas de linho. Será? Não importa! Eram roupas de alguém que estava
vivo!
Hoje, neste culto, celebramos esta vida. Não podemos seguir
usando roupas de morte quando estávamos em vida! Se Jesus é a nossa vida, temos
de aprender com ele a deixar as roupas da morte dentro do sepulcro. Qual é sua
roupa da morte? O que você usa para esconder os sinais do pecado, da morte
espiritual? A Igreja de Laodicéia usava seu status social. Dizia-se rica.
Nicodemos usava seu conhecimento da lei. Entendia-se doutor. Mas eles
precisaram nascer de novo, abandonar suas roupas velhas, de morte.
Contemple esses panos no chão. Eles sinalizam que a morte
foi vencida. Você pode se sacudir desses panos de morte hoje mesmo. Os anjos de
Deus estão aqui nesta noite para ajudar você a se desfazer dessas amarras. Eles
estão aqui para proclamar que existe vida em Jesus Cristo para você! Essa boa
notícia tem que transformar a vida da gente todos os dias. Cada vez que o
pecado quiser amarrar nossas mãos, nossas pernas, nossas emoções, temos de nos
sacudir e dizer: Estamos vivos! Há vida de Deus em nós! E jogar esses panos no
chão e pisar por cima deles em triunfo! Se ele vive, também viveremos! Toda
inspiração vem dele, todo fôlego vem dele, todo amor de Deus vem dele para nós!
Temos de nos despir dessas roupas de morte e temos de vestir as vestes da vida.
Jesus, ao ressuscitar, cumpriu a promessa: “O Espírito do
Soberano Senhor está sobre mim porque o Senhor ungiu-me para levar boas
notícias aos pobres. Enviou-me para cuidar dos que estão com o coração
quebrantado, anunciar liberdade aos cativos e libertação das trevas aos
prisioneiros, para proclamar o ano da bondade do Senhor e o dia da vingança do
nosso Deus; para consolar todos os que andam tristes, e dar a todos os que
choram em Sião uma bela coroa em vez de cinzas, o óleo da alegria em vez de
pranto, e um manto de louvor em vez de espírito deprimido. (Isaías 61.1-3)
Quero lhe convidar a receber o manto de louvor, a roupa da
alegria nesta noite, porque Jesus ressuscitou. Simbolicamente, nós vamos fazer
isso em comunhão, passando esse manto pelos nossos ombros e nos abençoando em
nome de Jesus! As roupas da morte não servem para quem está vivo!
Otimo Muinto Bom Mesmo
ResponderExcluirExcelente reflexão, Bispa Hideíde! Que, em Cristo, nos vistamos de vida todos os dias!
ResponderExcluirExcelente reflexão, Bispa Hideíde! Que, em Cristo, nos vistamos de vida todos os dias!
ResponderExcluirExcelente reflexão, Bispa Hideíde! Que, em Cristo, nos vistamos de vida todos os dias!
ResponderExcluirExcelente texto
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