sexta-feira, 28 de abril de 2017

21 Dias de Oração - Mês do Coração Aquecido

21 Dias de Oração e Jejum em perspectiva pastoral

Nestes próximos 21 dias que antecedem à Comemoração do Coração Aquecido, senti no meu próprio que deveria pensar no ministério ao qual eu fui chamada com mais intensidade e consagrar a Deus mais uma vez a minha vida neste sentido. Eu me senti particularmente desafiada pelo “Discurso ao Clero” de Wesley e vou usá-lo como base para esses pensamentos. Também decidi dar uma estudada em seus sermões, cartas e trechos em que fala de sua própria vocação. Para fazer isso direito, peço permissão para fazer uso da linguagem inclusiva, porque no tempo dele não havia pastoras. No “Discurso ao Clero”, ele começa perguntando: “Que tipo de homens (pessoas) devemos ser? Somos deste tipo ou não?”.

Dia 1: O tipo de pastor e pastora que ajuda as outras pessoas a avançar
Leitura bíblica: "Dos filhos de Issacar, conhecedores da época, para saberem o que Israel devia fazer, duzentos chefes, e todos os seus irmãos sob suas ordens" (1Cr 12.32).
Reflexão: Wesley diz que é preciso que o clero tenha “um bom entendimento, uma clara compreensão, um julgamento sadio, e uma capacidade de raciocínio, com algum retraimento”. As pessoas a quem eu sirvo esperam de mim, muitas vezes, uma orientação e uma direção. Não querem que eu as manipule, nem lhes dê respostas prontas, nem que saiba de tudo. Esperam sinceramente que eu seja capaz de ajudá-las a enxergar o panorama de suas dificuldades e as ajude a encontrar o “caminho do céu”, como dizia Wesley.
E, além disso, existem as oposições. Preciso ser um tipo de pessoa que saiba ler e compreender as outras. Não poderei contender com todo mundo. Preciso aprender esse “retraimento”. Algumas vezes sinto que meu orgulho pode atrapalhar meu avanço, porque, sendo uma pessoa do discurso, posso querer, conscientemente ou não, que todo mundo concorde comigo ou me aprecie. Devo entender que meu chamado inclui uma constante busca por aprimorar meus dons para ajudar e não para dominar, manipular ou humilhar ninguém.
Os conhecedores da época, estudiosos dos fatores, analistas da história. Esses eram os filhos de Issacar, informados, atualizados e formadores de opinião. E esse dom eles usavam para atuarem como conselheiros, por “saberem o que Israel devia fazer”, que caminho tomar. Eles são um bom exemplo para eu pensar sobre isso no meu ministério, hoje.
Oração: Deus, hoje eu quero pensar acerca da maneira como exerço minha vocação. Quero ser fonte de empoderamento, não de opressão; de cuidado, não de manipulação; de confiança, não de terror. Ajuda-me a compreender este tempo tão confuso e ser uma bússola, que orienta sem aprisionar; que dá o rumo certo mas respeita a passada de cada pessoa no encontro Contigo. Amém.

Dia 2: O tipo de pastor ou pastora que busca aprimorar seus dons e talentos
Texto bíblico: “Traze os livros, especialmente os pergaminhos” (2Tm 4.13); “Cuida de ti mesmo e da doutrina” (1Tm 4.8)
Reflexão: Wesley afirma que os pregadores e pregadoras deviam ser pessoas que se esforçavam por aprimorar seu conhecimento. Ele fala desde a Bíblia, passando por várias áreas de humanas e ciências. Ele fala que em seu tempo havia pessoas que pensavam que se aquele garoto não servisse para nada, poderia ser um pastor. Não quero que minha vocação seja por eu achar que tenho alguma garantia, seja de subsídio, seja de moradia ou privilégios. Que mente tacanha e limitada eu teria se pensasse tal coisa! Ele afirma que por não se preocuparem em aprimorar suas capacidades, aqueles ministros eram “grosseiros, abatidos, estúpidos; homens sem vida, sem espírito, sem prontidão de pensamento; que são, consequentemente, a zombaria de todo tolo atrevido, todo janota vivaz, e afetado, que eles encontram”.
Quantas vezes a gente vê, nos meios de comunicação em geral, as pessoas zombando de uma leitura bíblica atravessada, de uma explicação mal arrumada ou de uma interpretação grosseira das doutrinas! Que eu não seja preguiçosa ou presunçosa por achar que já sei algo a mais.
Que eu me esforce para estar não acima, mas à frente do rebanho, sabendo conduzir as pessoas a algo mais excelente. Que eu cuide de mim e da doutrina, como Paulo recomendou a Timóteo e me preocupe mais com os livros e pergaminhos e menos com os enlatados que encontramos por aí, que não desenvolvem nossa capacidade de pensar, sonhar e atuar.
Oração: Senhor, aviva a Tua obra no decorrer dos anos da minha vida. Que eu não me canse de conhecer a Tua palavra, de conhecer as pessoas, de experimentar o mundo das descobertas que me tornam capaz de liderar, de estar adiante, de ser uma referência saudável e confiável para o rebanho que me puseste a zelar. Que eu seja responsável em “desenvolver minha salvação” (Filipenses 2.12) e a do meu povo, a quem conduza sempre com amor. Amém.

Dia 3: O tipo de pastor e pastora que tem autoconsciência e caráter forjado
Texto bíblico: “Procura apresentar-te a Deus aprovado, como obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade”. (2Timóteo 2.15)
Reflexão: Wesley pergunta: “Eu entendo o meu próprio ofício? Eu tenho considerado profundamente diante de Deus o caráter que eu tenho levado? O que é ser um embaixador de Cristo, um enviado do rei do céu? E eu conheço e sinto o que está inserido em “vigiar as almas” dos homens, “como se delas tivesse prestar contas?”
Às vezes a gente se esquece de estamos lidando com coisas eternas. Irritamo-nos com as pessoas de quem deveríamos cuidar. Agimos na carne, somos intolerantes ou agimos com frieza. Tentamos escapar de lidar profundamente com nossos próprios conflitos. Vivemos de aparência em nossos casamentos, ministérios e relacionamentos. Temos medo do que as pessoas poderiam pensar se realmente nos conhecessem. Mas o nosso ofício inclui “não contender, mas sim, ser manso para com todos, apto para ensinar, sofredor” (2 Timóteo 2:24).
Contudo, não queremos sofrer. Pode ser que termos como submissão e honra encontrem em nós ecos equivocados, para suprir nossas deficiências emocionais? Se for assim, podemos ter a exigir das pessoas coisas que nós deveríamos dar-lhes primeiro, como respeito, amor genuíno e entrega. Como diferenciar? Somente amadurecendo. Sondando-nos profundamente. Desejos verdadeiros e expectativas corretas podem estar por trás de motivações erradas. Mas como é difícil conhecer o próprio coração! Temo, porém, ser reprovada se não fizer!
Oração: Senhor, revela-me o meu caráter! Mostra meus pecados ocultos, aqueles que eu escondo até de mim mesma atrás de holofotes ou elogios. Cura-me dessa soberba disfarçada de humildade. Eu tenho de aprender a ser em Ti, a ser de verdade e a ensinar às ovelhas sob o meu pastoreio a receber aprovação de Ti e não das outras pessoas meramente. Ajuda-me a saber a diferença e a não colocar a perder a Tua graça por causa dos meus limites. Amém.



