quarta-feira, 19 de setembro de 2007

Globalização, fé e culturas



O advento da globalização nos coloca diante de um novo sentido para a vida e, por conseguinte, para a fé. Recentemente, li um texto de Ricardo Gondim, no qual ele falava da importação de modelos para as igrejas brasileiras. Ele enfatizava, especialmente, a maneira como perdemos nossa riqueza quando abrimos mão de nosso jeito de ser, adotando posturas, discursos e modelos exteriores à fé brasileira.
De fato, quando os americanos chegaram ao Brasil, trazendo a fé evangélica de modo mais contundente que outros povos protestantes que por aqui passaram (como os ingleses), o impacto do “american way of life” era ainda muito restrito. O povo brasileiro era grandemente analfabeto, não havia internet, nem comunicações via satélite. Mas hoje, vivemos hoje uma nova era (opa, cuidado com esses termos!) de missões e de colonialismo.
Com uma televisão baseada em filmes americanos, as crianças abandonam as tradicionais histórias e folclores brasileiros, que ao menos sedimentam uma cultura própria, para cultivar valores alheios. As escolas de inglês, por exemplo, andam nos prestando um desserviço que nada tem de lingüístico. Em novembro, enfeitam-se com os adereços do Halloween e nos convidam a celebrar uma festa que nada tem a ver conosco. Em que pesem os problemas religiosos da origem dessa festa, o que me vem à mente é a colonização intelectual. Se é para cultivarmos valores folclóricos, melhor seria o Saci Pererê do que bruxas e vassouras voadoras. Pelo menos, é mais brasileiro. Tem a cor da nossa pele, a textura do nosso cabelo, e o que é melhor, fala a nossa língua.
De modo algum quero ser uma pessoa fechada às novas influências, ou parecer aos leitores e leitoras uma fanática patriota. Não é nada disso. Apenas penso que podemos aprender com os outros sem abrir mão do que somos. A globalização, em muitos aspectos, tem sido a americanização do mundo, a uniformização dos diferentes, a pasteurização da riqueza étnica, cultural, religiosa e tudo o mais que Deus colocou no mundo. Nossa cultura tem sido sistematicamente aprisionada por modelos importados: não se fala mais em babá, mas baby-sitter; não se fala lanche, mas McDonalds ou fast-food; incorporamos ao dia-a-dia tecnológico expressões como “deletar” (ao invés de apagar); “webdesigner” (ao invés de produtor de páginas para internet. Aliás, Internet!).
O mesmo acontece em relação à fé. Ao percorrer as livrarias evangélicas, o que mais vemos são autores americanos passando receitas de como fazer nossa igreja crescer. Mas eles não conhecem nossas favelas, não se alimentam do nosso pão com manteiga; não pisam o solo seco dos nossos cerrados. Modelos puramente importados não poderão responder às demandas de nossa gente. Temos de ver com olhos próprios. Podemos interagir, sim, com outras idéias, mas não simplesmente abrir mão de nossos próprios pontos de vista. Afinal de contas, se a gente sempre diz que Deus é brasileiro...

