Eu me lembro de uma
canção de um grupo chamado Vida Abundante,
que contava a história de um velho fazendeiro. Sua vida difícil, a morte da
esposa e outros revezes não impediam o seu sorriso radiante e uma “fé que a
todos atraía”. Curioso, o compositor perguntou-lhe a razão de ser assim tão
feliz e o velho respondeu: “As raízes! Cuida bem das coisas principais.
Arraigado, sempre firme nas promessas do Senhor, nada vai te abalar as raízes”.
O tema de nossa revista nos convoca a olhar para o futuro com confiança e fé em
relação ao processo de envelhecimento. Eu me lembrei das imagens do Salmo 92
que abordam uma velhice na presença de Deus como resultado de uma longa vida
com Ele. Seja essa nossa inspiração para a reflexão de hoje.
Um espírito de gratidão (v.1-4)
Canções, louvores e
reconhecimento dos feitos de Deus são a tônica inicial do Salmo. De fato,
parece ser impossível que uma pessoa que tem um olhar tão altruísta e grato
envelheça mal, com amargura. Não podemos impedir que coisas ruins nos sucedam,
mas podemos interferir diretamente na maneira como nos afetam. Estudos de
psicologia e comportamento apontam que pessoas gratas possuem mais saúde, mais
vigor e energia e enfrentam de modo positivo os desafios da vida. O salmista
faz a canção sua companheira constante, de manhã e à noite (v.2) e o conteúdo
de sua melodia é a gratidão a Deus por sua bondade e fidelidade. Para ele, isso
é bom (v.1), dá-lhe prazer.
É muito bom observar que
já desde algum tempo as imagens tradicionais de idosos não se aplicam aos
homens e mulheres de hoje em dia. Tricô, cadeira de rodas, andador, óculos na
ponta do nariz não são a realidade para a maioria. As pessoas começaram a
perceber que precisam se preparar para envelhecer. Isso inclui aumentar a
qualidade de vida. Além da disposição física, do acompanhamento médico, de uma
rotina de exercícios, é preciso também desenvolver uma espiritualidade
saudável. Muita gente vive apenas para reclamar de tudo e de todos. Os justos –
que são os homens e mulheres que servem a Deus, segundo a Bíblia – são aqueles
que acompanham o sabor dos tempos sem perder aspectos mais inerentes, mais
essenciais da relação com o Senhor. Uma espiritualidade calcada no louvor e na
adoração certamente gera um espírito mais tolerante e preparado para enfrentar
os limites que, eventualmente, a idade traga, com uma mente aguçada e
sintonizada com o que Deus quer falar conosco a todo tempo. Louvemos mais,
portanto!
Um espírito humilde (v.5-11)
O salmista, nos versos
5-11, aborda a oposição entre sua atitude e a daquelas pessoas que se levantam
como inimigas dele. Uma das características é a arrogância que não consegue
compreender os mandamentos e ordenanças de Deus. Esse tipo de gente é vista
pelo salmista como brutal e ignorante ou néscio e insensato (v.6). São palavras
que expressam presunção, arrogância, autossuficiência e até mesmo um jeito
agressivo de ser.
Já conheci pessoas que
às vezes me colocaram para pensar em como seria quando estivessem idosas e
precisassem do cuidado de alguém. Elas se consideravam tão acima de tudo, tão
bastantes a si mesmas, que não sei o que será quando eventualmente vierem a
precisar. O salmista contrasta sua posição anterior de gratidão com a ação
dessas pessoas, dizendo que elas não conseguem entender. E embora eles possam
proliferar sobre a terra e parecer serem em grande número (v.7), sua
permanência é passageira diante de um Deus que está nas alturas (v.8).
A arrogância é irritante
a Deus não apenas porque fere a essência de sua glória e quer colocar o ser em
uma posição que só o Senhor pode ocupar como também frequentemente significa
falta de amor e acolhida ao próximo. Por esta razão, Deus se levanta para
defender o pobre e necessitado diante desses inimigos (v.9-11), dentre os quais
o salmista se coloca. Ele afirma que é Deus que o exalta e julga sua causa. Sua
tarefa é ver e ouvir acerca do que acontece aos seus inimigos. Mesmo aqui,
repousa um espírito de confiança e de entrega a Deus diante das adversidades da
vida, causadas por inveja, perseguição ou injustiça.
