terça-feira, 29 de novembro de 2011

(O Evangelho; Grupo Logos)

"Eu sinto verdadeiro espanto no meu coração
Em constatar que o evangelho já mudou.
Quem ontem era servo agora acha-se Senhor
E diz a Deus como Ele tem que ser ...

Mas o verdadeiro evangelho exalta a Deus
Ele é tão claro como a água que eu bebi
E não se negocia sua essência e poder
Se camuflado a excelência perderá!

O evangelho é que desvenda os nossos olhos
E desamarra todo nó que já se fez
Porém, ninguém será liberto, sem que clame
Arrependido aos pés de Cristo, o Rei dos reis.

O evangelho mostra o homem morto em seu pecar
Sem condições de levantar-se por si só ...
A menos que, Jesus que é justo, o arranque de onde está
E o justifique, e o apresente ao Pai.

Mostra ainda a justiça de um Deus
Que é bem maior que qualquer força ou ficção
Que não seria injusto se me deixasse perecer
Mas soberano em graça me escolheu

É por isso que não posso me esquecer
Sendo seu servo, não Lhe digo o que fazer
Determinando ou marcando hora para acontecer
O que Sua vontade mostrará"

O Senhor é o meu pastor; de nada terei falta

Salmo 23

O salmista começa este lindo poema com uma expressão de confiança: “Eu reconheço a quem pertenço, pois o ’Senhor é o meu pastor’”. Em João 10.2-3, Jesus diz que o pastor verdadeiro é aquele que entra pela porta, chama as ovelhas pelos seus nomes e é seguido por elas para fora, em direção às pastagens. Em uma rápida pesquisa em meios de informação sobre a criação de animais, fiz algumas descobertas interessantes sobre a ovelha. Ela é capaz de guardar a imagem de uma pessoa ou sua voz na memória por cerca de 2 anos. Cientistas mediram a movimentação cerebral das ovelhas diante de alguns rostos, durante certo tempo. Depois, retiraram as imagens. Ao passá-las novamente, a cada vez que um rosto já apresentado surgia, havia uma onda cerebral correspondente. Que interessante é pensar que as ovelhas lembram-se de seu pastor; são capazes de memorizar sua voz e seu rosto, como os animais domésticos fazem. Isso também significa que elas podem se tornar mais dóceis, mais amáveis à medida em que mais se relacionam com seu pastor. O nosso convívio com Deus nos tem tornado mais dóceis, mais amáveis? Ou continuamos endurecidos como ovelhas que não têm pastor?
Ouvi também uma história de um homem que, visitando a Palestina, deparou-se com um curral de ovelhas no qual três pastores diferentes guardaram seus rebanhos juntos. No dia seguinte, pela manhã, o homem, curioso, foi ver como os pastores separariam suas ovelhas. Calmamente, o primeiro chegou, começou a entoar uma canção e determinado grupo de ovelhas o seguiu. O segundo e o terceiro fizeram o mesmo, até não restar ovelha no curral. Como eles fizeram isso? As ovelhas reconheceram suas vozes e espontaneamente os seguiram, pois sabiam quem era o seu pastor.  Jesus afirma em João 10.5: “Nunca seguirão um estranho, na verdade fugirão dele, porque não reconhecem a voz dos estranhos”. Será então que temos sido ovelhas verdadeiras? Quantos dentre nós já não seguiram outras vozes e foram para o descampado, se perderam nos penhascos da vida? Quantos não têm ouvido a voz de seu próprio sentimento ou vontade? A voz do mundo, a voz do diabo? Reconhecemos o pastorado de Deus em nossa vida ou agimos como se não tivéssemos conhecido a Ele, nem guardado Sua voz ou Sua face, reveladas nas Escrituras, em nosso coração? Que tipo de ovelhas temos sido? (H.B.T.)
**
Senhor, queremos, neste fim de ano, renovar Contigo nossos votos de seguimento. Queremos estar na Tua presença, renovados pelo Espírito Santo, para que sejamos ovelhas que conhecem seu Pastor. Amém!

Publicado no livro 365 dias - vol. 3

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Agradecer é estabelecer relacionamento!