segunda-feira, 17 de setembro de 2007

O céu é ainda é pouco

Há muitos anos, uma amiga minha disse: “Eu não sei porque o céu tem que ter ruas de ouro... Eu preciso de dinheiro é aqui!”. Na época, eu achei uma grande heresia e atrevimento as palavras dela. Mas agora, estou tendendo a concordar... Não com a frase, mas com a idéia que ela sinaliza. A idéia de que esperar pelo futuro não é o bastante. A idéia de um céu perfeito enquanto este mundo, criação do Deus amoroso, se desmorona sem que eu faça algo a respeito, parece-me anti-bíblica, anti-profética, anti-messiânica, anticristo.
Eu sei, eu sei que “o mundo jaz no maligno”! Mas acredito que quando o autor bíblico escreveu isso foi justamente no inconformismo próprio da fé na ressurreição. Se o mundo jaz – está deitado, morto, sepultado no maligno – necessário se faz pô-lo de pé.
Mundo, vem para fora! Sai da caverna da morte, desata-te das ataduras da impiedade!
Até quando, Senhor? Quero ver o céu hoje, se não em plenitude, ao menos em sinais! Que eu posso fazer, sob o poder do teu Espírito, para que não haja mais políticos que se escondem atrás do voto secreto, quando, como meus representantes, deveriam me dar detalhes do que fazem? Até quando pessoas serão arrastadas pelas ruas em carros roubados por adolescentes? Até quando os filhinhos de papai de Brasília baterão nas pessoas pelas praças impunemente, só por diversão, como se a vida nada valesse? Diga-me, Senhor, o que eu posso fazer? O que queres que eu faça? Sim, porque apesar de tudo, do sentimento nacional de que é assim mesmo, eu sei que ainda há algo que se possa fazer... Eu sei que o meu redentor vive...
Quero o céu agora, Senhor! Quero o sentimento da justiça “correndo como ribeiros” pelo sertão nordestino, porque a indústria da seca é uma fonte, um manancial de dinheiro para uns poucos... Quero erguer minha voz pelas praças, ainda que ela seja fraca, porque o silêncio é o que dói mais. Disse o pensador que para que o mal triunfe basta que os bons não façam nada. Eu quero estar entre os bons. Mas não quero sentir que estou inerte. Quero ser considerada entre os que amam a justiça, mas mais ainda entre os que a praticam. Quero ser profética, não na veneração, na adoração, nos cânticos enebriantes tão somente. Quero agir profeticamente, não apenas sentir.
Eu quero o céu com as ruas de ouro, Senhor! Eu me embalo na imaginação das belezas futuras. Quero ver o mar de cristal – a vida sem mistérios, desvendada, sem razões para ter medo. Só não quero ter de esperar tudo isso só no céu. Não quero fechar meus olhos neste mundo levando como últimas imagens a morte, a dor, o abandono, o aborto, a licenciosidade, o pecado, o egocentrismo... Quero levar nos olhos a fé, a esperança, o trabalho sério de gente séria, a salvação que faz fluir do interior das pessoas, hoje e agora, o que de melhor puseste em nós quando nos criaste.
Será que estou delirando, Senhor? Perdi o senso? Oh, faze-me voltar, se assim o for... É que tenho na alma a imagem dos profetas que profetizaram sobre o paraíso, mas também puseram as mãos à obra para fechar as brechas dos muros... Vejo aqueles que falaram das delícias divinas do céu, mas tiraram a morte da panela dos pobres... Aqueles que consolaram mulheres estéreis e, neste mundo desértico, as fizeram abraçar seus filhos...
Quero chegar ao céu com uma vida cheia de realizações aqui nesta terra. Coisas que tu disseste que eu faria: falar diante das autoridades a respeito de um reino diferente; curar os enfermos; libertar os endemoninhados; consolar os tristes; libertar os cativos... Maravilhas da vida abundante que só são possíveis porque há flagelos neste mundo. Ações desnecessárias no céu, fundamentais na terra. Quero chegar lá com o sentimento do dever cumprido, para olhar o céu com olhos de deslumbramento. Não quero ter arrependimentos lá, Senhor. Jamais quero pensar: “Será que alguém mais não está aqui porque eu deixei de fazer a minha parte?”

sexta-feira, 14 de setembro de 2007

Emaús

Eu que pensei que fosse essa a hora
Em que a vida iria, enfim, mudar.
Eu que celebrei e clamei “Hosana”,
sinto um nó na garganta
e uma dor me sufocar.
Eu que esperei tanto tempo
e no meu acalento
ansiei libertação,
sigo agora, tão aflito,
oprimido e contrito,
sem ter paz no coração.
E você, meu companheiro,
com palavras de efeito
quer a lei me ensinar?
E se a conheço, por que essa chama,
esse calor que me inflama,
parece que vai me incendiar?
Talvez meu erro tenha sido
concluir a seu respeito
ao invés de observar
o homem que acolheu meninos
que deu pão aos mais famintos
que acalmou até o mar.
Se ele não era o Messias aguardado,
Quem, por Deus, é o Esperado?
Quem nos vai, enfim, livrar?
Entra em casa, meu amigo.
Descansa o corpo neste abrigo,
vem meu pão compartilhar.
Se já tenho o coração tão quente,
não podias de repente
ritual conhecido praticar!
Vejo o pão que é teu corpo,
em tuas mãos e sinto o gosto
de algo tão familiar!
És tu mesmo, Mestre amado,
eis que hás ressuscitado!
Nova vida a mim vens dar.
Essa nova grandiosa,
graça tão maravilhosa,
não a posso ocultar.
No caminho em que regresso
sinto que estás sempre tão perto,
posso então me acalmar.
E se vejo meu Jesus
nessa estrada de Emaús
nunca vou sozinho estar!

Reverência

Adonai, meu Senhor
Aquele que domina meu coração
Aquele que sonda meus pensamentos
Aquele que guia os meus passos
Aquele que perpassa meus momentos.

Adonai, meu Senhor,
Aquele que me aprisiona em sua graça
Aquele que me ata com seus laços de amor
Aquele que me algema em sua compaixão
Aquele que me encarcera em sua infinitude.