Dia 04: O tipo de pastor ou pastora que valoriza mais a vocação do que tudo
Texto bíblico: “Que o seu modo de vida seja livre do amor ao dinheiro; fiquem satisfeitos com as coisas que têm. Pois ele disse: ‘Eu nunca deixarei você e nunca o abandonarei.’ (Hebreus 13.5)
Reflexão: Wesley segue indagando: “Qual foi a minha intenção em tomar sobre mim este ofício e ministério? Qual foi ela, em cuidar desta paróquia, quer como Ministro ou Cura? Ela foi sempre, e é agora, total e somente para glorificar a Deus, e salvar almas? Meus olhos têm sido puros nisto, desde o princípio? Eu nunca tive, ou tenho agora, alguma mistura em minha intenção; alguma liga de metal desprezível? Eu tive, ou tenho, nenhum pensamento de ganho mundano; ‘lucro imundo’, como o apóstolo o denomina? Eu, a princípio, tive, ou tenho agora, nenhum objetivo secular? Nenhum olho para honra ou cargo honorífico? Para a renda abundante; ou, pelo menos, meios suficientes para subsistência? Um meio de vida prazeroso e confortável?” O nosso fundador discorre longamente sobre as motivações financeiras, de reconhecimento ou busca por títulos em seu “Discurso ao Clero”. Acho que é porque alguém disse que há três coisas que derrubam um ministério: dinheiro, sexo e poder.
Para mim, as três coisas estão interrelacionadas. Elas têm a ver com vaidade pessoal. É um desafio para qualquer líder não se exaltar ou não querer benefícios da posição que ocupa. A Jesus mesmo quiseram fazer rei várias vezes. Eu o vejo fugindo do meio do povo e buscando a solidão para autocentrar-se na missão. O desejo descalibra a gente. É claro que um obreiro ou obreira precisa de condições dignas para o trabalho, enfatiza Wesley.
Não é que a gente tenha de sofrer, mas que tenhamos a disposição para passar pela dificuldade é parte integrante do ministério. Não podemos oprimir o corpo pastoral, mas cada pastor ou pastora precisa ter disposição e entrega. São dois lados difíceis de equilibrar. Mas por mais duro que seja, reside aí uma das diferenças básicas entre o pastor e o mercenário, dos quais Jesus tanto fala.
Se eu perder hoje meu lugar ou posição, como reagirei? Esbravejarei que tenho direitos? E se Deus tiver outro desafio à minha frente? Estou pronta para enfrentar? No meu passado, já reagi com muita amargura de alma a coisas que me pareceram injustas. Quase pus tudo a perder. Magoei pessoas inocentes no processo. Será que já venci isso de verdade? Hoje, preciso sondar o meu coração se eu sirvo a Deus por causa das circunstâncias ou apesar delas.
Oração: Senhor, eu sei que a tarefa do pastorado é muito dura. A falta de reconhecimento magoa. A instituição nem sempre responde aos meus anseios e muitos deles são autênticos e genuínos. Mas não permita que eu perca a minha vocação quando as condições não forem boas. Que títulos e regalias não me seduzam nem me moldem. Que eu trabalhe confiando na tua provisão, tanto de recursos quanto de afetos. Ajuda-me a confiar nas pessoas que tens colocado no meu caminho. Mantenha meus olhos fitos em Ti quando as coisas se complicarem. Dá-me largueza no Teu tempo e me ajude a encontrar descanso. Em nome de Jesus, amém.

Dia 5: Um tipo de pastor ou pastora que se move a partir do amor de Deus
Texto bíblico: “Fiz-me como fraco para os fracos, para ganhar os fracos. Fiz-me tudo para todos, para por todos os meios chegar a salvar alguns. E eu faço isto por causa do evangelho, para ser também participante dele. (1 Coríntios 9:22,23)
Reflexão: “Pelo menos, será que eu sinto tal preocupação pela glória de Deus, e tal sede em busca da salvação dos homens, que eu estou pronto a fazer qualquer coisa, o que quer que seja contrário à minha inclinação natural, separar-me do que quer que seja agradável a mim, suportar o que for, como quer que seja grave à carne e sangue, de maneira que eu possa salvar uma alma do inferno?” Fico pensando nisso ao me lembrar de que, certa vez, uma colega do curso de jornalismo me falou, animada, quando nos encontramos, alguns anos depois, num corredor de aeroporto: “Você não sabe o que me aconteceu! Eu encontrei Jesus! E pensar que estudei por quatro anos numa escola metodista e ninguém me falou de Jesus ali”. Eu me sinto pessoalmente envergonhada até hoje.
Tento ao máximo apresentar Jesus de todas as formas às pessoas, particularmente com uma amizade mais profunda e desinteressada do que até então eu tinha. Eu sei que se eu amar de verdade uma pessoa, então com mais intensidade eu vou sentir-me espiritualmente motivada a falar de Jesus para ela. Quero fazer isso com todas as forças.
Quero saber que não posso esperar que nenhum membro da igreja seja um evangelista se eu não lhe mostro, em mim mesma, a urgência do anúncio. Tem sido difícil, eu reconheço. Frequentemente sofro rejeições às minhas ideias e pensamentos. Quero me fazer aceitável por mim mesma. Ou me ressinto quando sou rejeitada. Temo as comparações. Tento algumas vezes agir pela força do discurso.
Então me lembro de que não é nem por força, nem por violência, mas pelo Espírito. Eu me calo para que Jesus fale. Tento discernir a voz Dele da voz da minha vontade. E me esforço por amar e aceitar essas pessoas que são tão diferentes de mim. Eu me lembro de que sou tão necessitada quanto elas. Que não posso pretender nada senão a graça. O amor ainda é um desafio. Vejo que minhas emoções me traem. Então preciso parar de novo. E escutar. E atentar. E agir.
Oração: Senhor Jesus, reconheço que ainda não consigo fazer muitas coisas que contrariam as minhas ideias, mas que talvez seja preciso para alcançar as pessoas. Frequentemente acho que sei tudo. Ajuda-me a me esvaziar dessa pretensão e a amar sem cobranças inúteis. Que eu possa proclamar a Tua glória com todas as minhas forças. Que eu possa crer que a obra é Tua e que minha tarefa é apenas preparar o cenário para o ator principal, que é o Espírito Santo. Esvazia-me da necessidade de estar certa. Encha-me do poder, que é a capacidade de realizar. Em nome de Jesus, amém.

Dia 06: Um tipo de pastor ou pastora que se esforça por uma vivência familiar saudável
Texto bíblico: “É fundamental, pois, que o bispo seja irrepreensível, marido de uma só esposa, equilibrado, tenha domínio próprio, seja respeitável, hospitaleiro, capacitado para ensinar; não deve ser apegado ao vinho, nem violento, mas sim amável, pacífico e não amante do dinheiro”. (1Tm 3.2-3)
Reflexão: Eu nunca tinha pensado num João Wesley apaixonado. Nem sabia que ele havia se casado até ir pro seminário e o prof. Duncan Reily me contar isso numa aula. E agora, eu leio uma carta que ele escreveu para a esposa em busca de uma reconciliação: “Não há nada que me daria mais prazer do que ter você comigo para sempre; se somente você pudesse manter o bom humor e não falasse mal de mim pelas costas. Todavia, eu te amo por seu trabalho incansável, por sua sobriedade exata, por seu asseio e limpeza fora do comum, tanto pessoal quanto com suas roupas e tudo o que lhe rodeia. Eu aprecio sua paciência, destreza e ternura em ajudar os enfermos. E se pudesse seguir meus conselhos, você poderia fazer cem vezes mais tanto com os enfermos quanto com os sãos, em todos os lugares onde Deus pudesse lhe levar através do meu ministério. Oh, Molly, por que essas oportunidades haveriam de perder-se? (...) Se tu pensas como eu, se queres fazer o melhor de uns poucos dias, melhorar o entardecer da vida, comecemos hoje! (...) Se agrada a Deus que nos encontremos mais uma vez, encontremo-nos para sempre! (Carta a Mary Wesley, 12/07/1760) Há muitas dificuldades em levar adiante relacionamentos significativos, particularmente num tempo de descartáveis como o nosso.
João Wesley, segundo consta, não foi bem-sucedido. É preciso, aparentemente, saber escolher e, mais ainda, saber preservar. Há uma série de qualidades que Deus deseja de mim. Uma delas é uma boa vivência familiar, que me dê o suporte para voltar para casa ao fim do dia e encontrar abrigo, refrigério e forças para enfrentar os desafios do dia seguinte. Preciso aprimorar-me nessa vivência. Ainda quero as coisas muito do meu jeito.
Ainda perco facilmente a paciência. Ainda me aflijo pelas coisas que Deus disse que iria suprir. Nem sempre sou mansa. Nem sempre, pacífica. Onde estão minhas maiores dificuldades? Preciso reconhecer e tratar cada uma delas. Há pessoas em busca de referências. Vão encontrar em mim? Não apenas isso, mas não quero chegar ao final de minha jornada de vida e ministério me sentindo uma fraude. Minha casa compartilha da minha fé? Aqui nós servimos a Deus com alegria?
Oração: Ajuda-me, Senhor, a construir relacionamentos saudáveis, seja com meu marido, filhas, irmãos e irmãs... Ajuda-me a viver bem com minha solitude e a dividir meu tempo com as outras pessoas com alegria. Não permitas que eu sobrecarregue os meus queridos e queridas com fardos inúteis. Nem faça cobranças indevidas ou que meu ministério seja um fardo para minha casa. Dá-me leveza no seguir-Te. Que eu inspire e não oprima. Em nome de Jesus, amém.