Lucas 15.25-32
Ora, o filho mais velho estivera no campo; e, quando voltava, ao aproximar-se da casa, ouviu a música e as danças. Chamou um dos criados e perguntou-lhe que era aquilo.
E ele informou: Veio teu irmão, e teu pai mandou matar o novilho cevado, porque o recuperou com saúde. Ele se indignou e não queria entrar, saindo, porém, o pai procurava conciliá-lo.
Mas ele respondeu a seu pai: Há tantos anos que te sirvo sem jamais transgredir uma ordem tua, e nunca me deste um cabrito sequer para alegrar-me com os meus amigos; vindo, porém, esse teu filho, que desperdiçou os teus bens com meretrizes, tu mandaste matar para ele o novilho cevado. Então, lhe respondeu o pai: Meu filho, tu sempre estás comigo; tudo o que é meu é teu. Entretanto, era preciso que nos regozijássemos e nos alegrássemos, porque esse  teu irmão estava morto e reviveu, estava perdido e foi achado.

Um resgate das palavras
Em português, quando queremos agradecer a alguém, dizemos: Muito obrigado, muito obrigada. Esta expressão é uma redução de uma frase maior: Sinto-me em obrigação com você pelo que fez. Por isso, a pessoa que fez o favor responde: Por nada. Isto é, não se sinta em obrigação para comigo. O que eu fiz não foi para isso, foi por nada, de bom grado, livremente.
Sem perceber, esta expressão cotidiana nos ensina um valor eterno. Quando alguém nos faz alguma coisa, esta pessoa nos coloca, sim, em obrigação para com ela. Esta obrigação se reflete num espírito de gratidão e, na eventualidade daquela pessoa precisar de nós, deve se materializar numa recíproca de generosidade. Se fizemos algo para alguém, por outro lado, e esta pessoa se sente em obrigação para conosco, tornamo-nos, de algum modo, responsáveis por ela. Por isso, apesar de antiquada, vale lembrar a máxima do Pequeno Princípe: Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas...
No hebraico do Antigo Testamento, não existe uma palavra específica que signifique agradecer. Quando se refere a Deus em relação a uma bênção recebida, particularmente no livro de Salmos, temos várias expressões que indicam o que queremos dizer com gratidão ou “dar graças”, mas essa é a nossa tradução. Quando o homem bíblico quer agradecer, ele louva  (cf. Dt 9.10; 24.13; 2Sm 14.22; Jó 31.19s.; Ne 11.11).
“Por outro lado, o verbo que traduções recentes traduziam por ‘dar graças’ (forma causativa hodah) significa, na realidade, louvar, apreciar, especialmente ‘reconhecer’ (comparar justamente com ‘reconhecimento’’), a saber: experimentar uma verdade abstrata já conhecida e ‘reconhecer’ toda a sua riqueza. Essa significação é demonstrada, e também ilustrada, pelos verbos que os salmistas põem em paralelo com hodah, isto é, sapper, ‘contar, enumerar, enuncia’ (Sl 9.2; 78.3-6); haggid, ‘narrar’ (30.10; 92.2s.), hallel, ‘louvar’ (33.18; 44.9; 109.30; 111.1); zammer, “cantar” (18.50; 30.5,13, etc., cf. MONLOBOU, 1996).
Portanto, para o povo de Deus no Antigo Testamento, agradecer tem a ver com louvor, apreciação, reconhecimento e tudo isso com uma postura de alegria, com a disposição para o testemunho e para a cantiga. É a partilha da satisfação de ter sido agraciado com algo que se necessitava muito ou que se desejava.
Pesquisando mais sobre o sentido das palavras, eu me deparei com o idioma chinês e a riqueza dos sentidos da palavra agradecer. Num site da internet, é explicado que “a gratidão em chinês, repete o ideograma duas vezes, enfatizando o seu sentido”. Isso nos faz lembrar que, em Israel, quando se queria exaltar alguma coisa, se dizia a palavra três vezes, como “Santo, santo, santo”. O próprio Jesus, em João, para enfatizar seu ensino, também dizia: “Em verdade, em verdade...”. Portanto, isso significa que gratidão é uma coisa muito importante para os chineses. Podemos aprender com isso, já de cara, mas também algo mais...
“A gratidão é composta pelo radical (yan), que representa palavra, fala, (shen), que significa corpo e, finalmente, por shi - flecha. Neste caso, a flecha representa a curvatura, a reverência do corpo, que se expressa em palavras. Os chineses antigos agradeciam ao Imperador e cumprimentavam a Deus (simbolizado para eles como o Céu e a Terra), com o corpo completamente encurvado, prostrado, colocando a testa no chão para expressar a magnitude de sua gratidão. Esse gesto não se faz mais atualmente, mas está expresso pelo seu ideograma quando dizemos: (xie xie)"
Eu fiquei extremamente impactada pelo comentário do autor da pesquisa, que disse: “É natural que o Oriente una a reverência - sua forma predileta de respeito e veneração por uma pessoa - à expressão de gratidão: afinal, pela reverência, literalmente abaixamos nossa cabeça, situando-a à altura do coração...” (Você pode ver a explicação completa em http://www.hottopos.com/spcol/1chiafff.htm)
Não é lindo isso? A gratidão, para os chineses, une a mente e o coração. É um reconhecimento intelectual, mas também afetivo. Envolve respeito e também o reconhecimento, afeta os sentidos e faz o corpo se mover em reverência...