Adonai, meu Senhor,
Que não me anula embora me domine,
Que não me nega embora me transforme,
Que não me oprime embora me corrija,
Que não me chama de servo, mas de amigo.

quarta-feira, 12 de setembro de 2007

Herdeiros da Reforma

John Wesley era um jovem pastor anglicano, que queria mudar a si mesmo. Ele se perguntava pela verdadeira fé, que não tinha; pela verdadeira confiança, que nunca demonstrara. Em busca de respostas, ele viajou para a América, entrevistou-se com morávios, judeus, espanhóis. Leu pietistas, aprendeu a arte do bem viver e do bem morrer, estudou a Bíblia, defrontou-se com pregadores leigos. Wesley dizia: “Eu quero amar a Deus, mas não o amo. Quero ser um bom cristão, mas não o sou.” Peter Bohler, um morávio, até escreveu em seu diário que a vantagem que Wesley lhe demonstrou é que ele era sincero.
Então, um dia, ele foi de má-vontade a uma reunião na Rua Aldersgate. E lá, ele ouviu alguém ler o que Lutero escreveu, como Prefácio à Epístola de Paulo aos Romanos. Entre outras palavras de Lutero, Wesley ouviu:
“Fé não é aquela ilusão humana e sonho que algumas pessoas pensam que é. Quando elas ouvem e falam muito sobre a fé e ainda vêem que nenhum progresso moral e nenhumas boas obras resultam disso, elas caem no erro e dizem: "Fé não é tudo. Você deve fazer obras, se quer ser virtuoso e ir ao céu". O resultado é que, quando elas ouvem o Evangelho, tropeçam e fazem para si mesmas, com suas próprias forças, um conceito em seus corações que diz: "Eu creio". Este conceito, pensam ser fé verdadeira. Mas desde que isso é uma fabricação humana e pensamento e não uma experiência do coração. Isso não sucede em nada, e então segue-se nenhum progresso.
Fé é um trabalho de Deus em nós, o qual nos muda e nos traz a nascer um novo, proveniente de Deus (cf João 1). Ela mata o velho Adão, nos faz pessoas completamente diferentes no coração, pensamento, sentido, e todas nossas forças. E traz o Espírito Santo com ela. Como é viva, criativa, ativa, cheia de poder, a fé! É impossível que a fé em alguma ocasião faça parar o fazer bem. A fé não pergunta se boas obras estão para serem feitas. Ao contrário, antes que ela seja questionada, já as fez. Ela está sempre ativa. Seja quem for que não faça tais obras está sem fé; ele anda se apalpando e se examinando em busca de fé e boas obras, mas não sabe o que a fé ou boas obras são. Mesmo assim, tagarela com muitas palavras sobre fé e boas obras.
A fé é uma confiança viva, inabalável na graça de Deus; é tão certa, que alguém poderia morrer mil vezes por ela. Esse tipo de confiança e conhecimento da graça de Deus faz uma pessoa cheia de alegria, confiante e feliz, com consideração a Deus e a todas criaturas. Isso é o que o Espírito Santo faz pela fé. Por meio da fé, uma pessoa fará bem a todos sem uso de força, espontânea e alegremente. Servirá a todos, sofrerá tudo pelo amor e louvor a Deus, o qual lhe tem mostrado tal graça. É tão impossível separar obras da fé como separar as chamas do brilho do fogo.” (trecho do Prefácio de Lutero à Epístola aos Romanos)
Então Wesley entendeu que estivera o tempo todo buscando em si mesmo algo que só Deus tinha a oferecer. E mais: que Deus estava diante dele, com os dedos abertos, deixando escorrer por entre eles um rio de graça e amor sem fim. Foi então que Wesley creu, e num minuto ele e Lutero superaram a barreira de tempo e espaço que os separava, e fizeram-se irmãos na descoberta de um Deus que é amor. Foi então que Wesley confiou. E porque ele creu, e porque pregou, e porque testemunhou e repartiu o calor de seu coração com todos a quem viu, é que nós também nos tornamos herdeiros da reforma.

domingo, 9 de setembro de 2007

Habitação

O verbo virou gente
e armou sua barraca em nosso acampamento,
fez seu barraco em nossa favela,
construiu sua oca em nossa aldeia,
fabricou sua cabana em nosso quilombo,
construiu seu palacete em nosso condomínio fechado.
E no meio de nossa escuridão, de nossa angústia e nossa dor,
vimos a sua glória, como a do unigênito do pai,
como a do menino sem mãe,
como a da mãe sem filhos,
como a da criança sem casa,
como a do sofredor à espera do paraíso.
O verbo virou gente e o tornamos instituição.
mas no meio da dura estrutura que levantamos,
o verbo se fez ressurreição,
se metamorfoseou em tantos rostos e jeitos,
que sua glória cobriu toda a terra
e de novo nos fez irmãos.