Dia 07: Um tipo de pastor ou pastora que atua pelo exemplo
Texto bíblico: Apascentai o rebanho de Deus que está entre vós (...) nem como dominadores sobre os que vos foram confiados, mas servindo de exemplo ao rebanho.

Reflexão: João Wesley jejuava às quartas e sextas. Ele visitava nesses dias, regularmente, os órfãos e as viúvas. Há um episódio de que um dia ele tinha comprado um quadro para enfeitar seu quarto quando a camareira bateu à porta para limpar. Ao abrir para ela, ele viu que a trabalhadora tinha roupas rotas e pobres para o frio que fazia. Ele enfiou a mão no bolso para dar-lhe uma ajuda nesse quesito, quando viu que tinha gastado todo o dinheiro naqueles quadros. Ele relata em seu diário que isso o incomodou profundamente e por isso mudou sua maneira de lidar com o dinheiro, de modo a sempre ter como ofertar. Ele pregava todas as vezes que tinha oportunidade. Ele se esforçava, em suas cartas e visitas, para solucionar todos os conflitos com seus obreiros e obreiras. Não era de fugir nem à responsabilidade, nem ao dever. Algumas vezes, em seu diário e em suas cartas, vejo-o pedir desculpas por um erro ou insistir na necessidade da reconciliação. Vejo seu esforço ao chamar a atenção dos obreiros e obreiras para práticas que ele considerava importantes. Em cada caso, vejo um líder que se esmerava para sempre fazer algo primeiro, antes de exigir das demais pessoas que o fizessem.
João Wesley era um imitador de Cristo. Paulo também era. Cristo, o maior de todos os mestres, sempre ensinava e então demandava de Seus discípulos e discípulas o seguimento daquilo que fora ensinado. Ele ensinou sobre honra sendo honrável. Ensinou sobre serviço sendo servo. Ensinou sobre obediência sendo obediente. Ensinou sobre lealdade sendo leal. Ensinou sobre fé crendo. Ensinou sobre milagres realizando-os. Ensinou sobre as Escrituras estudando-as e lendo-as publicamente.
Esses homens de Deus me mostram que nada posso exigir no pastorado sobre as pessoas que não possa ser demonstrado e encontrado em mim primeiramente. Isso me coloca na situação de uma constante busca. Minha oração precisa ser a primeira a subir ao trono da graça, como inspiração para quem ainda não sabe orar. Meu caráter é o primeiro modelo de uma pessoa recém-convertida para saber como agir com o dinheiro, com o poder, com o testemunho, com a casa, com o trabalho, com a ética e com a vida. Sei que é uma tremenda responsabilidade. Mas não posso me escusar ou evitar isso se quiser ser aprovada. Deus me ordena explicitamente a pastorear o povo não pela força ou coerção, mas pela esmagadora força do exemplo. Eu já tenho a quem imitar, na vida inspiradora dessa gente que viveu antes de mim. Quem vier depois, poderá dizer o mesmo a meu respeito?

Oração: Senhor, entrego meu ministério em Tuas mãos, porque de Ti o recebi. Consagrando meu viver a esta tarefa, sei que não posso entregar menos do que tudo. Ajuda-me a ser exemplo não apenas nos pontos em que sou forte, mas talvez, especialmente nos que sou fraca. Aperfeiçoa minha vida para que as outras pessoas vejam o poder e sabedoria que há em Ti para trabalhar nos vasos imperfeitos. Aleluia! Sou feliz por ter essa vocação. Ajuda-me a sempre honrá-la ao servir às pessoas antes de querer ser servida. Provê sobre mim líderes que pensem da mesma forma. Assim estaremos todos e todas nós mais perto do modelo perfeito, Teu filho. Em nome Dele, amém.

Dia 08 – Um pastor ou pastora que desenvolve relacionamentos saudáveis com colegas de ministério

Texto: Voltando o exército, depois de Davi ter matado o filisteu, de todas as cidades de Israel saíam as mulheres ao encontro do rei Saul, cantando e dançando alegremente, ao som de tamborins e címbalos. E enquanto dançavam, diziam umas às outras: Saul matou seus milhares, e Davi seus dez milhares. Saul irritou-se em extremo, e desagradou-lhe tal coisa. Dão dez mil a Davi, disse ele, e a mim apenas mil! Só lhe falta a coroa! E a partir daquele dia, Saul olhou Davi com maus olhos. (1 Samuel 18:6-9)

Reflexão: George Whitefield, João e Carlos Wesley foram amigos íntimos. Durante um longo tempo desempenharam juntos a missão de propagar o Evangelho de Cristo pelo Reino Unido. Mas João e Carlos eram arminianos. Whitefield, calvinista. Logo que João decidiu escrever um sermão sobre a predestinação, ficou evidente que a relação seria estremecida. João orou muito a respeito e entendeu que o assunto poderia causar muito conflito se não fosse enfrentado. Apesar da questão doutrinária, porém, eles se esforçaram muito para manter o relacionamento. Fizeram isso com muitos encontros e trocaram muitas cartas. Whitefield faleceu em 1770. Naquele mesmo ano, escreveu para Carlos Wesley, a quem considerava “meu mui querido e velho amigo”. João Wesley era-lhe um “honrado irmão”. Considerou a “indissolúvel união com ambos em coração e afeto cristão, apesar de nossas diferenças em alguns pontos específicos de doutrina”. João Wesley, a seu pedido, pregou o sermão do funeral de Whitefield (com informações de revistaimpacto.com.br).
Nós, pastores e pastoras metodistas, de alguma maneira às vezes nos sentimos da mesma forma uns com os outros, umas com as outras. Isso é fruto de muitas coisas que herdamos e também da sociedade competitiva em que hoje vivemos. É difícil lidar com os sentimentos de amor e afeto que os irmãos e irmãs nutrem pelos pastores e pastoras anteriores. É duro ouvir as críticas que são feitas ao nosso trabalho, que nos chegam pelos amigos e amigas, vindas do pastor ou pastora que nos substituiu. Isso cria barreiras intransponíveis porque não permitem o relacionamento. Whitefield temia a perda da amizade com os irmãos Wesley por causa de suas diferenças ministeriais. Ele afirmou: “Na proporção em que tivermos um espírito estreito, estaremos sem paz. Preconceitos, ciúmes e suspeitas tornam a alma miserável”. Por isso, os três fizeram um “acordo para discordar”. Eles entenderam que o esforço para manter a unidade deveria ser tão intenso que as discordâncias não os separariam. E pagaram o preço dessa vivência. Eram capazes de reconhecer as especificidades e valores de cada um e do ministério que desempenharam.
Vemos uma experiência similar com Pedro e Paulo. Não obstante suas diferenças, Paulo reconhecia a primazia de Pedro na igreja e sempre mandava consultar Jerusalém para a tomada de decisões fundamentais. Quando, porém, sentiu que era preciso exortar aquele que recebera de Jesus as chaves do céu, não titubeou. Eles fecharam um acordo que permitiu que o Evangelho vencesse as fronteiras judaicas. Pedro, em suas cartas, elogia a Paulo. Paulo, em sua atitude, reverencia e reconhece Pedro.
O reino de Deus vai ser manifesto e reconhecido quando, de fato, formos “um” em Cristo. Chega de ressentimentos sem fundamento. Chega de elogios da boca para fora. É tempo de ter a coragem de viver em relação, autêntica e genuinamente. Há espaço no coração dos membros para todos os pastores e pastoras que tiverem significado em sua existência! Creia nisso! Há espaço no Reino de Deus para todos os trabalhadores e trabalhadoras, com todo o talento e capacidade especiais que cada pessoa carrega!
Assuma que o espírito de ciúmes, competição e receio pode hoje estar fazendo morada em sua vida. Na minha às vezes ainda faz. Luto contra meus limites, confesso esse pecado para nunca me ressentir do que Deus tem feito em outras searas. Porque aquilo que Ele pode e deseja fazer por meu intermédio é um privilégio e uma graça. Não posso apossar-me do Reino. Ele é maior do que eu. Somente quando for curada da necessidade de reconhecimento e de projeção, poderei ver os frutos do penoso trabalho da minha alma. E não apenas eu ficarei satisfeita. Meu Deus ficará. E as pessoas que me amam também. O mesmo será para cada um, cada uma de nós. E será uma grande honra poder dizer de alguém o que Wesley disse de Whitefield. Faço da oração de João diante do túmulo do amigo a oração que encerra nossa meditação de hoje.