Gratidão é reconhecimento e relacionamento
A parábola do filho pródigo nos mostra, na experiência do irmão mais velho, que falta faz a experiência da gratidão. No fundo, é um espírito de egoísmo que se manifesta na forma como ele se dirige ao pai. Vamos observar, em sua postura, atitudes que devemos evitar para não nos tornarmos pessoas duras e frias, que não vivem um relacionamento de afetividade para com Deus e com as pessoas.
a)     Ele não fica feliz ao ver o retorno do irmão
Existem muitas pessoas, mesmo cristãs, que não se alegram com a mudança na vida das outras. Elas se ressentem quando veem outras pessoas sendo bem-sucedidas, ou amadas, ou alcançando seus sonhos. Essas pessoas se esquecem de que Deus as ama tanto quanto ama as demais. Elas sempre acham que as outras pessoas não deveriam ser tão abençoadas, já que erraram tanto, que fizeram besteiras ou que são “jovens” demais para determinadas posturas ou espaços.
b)     Ele reclama da forma como é tratado pelo pai
Para muita gente, Deus tem que agir do jeito que achamos que ele tem que agir. Prova disso são as orações que determinam; as posturas que exigem. Gente que jejua e diz: Agora, sim, Deus vai me abençoar porque eu fiz isso. Essas pessoas não entenderam o espírito do Evangelho: Nós amamos porque ele nos amou primeiro! Nós somos abençoados porque ele nos ama e somente por isso... O pai não é injusto, mas ele tem seus próprios critérios e é parte do processo de gratidão entender que se ele fosse nos tratar como merecemos, nenhum de nós poderia, jamais, entrar na festa do reino!
c)      Ele se mantém do lado de fora
Muita gente age como este filho, de modo mimado e egoísta. Gente que só ocupa seu lugar se for adulado... se tiver atenção especial. O pai tem que sair da festa para vir falar com ele, que fica de cara amarrada... gente que se recusa a participar da alegria, que fica reclamando pelos corredores e na porta da igreja, por trás das paredes. Gente que vive emburrada, de braços cruzados e cara feia. Porque parte do sentimento de imerecimento, a gratidão vem revestida de uma alegria livre. Deus nos ama, apesar de nós! Isto é uma liberdade que o filho mais velho não entendeu. Ele quer a bênção só pra ele e só obedeceu ao pai porque esperava ser recompensado por isso. Ele não ama o pai tanto quanto o filho mais novo. Ele só quer se aproveitar, usando o argumento: Eu sempre te agradei... sempre fiz tudo o que você quis... Mas o pai só queria ouvir: Eu te amo... Incapaz de amar, o filho mais velho fica do lado de fora da vida, da festa, da alegria, porque não reconhece a generosidade do pai, que disse: Tudo o que é meu, é seu...
d)     Ele acha que é dono de tudo, então não precisa ser grato
O filho mais novo esperdiçou sua parte da herança. Então, agora, o novilho que ele está comendo é, pela lei, do filho mais velho. Daí a razão de sua ira. Ele não quer partilhar o que acha que é dele por direito. Mas ele esquece que ambos são herdeiros. Não fizeram por merecer a riqueza que herdam. Não trabalharam por ela. Nenhum dos dois se esforçou para aquele patamar. O trabalho foi do pai. Ele é que juntou tudo ao longo dos anos. Quando a gente pensa a vida em termos de “eu tenho direito a isso”, eu tenho direito àquilo, vem a ingratidão, a falta de perdão. A gente não perdoa nem partilha porque se acha melhor do que a pessoa que foi ofendida. A gente nunca faria aquilo que ela fez, nem tomaria a atitude que ela tomou. Pode até ser verdade que o filho mais velho nunca iria embora, como o mais novo. Que nunca se prostituiria como ele, nem gastaria tudo. Mas isso não o isenta de outros pecados: arrogância, dureza de coração, ódio, legalismo... que pecado é maior? A gratidão a Deus por seu amor é que nos permite ambos sermos purificados, tanto o que está em casa quanto o que volta. Porque gratidão, vamos relembrar como os hebreus, é reconhecimento da generosidade divina.