Saudades de um livro

Dizem as mitologias antigas de alguns povos mediterrâneos que o mar é o lugar do mistério e do caos. O mundo começou pela água, que a tudo envolvia, até que a terra apareceu. Mas o mar continuou lá, soberbo, nos cercando por todos os lados, mostrando-nos o quanto somos vulneráveis. Basta que suas ondas se elevem e já nos atemorizamos. No mar habita o monstro marinho que ninguém vê, mas que faz desaparecer os navios, faz naufragar as esperanças das esposas nos cais.
Tenho saudades de um livro que fala do mar e de tudo o que ele é, a trajetória de uma vida. É a história do velho e do mar, contada por Ernest Hemingway com aquele toque de dor e magia que só ele soube dar. Na minha adolescência, o livro, numa edição ilustrada a bico-de-pena, fazia-me arrepiar de suspense e emoção. Eu passava a mão sobre as figuras, sentindo o que o velho sentia: frio, calor, fome, náusea. Quase o gosto do sal na boca. Meu Deus, o mar é tão grande e o ser humano é tão pequeno! Vejo naquele velho todas as minhas iniciativas de alcançar meus sonhos, de fazer a sorte mudar. E, ao mesmo tempo, minha impotência, meu cansaço, meu corpo pequeno diante do mar infindo.
As oportunidades às vezes aparecem tão grandes, tão definitivas quanto finalmente fisgar um peixe enorme, o maior que já se viu, depois de tantos dias de penúria e má sorte. Então, lutamos por agarrá-las, lutamos com todas as forças, para não perder de vista a chance de provar que somos algo mais que meros mortais... Uma luta ardente e apaixonada, que pode durar uma vida inteira, uma noite inteira, como aconteceu com o velho...
A oportunidade, no entanto, pode ser consumida pelo mistério do mar. Quando tudo parece tão perfeito, quando sentimos que vencemos a luta, o mar faz surgir adversários que não podemos enfrentar. O velho é a necessidade imperiosa da resistência humana ante o destino implacável. Entregar-se resignadamente poderia ser o melhor caminho, mas ninguém desiste assim de um sonho, de um peixe grande puxando o anzol.
Fico pensando se Hemingway sabia exatamente o que iria vir depois, ou se ele também, como eu, entrou no barco com o velho, puxou a linha, agarrou o peixe e, por fim, teve de ceder à força caótica dos tubarões. Bem pode ser que ele tenha tentado salvar o velho da desilusão completa, do fracasso da perda de um peixe que amava, mas os tubarões não respeitam sequer a pena de um hábil escritor.
Talvez Hemingway tenha visto, pelos olhos do velho, o mistério do mar. Se o viu, curvou-se ante essa soberania e seguiu pelo papel a trilha que o mar lhe traçou. Um pescador sabe que quem manda é o mar. Ele resiste ao oceano por puro capricho, por uma desesperada esperança de revanche, um minuto de distração. Qual! O mar não perdoa. Nem na calma se está seguro no mar.
Um livro inesquecível é aquele que faz a gente ter vontade de alterar o rumo da história e, ao mesmo tempo, nos convence de que a trajetória é imutável. Como a vida. Como os sonhos que a gente carrega e, depois, vê serem estraçalhados pela fatalidade.
Ao menos, é também inesquecível porque deixa um gosto na boca, quer de satisfação, quer de perplexidade. Aprendi com o velho que às vezes só conseguimos retornar ao porto com a carcaça da oportunidade perdida. Mas, mesmo que isso doa no fundo da alma, não é o fim. Sempre podemos deitar e dormir. Ao menos nos sonhos podemos recuperar o passado, reaproximar-nos do que já não somos. No sonho, somos transportados às paisagens as quais só podemos, acordados, recordar. Mas os sonhos do velho não são sonhos de descanso, porque a batalha da vida jamais nos deixa repousar.
Essa certeza implacável faz doer ainda mais nossas costas, nossas mãos. Mas meu livro inesquecível não me deixa sem esperança. Penso no velho, no peixe, nos tubarões e me apavoro às vezes. Contudo, sei que posso dormir e sonhar. Nos sonhos, quem sabe, eu consiga aproveitar a oportunidade, quem sabe, eu possa vencer os leões.

De braços abertos

Pregaram Jesus na cruz... Que dor, meu Deus!
Suas mãos e pés furados, o lado cortado...
A contradição da cruz: a dor, de braços abertos...