Oração: Ó Deus, contigo não há obra impossível! Tu fazes tudo quanto é do Teu agrado! Ó, que Tu faças o manto de Teu profeta, a quem tu levaste para o alto, agora cair sobre nós que ficamos! “Onde está o Senhor, o Deus de Elias?” Permita que Seu espírito repouse sobre estes Teus servos! Mostre que Tu és Deus que responde com fogo! Que o fogo do Teu amor caia sobre cada coração! E porque nós te amamos, que amemos uns aos outros, com um “amor mais forte que a morte!” Tira de nós “toda raiva, ira, e amargura; toda queixa e maledicência!”. Que Teu Espírito, assim, repouse sobre nós, e que desde esse momento, possamos ser “bondosos uns para com os outros, misericordiosos, perdoando-nos uns aos outros, como Deus também nos perdoou por causa de Cristo!” (Sermão fúnebre de George Whitefield, pregado por João Wesley)

Dia 09 de maio: Um tipo de pastor ou pastora que investe na vocação e no estímulo de suas ovelhas

Texto bíblico: Rogo-vos, pois, eu, o prisioneiro no Senhor, que andeis de modo digno da vocação a que fostes chamados, com toda a humildade e mansidão, com longanimidade, suportando-vos uns aos outros em amor, com toda a humildade e mansidão, com longanimidade, suportando-vos uns aos outros em amor. (Efésios 4.2)

Reflexão: João Wesley tinha 87 anos. Seis dias antes de morrer, escreveu uma carta a um jovem parlamentar inglês, que tinha pensado em desistir da carreira política para se tornar pastor. Wesley queria estimulá-lo a seguir esta via, hoje tão desacreditada e combalida. Ele escreveu: “A não ser que Deus o tenha verdadeiramente erguido a essa obra, o senhor será consumido pela oposição dos homens e dos demônios. Mas se Deus for pelo senhor, quem lhe será contra? São eles todos juntos mais fortes que Deus? Não se canse de fazer o bem. Continue, em nome de Deus, e com a força do seu poder, até que a escravidão americana, a mais vil que já houve sob o sol, se desvaneça diante desse poder”.
Às vezes, nosso olhar para o potencial dos nossos membros fica restrito à tarefa que eles e elas desempenham no contexto da igreja. Devemos ter abertura para forjar bons políticos, boas advogadas, excelentes mestres, pedreiros e pedreiras de ponta, estudantes dedicados, dançarinas de primeira linha... quer dizer, gente que faz de sua profissão uma vocação. Que esmera-se no caráter e no desempenho de modo a pavimentar um caminho para um mundo melhor. Gente comprometida com a vida em todos os seus aspectos.
Em geral, nos preocupamos muito pouco com esse aspecto. Nosso povo é muito tocado nos cultos e nos eventos da igreja, mas  ainda tímido em sua capacidade de impactar a cidade e o mundo – como exorta nosso tema deste ano: “Discípulos e discípulas nos caminhos da missão alcançam as cidades”.
Existe a necessidade de mudar nosso olhar sobre isso. A violência doméstica precisa diminuir. As crianças precisam de boas escolas e de uma casa protetora. Os homens precisam aprender como evoluir em suas áreas de interesse secular, vendo nelas a oportunidade de testemunhar. As mulheres precisam ser estimuladas a buscar seus sonhos e projetos. Os jovens precisam ter visões e os velhos, sonhos, como diz o profeta. Deus nos prometeu um novo mundo e não apenas um culto enlevado ou uma programação cúltica envolvente. Nosso discipulado é para toda a vida e para a vida toda.
Wesley tinha 87 anos e estava se dirigindo a um jovem de 31. Ele entendeu que sua tarefa pastoral não tinha fim. Enquanto estivesse vivo, estaria apoiando as pessoas a serem melhores e a darem o seu melhor. Wilberforce aceitou a orientação de seu pastor e viveu para ver a escravidão ser varrida da Inglaterra, 42 anos depois de receber esta carta. O bom pastor e a boa pastora apascentam vidas para o crescimento, para a superação. Jesus fez o mesmo, acolhendo pessoas tão distintas como Nicodemos e Mateus, o centurião romano, diversos fariseus interessados e muita gente que o serviu e serviu às pessoas com seus talentos e bens. Acima de qualquer pessoa, é a Ele que somos convidados e convidadas a imitar, como antes de nós outros homens e mulheres fizeram.

Oração: Senhor, ajuda-me a ver o potencial das pessoas por Teus olhos e a estimulá-las ao crescimento e às boas obras. Que na sua vida elas sejam padrão de alegria, serviço e honra ao próximo, por verem em meu pastorado tais características. Que meu ministério promova casamentos restaurados; pais, mães, filhos e filhas em convivência saudável; que eu ensine com sabedoria sobre dinheiro, honestidade, perseverança, firmeza, coragem em todos os aspectos da vida. Que nossa vida transforme o mundo em Teu nome e pelo poder do Teu Espírito Santo. Amém.

Dia 10: Um tipo de pastor e de pastora sensível às necessidades das ovelhas
Texto bíblico: “Quando Jesus saiu do barco e viu tão grande multidão, teve compaixão deles e curou os seus doentes” (Mt 14.14)
Reflexão: Esta semana estive pregando em uma das igrejas da nossa Região. A liderança recebeu seu planejamento e juntos e juntas oramos pelo ano eclesiástico. Um dos líderes não pôde estar presente por problemas de doença em família. Na segunda-feira, recebi um telefonema dele: "O pastor me deu seu telefone, porque eu não pude estar no culto e não pude receber sua oração. Mas eu precisava desta bênção. Por favor, ore por mim e pelo ministério". Fiquei tocada por alguém achar que uma singela oração num culto fosse – e de fato é – um tesouro tão especial e que valia a pena ir atrás dela. Fiquei emocionada pelo pedido e pela importância daquele momento para o irmão. Fico pensando em quantas coisas pequenas para mim podem fazer imensa diferença na vida de alguém. E me vi lembrando quantas coisas pequenas já recebi e que até hoje enriquecem minha vida.
Jesus tinha compaixão das pessoas. Isso significa que tudo o que ele fazia pelas pessoas era resultado não do piloto automático, mas de um amor genuíno. As pessoas anseiam por serem amadas, protegidas, abençoadas e cuidadas. Nós precisamos desenvolver um amor autêntico.
João Wesley desenvolveu uma vida de intenso cuidado com outras pessoas. Ele escreveu muitas cartas respondendo a dúvidas e conselhos de jovens pregadores. Mulheres que queriam desenvolver sua vida com Deus. Homens ansiosos por servir na missão. Também muitas vezes ele venceu momentos em que estava cansado ou doente e não desistiu de pregar quando viu que as pessoas ansiavam por ouvir.
Sabemos que nós, pastores e pastoras, não temos resposta para tudo. Mas já sentimos as muitas vezes em que nossa presença e abraço faz falta e pode mudar a história de alguém num determinado momento. Precisamos, com sabedoria e cuidado, desempenhar esse ministério. Também precisamos de buscar pessoas que possam nos apoiar pela mesma forma. Também ansiamos por pessoas que nos amem e tenham compaixão de nós. Como diz um pastor amigo meu, somos apenas ovelhas, tiradas dentre as ovelhas, para cuidar das ovelhas do Sublime Pastor.
Oração: Senhor, enche-me do Teu amor. Não posso amar as pessoas de mim mesma, senão por aquela compaixão que nasce de Ti. Dá-me sensibilidade para expressar este amor no cuidado constante e interessado. Tira-me a pressa e dá-me profundidade para construir relacionamentos significativos com as pessoas. Em nome de Jesus. Amém.