Conclusão
Este momento de ação de graças nos convida a entrar numa festa. Para isso, temos de tomar ao menos uma atitude: reconhecer que erramos, que não somos dignos de ser filhos e achegarmos com humildade diante do Pai. Ou reconhecer que nossas motivações espirituais podem não ser verdadeiras, autênticas e nos arrepender dessa religiosidade aparente. De qualquer modo, para ambas as posturas, que significam, em última instância, gratidão pelo que Deus faz por nós, há um só e o mesmo resultado: poder entrar na festa, celebrar, alegrar-se e agradecer.
Quero convidar você a assumir hoje as ações de graças no sentido brasileiro, hebraico e chinês. Que você se sinta em obrigação e, portanto, ligado a Deus por causa de seu perdão (Sobre mim pesa esta obrigação... ai de mim se não pregar o evangelho!). Uma obrigação de amor, não um fardo... Que você reconheça a grandeza de Deus e seus atos de amor, louvando e proclamando o Senhor, como os hebreus. E que você, como o chinês, por meio de suas palavras curve seu corpo diante do Pai, em reverência e aproxime seu coração de sua razão, rendendo-lhe graças, portanto, de mente e de alma, com todo o seu ser! Sejamos como o filho mais velho, Jesus, herdeiro de Deus e coerdeiro conosco! O filho mais velho que veio nos resgatar por amor ao pai. E que nós, com este espírito de gratidão, entremos todos na festa!
Hideide Brito Torres

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Orando pelo bispo ou bispa da Amazônia