Sabemos o quanto muita
gente idosa sofre no Brasil. Desde maus-tratos e abandono pela família,
passando pelo descaso dos governantes e desrespeito por toda a parte. Para usar
o transporte público, para receber assistência médica, para comprar ou vender.
Pessoas enganadoras fraudam suas contas, roubam-lhes os bens. Devemos guardar e
respeitar os idosos de nosso convívio, pois atentar contra eles é também irar
ao Senhor que zela pelos seus filhos e filhas. São muitas as recomendações
bíblicas acerca do respeito aos mais velhos. Este texto é evidente quanto à
defesa de Deus em favor dos seus, principalmente para aqueles que mais
necessitam de tal defesa, dentre os quais os que envelhecem em sua presença e
dedicaram a Ele toda a sua existência ou boa parte dela. Não os defenderia o
Senhor? Não julgaria com severidade os que lhes fazem mal?
Um espírito resiliente (v.12-15)
Crescimento e flores
(v.12), um jardim interno florido (v. 13), viço e frutos (v.14). Tudo isso como
proclamação da retidão divina (v.15). Esses são os idosos e idosas do Senhor.
Sua vida é produtiva, bela e alegre. As flores aparecem nos versículos 12, 13 e
14. Na natureza, há flores de vários tipos. Desde aquelas que enfeitam àquelas
que são prenúncio de frutificação. Flores falam de beleza, de incentivo à
apreciação, ao desfrute e ao prazer. Gente que envelhece florindo é um sinal de
resiliência – a capacidade de reinventar-se e redescobrir-se depois de vencer
uma situação muito difícil. O lugar de tal floração e frutificação é a Casa do
Senhor!
Em minha igreja local,
que já tem 122 anos de existência, há diversos idosos. Um deles é a nossa irmã,
Lucília. Há alguns dias, sua neta, Jaqueline, me contou que estavam conversando
acerca de idades... ao mencionar a idade do irmão de D. Lucília, a neta foi
surpreendida pela pergunta da avó: E eu, quantos anos tenho? D. Lucília
enfrenta os primeiros sinais de Alzheimer, aos 97 anos de idade. Ao ouvir
Jaqueline lhe informar os anos vividos, ela levou a mão à boca, surpresa e
disse: “Meu Deus, eu estou muito velha então! Tenho isso tudo?” Todos riram.
Sim, o tempo passa rápido. E d. Lucília, com sua gentileza, nos lembra que
mesmo os piores dias guardam um pouco de riso, espanto e poesia.
O Sr. Errinalto
recentemente cantou em nosso altar o hino “Quando o Senhor estendeu sua mão”.
Cinquenta anos depois de sua conversão, ele se lembra de ter ouvido Deus
chamá-lo quando estava à mesa de um bar, perdido sem Jesus. Ele fala de sua recepção
na igreja pelo Pr. Omar Daibert e dos anos, desde então, em que vem servindo ao
Senhor com assiduidade e fidelidade. Com eles, muitos outros ainda florescem
nos átrios do Senhor, levando-nos ao riso e às lágrimas com suas histórias de
vida e seus passos lentos. E a gente fica pensando em como estaremos na
aventura com Jesus daqui a 40 ou 50 anos, se Ele ainda não tiver voltado.
Contaremos histórias assim? Estaremos alegres na jornada? Cantaremos canções
antigas pelas quais Deus falou conosco? Espero que sim. Pois, como o salmista,
também temos visto que “Ele é a minha rocha, e nele não há injustiça” (v.15).
Boa noite querida Bispa.
ResponderExcluirLinda reflexão!
Lembro tão bem deste câtnico também... "Tio Sampaio, né...'
Um abraço, no amor de Cristo.
Simone