Dia 11: Um tipo de pastor ou pastora que promove a unidade do corpo de Cristo
Texto bíblico: O amor seja sem hipocrisia. Detestai o mal, apegai-vos ao bem; em amor fraternal sede afeiçoados ternamente uns aos outros; na honra dê cada um de vós preferência aos outros; no zelo, não sejais remissos; no espírito, sede fervorosos; servi ao Senhor; na esperança, sede alegres; na tribulação, pacientes; na oração, perseverantes; socorrei as necessidades dos santos; exercitai a hospitalidade. (Romanos 12:9-13)
Reflexão: Em 1752, João Wesley reuniu sua conferência. Ele estava preocupado com a unidade do corpo de pregadores. Muitas vezes, as coisas ficam difíceis não por causa dos nossos inimigos externos, como a rotina, a falta de tempo ou os ataques que sofremos por parte do mundo ou das forças espirituais do mal. Elas podem se tornar mais complicadas quando nós temos dificuldades entre nós mesmos. Com essa precaução em mente, Wesley discutiu profundamente com seus pregadores. Juntos, eles fizeram um documento e o assinaram, nos seguintes termos: “Que não ouviremos, nem procuraremos saber de más informações a respeito uns dos outros. Que no caso de ouvirmos algum mal uns dos outros, não seremos afoitos em acreditar. Que tão logo for possível, comunicaremos, oralmente ou por escrito, à parte acusada, aquilo que ouvimos. Que enquanto não tivermos feito isso, não comunicaremos uma só silaba do que ouvimos. Que nem tão pouco mencionaremos, depois, a outra pessoa qualquer. Que não faremos exceção a nenhuma destas regras, a não ser que nos julguemos absolutamente obrigados, em reunião do grupo, fazê-lo”.
Essa fala dos pregadores combina com os processos descritos por Jesus em Mateus, quando um irmão ou irmã pecar contra nós. Isso não significa que não devamos buscar a justiça ou retratar o erro. Não significa que jogaremos os pecados sob o tapete ou vamos fingir que nada aconteceu. Significa que seremos pessoas maduras o bastante para tratar os conflitos com a seriedade que merecem. A fofoca é destrutiva e prejudicial. Muitas vezes é ela que escandaliza o não-convertido e afasta a não-convertida. As pessoas sempre dizem: “Imaginei que na igreja seria diferente”. Elas estão certas. Como pastores e pastoras, é nosso desafio ser o exemplo. O colega de ministério pode estar sendo confrontado com forças complexas em sua comunidade. A colega de ministério pode estar passando por um momento difícil em família. Se eu procurar a pessoa ou alguém que possa intermediar nosso diálogo, isso vai trazer cura, verdade e conforto. Se eu disser o que não sei, por mais que peça desculpas, jamais poderei cobrir o dano feito.
Pessoalmente, já fui vítima de muitas coisas similares. Sei que você também. Volta e meia, alguém vem me pedir desculpas por ter falado mal a meu respeito e depois de me conhecer, perceber que aquilo que ouviu não era verdade. Eu também já fiz o mesmo. E por isso me arrependo no pó e na cinza, pois jamais posso recolher as palavras uma vez ditas!
Não sou imune a defeitos. Quem me conhece, vai, de fato, descobrir muitos! Mas os defeitos de um amigo ou amiga a gente trata com amor. Tenho me esforçado para desenvolver relacionamentos significativos e a guardar as impressões para mim. Discuto com as pessoas que me discipulam acerca das minhas dúvidas e de como tratar meus conflitos com as pessoas de quem discordo. Elas me orientam em amor e eu procuro seguir suas instruções. Tenho aprendido e crescido. Percebo que o conselho de Wesley é bom. Talvez possamos mudar a história de muitos pastores e pastoras e de nossa Região, se, em nosso coração, assinássemos o mesmo acordo também!
Oração: Perdoa-me, Senhor, por meu julgamento intempestivo. Por minha falta de amor ao abordar algo de que discordo. Ajuda-me a ter a coragem e a humildade de perguntar: “Isso é verdade?”, antes de assumir uma posição sobre algo ou alguém. Quero ser exemplo de compreensão e perdão para minha igreja. Quero orientá-la a viver um amor sem hipocrisia. Ensina-me Tua vontade para que eu a compartilhe com fidelidade. Em nome de Jesus, amém.

Dia 12: Um tipo de pastor ou pastora que cuida de si mesmo e da doutrina
Texto bíblico: Cuida de ti mesmo e da doutrina (1 Timóteo 4.16)

Reflexão: Paulo escreve várias recomendações a Timóteo que fazem de seus escritos a ele a melhor lição de mentoria de um pastor experiente a um obreiro em início de carreira. É interessante quando lemos esses textos e encontramos, ao lado de uma preocupação com o fazer, a mais profunda lição sobre a necessidade de ser. Paulo cuida da autoestima, da espiritualidade, da vida emocional e até da saúde de Timóteo. Seus conselhos sobre as doenças do estômago e constante enfermidade nos mostram a atenção para a necessidade de estarmos nós, hoje, atentos e atentas ao mesmo.
Pastores e pastoras com problemas financeiros correm mais risco de sofrer tentação ao liderar o rebanho nessas temáticas. Líderes com questões emocionais não resolvidas podem se tornar opressores ou gente deprimida, que não encontra alegria no que faz. Pessoas com sofrimento mental podem desviar-se do ensino correto das Escrituras e levar a muitas aberrações e danos. Um pastor ou pastora que não cuida de sua saúde pode incorrer em graves enfermidades, porque sua tarefa é, em si mesma, bastante estressante e de alta exigência.
Sempre recordo a ilustração do avião: “Se a pressão cair, máscaras de oxigênio serão disponibilizadas. Coloque a sua primeiro antes de ajudar”. A pressão do pecado, do mundo, da rotina, da vida mesma é intensa. Como ajudar se não estivermos, nós, recebendo primeiro o oxigênio? É por isso que Paulo diz a Timóteo nesta ordem: Cuide de você e então cuide da doutrina.
João Wesley se preocupa com as horas de sono, com a saúde, com a alimentação. Ele recomendava caminhadas diárias e descanso regular. Como são suas folgas? Tem tido tempo para “entrar no gozo do seu Senhor” ou está constantemente sob fadiga e pressão? Relaxe à sombra do Altíssimo. Viva melhor a vida. Respire fundo. Ouça músicas, faça exercícios, viva com a família. Estabeleça uma rotina de folgas e um tempo para si e para as pessoas a quem ama. Faça de seus momentos devocionais um tempo para se curtir com Deus e não uma obrigação. Se estiver fluindo vida para você, fluirá vida de você. Cuide de você, de seu corpo e de seu interior, e então a doutrina estará protegida. Porque o objetivo da doutrina é promover vida abundante. Transmita o que receber de Deus. E Deus é fonte de vida, alegria, esperança, salvação, santidade. Deus é amor.