Senhor, que o homem ou mulher que tens preparado para assumir o episcopado em nossa Igreja seja, de fato, o homem ou mulher que tens preparado. Torna o coração dele meio branco, meio negro, meio índio, meio cabloco, meio ribeirinho... E ao fazê-lo um pouco de cada um, torna o seu coração inteiramente humano! Que seja um coração fervoroso para orar, amoroso para acolher, austero para corrigir em amor, dinâmico para tomar a atitude necessária, despretencioso para não ir além da vocação a que foi chamado...
Senhor, encha este coração que tens chamado para que ame as vidas naquele chão. Que seus olhos não enxerguem nada além do que as necessidades do povo, a urgência do Evangelho, os campos branquejando em meio ao verdume da floresta, dos grandes centros urbanos, das choupanas e casebres, da imponência das grandes casas... Enfim, que sejam olhos que vejam, que atentos observem, e que conduzam o povo numa visão de transformação, de amor, de acolhida...
Senhor, abre seus ouvidos para ouvir. Há muitas coisas não ditas na vida do povo metodista na Amazônia. Que teu bispo ou bispa seja profético, no sentido de captar essas vozes e de fazê-las ecoar para o resto do país, de modo que não haja mais distância entre nossos corações e intentos além das duras quilometragens da geografia. E que seja um ouvir manso, Senhor... tantas imposições já temos sofrido, de tantos lados, de tantas formas, que dentro de Tua igreja, santa e pecadora, não precisamos de mais. Que haja um aproximar-se, um inclinar-se para  abarcar o pequenino e um levantar-se contra a tirania dos que oprimem. Que seja um ouvir ativo, efetivo, intencional, duradouro.
Senhor, que teu bispo ou bispa tenha boca para falar. Que não se acomode às conveniências de sua posição ou ao receio de perdê-la. Que defenda sua gente, que a promova, que a honre, que interceda por ela tanto em teu altar quanto em qualquer fórum que se fizer necessário. Que tua voz ecoe para o povo da Amazônia como bálsamo suave, na voz do bispo ou bispa que tens preparado. E que o consolo da perda recente seja efetivo, restaurador...
Senhor, que teu bispo ou bispa tenha mãos para acolher, para acariciar, para levantar, para sustentar, para apontar a direção, para conduzir, para abrir alas à passagem do Teu Espírito. Que suas mãos sejam ungidas para curar, por meio de seu ministério, quem já desanimou, quem se perdeu, quem creu e descreu, quem ainda não chegou lá. Que sejam mãos santas, Senhor, que administrem com zelo os dons do povo da Amazônia. Que sejam mãos hábeis, em cujo manusear se encontre a capacidade da multiplicação dos pães e dos peixes, à imitação do Cristo.
Amado pai, que teu bispo ou bispa tenha pés fincados no chão da Amazônia. Pés que caminhem com o povo, que percorram as veredas, subam e desçam por onde enviares. Que sejam pés formosos sobre os montes, sobre os rios, sobre as estradas, dentro dos barcos... mas também de dentro de seu gabinete, pés apressados para gerenciar com excelência, sem se perder nos caminhos da burocracia eclesial. Pés de soldado, sempre alerta. Pés de atleta, sempre em forma. Pés de pastor em busca da ovelha perdida.
Senhor, sei que teu bispo ou bispa não mudará nada. Quem faz as mudanças é o Senhor, Deus de todos nós. Sei que esta pessoa tem desafios maiores que ela mesma. Algo grande como Deus só Deus pode abarcar. Mas dá-lhe a humildade de sempre saber disso e, por isso, depender de Ti.
E como membro deste corpo, dá-me o compromisso de orar para que esta pessoa que tens preparado não se sinta só em meio aos desafios. Que minha voz, meus pés, minhas mãos, meu coração e meus ouvidos estejam na disposição de contribuir. Que sejamos corpo, a Igreja Metodista toda, diante de ti, a favor de todo o povo brasileiro, que é um só e é irmão, estando lá ou aqui. Nenhuma distância seja tão grande para a missão, nenhum esforço seja em vão. E que a tua graça resplandeça lá em todo o tempo. E que eu, aqui, ouça falar do jeito, do sotaque e nos dialetos da Amazônia e de todo o Norte do País, as grandezas do nosso Deus!

terça-feira, 8 de novembro de 2011

Discipulado e missão: uma reflexão desafiadora

A questão missionária e de discipulado, obviamente, sempre esteve na pauta da discussão da Igreja, mas o recente enfoque na questão do crescimento (especialmente numérico) levanta desafios e questionamentos pertinentes. Podemos falar sob muitas perspectivas, mas gostaria de enfocar o aspecto relacional que deve estar presente quando se tem em mente essas duas palavras-chave da vida da igreja atualmente.

