terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Jesus, esperança para o ano todo


Houve um homem que ao tomar o Jesus criança nos braços, experimentou a alegria da espera terminada e profetizou um futuro melhor para o seu povo. É Simeão, um homem justo e piedoso que esperava a consolação de Israel, segundo nos conta Lucas 2.25-35.
Simeão vivia em Jerusalém e, como um fiel servo de Deus, aguardava ansiosamente o messias prometido pelos profetas. Ele tinha convicção em seu coração, pelo Espírito Santo de Deus, de que não morreria antes de ver o enviado de Deus. O seu encontro com o menino Jesus acontece no templo, na ocasião da apresentação do bebê na Congregação, como ordenava a Lei, aos oito dias de vida. Simeão, ao ver Jesus, o toma nos braços e louva a Deus com um cântico que revela toda a sua fé nas promessas: agora ele podia descansar em paz, pois os seus olhos já tinham visto a Salvação para todos os povos. Em seguida, entrega uma palavra dura à Maria, mãe de Jesus: este menino está levantado para ser contradição: Sua alma será traspassada para que se manifestem os pensamentos de muitos corações. Esta palavra se concretiza bem mais tarde na vida de Jesus, com sua crucificação e morte. No entanto, a sua ressurreição marcaria um novo momento da história humana.
Esse testemunho de Simeão nos ensina acerca do advento de Jesus e da esperança no futuro:
Nunca podemos perder a esperança de que Jesus nasça na vida das pessoas, por mais próximas da morte que estejam, por serem bem idosas ou por viverem em situações que as conduzem à morte. A fé de Simeão, ao estar com Jesus lhe permite morrer, sabendo, porém, que Jesus é a sua vida, bem como para todo o seu povo. Precisamos acreditar, diante de situações adversas, que Jesus, ao nascer nos nossos corações, nos salva, concedendo-nos uma fé capaz de nos restaurar a plena esperança.
O nascimento de Jesus traz às pessoas sofridas desse mundo, sacrificadas pela fome, pela falta de teto, de família, de amigos, a esperança de que mesmo todo o seu sofrimento não pode afasta-las da possibilidade de serem felizes. Ainda isso aconteça somente na plenitude do Reino de Deus, segundo Mateus 5.3 e Lucas 6.20.
Temos vivido tempos em que o comércio e as iniciativas seculares têm tomado o lugar central na celebração do Natal que, em sua origem, é a celebração do Messias. Não podemos deixar que as vozes mercantilistas e capitalistas sufoquem nossa voz profética, que anuncia a nossa espera de toda a vida. Como Simeão, nosso povo não quer morrer sem ver a salvação; não pode ter seu olhar desviado do menino Jesus para pacotes de presentes e festas particulares. Nosso povo precisa contemplar o menino Deus que veio ao mundo para tirar da morte seu poder de ameaça e de destruição.
Que nossa esperança seja forte o suficiente para resistir às forças que querem nos levar à morte. Que nossos olhos estejam abertos para ver o menino Jesus. Que nossa fé seja mais forte e nosso amor mais profundo, para contemplarmos a salvação que Deus nos oferece em Cristo Jesus.

terça-feira, 23 de dezembro de 2008



Amigos e amigas,

que este seja o Natal da esperança.
que este seja o Natal de uma nova visão:
as mesmas pessoas, as mesmas ruas, as mesmas vidas
mas novos olhos permitem novas descobertas.
Que este seja o Natal de quem dança na chuva,
lavando o corpo e a alma das dores, das mágoas,
das memórias ruins que o tempo ameniza
e o amor de Deus pode curar e renovar.
Que este seja o Natal da esperança
porque quem espera sempre alcança
E eu espero, espero e espero
porque às vezes, mesmo quando o choro
dura uma noite inteira,
é possível ver as estrelas e a lua por entre as lágrimas
e só aquele que chora toda uma noite
sabe como são lindos os primeiros raios da manhã!
Que este seja o Natal da esperança
para que nossas reconstruções sejam mais amplas,
mais bonitas e mais sólidas,
com janelas maiores por onde possa entrar o sol.
Que este seja o Natal da esperança
porque o sol da justiça vem nascendo sobre nós
e podemos levantar e resplandecer
porque a glória do Senhor vem nascendo sobre nós...
Feliz Natal de esperança!
Feliz Natal de Jesus!

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Enchentes em Cataguases: "Se as águas do mar da vida..."

