terça-feira, 3 de maio de 2022

A filha da desgraça

Em 1 Crônicas 7.20-29, é contada a história trágica da família de Efraim, que perdeu seus filhos depois de uma invasão filisteia para o roubo dos gados. O pai, em luto, ficou inconsolável. Depois de um tempo, teve um filho com sua esposa. O nome Berias significa desgraça.

Era muito comum que os pais judeus dessem nomes aos filhos relacionados com os eventos em torno do seu nascimento. Se isso pudesse alegrar os filhos, por um lado, com nomes que lembravam vitórias e conquistas, imagino as marcas que nomes como Jacó, Jabez e Berias poderiam trazer aos seus possuidores. Mas assim como Jacó e Jabez, Berias também não se limitou ao que seu nome queria dizer. Num tempo de dificuldades, ele teve uma filha, chamada Será, Sheerá, cuja leitura também pode ser Sara, que significa tanto "parente" quanto "nobre".

A desgraça teve descendência nobre. E forte. Sheerá se tornou uma construtora de aldeias. Ela edificou três cidades: Bete Horom de Baixo, Bete Horom de Cima e Uzém Seerá. Na época de Salomão, ele reedificou ambas as cidades de Bete Horom, cujo nome literalmente significa casa na caverna e eram dois postos militares muito importantes na antiguidade (2 Cr 8.5).
É notável que a gente nem repara na riqueza de textos pequenitos escondidos nas Escrituras como a breve história de Sheerá. Uma mulher construtora pode parecer extraordinário naquele tempo. Alguns comentaristas que pesquisei dizem que ela não deve ter edificado, mas algum de seus descendentes. Pura especulação. Mais fácil ficar com este texto que afirma, extraordinariamente, que uma mulher edificou três cidades. Tão extraordinário que só pode ser verdade!
Também é extraordinário que Berias, que poderia ter ficado deprimido com toda a tristeza em torno de sua família e de seu próprio nascimento, teve uma filha e a desafiou a ir muito mais além do que, certamente, ele recebeu de estímulo de seu entristecido pai. Sinal fundamental de que podemos mudar nossas trajetórias e que Deus está aqui, definitivamente, com interesse em nos ajudar a fazer isso.
A desgraça poderia ter sido infértil. Poderia ter morrido em autocomiseração. Poderia ter sucumbido a problemas de autoestima. Mas decidiu gerar e gerar para uma nova vida. A desgraça deu vida à nobreza, assumiu o conceito de família ao chamar a filha de parenta e ajudou-a a marcar seu nome na história do povo de Deus. Sheerá é uma mulher de quem não sabemos quase nada pessoalmente, mas cujo legado marcou importantes vitórias do povo de Deus. A gente nunca sabe, de verdade, o que está edificando hoje e o que isso significará amanhã... (Bispa Hideide Brito Torres)

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