terça-feira, 29 de março de 2016

As roupas da morte não servem (João 20.1-10) - Páscoa 2016

Quando um judeu morria, seu corpo era envolto em faixas. A roupa da morte travava todo o corpo. Devia ser linho branco. A pessoa ficava como a múmia egípcia, mas sem  todo aquele preparo. Todos os órgãos deviam ser enterrados com a pessoa, seu corpo não poderia ser profanado. Perfumes eram colocados em seu corpo. As carpideiras – choradeiras profissionais – deviam lamentar e chorar pelo falecido.

As roupas da morte escondiam quaisquer feridas, deformações ou podridão. Ao contemplar as roupas da morte, ninguém poderia ficar escandalizado ou assustado. As roupas da morte escondem a morte, despistam, minimizam a dor.

A Bíblia diz que a gente também estava morto em nossos pecados e delitos – Efésios 2. E usamos muitas roupas de morte e também perfumes para esconder os cheiros da morte ou a feiúra dela. Se ao menos as pessoas pudessem ver nossas almas, poderiam descrever quanta podridão e tristeza, quanta corrupção e que desastre algumas delas poderiam, ou talvez ainda podem, trazer. As roupas da morte podem ser o sucesso, a beleza, o sorriso sempre aberto, a família margarina, o dinheiro, as palavras bonitas, o círculo de amigos... as roupas da morte podem ser, de igual modo, o distanciamento, a ausência de relacionamentos profundos. Tudo o que possa afastar as pessoas para que elas não sintam o cheiro da morte em nós.

Jesus foi envolvido nas roupas da morte. Seu corpo ficou totalmente coberto por ela. Não era possível ver o seu rosto, porque um lenço foi colocado sobre ele. Tudo escondido. Ele entende perfeitamente, portanto, o que a morte espiritual significa para nós, porque ele a experimentou no seu físico, do jeito mais intenso – e voltou para contar como é; para nos impedir de passar por isso de modo definitivo.

Seu rosto ficou coberto. Sua face sofrida foi escondida. Assim também você e eu podemos usar máscaras ou lenços para cobrir nossas verdadeiras feições. Ninguém vai ver o quanto a nossa alma está agonizando ou sofrendo de morte. Ninguém pode saber a dor que a gente traz lá dentro. Escondemos e achamos que tudo está bem.

Eu me espanto de João ser o único dos evangelhos que gasta tanto tempo para descrever o que aconteceu com as roupas da morte. Na verdade, a gente não pensa muito nelas. Há anjos, há mulheres chorando, há Jesus aparecendo... mas quem iria reparar num monte de panos jogado no canto?

Eu só posso imaginar. Só posso imaginar o corpo de Jesus se remexendo dentro do túmulo quando ele despertou da morte. Ele não conseguia se mover. Estava amarrado como Lázaro (João 11). Estava restrito em seus movimentos. Aqueles panos deviam estar meio fedidos, porque sequer seu corpo foi lavado antes de ser sepultado. Havia neles marcas de sangue, de terra, de ferro, pedacinhos de madeira. Sei lá. Ele não podia se mover.

Eu só posso imaginar que os anjos estavam ali no sepulcro não apenas para contar aos discípulos, mas também para ajudar Jesus. É como no Salmo 91 – os anjos receberam ordens para cuidar de Jesus. Eu imagino que eles estavam ali para tirar os panos da morte e para receber seu Senhor ressuscitado! Eles o desenfaixaram para que ele pudesse andar novamente por este mundo, como Rei e Salvador, aquele que venceu a morte!

Jesus recebeu novas roupas. Não sei de onde vieram. Mas elas são simbólicas para nossa reflexão. Jesus recebeu novas roupas porque as roupas da morte não servem. Adão e Eva haviam recebido roupas e as deles eram de peles, sinal de morte (Gênesis 3-4). Jesus, como sumo sacerdote, deve ter recebido roupas de linho. Será? Não importa! Eram roupas de alguém que estava vivo!

Hoje, neste culto, celebramos esta vida. Não podemos seguir usando roupas de morte quando estávamos em vida! Se Jesus é a nossa vida, temos de aprender com ele a deixar as roupas da morte dentro do sepulcro. Qual é sua roupa da morte? O que você usa para esconder os sinais do pecado, da morte espiritual? A Igreja de Laodicéia usava seu status social. Dizia-se rica. Nicodemos usava seu conhecimento da lei. Entendia-se doutor. Mas eles precisaram nascer de novo, abandonar suas roupas velhas, de morte.

Contemple esses panos no chão. Eles sinalizam que a morte foi vencida. Você pode se sacudir desses panos de morte hoje mesmo. Os anjos de Deus estão aqui nesta noite para ajudar você a se desfazer dessas amarras. Eles estão aqui para proclamar que existe vida em Jesus Cristo para você! Essa boa notícia tem que transformar a vida da gente todos os dias. Cada vez que o pecado quiser amarrar nossas mãos, nossas pernas, nossas emoções, temos de nos sacudir e dizer: Estamos vivos! Há vida de Deus em nós! E jogar esses panos no chão e pisar por cima deles em triunfo! Se ele vive, também viveremos! Toda inspiração vem dele, todo fôlego vem dele, todo amor de Deus vem dele para nós! Temos de nos despir dessas roupas de morte e temos de vestir as vestes da vida.

Jesus, ao ressuscitar, cumpriu a promessa: “O Espírito do Soberano Senhor está sobre mim porque o Senhor ungiu-me para levar boas notícias aos pobres. Enviou-me para cuidar dos que estão com o coração quebrantado, anunciar liberdade aos cativos e libertação das trevas aos prisioneiros, para proclamar o ano da bondade do Senhor e o dia da vingança do nosso Deus; para consolar todos os que andam tristes, e dar a todos os que choram em Sião uma bela coroa em vez de cinzas, o óleo da alegria em vez de pranto, e um manto de louvor em vez de espírito deprimido. (Isaías 61.1-3)

Quero lhe convidar a receber o manto de louvor, a roupa da alegria nesta noite, porque Jesus ressuscitou. Simbolicamente, nós vamos fazer isso em comunhão, passando esse manto pelos nossos ombros e nos abençoando em nome de Jesus! As roupas da morte não servem para quem está vivo!


5 comentários:

  1. Excelente reflexão, Bispa Hideíde! Que, em Cristo, nos vistamos de vida todos os dias!

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  2. Excelente reflexão, Bispa Hideíde! Que, em Cristo, nos vistamos de vida todos os dias!

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  3. Excelente reflexão, Bispa Hideíde! Que, em Cristo, nos vistamos de vida todos os dias!

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