O antigo cântico me veio à mente ao ver a tragédia que se abateu sobre a nossa cidade de Cataguases. Diversos de nossos amigos, conhecidos, vizinhos e irmãos da Igreja foram atingidos. Andando pela cidade nesses dias, vê-se o clima de abatimento, de dor, de perda. Certamente 2009 começará com uma batalha a mais pela sobrevivência, pelo reerguimento. O comércio de nossa cidade foi atingido, havendo grandes perdas, o que afetará toda a economia da cidade, ameaçando empregos e o consumo. O Natal, no seu aspecto comercial, será negativo para muita gente. Prejuízos se somam. Vidas foram perdidas, tanto aqui em Cataguases quanto em outras cidades mineiras. A ajuda humanitária que se destinaria a Santa Catarina agora se faz necessária aqui também. Choramos, porque temos mesmo de chorar e nos lamentar. A dor é grande. Esta é uma cidade de gente pobre, humilde e trabalhadora. Gente que lutou para ter o pouco que tem. Em meio a isso, me veio o hino: “Se as águas quiserem te afogar, segura na mão de Deus e vai”. Lembrei-me de Pedro, quando afundou nas águas, após querer ir com Jesus. Quando ele viu a força das águas, teve medo. Afundou. Então gritou: “Socorro, Senhor”! E imediatamente Jesus lhe estendeu a mão e o suspendeu, levando-o em segurança ao barco. Segurar na mão de Deus é o nosso recurso de esperança e fé nesta hora de dor, tristeza e até mesmo indignação.Não ignoramos a tragédia, mas devemos, como cidadãos, cobrar mais medidas dos responsáveis e de nós mesmos. Enquanto andava pelas ruas, por onde se podia passar, vi boiando imensas quantidades de lixo, que nós mesmos jogamos todos os dias por aí, sem nos preocupar com os danos ao meio-ambiente. Enquanto economizo água porque me disseram pelo rádio que ela vai faltar, me lembro das vezes incontáveis em que desperdicei um bem precioso e que está ameaçado. Vejo o rio subir porque afetamos o seu fluxo com barragens, com lixo, com assoreamento. As autoridades ficaram imóveis perante os danos ambientais e até contribuíram para ele. As grandes empresas e corporações só viram o lucro e foram se apropriando erroneamente da natureza. Agora, depois que a tragédia nos cerca, sei que no seu íntimo muitos cobram de Deus a resposta, jogam sobre ele a causa da dor. Mas ele está conosco, chora nossas lágrimas e nos ajudará a reconstruir nossas vidas. Nós, porém, temos de estar prontos e alertas a evitar que o ano que vem seja tudo igual. Vamos segurar na mão do Senhor, que nos sustenta e nos dará forças para trabalhar e resgatar nossa dignidade, nossa vida, nossos bens e nossa alegria em viver. Reconstruir é uma parte importante da história do povo de Deus na Bíblia - só a cidade de Jerusalém foi destruída 17 vezes e ela continua lá, como prova de que sempre é possível recomeçar e ficar cada vez melhor. Esperança - a palavra de que tanto temos falado ultimamente é a nossa nova ordem de vida neste fim de ano. Segura na mão de Deus - e vai, porque ela te sustentará...

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Três ministérios na vida de Jesus: a manjedoura, o barco e a cruz

A madeira é a base sobre a qual muitas coisas são construídas. Olhando o ministério de Jesus, podemos encontrar o símbolo da madeira presente em, pelo menos, três momentos marcantes. Quero refletir sobre isso considerando o tema do culto de hoje e também o momento litúrgico que estamos vivendo, o Advento, em preparação para a chegada do Natal...

