quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Eu quero é a tua morada

"Mas o Altíssimo não habita em templos feitos por mãos de homens, como diz o profeta: O céu é o meu trono, e a terra, o estrado dos meus pés. Que casa me edificareis, diz o Senhor, ou qual é o lugar do meu repouso? Porventura não fez a minha mão todas essas coisas?" 
(Atos dos Apóstolos 7.48-50)

As estrelas são o tapete nos quais teus pés soberanos caminham. Tu te enrolas no céu como num manto, diz o salmista. Que casa poderíamos construir, que se comparasse à Tua? A Capela Sistina pode ter o teto mais bonito deste mundo, mas nada é diante da visão que tens, todas as noites, podendo observar as estrelas e as luas, os satélites e planetas por ângulos que não somos capazes de imaginar.
E por que, cargas dágua, ia fazer alguma diferença para ti o Templo de Salomão (o da Bíblia ou os de agora)? O Senhor se quedaria admirado diante da Basílica de São Pedro? Ia fazer alguma diferença para Ti se há Catedrais entre os templos metodistas?
Tu és um Deus de tendas, de pé no chão, de papelão e jornal. Quem busca construções para demonstrar poderio econômico ou seja lá o que for, travestido de religiosidades falsas, somos nós, Senhor... E como temos feito isso bem! Às vezes, a construção pode ficar tão bonita que a gente nem sente falta se Deus não estiver lá... perdoa, Senhor, minha heresia, mas é assim que meus olhos veem...
Não sou contra construir templos, nem contra a beleza das construções ou a necessidade de conforto, de acesso, de qualidade do som. Sou contra é explorar o povo, incentivar o comércio na região, arregimentar pessoas de todos os lados para construir megaigrejas enquanto, na hora do vamos ver, é um pobre pastor ou pastora de interior que visita os escombros das vidas humanas arrasadas pelas falsas promessas... são os irmãos e irmãs que se unem pra prover cestas básicas, fraldas para crianças, remédios para os necessitados... As ofertas dos templos que nunca se dirigem ao povo e aquilo que a gente nunca sabe de onde veio nem para onde vai - e não é o Espírito Santo nem algo ligado a ele.
Aqui mesmo, o Senhor sabe, estamos lutando pra construir um templo. Ganhamos o terreno, tem terra pra caramba pra tirar até nivelar a construção para dar acesso ao povo. Hoje, espremidos num lugar inadequado, te louvamos com a mesma alegria. Sonhamos com o templo porque ele representará nossa maturidade como igreja, nos ajudará a realizar o que esperamos. Será bonito porque foi sonhado. Nem de longe se comparará ao templo de Salomão. Não irá, certamente, atrair visitantes. As congregações que estamos reformando também não. Que bom, Senhor... assim a gente simples poderá se sentar e ouvir, cantar, sentir, partilhar.
E por causa de Teu amor, que é grande, eu sei que poderemos contar com Tua presença a cada culto, a cada reunião. Não, não é por causa da beleza da construção. É por causa da Tua promessa. Foi o Senhor quem disse que se tivesse dois lá, a gente podia contar contigo! Eu não tenho vontade nenhuma de conhecer a Basília, seja a de Roma, seja essa que dizem estar fazendo lá na cidade grande. As indulgências de ontem e de hoje não vão ajudar a comprar entradas para o céu. Eu quero estar onde as pessoas estão, porque é lá que Deus está. Tu não habitas em templos feitos por mãos, mas entra na casa de quem te convida. Eu quero que estejas na minha morada. E eu quero mesmo é estar na Tua.