Missão, o que é isso?
Antes de mais nada, é preciso ter em mente o que é missão para nós. Do ponto de vista de conceito, isso tem a ver com nossos alvos, metas, estratégias e posicionamento. Segundo uma definição histórica que temos, nossa missão seria: “Reformar a nação, particularmente a Igreja, e espalhar a santidade bíblica por toda a terra” (Conferência dos Metodistas na Inglaterra, 1744). Cabe lembrar que esta “reforma” inclui os aspectos da espiritualidade, mas também a economia, a política, a sociedade, isto é, proporcionar as condições para que ocorra o “Reino de Deus e a sua justiça”.
No Plano para a Vida e Missão da Igreja, temos: “A Igreja deverá experimentar de modo cada vez mais claro que sua principal tarefa é repartir fora dos limites do templo o que ela de graça recebe de seu Senhor”. Sua missão é no mundo, pois “a missão de Deus no mundo é estabelecer o seu Reino. Participar da construção do Reino de Deus em nosso mundo, pelo Espírito Santo, constitui-se na tarefa evangelizante da Igreja” (PVMI, 3.ed., 2001, p.14). Assim, o PVMI define também que trabalhar na missão de Deus é “trabalhar para o Senhor do Reino num mundo espremido pelas forças do pecado e da morte, participando, como comunidade, com dons e serviços, para o nascer da vida. É somar esforços com outras pessoas e grupos que também trabalham na promoção da vida”. (p.17). Portanto, missão é tudo o que fazemos em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, para que o Reino de Deus seja real e concreto no lugar em que estamos.
Tudo isso é muito correto, bem fundamentado e importante. Mas tenho aprendido uma importante lição: temos sido muito eficientes do ponto de vista conceitual ou racional. Devemos sê-lo também do ponto de vista do coração. Sim, a missão da Igreja deve emergir de seu coração. Todos os conceitos acima colocados têm a ver com relacionamentos e isso tem sido esquecido no decorrer de nossa caminhada. Cada vez que um movimento surge no seio da Igreja, ou uma aspiração aparece, logo corremos para dar a ela uma estrutura, debatemos em torno dos melhores nomes (quem dá nome, domina!) e começamos a estabelecer uma série de questiúnculas que fazem morrer o ardor do coração.
A missão da Igreja é a vida da Igreja, é sua razão de ser. A missão da Igreja são as pessoas! Se não, vejamos: reformar a nação, particularmente a Igreja... tendemos a ver essas duas esferas sociais como meramente instituições quando, na verdade, se trata de gente! Wesley e seus companheiros e companheiras reformaram a nação visitando órfãos, viúvas, presidiários; reformaram a igreja estabelecendo grupos pequenos nos quais as pessoas eram estimuladas a conviver, a respeitar, a ver seu próprio valor e a descobrir-se no espaço da vida e da fé como partes do plano de Deus para todo o mundo; reformaram sua sociedade combatendo os vícios pessoais que afetavam famílias e promovendo relações de respeito e afeto... Ensinaram as pessoas a pensar, a ler, a estudar, a cantar... Deram a elas espaço na liturgia dos cultos e da vida... Sua missão não estava nos tratados que escreviam, mas surgia primeiro da vida, do olhar, do encontro amoroso com o outro, na capacidade de converter-se a novos paradigmas sem perder de vista suas raízes e a força delas em sua história. A nação era minha rua, meus vizinhos, minha aldeia, gente com rosto, com história... A igreja era minha família celebrativa, meus companheiros e companheiras de bands, a gente que estava comigo no dia-a-dia da fé...
A missão transbordava em escritos, em hinos, organizava-se em conferências, estruturava-se numa organização porque primeiro transbordava do encontro entre pessoas. Organizava-se a estrutura em torno da missão e não o contrário. Este desafio, em grande medida, foi perdido de vista por nós e hoje consiste em um dos nossos mais sérios entraves à experiência de um crescimento orgânico, natural e saudável. É a crítica pertinente que se faz à nossa formação pastoral e leiga, à nossa visão conciliar e as formas pelas quais nossa administração se estabelece... Por trás de tudo isso, está a pergunta: como aquecer nosso coração para a missão? Como redescobrir a vocação missionária autêntica do “Tudo deixarei, tudo entregarei” que desafia a cada um, cada uma de nós hoje?
Missão, portanto, é aquilo no qual eu emprego minha vida, aquilo que me traz motivação interior, aquilo que arrepia meu corpo quando eu penso nas possibilidades, o que me sustenta nas horas mais difíceis da minha vida, as coisas das quais eu não abro mão. A missão de Deus tem que pulsar no meu coração e tem que ser a coisa mais importante para mim. E isso não vem de fora; é um impulso do Espírito Santo que só ocorre em função da conversão genuína. É uma experiência de renovação, de avivamento, sim, mas não das formas de culto, nem da hinologia, nem do tipo de sermão. É um avivamento de alma, é uma nova disposição de vida, é algo que move a pessoa de dentro para fora e independe das formas pelas quais se expressa. Reside no coração da pessoa e da comunidade e aí encontra seu espaço de realização plena.
Temos de aprender e recordar esta importante lição diariamente: a missão tem que ser a nossa vida e a nossa vida tem que ser fruto de nossa missão... Como ouvimos no concílio geral, é fazer da missão de Deus a nossa forma de ver o mundo e as pessoas; a visão da Igreja, corpo de Cristo, é a minha visão, a minha missão, meu modo de ser e estar no mundo. Se fôssemos usar uma figura, poderíamos comparar nossa missão com “atingir o alvo”: o alvo é a vida humana redimida; a flecha é a Palavra penetrante e redentora de Cristo; o arco envergado sob a vontade divina, o qual faz a flecha ir mais longe... este sou eu e é você!