Oração: Senhor, o meu coração não se elevou, nem os meus olhos se levantaram; não me exercito em grandes assuntos, nem em coisas muito elevadas para mim. Decerto, fiz calar e sossegar a minha alma; qual criança desmamada para com sua mãe, tal é a minha alma para comigo. Espere Israel no Senhor, desde agora e para sempre. (Salmo 130)

Dia 13: Um tipo de pastor ou pastora que “ensina e esmera-se no fazê-lo”

Texto bíblico: “Quem ensina, esmere-se no fazê-lo” (Romanos 12.7)

Reflexão: João Wesley, em “Discurso ao Clero”, enfatiza a necessidade de o obreiro ou obreira preparar-se para a prática da palavra. Em diversos de seus textos e cartas, vemos sua insistência no preparo. Mesmo os leigos e leigas deveriam ter algum conhecimento de grego e hebraico para melhor saber pregar e evitar distorções interpretativas que levassem ao engano ou à heresia. Pelos padrões dele, acho que eu estaria desaprovada, já que meu grego e meu hebraico andam bem enferrujados! Ainda bem que sempre podemos comprar manuais de gente mais entendida, que nos ajudam!
Parece simples, mas não é. Conheci um pastor que tinha uma caixinha de sermões, da qual volta e meia sacava uma fichinha anotada, pouco antes de sair para o culto. Há muita gente que procura no Google uma palavra, ao invés de investigar o próprio coração em oração, em busca do que Deus está falando.
Esses dias, meu marido comentou que muitos dos sermões que preparamos para a última igreja que pastoreamos talvez não pudessem ser pregados simplesmente em outro lugar. Eles foram gerados tão dentro da perspectiva do que Deus estava fazendo conosco ali que parecem muito sob medida para serem tomados sem levar isso em conta. Ao analisar alguns dos textos, concordei com ele. Precisamos de uma revelação de Deus adequada ao nosso momento. Não podemos alimentar o povo de Deus sem considerar que “dieta” nosso Pai deseja nos dar, para gerar saúde e crescimento. Isso requer constante atenção e preparo.
Verifique regularmente seu crescimento na Palavra de Deus. Que revelações novas tem recebido quando lê a Bíblia? Que versículos enchem seu coração de esperança e alimentam sua alma? O movimento da mensagem começa de Deus para você e de você para o povo. Sem relação com Deus e com sua Palavra, qualquer “enlatado” serve. Ouça pessoas inspiradoras, seja alguém que seleciona com cuidado o que lê, desenvolva sua sensibilidade ao ouvir de Deus e das pessoas. Você precisa perceber que está crescendo e que sua palavra melhora com o tempo. Isso inclui não apenas o conteúdo da mensagem, mas também suas formas de transmiti-la. Aperfeiçoe sua fala, sua postura, sua linguagem. Jesus merece o melhor que possamos oferecer. Precisamos melhorar com o tempo!

Oração: Senhor, não quero sentir que meu ministério está estagnado em algumas paragens espirituais. Não quero enganar a mim mesma com palavras da moda quando meu coração não está queimando por aquilo que ministro. Aperfeiçoa meus dons, para que minha palavra corresponda ao Teu anseio para as pessoas. Que eu me esmere no ensino. Em nome de Jesus, amém.

Dia 14: Um tipo de pastor ou pastora que valoriza a herança da fé

Texto bíblico: Pela recordação que guardo de tua fé sem fingimento, a mesma que, primeiramente, habitou em tua avó Lóide e em tua mãe Eunice, e estou certo de que também, em ti. (2 Timóteo 1.5)

Reflexão: Todas as pessoas que conhecem alguma coisa de metodismo destacam a influência da mãe de João Wesley no movimento. Hoje é dia das mães e não dá para fugir ao tema. Suzana era dedicada, estudiosa, curiosa, ativa. Certamente a mãe de dezenove filhos, dos quais apenas nove chegaram à vida adulta, passou por muitas dores e sofrimentos para educar a criançada. Era de uma família humilde, passou por muitas privações, mas era muito amorosa e esforçada.
Num tempo de dificuldades, ela entendeu que era necessário que as meninas expressassem bem suas opiniões e ideias. Por isso, em sua casa, nenhuma filha faria os afazeres domésticos antes de saber bem como ler e escrever. Ela mesma alfabetizou suas crianças e todos os dias tirava um tempo para ouvir seus filhos e filhas e indagar sobre seu crescimento na fé, suas dúvidas e sua relação com Deus.
Paulo, o apóstolo, observou que Timóteo, seu “filho na fé”, também tinha uma herança doméstica muito importante. Ele reconhecia o papel de Loide e Eunice, respectivamente avó e mãe, na educação na fé do menino que ele escolheu mentorear.
Nós também não fizemos nossa jornada de fé sozinhos e sozinhas. Se não recebemos de nossos pais e mães uma herança de fé, certamente houve alguém que o fez. Devemos desempenhar um papel de gratidão pelas pessoas que Deus colocou em nossa vida como pais e mães na fé. Devemos testemunhar disso em nossos sermões e escritos. As ovelhas do rebanho de Jesus precisam saber que seus pastores e pastoras também são ensináveis e aprendem de outras pessoas. Isso vai encorajá-las em seu próprio desenvolvimento.
João Wesley deixou registrado o quanto Suzana foi importante. Mas ele fez uma lista enorme de outras pessoas, em seu diário, que o encorajaram, ensinaram, desafiaram e até mesmo o constrangeram a prosseguir em sua busca por uma relação profunda com Deus. Devemos reconhecer, em particular hoje, o valor da herança que temos recebido de homens e mulheres que nos inspiram no seguimento de Jesus.

Oração: Senhor, Te agradeço pela vida dos meus pais e por seu testemunho que até hoje me impulsiona. Também te agradeço por pessoas como o pr. José Correa Filho, teu servo na igreja triunfante, e pela força que ele deu à minha vocação. Pelos amigos e amigas que sei que intercedem por mim. Por tanta gente que me inspira a te seguir. Aleluia por tal precioso dom! Amém.

21 dias de coração aquecido
Dia 16: Um tipo de pastor ou pastora que se dispõe ao mover de Deus e atua conscientemente na mentoria das novas pessoas chamadas

Texto bíblico: E o jovem Samuel servia ao SENHOR perante Eli; e a palavra do SENHOR era de muita valia naqueles dias; não havia visão manifesta. E sucedeu, naquele dia, que, estando Eli deitado no seu lugar (e os seus olhos começavam a escurecer, pois não podia ver), e estando também Samuel já deitado, antes que a lâmpada de Deus se apagasse no templo do Senhor, onde estava a arca de Deus, o Senhor chamou a Samuel, e disse ele: Eis-me aqui. (1 Samuel 3:1-4)

Reflexão: Eu acho este texto cheio de sutilezas redacionais que são verdadeiras parábolas da nossa vida. Se existe um santuário e um sacerdote, por que a "Palavra do Senhor não era de muita valia" e "não havia visão manifesta"? Outras traduções falam que "a Palavra era rara e as visões não eram frequentes". Isso sinaliza uma estagnação da liderança. Nos capítulos anteriores de 1 Samuel, vemos Eli tendo problemas com seus filhos insolentes e o povo se revoltando pela fragilidade de sua liderança.
Agora, além disso, temos um sacerdote "cujos olhos começavam a escurecer". A debilidade física de Eli não seria um problema se não fosse aqui também uma metáfora de sua vida espiritual. Ora, há pessoas que não enxergam com os olhos físicos, mas cuja agudez de alma impressiona. Há gente cujos ouvidos não ouvem os sons naturais, mas cuja sensibilidade despertada escuta tudo o que há de mais bonito no mundo! As verdadeiras "deficiências" que o ser humano tem não estão no seu físico, mas no seu espiritual. Daí que uma alma que não consegue enxergar a vontade de Deus e não pode ouvir sua voz encontra-se, de fato, num abismo profundo.
Ademais, me implica este "estar deitado no lugar costumado". Lugares costumados de teologia, prática, costumes, tradições podem ser seguros e confortáveis, mas podem ser impedimentos ao agir do Espírito de Deus, que é vento e implica modificações. De vez em quando, é o desconforto de lidar com o inesperado que nos arremessa a uma jornada de crescimento.
Por todas as suas dificuldades pessoais na relação com Deus, Eli não tinha palavra de Deus, não tinha visão de Deus e nem se movia em Deus. A consequência é que a seu lado havia um jovem com quem Deus queria falar, mas que não fora ensinado, treinado, moldado, despertado para discernir a voz de Deus. Nossa estagnação espiritual pode prejudicar a vocação das novas gerações. Precisamos nos movimentar, "antes que a luz de Deus se apague" no nosso santuário. Renovemos nossa vocação. João Wesley também muitas vezes se sentiu estagnado. Mas ele não permitiu-se ser dominado por esse sentimento. A experiência do coração aquecido, na totalidade dos anos que a envolvem, nos mostram sua busca irrequieta por Deus. Temos bons exemplos na Bíblia e na nossa história. Sigamos!