A lei é boa, eu é que não sou... Romanos 7.16-17


O apóstolo Paulo exalta a graça divina, entre outras coisas, como a capacidade divina dada ao ser humano, pela qual lhe é possível, pelos merecimentos de Cristo, alcançar a justificação. A justificação, como a palavra mesma indica, é estar “quites” com os aspectos legais em determinada circunstância. Quando, por exemplo, alguém não vota e justifica sua ausência às urnas, isso não a livra da responsabilidade anterior de ter votado, mas elimina a possibilidade de uma punição futura por sua ausência no dia da eleição.
A justificação significa que não escapamos à incapacidade de cumprir a Lei de Deus, mas que, face a essa impossibilidade, Cristo Se apresentou em nosso lugar e fez o que não podíamos fazer. Isso deve nos alegrar, como se estivéssemos presos e alguém pagasse a fiança impagável. Mas não deve nos deixar relaxados e preguiçosos quanto à necessidade permanente da obediência aos mandamentos de Deus. Como disse Paulo, não é porque recebemos a liberdade que podemos dar ocasião à carne. Se a graça é superabundante, é para vencer o pecado e não para dar vazão a ele.
Esta reflexão é importante porque vivemos dias em que a obediência é um valor em desuso. Todo mundo faz o que quer, inclusive em relação aos mandamentos de Deus. As pessoas mercadejam a graça e vendem bênçãos como se impunemente pudéssemos viver os desejos da nossa humanidade sem atentar contra a santidade divina.
O fato de alguém pagar a conta que eu não poderia pagar deve me alegrar e me deixar alerta para não ficar fazendo dívidas infinitamente. A graça me chama à maturidade, ao crescimento, ao compromisso, ao abandono da vida anterior. Significa que Deus me dá valor e eu devo fazer o mesmo em relação à vida de cada pessoa ao meu redor. Obedecer à lei continua sendo um mandamento divino. Jesus mesmo disse que veio para cumpri-la. A diferença agora é que, quando erro, posso pedir perdão, receber a justificação e prosseguir adiante, sem que a culpa ou o castigo fiquem pendentes sobre minha cabeça.
Com seriedade, devo assumir que um preço alto foi pago para que eu tivesse essa possibilidade. A lei é boa, eu não. Por isso, foi preciso alguém tão bom quanto a lei para cumpri-la, a fim de que eu, que não posso fazê-lo, adquira uma segunda chance aos olhos do juiz que, embora amoroso, continua sendo justo.

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Senhor, jamais permita que a graça seja barateada em meu viver por uma disposição interior ao pecado. Valorizo Teu sacrifício por mim enquanto me ponho obedientemente em Tuas mãos. Amém.

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Em busca da santidade – Salmo 15


Este texto é um resumo da pastoral que escrevi, a pedido da Federação de Jovens da 4ª. Região Eclesiástica, sobre o uso cristão e ético dos meios de comunicação, em particular, a internet. Creio que o tema se aplica a todos nós e tem tudo a ver com a questão da santidade, proposta nesta edição, por isso, resolvi partilhá-lo também com as pessoas que lêem a nossa Voz Missionária. O texto na íntegra pode ser encontrado no site da Federação de Jovens.

Uma das principais ênfases da Igreja Metodista é na vida de santidade. Isso não se faz em termos formalistas ou moralistas, mas na vivência da fé diariamente, em busca da mente de Cristo, purificando os corações de todo o mal. O Salmo 15 nos inspira em direção à santidade, porque ele é bem prático quanto ao que isso significa: “viver com integridade, praticar a justiça e falar a verdade”, entre outras posturas requeridas da pessoa que teme a Deus.
De muitas maneiras, temos visto como a tecnologia atual permite rapidamente esquecermos esses princípios. Devemos resgatar o princípio de que a comunicação deve ser feita visando à verdade, à vida e à justiça.