Discipulado: como assim?
Em Mateus 10.24-33, à chamada para o discipulado seguem-se as orientações do que é ser um verdadeiro discípulo. Ele enfatiza que o chamado ao discipulado exige compromisso, o qual, por sua vez, requer opções radicais e nem mesmo a família pode ser mais importante do que a missão. Jesus quer demonstrar que havia outros grupos oferecendo soluções para a vida das pessoas, mas tais soluções não passavam pelo crivo do acolhimento, da primazia à vida ou do amor convidativo e amoroso. De fato, a história nos mostra que os fariseus reorganizaram o Judaísmo, tornando-o extremamente rigoroso no que dizia respeito às leis e práticas[1], depois da destruição do templo no ano 70. Eles ameaçavam de expulsão todas as pessoas que não seguissem as suas normas. Aquela comunidade foi posta diante de um desafio: os seus próprios irmãos e irmãs (judeus) esforçavam-se por vê-los renegar a Cristo. Daí, a necessidade radical posta pelo compromisso de fé em Cristo. Nenhuma pessoa, instituição ou qualquer outra coisa pode ser colocada acima dos compromissos estabelecidos pelo Reino.
Aqui, missão e discipulado se encontram. Se a missão é aquele valor pelo qual eu pretendo viver e morrer, então devo caminhar com as pessoas ao meu lado de modo que elas partilhem comigo este modo de vida. Devo ensinar, por meu exemplo, prática, modo de falar e viver, que esta missão vale o que eu digo que ela vale. E não podemos fazer discípulos se nossa vida cristã é institucionalizada, de horários marcados apenas, de agendas, reuniões e compromissos... Discipulado se faz no caminho da estrada, ao responder às questões que inquietam o coração humano, no processo de conhecer e ouvir o outro, de responder com honestidade e amor aos questionamentos que as pessoas trazem sobre a vida... É no partir do pão, nas orações intercessórias, no caminhar diário, no telefonema preocupado, na devocional inclusiva, na formação de uma liderança por meio do relacionamento pessoal profundo.
Tenho aprendido um novo modo de ver a missão e o discipulado no encontro com as pessoas de um modo novo... Fomos ensinados, por exemplo, que “ovelha gera ovelha” e, portanto, o pastor ou pastora deve cuidar do rebanho e, se quisermos alcançar pessoas, os membros devem recuperar seu zelo evangelizador... Mas como eles farão isso se não veem na vida do pastor e da pastora? Tenho de ampliar meus relacionamentos, ter mais amizades fora do círculo eclesiástico e conversar mais amplamente com outras pessoas sobre coisas que não sejam “só de igreja”. Tenho de saber da vida, do futebol, da moda, das novidades... das dores, dos anseios, dos projetos... tenho de saber de gente... E enquanto a amizade acontece entre duas, dez, doze, trinta pessoas no decorrer de nosso dia-a-dia, Cristo manifesta Sua graça salvadora, nós vamos angariando a simpatia do povo e assim, por este milagre divino, “o Senhor acrescenta aqueles e aquelas que se hão de salvar”. Qualquer estratégia de missão ou forma de discipulado pode dar certo se o coração está em chamas de amor verdadeiro, de zelo amoroso pelas coisas de Deus... Mas a melhor das ideias, o mais correto dos documentos jamais funcionará se houver verdade mas faltar amor...
Veja o exemplo do mestre: ele ensinava seus discípulos, contava-lhes história, partilhava Seus momentos de tristeza, receio e dor. Mas também os levava a jantares e festas, conversava pelo caminho afora, saía para pescar, observava com eles o que acontecia na vizinhança, orava por eles em segredo, dava conselhos sobre as mais diversas situações. Jesus Se importava. E o discipulado verdadeiro aconteceu enquanto a amizade autêntica era cultivada, enquanto o compromisso interpessoal era enfatizado.