Oração: Senhor, quando quiseres me mostrar algo, que meus olhos sejam sensíveis para ver. Quando quiseres me falar, que meus ouvidos estejam focados em sintonizar contigo. Tira-me do meu lugar costumeiro de conforto e coloca-me onde quiseres. Porém, Senhor, não deixes nunca de falar comigo. Insiste, por Tua graça! Quero estar onde demandas que eu esteja. Em nome de Jesus. Amém.





Boa tarde! 21 dias de Coração Aquecido
Dia 18: Um tipo de pastor ou pastora que faz do lugar para onde recebeu sua nomeação o seu lar
Texto bíblico: Edificai casas e habitai nelas; plantai pomares e comei do seu fruto. Tomai esposas e gerai filhos... multiplicai-vos aí e não vos diminuais. Procurai a paz da cidade (Jeremias 29.5-7)
Reflexão: Eu sempre li esta carta de Jeremias e imaginei que ela seria o melhor sermão do mundo para se ouvir no dia da nomeação. É claro que o contexto dos cativos de Babilônia era outro, mas há alguns momentos em que nos sentimos em desterro, indo para lugares desconhecidos e temendo o que vai nos acontecer. Guardadas essas proporções, Jeremias nos faz enxergar uma outra Babilônia: uma cidade que também precisa ser amada, ser assumida, ser vivida. Ela poderia ser a grande metáfora do pecado para o povo de Israel, mas na sua concretude era um lugar cujos habitantes precisavam de Deus.
Há muitos discursos mundanos e pecaminosos norteando nossa vivência eclesial. Pessoas se iludem achando que os grandes centros são lugares melhores. Definem igrejas boas e igrejas ruins; pastores e pastoras bons ou ruins... critérios nem sempre objetivos, baseados em nossos desejos e posturas pessoais.
Eu gostaria de ouvir um sermão que me dissesse: "O lugar para onde você vai pode não ser perfeito. As condições não estão adequadas. Talvez você passe apertos e dificuldades para se adaptar ao povo, à cultura, ao jeito do lugar. Mas eu estou mandando você para lá para construir, plantar e gerar filhos e filhas. Estou mandando você porque acredito na sua vocação e no seu chamado e porque existem pessoas lá para você amar e cuidar. Não vá conforme seus planos. Chegue lá, conheça o povo, permita-se amar e receber amor. Existe gente lá que está ansiosa pela sua chegada e quer trabalhar com você em prol dos sonhos de Deus. Oh, é claro que eu acredito que Deus sonha! Um Deus que faz uma criação tão linda como essa natureza exuberante só pode ser um sonhador! A gente sonha porque existe algo Dele em nós! Então sonhe com este povo, caminhe com ele. Plante - isso é trabalho - e colha - isso é satisfação. Faça uma casa - isso é trabalho. More na casa - isso é alegria e prazer. Case-se - isso é trabalho - tenha filhos - ok, isso é mais trabalho! Mas também prazer e satisfação. Procure a paz deste lugar para onde você vai, porque o shalom dela é o seu shalom. E shalom não é um sentimento de paz; é a plenitude de satisfação!"
Se eu ouvisse esse sermão e se eu acreditasse que a pessoa que me envia acredita nisso também, então eu sei que Deus iria concordar. Quando eu desanimasse, pensaria: "Ainda estou construindo e não saio daqui enquanto não morar. Ainda estou plantando e não saio daqui enquanto não colher. Ainda estou gestando e só saio daqui com os filhos e filhas nos braços". Ah, eu ia mesmo fazer isso. E você?
Oração: Senhor, quero, como diz a canção, "romper em fé", plantando e colhendo no meu ministério. Dá-me a sensação da completude e me enche de amor para que eu possa ser discípula nos caminhos da missão, alcançando as cidades, as pessoas, com amor e dedicação. Ponha meu coração onde meu corpo está. Amém, amém!

21 dias de coração aquecido
Dia 19: Um pastor ou pastora que cresce na experiência da fé
Texto bíblico: “Desenvolvei a vossa salvação com temor e tremor” (Filipenses 2:12)
Reflexão: Durante muito tempo eu precisei de exercícios físicos. Frequentemente eu caía e me machucava feio. Meus tornozelos pareciam ter vontade própria e não se davam bem entre si. Tropeços e quedas levaram a uma quebradura no pé. Então, lutando contra a lei de Newton, tentei tirar o corpo que queria permanecer na inércia para algum tipo de movimento, com um impulso interno.
Depois de algum tempo, percebi que minhas pernas estavam mais firmes e seguras para andar e até correr. Nunca mais torci o tornozelo. Ainda hoje, mesmo com a vida agitada, tento manter no horizonte a necessidade do exercício físico. Percebo que enfraqueço quando não o pratico.
É uma pena que às vezes o efeito da falta de desenvolvimento da fé não seja tão evidente. Nem toda queda é aparente. Corro o risco de achar que está tudo bem, especialmente quando as condições ao redor não são desfavoráveis.
João Wesley, e 1725, escreveu: "E eu estou determinado, por Sua graça (eu estava profundamente sensível da necessidade absoluta da mesma) ser totalmente devotado a Deus – dar a Ele toda minha alma, meu corpo e minha substância." Mesmo assim, em 1738 ele ainda sentia falta de alguma coisa a mais. A gente fixa a memória na sua descrição dos eventos da noite, mas todo aquele dia foi de constante contato com Deus e suas revelações, por meio da Palavra. Como esteve o dia todo atento e incomodado, à noite João Wesley estava prestando atenção quando Deus lhe falou, por meio das palavras de Lutero. Ele sentiu, nas palavras do Reformador, que estava se sentindo angustiado por querer cumprir a Lei de Deus por suas próprias forças. Ao entender pela fé o profundo caráter da entrega de Cristo, Wesley experimentou a alegria da libertação dos pecados.
Muita gente fala e eu também acredito que não se trata de uma conversão. Wesley era um cristão desde o princípio. Sua busca e seu temor pelo Senhor são evidentes. Mas a experimentação do poder de Cristo, de modo muito especial naquela noite e de modo crescente depois dela, gerou todos os frutos de seu ministério. Era um amor que saltava à vista e permanecia em tudo o que fazia. Ele seguiu, desenvolvendo sua salvação.
Quero crescer na fé. Quero sentir que a cada tempo estou evoluindo, como pessoa, como cristã. Não me preocupo se minha fé operará ou não grandes milagres, mas me angustia que ela não possa despertar a fé de outra pessoa. Que meu amor não seja contagiante. Que minha esperança não seja contagiosa. Minha salvação vai se desenvolver mais plenamente quando brotar em outra vida, como fruto do meu amor por Deus e por todas as pessoas.
Oração: "Senhor, não é tua palavra, se alguém necessita de sabedoria peça a Deus? Tu dás liberalmente e não lanças em rosto. Tu disseste: se alguém quiser fazer a tua vontade, ele a conhecerá. Eu quero fazê-la, dá que eu conheça a tua vontade." (João Wesley). Ajuda-me, Senhor, a sentir que continuo crescendo, desenvolvendo minha salvação. Ajuda-me a amar-te sempre mais e mais. Amém.