Primeiro símbolo: a manjedoura
Maria “teve a seu filho primogênito; envolveu-o em faixas e o deitou em uma manjedoura, porque não havia lugar para eles na estalagem” (Lucas 2.7). A manjedoura recebeu Jesus em sua chegada a este mundo. Quando todas as placas dos hotéis, pousadas e hospedarias diziam: “Não há vagas”, a manjedoura cedeu a dureza de seus contornos e a maciez rude de seu capim para acolher e aquecer o Deus menino que nasceu.
O que a manjedoura ensina para nós? A doação, a entrega, a adaptação à necessidade do outro, a acolhida e o afeto. Jesus disse, certa vez: “Cada vez que fizerdes a um desses meus pequeninos irmãos, a mim o fizestes”(Mateus 25.40). Quando a Igreja observa o papel da manjedoura no ministério de Jesus, é chamada a também abrir-se para acolher as vidas para as quais “não há lugar” e “não há vagas” neste mundo. Pessoas desiludidas, que não encontram seu espaço nesse mundo e nessa sociedade perniciosa e malvada na qual vivemos, devem encontrar sempre lugar na Igreja. Aqui elas devem ser envolvas em faixas de amor, aquecidas pelo carinho e pela partilha verdadeiras, devem encontrar conforto e acolhida. O mundo quer oferecer luxo a quem pode pagar por ele, mas a Igreja, como a manjedoura de Cristo, quer oferecer segurança e conforto, mesmo da maneira mais simples, para aqueles que não podem pagar nenhum preço, mas cujas vidas são as mais valiosas, porque são, como Jesus e como nós, igualmente “filhos e filhas” amados do Pai celeste. Jesus exerceu esse ministério de acolhida em sua vida: “Vinde a mim, todos vós que estais cansados e sobrecarregados e eu vos aliviarei” (Mateus 11.28) e nos convida a fazer o mesmo. Nós somos hoje a manjedoura de Deus na qual o mundo é convidado a deitar-se e receber cuidado, afeto, amor e vida eterna!

Segundo símbolo: o barco
O barco, igualmente feito de madeira, esteve presente inúmeras vezes no ministério de Jesus. Seus primeiros discípulos eram pescadores, para os quais o barco era um meio de sobrevivência (Mateus 4.18). Num barco, Jesus pregou às multidões (Marcos 4.1). Muitos milagres foram realizados quando Jesus estava num barco: Pedro andou sobre as águas (Mateus 14.29); a tempestade foi acalmada (Mateus 14.32; Marcos 4.37, Marcos 6.51); os peixes foram pegos em abundância (Lucas 5.1-7; João 21.11). O barco é um canal, um veículo pelo qual Jesus se deslocava de um lugar ao outro. Levando Jesus, o barco levava os milagres, as palavras de poder, a presença de Deus de um lugar para outro. A Igreja não transporta a si mesma, mas ela transporta Cristo em sua mensagem, em seu modo de ser, nas ações que realiza, nos cultos que celebra. A Igreja deve ser como esse barco que, silenciosamente navega, sabendo o poder de quem a conduz. A Igreja deve ser o barco que leva Jesus ao encontro de pessoas oprimidas, como o gadareno: Jesus saiu do barco e o libertou (Lucas 8.27-37). A Igreja deve ser capaz de passar pelas tempestades que a rodeiam, levando as vidas em seu interior com segurança, pois Jesus está dentro da Igreja, operando com poder, e jamais permitirá o naufrágio deste empreendimento (Marcos 6.51).
Cada um de nós é parte desta madeira, desta construção que é o barco chamado Igreja. Cada parte é igualmente importante para o equilíbrio, a segurança e a eficiência deste meio de graça, deste veículo de bênçãos, que transporta o mestre dos mestres... Por isso mesmo, devemos viver integralmente a vida de Cristo, que modo que não permitamos jamais a corrupção, o desalinho, o descuido para com este barco, pois ele transporta o mais importante dos tesouros: a Palavra viva do Senhor. Como barco de Cristo, a Igreja sinaliza nos mares da vida a chegada da palavra que salva, do milagre que faz nascer a fé, dos sinais e maravilhas que tornam a vida possível! Grande sinal é este: somos o barco de Deus!