Enfim...
Penso que nosso Concílio Geral foi muito importante neste sentido. Tentamos, de alguma forma, humanizar mais nossos processos, nos preocupar em evidenciar a importância da pessoa humana neste contexto de discipulado e missão. Mas é um caminho que está apenas começando... Eu oro para que possamos avançar e construir não uma denominação forte e numerosa, mas um povo de Deus, uma família da fé, uma comunidade a serviço... Assim seja.
Hideide Brito Torres


[1] Daí o surgimento dos termos farisaico, farisaísmo como uma conotação sociológica relacionada com o caráter ou hábito dos fariseus de serem extremamente exigentes no cumprimento das questões legais, sem contudo, evidenciá-las em sua prática ou fazê-lo sem colocar no centro a vida humana e seu valor.

Para refletir e orar

Lento Desaparecer (Casting Crowns)

Cuidado, olhinhos com o que veem
É o segundo olhar que prende suas mãos
Conforme as trevas colocam as amarras
Cuidado, pezinhos onde pisam
São os pezinhos atrás de você que com certeza te seguirão

É um lento desaparecer quando você se entrega
Um lento desaparecer quando o preto e o branco viram cinza
Pensamentos invadem, e escolhas são feitas 
Um preço será pago
Quando você se entregar
As pessoas nunca desabam de uma vez
É um lento desaparecer, é um lento desaparecer

Cuidado ouvidos com o que ouvem
Quando a falsidade nos leva a um compromisso, o fim está sempre próximo
Cuidado, lábios com o que falam
Pois palavras e promessas vazias 
levam corações despedaçados a se desviar

É lento o desaparecer quando você se entrega
Um lento desaparecer quando o preto e o branco viram cinza
Pensamentos invadem, e escolhas são feitas, um preço será pago
Quando você se entregar
As pessoas nunca desabam de uma vez

O caminho da sua mente até suas mãos
É mais curto do que você imagina
Cuidado, se você pensa que está de pé
Você já pode estar afundando

É lento o desaparecer quando você se entrega
Um lento desaparecer quando o preto e o branco viram cinza
Pensamentos invadem, e escolhas são feitas, um preço será pago
Quando você se entregar

Pessoas nunca desabam de uma vez (lento desaparecer)
Pais nunca desabam de uma vez (lento desaparecer)
Famílias nunca desabam de uma vez

Cuidado, pequenos olhos com o que veem,
Cuidado, pequenos olhos com o que veem,
Pois o Pai lá em cima está olhando para baixo com amor

Cuidado pequenos olhos com o que veem

Quanto mais...

Quanto mais escura a noite, mais efeito faz o tremular singelo da chama de uma simples vela. Quando mais forte a chuva, mais efeito faz o abraço que aconchega e dispersa o medo. Quando mais a morte nos rodeia, mais sentido faz a fé na ressurreição, mais força assume a luta pela vida, mais forte se faz o grito por libertação!

terça-feira, 1 de novembro de 2011

Pensamentos...

Eu olho ao meu redor com alguma desconfiança, mas também esperança...
Com algum temor, mas também amor...
A noite é escura, a chuva é fria, as perspectivas às vezes não são boas...
Mas o sol, quando chega, transforma em diamante as gotas de chuva
e toda lembrança amarga de repente se desfaz.
Fé não é ausência de problemas; é coragem para ver além do que os olhos veem;
é caminhar, mesmo com medo, entre as pedras que deslizam.
É encontrar forças para recomeçar quando ninguém mais está lá. Exceto Deus.

O povo do coração aquecido

“O justo viverá pela fé” (Romanos 1:17, Habacuque 2:4, Gálatas 3:11, Hebreus 10.38) Uma experiência de mais de um dia John Wesley era um jov...