Certo dia, fui visitar a célula do meu marido. Durante o bate-papo do compartilhamento da palavra, a anfitriã comentou que admira muito as pessoas que conseguem, com naturalidade, trazer Jesus para todos os assuntos do dia. Uns dias depois, lendo alguns versos de João, me deparei com o testemunho do ex-cego, curado em Siloé e me lembrei desse comentário.
De fato, a simplicidade parece algo perdido nos nossos dias. Estamos sempre esperando discursos elaborados de toda parte. Quando eles vêm, parecem falsos, deslocados da realidade. E nós mesmos/as podemos nos sentir assim quando falamos de Jesus. Sentimos que apenas as pessoas com curso de teologia ou bem-preparadas podem fazê-lo. Queremos transformar tudo em grandes sermões e que luzes coloridas apareçam ao nosso redor, ao lado de uma boa banda gospel, para a gente sentir que está na hora de "falar de Jesus" com alguém.
Talvez aí resida o erro. Somos, como aquele ex-cego, incapazes de falar de Jesus, isso mesmo! Ele sempre vai permanecer, de certo modo, na aura do mistério para nós. Talvez os seus contemporâneos tivessem mais informações do que nós. Como o ex-cego, topamos com Ele e fomos atingidos por sua graça e amor, mas não podemos ir muito além. Quando perguntam ao cego: "Onde está ele?", o moço responde: "Não sei".
Em todo o texto, o ex-cego só afirma e reafirma a mesma coisa: "Eu era cego e agora eu vejo". Acho que o moço Jesus é profeta. "Se é pecador, não sei. Só sei isso: eu era cego e agora eu vejo".
Você e eu, para fazer diferença na vida do amigo, da vizinha, do parente sofrido, da jovem deslocada, da vítima da violência e do bullying ou mesmo do sujeito que vive sua vida tranquilamente, não precisamos de muita coisa. Lá na frente, todo estudo e conhecimento vão ajudando muito. É claro que podemos melhorar, crescer, conhecer mais de Deus. Mas para começar, só temos de ter o básico.
Não posso lhe falar tudo sobre Jesus. Na verdade, a maior parte de tudo que ele é, eu desconheço e não posso alcançar. Mas uma coisa eu posso. Posso te falar de mim mesma antes e depois de Jesus. Posso te dizer que, de muitos modos, eu também era cega e agora vejo. Posso te contar como ele me dá forças para fazer coisas impossíveis. Como, sem ele, eu submergiria em meus pavores e medos. Como ele já me segurou em curvas escuras da estrada, sobre pontes trêmulas e em momentos de total desespero. Como ele me consola quando as coisas próprias até da igreja me desafiam.
Eu não sei o que você gostaria de ouvir sobre Jesus. Os fariseus queriam muitas respostas. O povo estava curioso. Mas o cego só podia contar o que tinha vivido. Sendo fiel nisso, quando ele se reencontra com Jesus e este se revela como o "Filho do homem", o cego crê e adora, porque já tinha sido objeto da graça. E então ele se tornou referência para todos os demais ao seu redor.
Não existe nada mais natural para falar de Jesus, se a gente falar da vida da gente. É onde de fato faz diferença, porque é na vida que estão nossas grandes perguntas, dores e anseios. Depois, quando essas coisas forem supridas, todo o restante do aprendizado será para enriquecer, alegrar, matar outras curiosidades. Mas, por enquanto, um "antes" e um "depois" de Jesus, na sua vida, que é o que o seu amigo e amiga conhece, já faz toda a diferença. Comece por aquilo que você já conhece de Jesus. O restante, no tempo dele, Ele mesmo vai contar.
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