Jesus morreu de braços abertos,
Foi de braços abertos que ele pediu:
Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem!
Mesmo sendo inocente, de braços abertos
Ofereceu perdão a quem o feria...

De braços abertos, é... de braços abertos,
Jesus morreu na cruz por todos nós...
Suas palavras ecoando esperança no coração da gente:
Hoje estarás comigo no Paraíso
Ele mesmo tão longe do Paraíso, pendurado na cruz,
Crê na vitória e a promete a quem se arrepende,
Como o ladrão...

De braços abertos, estendidos, doloridos,
Os braços que carregaram crianças,
Que abraçaram enfermos,
Que trabalharam com a madeira...
Braços abertos de Jesus na cruz:
Mulher, eis aí teu filho, ele disse.
Filho, eis aí tua mãe, repetiu.
Jesus, na morte, de braços abertos,
Preparou para que a Maria não faltasse
O braço que acolhesse e amparasse
Depois que ele morresse...
Como também hoje não quer que falte abrigo
À criança, ao jovem, ao adulto, ao ancião.
E sofre, vendo tanta gente sem teto sobre a cabeça,
Sem sorte, sem camisa, sem casa, sem chão.


Braços abertos, Jesus agoniza e chora
Que nem a gente, quando não entende a vida
E grita, como a gente tem vontade de gritar
E estender os braços pro céu e perguntar:
Deus meu, Deus meu, porque me desamparaste?
Braços abertos, pedindo forças, e o silêncio
Quando a gente não entende porque Deus parece longe...

Braços abertos, Jesus geme, geme o gemido que era nosso
E o gemido de muita gente que não tem como viver:
Tenho sede! A garganta seca debaixo do sol,
Como o lavrador do nordeste, o menino e a menina de rua,
Como o mendigo, o povo brasileiro diante do governo desleal
Que de braços abertos também diz: Tenho sede, tenho fome...
O mesmo Jesus que disse: “Se você pedisse, eu te daria
A água da vida”, sente sede na garganta do meu irmão!

Braços abertos, na cruz que era minha,
Geme Jesus o gemido meu e anuncia:
Está consumado! Nada mais será como antes,
Morrendo na cruz o filho de Deus,
Consuma o amor, o pecado, a morte
Consuma e completa o caminho pra Deus!
Seus braços abertos aguardam agora
Que a glória resplandeça e a treva pereça
Para os que são seus...

Braços abertos e a última prece
Ecoa da boca trêmula de Jesus:
Pai, nas tuas mãos entrego meu espírito!
Braços abertos que confiam no Deus
Que parece distante na hora da dor
Mas que se achega e acolhe, recebe em si mesmo
De novo manifesta imensidão de amor!

Braços abertos de Jesus na cruz...
Tantos sentimentos na gente a imagem produz!
Ele abriu os braços para salvar o mundo,
Abraçar os povos, espalhar sua luz...
Que pena que tanta gente não entende...
Que tristeza que tanta gente recuse esse abraço de amor...
Abraço que não ficou na morte, mas do túmulo renasce!
É o Jesus que vive, que reina,
que ainda abre os braços pra todo e qualquer pecador! (30/03/1999)

sábado, 8 de setembro de 2007

Ansiosa Espera

Estive esperando pelo Messias,
Quando cativo no Egito,
Construindo palácios e morando em casebres.
Quando sob o domínio da Babilônia,
Morando longe de casa,
Sem o cheiro da minha terra,
Sem o gosto dos meus prazeres
Sem o toque dos meus queridos.

Estive esperando pelo Messias,
Quando oprimido pelos romanos
Pagando impostos para encher os baús do Imperador
Enquanto meus filhos morriam de fome.
Vendo o Templo de longe,
Louvando sem ter alegria
Cantando sem ter esperança
Orando sem ter muita fé.

Estive esperando pelo Messias
Nas ruas de um país de sofridos
Nas esquinas, junto aos abandonados
Em conversas de silenciados.
Mas o Messias que esperava não veio.
Ele não estava nos palácios, nem nos templos.
Em lugar algum da nobreza o encontrei.

Estive esperando pelo Messias
E foi no presépio tosco
Entre animais e feno
Nos braços de uma menina
Que o encontrei.
Naquela noite não houve fogos, nem festas,
Mas foi o rei que nasceu.

E por causa daquela noite
Em que apenas a voz dos anjos se ouviu
Que minha espera chegou ao fim:
O Messias veio, enfim!

O povo do coração aquecido

“O justo viverá pela fé” (Romanos 1:17, Habacuque 2:4, Gálatas 3:11, Hebreus 10.38) Uma experiência de mais de um dia John Wesley era um jov...