Terceiro símbolo: a cruz
A cruz, cuja madeira recebeu sobre si o sangue de nosso Salvador, é o terceiro símbolo que quero abordar nesta noite. Não é possível contar a história de Jesus sem passar pela manjedoura, pelo barco e pela cruz. A cruz sinaliza a redenção de toda a humanidade. A cruz representa a morte do pecado. Representa um ponto final na história de separação entre o ser humano e seu criador: “Está consumado!” (João 19.30). Não há cristianismo sem cruz: “Aquele que quiser vir após mim, a si mesmo se negue, tome a cada dia a sua cruz e siga-me!” (Mateus 16.24). A cruz significa que a nossa vida mudou de parâmetros, de valores e de circunstâncias, como disse Paulo: “Mas longe esteja de mim gloriar-me, a não ser na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo, pela qual o mundo está crucificado para mim e eu para o mundo” (Gálatas 6.14). A cruz é a ponte que atravessamos para chegar a Deus, porque “havendo por ele feito a paz pelo sangue da sua cruz, por meio dele reconciliou consigo mesmo todas as coisas, tanto as que estão na terra como as que estão nos céus” (Colossenses 1.20).
A Igreja exerce seu ministério sinalizando a cruz. Por isso ela está em nossos altares, em nossas Bíblias e até no símbolo de nossa igreja, porque a cruz vazia nos mostra o alto sacrifício de Cristo e aponta para cima, para o céu, para a ressurreição, para a vitória sobre o diabo e sobre o mal. Paulo mesmo afirma: “tendo despojado os principados e potestades, os exibiu publicamente e deles triunfou na mesma cruz” (Colossenses 2.15).
Não há igreja nem evangelho sem cruz. Certa vez, li no No Cenáculo um testemunho a respeito de um homem que visitou uma igreja em reforma. O teto tinha uma cruz de madeira de um lado a outro, bem diferente na nova arquitetura que foi proposta. Ele perguntou ao engenheiro responsável: “Por que não tiram essas madeiras antigas, já que tudo está sendo modificado?” O engenheiro respondeu: “Se tirarmos a Cruz, toda a igreja virá abaixo. O teto se sustenta sobre a cruz, porque assim a igreja foi projetada. Essa história está sempre em minha memória: “Se tirarmos a cruz da Igreja, ela desaba! Que palavra profética!
A cruz é o anúncio da vida eterna. As pessoas erguem seus olhos para a cruz e são atraídas a Jesus, pois ele disse: “E eu, quando for levantado da terra, todos atrairei a mim. Isto dizia, significando de que modo havia de morrer” (João 12.32-33). Assim é a Igreja, sinalizando Cristo, apontando a salvação, mesmo que incompreendida: “Porque a palavra da cruz é deveras loucura para os que perecem; mas para nós, que somos salvos, é o poder de Deus” (1 Coríntios 1.18). Grande sinal é este: pela cruz, mostramos o Cristo vivo!

Conclusão: Igreja, manjedoura que acolhe. Igreja, barco que leva a palavra, os sinais e os milagres. Igreja, cruz que aponta a salvação e sinaliza Cristo. Madeira, não de lei, mas de graça; tábua de salvação; arca da aliança, esculpida por Deus para levar seu tesouro precioso – a vida eterna em Cristo. Cumpramos por fé este chamado, deixando Deus entalhar sua palavra em nossa vida, família e ministério. Sejamos sinal, como a cruz, o barco e a manjedoura...

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Solidão...

É engraçado quanta gente costuma reclamar da solidão quando chega o fim do ano. De algum modo, porém, eu costumo me sentir só muitas vezes... Parece errado admitir, mas é a verdade. Existem solidões dentro de nós e admiti-las é parte do processo de crescimento que Deus tem para nós. Solidões de amores perdidos, solidões de sonhos não-realizados, solidões de decepções as mais diversas. Solidão da gente mesmo, quando as coisas parecem fora de controle, quando a gente faz coisas apenas para cumprir tabela, quando parece que a criatividade toda se esvaiu e ficou apenas a agenda. Solidão que este mundo não dá tempo pra gente ser feliz.
Solidão que dói tanto que a gente pode estar um dia dirigindo por uma estrada deserta e parar para gritar enquanto ninguém escuta. Porque o pior da solidão é não poder falar dela sem parecer incrédulo, apóstata (termo que carrega certo ar amaldiçoado! Cruz e credo! Rs!) ou desviado (as pessoas têm pena de você, mas não sabem o que fazer. Triste, profundamente triste).
Solidão como a que Maria deve ter sentido, sem a ajuda da mãe, da avó ou da parteira na noite em que teve seu primeiro bebê. Solidão que José deve ter segurado no fundo do peito enquanto não sabia onde pôr as mãos para ajudar a trazer ao mundo um filho do qual ainda tinha dúvidas e questionamentos. Solidão de pastores ansiando pelo nascer do sol, quando os ursos e lobos se resguardam em suas tocas. Solidão que dói.
Solidão tão absoluta e profunda, tão verdadeira e humana que é mesmo um milagre que anjos possam aparecer cantando enquanto a gente sofre tanto... Silêncio de alma que só anjo pode quebrar... Paz na terra aos seres humanos... Enquanto sofremos na solidão, Deus se aproxima, porque nos quer bem...