“Intern-ética”
O Salmo 15 afirma que a pessoa que tem acesso ao Monte do Senhor, ao lugar da sua intimidade, é aquela que “o que não difama com sua língua; não faz mal ao próximo nem lança injúria contra o seu vizinho; o que, a seus olhos, tem por desprezível ao réprobo”. Como essa palavra tão antiga se aplica hoje ao contexto das novas tecnologias? Poderíamos, numa releitura, dizer: “o que não difama com seu teclado, não faz mal ao próximo divulgando mensagens de conteúdo distorcido ou ofensivo, nem envia e-mails anônimos. O que, aos seus olhos, tem por desprezível toda página de internet que traz conteúdos reprováveis”.
Como podemos estabelecer para nós uma forma de conduta que nos permita de modo consciente utilizar esses meios e ser neles promotores e promotoras da vida de Cristo? Chamaremos a isso de “intern-ética”!
Primeiro ponto: Não receber nem transmitir mensagens anônimas que se refiram a acusações contra quaisquer pessoas. Quem realmente tem confiança no que diz não precisa se esconder. A pessoa justa manifesta sua indignação contra algo que a aborrece e assume a responsabilidade pelo que diz. Anonimato é covardia e a Palavra de Deus condena veementemente tal disposição.
Segundo ponto: O respeito às pessoas não perdeu seu lugar quando o confronto passa do pessoal ao escrito. Só porque a gente não está falando “cara a cara” não significa que podemos escrever o que nos der na idéia, sem medir as conseqüências. Muita gente se aproveita do universo online para ser desrespeitosa, usando mesmo palavras torpes, pesadas, que não combinam com o linguajar cristão. Adotam um viés destrutivo para falar de situações muitas vezes justas, que requerem atenção, mas que, tratadas assim, geram apenas confusão e rompimento de relacionamentos.
Terceiro ponto: Cuidado com aquilo que retransmitimos sem verificar a origem dos fatos. João Wesley ensinava a seus pregadores que nada deveria ser passado adiante entre eles sem primeiro verificar, junto às pessoas envolvidas na informação, qual a veracidade dos fatos. Todas as pessoas têm o direito de confrontar quem as questiona, expor seu lado da história, defender-se ou pontuar aspectos relevantes. Isso é muito bom. Quando a coisa é feita da maneira correta, vemos que isso tem acontecido. As versões são postas lado a lado, as dificuldades são superadas.
Quarto ponto: Reconhecer o perigo das tentações em ver e clicar em qualquer banner que aparece. Não minimizar os pecados decorrentes da leitura e observação de páginas que não trazem conteúdos cristãos. Só porque é virtual não quer dizer que os danos à nossa espiritualidade não sejam reais. E pensar: “ninguém está vendo” pode funcionar com os seres humanos, mas certamente, não funciona com Deus. E ponto final.
Quinto ponto: Perceber que, embora esteja ali você e o seu computador, os “pecados virtuais” afetam também outras vidas. Páginas de conteúdo impróprio sinalizam a exploração de mulheres, crianças e adolescentes no mercado da ponografia, por exemplo. E-mails anônimos expõem seus amigos e amigas ao perigo de hackers e golpistas. Transmitir mensagens e correntes de origem desconhecida pode levar um vírus a “limpar” a conta bancária de gente que você ama... E, quando se trata da vida da Igreja mais especificamente, mensagens aleatórias podem aumentar a ansiedade, o estresse e a divisão no corpo de Cristo... Sexto ponto: Ter a intenção correta ao utilizar os meios de comunicação. Não usar a internet (emails) para fofocar, criar intrigas, portar-se de modo destrutivo. Tampouco de modo a expor dificuldades particulares entre as pessoas como se fosse um problema de âmbito maior, atingindo outras pessoas que nada têm a ver com o fato. A pessoalidade dos relacionamentos ainda é ponto fundante para nós, cristãos. A Palavra nos orienta a procurar as pessoas e tratar com elas as nossas dificuldades, antes de envolver outros no processo.
Sétimo ponto: Respeito à privacidade do outro, da outra é fundamental. Muitas coisas são constituídas como correspondências entre pessoas e, de repente, aquilo aparece divulgado de modo não aceitável ou ético, ferindo e prejudicando. Devemos ser cuidadosos na maneira como também recebemos informações de outras pessoas. E respeitar os seus direitos a todo o tempo.