Dia 20 – Um tipo de pastor ou pastora que reconhece os seus limites
Texto bíblico: Havia ali o poço de Jacó. Jesus, cansado da viagem, sentou-se à beira do poço. Isto se deu por volta do meio-dia. Nisso veio uma mulher samaritana tirar água. Disse-lhe Jesus: "Dê-me um pouco de água". (João 4:6,7)
Reflexão: A fadiga espiritual é uma realidade entre pastores e pastoras em todo o mundo. Quando não cuidada, ela pode levar à estafa, à síndrome do pânico, à depressão e à toda sorte de enfermidades do corpo e da alma. Algumas vezes, leva ao suicídio. Não são raros os casos de líderes bem-sucedidos, que estão de vento em popa, de repente aparecerem sem vida. Ou largarem tudo de uma vez. Também há fases ministeriais em que, ao contrário, nada dá certo e a gente se sente perdido, o que provoca uma dose extra de cansaço, enfado e enfermidades.
Jesus tinha feito uma longa viagem. Acho que quando ele chegou ao poço tudo o que queria mesmo era um gole de água. O texto é evidente ao dizer que ele estava tão cansado que os discípulos foram atrás de comida e ele resolveu ficar por ali mesmo. “Sentar-se à beira do poço” é uma expressão simbólica para nossos dias. Há momentos em que é necessário. Olhar a paisagem e esperar que uma boa alma nos dê água: “Dá-me um pouco da água”, diz ele à mulher samaritana. Não é pretexto para a boa conversa que até vem depois. É sede mesmo, vontade de viver a ser saciada.
Pastores e pastoras confessam pouco suas dificuldades porque temem ser reprovados. Mas se não o fazem, podem ser reprovados de qualquer maneira. João Wesley fez uma viagem aos Estados Unidos como missionário que lhe trouxe profundo fracasso: "Fui à América evangelizar os índios, mas quem me converterá?" Nenhum fruto foi produzido. Sua frustração o fez brigar com todas as pessoas que estavam em Savannah, até que sofreu um processo eclesiástico que poderia ter sido pior se não tivesse voltado para casa. Ele precisou realmente de uma profunda autoanálise para que, algum tempo depois, vivesse a experiência do coração aquecido.
Nosso estudo, nossos títulos, nosso status não valem nada se não forem sustentados por uma alma revigorada e animada pelo Espírito Santo. Para isso, temos de parar à beira do poço quando nos sentimos em estado de cansaço. De nada adianta o ativismo se não é isso que preenche nosso coração quando estamos em solitude diante de Deus. Não tenha medo de procurar ajuda. Não pense que pode fazer tudo sozinho. Deus tem água para você. Deus tem seu próprio jeito de dar a você uma experiência de coração aquecido. Que é sua, que virá do seu jeito. Mas se você é líder do povo de Deus e está com sede ou faminto do Senhor, então precisa receber alimento e água antes que morra de desnutrição no deserto da existência. E aí, por ser líder, matará outras gentes com você.
Pare, descanse, repense. Existe um poço. Existe água. Há recomeços possíveis para todos nós. Para cada um, cada uma de nós. Isaac, o Sírio, um pensador citado por Wesley, diz: "Procure entrar na câmara do tesouro... que está dentro de você e então descobrirá a câmara do tesouro do céu. Pois ambas são a mesma coisa. Se conseguir entrar em uma, você verá ambas. A escada para este Reino está escondida dentro de você, em sua alma. Se você purificar a alma, ali verá os degraus da escada que deve subir." Você não precisa fazer tudo, nem a toda hora, nem a todo o tempo. Você pode purificar sua alma do esgotamento, da superioridade, da vaidade, do orgulho, do medo e outras coisas que afetam nosso ministério a todo o tempo e das quais precisamos urgentemente nos livrar. Precisamos, como Jesus, reconhecer que a jornada é longa. Se há um poço e um ponto de descanso, por que não uma pausa salvadora antes do próximo passo?

Oração: Senhor, como é difícil tomar decisões! Ainda mais quando afetam a vida de várias pessoas! Como é difícil discernir tua vontade, especialmente quando os dias são tão pesados de afazeres. Como encontrar o poder de realizar o que importa, quando tudo parece urgente? Ajuda-me a saber reconhecer as áreas em que  tenho dificuldade e a buscar suporte quando necessário. Ajuda-me a parar nos poços de água quando a viagem estiver sendo muito longa. Senhor Jesus, tem misericórdia de mim! Amém.

Dia 21: Um pastor ou pastora de coração aquecido
Texto bíblico: E disseram um para o outro: Porventura não ardia em nós o nosso coração quando, pelo caminho, nos falava, e quando nos abria as Escrituras? (Lucas 24.32)

Reflexão: Pode parecer duro de dizer, mas tem muita gente que segue a Jesus Cristo e não passou, de fato, por uma conversão genuína a Ele. Anda atrás Dele, fica perto Dele, gosta das Suas coisas mas não o entendeu ainda como Senhor. Em geral, essas pessoas estão procurando sempre condições que as satisfaçam, antes de se comprometer minimamente com qualquer coisa. Sempre se sentem em prejuízo. Sempre manifestam patologias de alma não resolvidas. Não que as condições sejam perfeitas. Não que tudo vá bem. Não que realmente não haja problemas. Mas a gente precisa reconhecer que muitas vezes queremos agradar a nós mesmos antes de agradar ao Senhor ou de servir à Sua igreja.
Eu me lembro de um momento particularmente difícil na minha jornada. Já tive vários desertos. Já pensei em desistir. Já disse para mim mesma que não precisava passar por aquela dificuldade e que poderia me dar bem fazendo qualquer outra coisa. Eu chamo esses momentos de “deserto de alma”. Eu geralmente me sinto seca, sem vontade de orar, de ir à igreja, de ler a Bíblia. Quando me sinto assim já aprendi que logo preciso ficar perto de gente crente, animada, despertada por Deus. Gente que me ensine novamente o caminho das pedras. Numa dessas vezes, visitei um projeto da Igreja Batista Central de Belo Horizonte. Estava lá o pastor Roberto Bottrell, lendo a Bíblia. Não era o sermão, não era o clima adequado, não era um bom ministério de louvor. Era um cara magrelinho e branquinho lendo a Bíblia sozinho. Ele leu: “Depois disso olhei, e diante de mim estava uma grande multidão que ninguém podia contar, de todas as nações, tribos, povos e línguas, de pé, diante do trono e do Cordeiro, com vestes brancas e segurando palmas. E clamavam em alta voz: "A salvação pertence ao nosso Deus, que se assenta no trono, e ao Cordeiro" (Apocalipse 7:9,10). E enquanto lia, ele chorava muito, emocionado. Ao final da leitura, ele disse: “É esta a visão que Deus me deu. De um povo que não se pode contar. Não faremos isso sozinhos. Mas eu sei que enquanto puder contar, ainda não fiz o que Deus me disse para fazer ao proclamar sua palavra”. E eu ali, abestada, só pensando: “Tudo o que eu queria era chorar desse jeito lendo a Bíblia. Quem se comove com a Palavra de Deus assim pode fazer qualquer coisa”.
Desde então, todas as vezes que um deserto de alma me assola, procuro pessoas assim. Era o que João Wesley fazia. Ele encontrou William Law, ele encontrou Peter Bohler, ele encontrou o Conde Zinzerdorf. Ele encontrou seu irmão, Carlos, e sua mãe, Suzanna. Ele encontrou os autores bíblicos clássicos e encontrou os Pais da Igreja. Ele procurou por toda a parte gente que poderia, à semelhança do Jesus de Nazaré, falar da palavra de Deus de um jeito a pôr o nosso coração a arder. E em 24 de maio de 1738, ele ouviu as palavras de Lutero e o que ele procurava aconteceu. Dali para a frente, foi ele quem colocou fogo no coração das pessoas. Assim como os dois discípulos de Emaús, que voltaram dizendo: “Ele vive, ressuscitou!” Nós precisamos ter a certeza do Espírito Santo de Deus, de que O servimos por conversão e não por conveniência. Só o fogo do coração pode dar-nos essa certeza.


Oração: Eu não sou mais meu, e sim Teu. Põe-me naquilo que Tu desejas, põe-me com quem Tu desejas. Põe-me na obra, põe-me a sofrer. Deixa-me ser empregado por Ti ou posto de lado por Ti, exaltado para Ti ou humilhado para Ti. Faz-me completo, faz-me vazio. Deixa-me ter todas as coisas, deixa-me sem coisa alguma. Eu, livre e sinceramente, rendo todas as coisas à Tua vontade e à Tua disposição. E agora, oh glorioso e bendito Deus – Pai, Filho e Espírito Santo -, Tu és meu, e eu sou Teu. Que assim seja. E a aliança que eu fiz na terra, deixa-a ser confirmada no céu. Amém.

Um comentário:

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