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Priscila, inteligência e sensibilidade a serviço da vitalidade do Evangelho


Quem é Priscila? A mulher de Áquila, é claro! No tempo de Jesus, as mulheres muitas vezes se faziam conhecer por seu pai ou por seu marido. Era a Priscila do Áquila. Priscila que muda e inverte a ordem das coisas, de um temperamento forte, com certeza. Se não for assim, como explicar que falemos, quase sempre, colocando o nome dela à frente do nome do marido, num tempo em que esta não era a ordem natural das coisas?
Priscila, também chama de Prisca (2Tm 4.19), era uma mulher com um chamado. Junto com seu esposo, havia experimentado a tristeza de ser expulsa pela perseguição imposta pelos romanos ao povo judeu, expulsando-o de Roma (At 18.2). Trabalhava num ofício pesado, fabricando tendas, e abriu sua casa para hospedar um recém-conhecido, que tinha idéias religiosas diferenciadas; pois Áquila era judeu e Paulo, cristão (v.2-3).
Logo Priscila se revela uma mestra cristã. Ao conhecer o novo pregador Apolo, ela percebe seu potencial e decide “lapidar o diamante bruto”. Junto com seu esposo, Priscila instrui Apolo mais apropriadamente e faz desabrochar com total capacidade o talento do aluno (At 18.24-28). Seu talento é como o das mulheres que, desde a classe de Escola Dominical até o ministério pastoral, se esforçam na ânsia de fazer discípulos que mais fielmente transmitam as palavras do Cristo.
Priscila me faz pensar na parceria e no despojamento. Fora de sua casa, ela acolhe o peregrino Paulo. Está lado a lado com o marido na luta pelo pão de cada dia, além de estar disposta a acompanhar Paulo na viagem a Éfeso. O texto bíblico dá a entender que ali se fixaram; talvez para contribuir com a Igreja nascente (At 18.18-19). Aqui aparece o caráter missionário de Priscila, sua força e potencial de liderança.
Mas esta mulher também me fala sobre o equilíbrio familiar tão bom que coloca o relacionamento acima de questões menores, como a tão propalada submissão em nossos dias. Acho esse conceito extremamente complicado, pois, na maior parte das vezes, tem limitado os dons das mulheres e a capacidade receptiva dos homens. Quem ama de verdade não tem tempo para pensar em quem tem autoridade, quem manda, quem obedece. Quem ama quer estar ao lado, trabalhar junto.
Porque ama, mesmo num tempo tão distante, Áquila não se ressente da presença forte de sua esposa. Tanto que não lhe parece fazer qualquer agravo ter o nome dela antes do seu nos registros bíblicos. Tanto que está ao lado dela na iniciativa de discipular Apolo. Tanto que ambos abrigam uma igreja em sua própria casa (1Co 16.19). Estão unidos num ministério comum e numa vida conjugal que, por força do testemunho de sua fé nos breves relatos bíblicos, nos apresenta uma vitalidade inconfundível e nos desperta a sensação de parceria, engajamento, unidade, equilíbrio.
Priscila fala às mulheres de hoje que não existe incompatibilidade entre o amor e o trabalho; entre o afeto e a vocação. Por conta de nossas carreiras profissionais, muitas de nós abrimos mão da afetividade familiar e até mesmo conjugal. As pesquisas populacionais demonstram que muitas mulheres estão abrindo mão de constituir uma família por causa de sua profissão. Priscila nos mostra que é possível exercitar o afeto e a inteligência; que é preciso despertar em si mesma e no outro a capacidade para o companheirismo, para a entrega. Ela nos mostra que é possível superar muitas barreiras, entre elas, a do preconceito, para colocar a serviço do Reino de Deus e do próximo os talentos que recebemos. Ao lado de seu marido, ela dirigiu uma comunidade em sua casa, equipou líderes, deu apoio missionário a Paulo e a alguns dos quais jamais saberemos os nomes, pois Paulo fala dos bispos e líderes da cidade de Éfeso em suas cartas e no livro de Atos.
Priscila nos ensina um jeito muito atual de testemunhar a vitalidade do Evangelho. A liderança com firmeza e brandura; a determinação e o enfrentamento das situações mais difíceis, como o êxodo de Roma e a vida numa nova cidade. Ela enfrentou os desafios com audácia e fé. Podemos inferir tudo isso da leitura bíblica atenta no livro de Atos. Se errarmos em algumas dessas suposições, com certeza acertaremos sempre ao afirmar que as mulheres do Novo Testamento jamais perderam a oportunidade de fazer sua parte no Reino de Deus. E nós, hoje? Como testemunhamos a vitalidade do Evangelho?

O povo do coração aquecido

“O justo viverá pela fé” (Romanos 1:17, Habacuque 2:4, Gálatas 3:11, Hebreus 10.38) Uma experiência de mais de um dia John Wesley era um jov...