Expressando-se com a liberdade de Cristo
Vivemos hoje uma crise de integridade e ética, em todos os sentidos. As pessoas têm perdido de vista a mística da autoridade espiritual. Líderes se arrogam dela para evitar discutir os reais problemas e os membros a rejeitam por se sentirem tolhidos em seus direitos. Usam-se os meios “do mundo” para se falar das coisas da Igreja. Tudo isso gera um sentimento de desconforto, desânimo e desunião. É por isso que tantos novos modos de pecaminosidade, de distorção de valores e de descaminhos aparecem nos meios de comunicação, em especial, a internet... Esse é um fato a ser reconhecido por todos nós, trabalhado e superado com seriedade. Resgatar a mística do corpo de Cristo, do amor fraternal, do respeito nas relações é fundamental para a Igreja e para sua missão no mundo. Não precisamos que “o mundo julgue os santos”, para usar uma expressão paulina. Os critérios devem estar em nós, como representantes e cooperadores com Deus...

Esperarei sempre... louvarei mais e mais... (Salmo 71)

Começar algo novamente, depois de ter experimentado o fracasso de algumas tentativas, não parece muito estimulante. Eu me lembro de uma experiência boba de adolescência, mas que me marcou muito neste sentido. Era uma sala comprida, com várias cadeiras e mesas onde havia máquinas de escrever manuais. O barulho das teclas tilintando era terrível. Era meu primeiro dia de aula de datilografia (quem se lembra disso?). No fundo da sala, eu fiquei sentada, tentando colocar os dedos em cima das teclas, mas eles teimavam em ficar pelos meios, machucando as pontas naquelas barrinhas finas de metal. A professora veio e colocou-se na parede, recostando-se tranquilamente enquanto eu arfava de aflição, com receio de ela chamar-me à atenção pela falta de destreza com aquele troço. Naquela noite, durante o sono (que não vinha) fiquei ouvindo o barulho da sala e vendo as teclas saltando na minha frente. Pensei que jamais ia conseguir datilografar uma linha inteira sem errar... Mas depois de frustradas tentativas, vocês sabem que até que digito rapidinho?
A mesma ansiedade adolescente teima em desafiar hoje, quando enfrento coisas mais sérias e profundas do que uma máquina velha de datilografia. Os barulhos da vida me ensurdecem e, por vezes, tiram o sono. Vejo os problemas saltando diante de mim. Então, eu penso: Será que nunca vai acabar? Será que nunca teremos paz de verdade, mas só um saltar de problema em problema? Aparentemente não, pois “no mundo tereis aflições”, disse Jesus. Que consolo resta, então? Que esperança haverá no futuro?
Uma história com Deus...
Estou lendo um livro chamado “Os horizontes espirituais da criança”, em que a autora fala da importância da experiência com Deus dos pais para que os filhos possam conhecer o Senhor. E ela pergunta: como é que você pode despertar espiritualmente seu filho, se você mesmo não se maravilha com Deus? O que você tem para contar?
Ter o que contar acerca de nossa vida com Deus é ter motivo para começar de novo quando necessário.  É mais fácil quando nos apoiamos em experiências anteriores. Sem isso, muitos retrocedem, desistem da vida, desistem de si mesmos e dos outros ao primeiro sinal de perigo. O salmista se lembra e diz: “Em ti tenho confiado desde a minha mocidade” (v. 5) e “Em ti tenho me apoiado desde o meu nascimento” (v. 6). Eu sempre digo às minhas filhas como foi quando eu soube que estava grávida delas. Eu digo que passava a mão na barriga e dizia: “Senhor Deus, me dê uma menininha assim...” e descrevo exatamente como elas são agora. A cor dos olhos, do cabelo... claro que minhas orações não eram exatamente assim, mas o que procuro é que elas saibam que eu as desejei e as amo do jeito como são. Vejo que esta história é importante para elas. Quando se sentem tristes por alguma razão, elas me pedem: “Mãe, conte aquela história de quando eu nasci...” Eu quero que elas sempre se lembrem de como houve orações a seu favor e de como Deus participou de sua história desde o ventre materno. Assim, quando precisarem, saberão reconhecer que o Senhor esteve sempre ali.
É muito difícil recomeçar quando sentimos que estamos sós. O salmista, em seu desafio, traz à memória a presença de Deus em sua história e novamente implora por ela no presente: “Não me rejeites na minha velhice, não me desampares” (v. 9); “não te ausentes de mim” (v. 12). Devemos nos lembrar a todo o momento que o Deus a quem servimos é presente, pessoal, preocupado conosco. O mundo caminha na impessoalidade, mas Deus é aquele que nos chama pelo nome, que gravou-nos nas palmas de suas mãos, que nos trata como a menina dos olhos, que nos ampara ainda que nossos pais faltem... este é o nosso Deus! Para ele, não somos um registro, um CPF, um RG perdido entre documentos. Somos pessoas, às quais ele conhece e com as quais deseja ter um relacionamento... Como é mais fácil erguer-se quando você se lembra de que este é o Deus que está de mãos estendidas para amparar você!
Um falar com Deus, um falar de Deus
Os recomeços exigem diálogo. Recomeçar uma vida familiar, recomeçar uma carreira de trabalho, recomeçar a espiritualidade, recomeçar os compromissos com a comunidade de fé... nenhum recomeço é isento de partilha, de diálogo. O salmista, cansado dos problemas, quer falar com Deus. No v. 2, ele pede que Deus incline os ouvidos, isto é, que o ouça. Nossas orações, mesmo em aflições, podem ser ainda superficiais. Podem não conter a verdade mais profunda de nossa alma. Temos coragem de admitir nossas dificuldades realmente diante de Deus? Temos intimidade suficiente para dizer o que, de fato, precisa ser dito?
Por outro lado, temos reconhecido a grandeza de Deus? O salmista afirma no v. 8, que sua boca estava cheia dos louvores do Senhor. O que sai de sua boca nos seus momentos de alegria e também de tristeza? Deus está presente no seu discurso? Não falo isso do modo tradicional, em mensagens ou orações, mas... Deus é um tópico de referência para você?
Para recomeçar e para renovar-se na fé, os fundamentos precisam ser sólidos. Eu me lembro de uma canção antiga, do grupo Vida Abundante, que contava a história de um velho fazendeiro, chamado Tio Sampaio... Bem idoso, experimentado na vida, ele sabe que está perto da morte. Mas quando alguém lhe pergunta: “Como conseguiu manter-se firme diante de tantas lutas da vida? Qual o segredo de uma vida renovada, cheia de verdor? Qual o segredo de uma fé tão radiante?” Tio Sampaio respondeu: “As raízes... cuida bem das coisas principais. Arraigado, sempre firme nas promessas do Senhor, nada vai te abalar as raízes”. Por causa de suas raízes, o salmista fala com Deus e sobre Deus com renovada esperança: “Tu me tens feito ver muitas angústias e males, mas me restaurarás ainda a vida e de novo me tirarás dos abismos da terra” (v. 20).
Uma disposição de alegria
Eu reconheço meus pecados... tenho uma tendência à tristeza. Choro por qualquer coisa, até em comercial de margarina... Mas eu sei que os recomeços na vida têm uma característica em comum para serem bem-sucedidos: eles precisam de disposição à alegria. O idoso salmista bíblico não cometeu meu erro. Sua disposição era para a alegria: “esperarei sempre, louvarei mais e mais”! Veja que ele descreve toda uma lista de problemas, mas, no final, só palavras de ânimo: louvar com a lira, celebrar a verdade, cantar salmos na harpa, exultar com os lábios e com a alma... (v. 22-24). Que maravilha! Preciso aprender com ele... e você?

A graça de Deus e seus presentes para nós (2 Coríntios 5.17-21)


‘Graça é um favor imerecido’, gostamos de dizer. Mas parece-me que a graça fica meio sem-graça com essa definição. Eu diria que graça é um sorriso que a gente troca na rua com um desconhecido. Graça é uma criança qualquer que, na rua, reparte a bala com o filho da gente. Graça é uma chuva fresca numa tarde de calor. Graça é uma visita inesperada do amigo que vem de longe. Graça é o primeiro dentinho na boca de nossas crianças, a primeira letrinha que escrevem ao entrar na escola. Graça é o olhar de aprovação do pai ao filho depois da apresentação da escola. Graça são as pequenas coisas que marcam a vida da gente, coisas das quais a gente se lembra com clareza mesmo depois de muitos anos... Tamanha é essa graça e seu impacto na vida da gente que uma das coisas mais marcantes na doença de Alzheimer, por exemplo, é a capacidade de alguns enfermos de lembrar fatos pequeninos do seu passado, enquanto desconhecem completamente o hoje. Porque a graça marca, indelevelmente, o coração e a mente... Por isso, graça é ‘presente’. Presente nós sabemos o que significa. A alegria de recebê-lo é sempre contagiante, o sentimento de que somos importantes para quem nos dá o presente é algo que interfere e aquece nossa auto-estima...
Graça é presente de Deus, diz Paulo, e completa: “Pela graça sois salvos – e isso não vem de vós, é dom de Deus”. Nada que façamos pode alterar o fato de que Deus nos ama. Seu amor é santo e exigente, mas igualmente e por mais contrário que isso pareça, também é incondicional. Mas a graça de Deus é um atributo dele, uma parte de seu caráter. A graça não está em evidência apenas quando Deus faz algo por nós ou para nós, mas é algo inerente a Deus. Um pregador, chamado Ronald Hanko, afirmou: “Quando dizemos que Deus é gracioso, queremos dizer que em tudo da sua glória, ele é belo e encantador acima de tudo o mais, e que a beleza de sua pureza e glória interior brilha em todas as suas ações e palavras. Assim, ele encontra favor aos seus próprios olhos. (...) Ele é para sempre gracioso em si mesmo, e seria mesmo que não tivesse salvo ninguém. Que ele salvou é, portanto, uma grande maravilha e algo pelo qual nunca deveríamos cessar de agradecê-lo”.

Calar e adoecer (Salmo 32)


O salmista nos fala do adoecimento que lhe causou o fato de ter silenciado a respeito de seu pecado (v.3). O que ele descreve seria aquilo que hoje a Psicologia chama de “doença psicossomática” – quando algo em nossas emoções repercute negativamente sobre nosso corpo. Alguém que seja, por exemplo, muito nervoso e estressado e, por causa disso, desenvolve uma gastrite. No seu caso, ele não nos descreve abertamente seus pecados, nem apresenta um diagnóstico de sua enfermidade. Mas nos conta que sentia os “ossos envelhecidos”, perda do vigor e que constantemente estava gemendo – seria por sentir alguma dor física? Não sabemos. Mas o pecado guardado tem mesmo a capacidade de nos adoecer: seja pelo sentimento de culpa, que definha a alma, seja pelo mal mesmo que, residindo em nós, rouba a alegria da vida, a leveza do sono e a tranqüilidade dos dias.
Existe muita gente que se cala hoje. Que esconde o pecado e vive uma vida dupla, secreta, dividida. E a pessoa dividida contra si mesma jamais encontra a plenitude da alegria e da felicidade. Só existe completude, plenitude, quando somos por inteiro. Compartimentados na espiritualidade que só existe no culto e nas reuniões da igreja, na qual temos a aparência exterior da santidade, vivemos a hipocrisia que Deus tanto rejeita e aumentamos a separação entre nós e o Senhor. Por isso, a confissão dos pecados não tem caráter apenas de nos aliviar dos sentimentos negativos, mas o poder, vindo do Espírito Santo de Deus, de nos transformar, nos santificar e aperfeiçoar em nós a imagem e a semelhança de Cristo.

O povo do coração aquecido

“O justo viverá pela fé” (Romanos 1:17, Habacuque 2:4, Gálatas 3:11, Hebreus 10.38) Uma experiência de mais de um dia John Wesley era um jov...