sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Desta vez...

Desta vez, eu gostaria que fosse diferente.
Que eu pudesse entrar por esta porta de peito aberto.
Que eu não tivesse receio do que está à frente
Nem vivesse o temor do que ficou atrás.
Desta vez, eu gostaria de trazer nos olhos um sorriso
ao invés das costumadas lágrimas.
Desta vez, queria ter certeza, não apenas esperança.
Desta vez, queria poder acreditar nas coisas eternas
muito mais do que descrer das temporais...
Desta vez, queria uma página realmente em branco
sem as marcas das escritas anteriores...
Mas a gente não pode ter tudo o que quer,
já ensinava sabiamente a vovó.
Então temos de aprender a nos alegrar com o que temos
antes que percamos de vista o sol
por desejar demais as estrelas...

Dicas de ano novo

Texto bíblico: Hebreus 10.19-23

1.       Aproximemo-nos: precisamos desenvolver relacionamentos. Para isso, temos de estar próximos. Isso inclui reconhecer os limites das pessoas, suas necessidades e desejos, suas particularidades e riquezas no convívio. Por isso, a aproximação requer coração sincero e purificado, bem como o corpo lavado (o batismo é um sinal visível do Reino; ele nos dá acesso à comunidade de fé, nos faz filhos de Deus e é sinal de unidade).
2.       Guardemos a confissão da esperança: temos vivido tempos de reclamações, tristezas e incertezas. Temos de ter em mente a esperança cristã, que consiste em saber que Deus é o guardião final de nossa história, o autor de nossa vida e que sua vontade é boa, agradável e perfeita para nós; que tudo coopera para o bem dos que amam a Deus.
3.       Consideremo-nos uns aos outros: pessoas felizes são aquelas que estabelecem relacionamentos. É hora de reconhecer as pessoas que neste tempo nos têm abençoado por partilharem conosco sua existência. É hora de dizer obrigado, me perdoe, eu te amo, eu te perdoo e todas essas expressões que nos conectam uns aos outros na família, na igreja e na sociedade. Considerar uns aos outros é, segundo o autor de Hebreus, estimular ao amor e às boas obras. Alguém considerado também passa a considerar e as coisas são transformadas!
4.       Não deixemos de congregar-nos. A vida em Cristo se expressa em sua forma visível, qual seja, a Igreja local. Não falo de estruturas, embora estas sejam necessárias, mas do reconhecimento de pertencermos a um grupo no qual temos espaço para acolhida, serviço e crescimento. Quem não é vinculado a uma igreja local é um ramo fora da videira, e poderá secar sem perceber a hora. Os irmãos e irmãs se fortalecem mutuamente, trocam experiências e mesmo quando discordam aprendem a oportunidade do perdão e da reconciliação.
5.       Devemos ver que o Dia se aproxima. Quanto mais os anos passam, mais nos aproximamos do dia em que estaremos diante de Deus. Seja porque morreremos, seja porque Ele virá (eu creio, embora haja quem duvide). Desta forma, devemos ter diante dos olhos que nossa vida não é passageira, no sentido de fútil, mas singular. Nossa oportunidade de felicidade e realização é aqui, agora. O tempo de servir a Deus é este. Embora venhamos a sonhar com o gozo celestial, isso jamais deve diminuir a importância e o valor desta vida. Devemos viver como se cada dia fosse único e precioso. Porque, de fato, é.

Feliz ano novo!

quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

The best song ever!




Acima de tudo Michael W. Smith

Acima de todas as forças, acima de todos os reis
Acima de toda a natureza e todas as coisas criadas
Acima de todo o conhecimento e todos os caminhos do homem
Você esteve aqui antes q o mundo começasse

Acima de todos os reinos, acima de todos os tronos
Acima de todas as maravilhas q o mundo ja sempre conheceu
Acima de todas as riquezas e tesouros da terra
Não há forma de medir o seu valor

Crucificado e deitado no sepulcro
Você viveu para morrer rejeitado e sozinho
Como uma rosa jogada no chão
Você caiu e pensou em mim
Acima de tudo

Acima de todas as forças, acima de todos os reis
Acima de toda a natureza e todas as coisas criadas
Acima de todo o conhecimento e todos os caminhos do homem
Você esteve aqui antes q o mundo começasse

Acima de todos os reinos, acima de todos os tronos
Acima de todas as maravilhas q o mundo ja sempre conheceu
Acima de todas as riquezas e tesouros da terra
Não há forma de medir o seu valor

Crucificado e deitado no sepulcro
Você viveu para morrer rejeitado e sozinho
Como uma rosa jogada no chão
Você caiu e pensou em mim
Acima de tudo

Crucificado e deitado no sepulcro
Você viveu para morrer rejeitado e sozinho
Como uma rosa jogada no chão
Você caiu e pensou em mim
Acima de tudo

Como uma rosa jogada no chão
Você caiu e pensou em mim
Acima de tudo


http://www.vagalume.com.br/michael-w-smith/above-all-traducao.html#ixzz19cRXXTcR

Rindo da desgraça alheia... de mentirinha...

Estamos precisando rir um pouco que a vida anda meio amarga... Aqui em Cataguases, temos um pseudo-falso-corrupto prefeito que não pendurou uma luz sequer para celebrar o Natal na cidade, não fez uma melhoria sequer que possa ser considerada digna de uma cidade como a nossa e que Deus sabe onde anda neste fim de ano... Por isso, estou indignada de matar ou de morrer com ele! É um absurdo o abandono de Cataguases. As chuvas estão vindo, a cidade está pura lama, o campo do Operário pela quinta vez desde que me mudei para cá há cinco anos (pra você ver o drama anual) está de água pela metade... Em meio a este caos, me lembrei da historieta abaixo, que dizem ser verídica, mas, obviamente (ou não...)... deixa pra lá. Vamos rir. O fato de ser uma história de português não é nenhum preconceito, que minha família veio de lá, mas é que a história precisava de um protagonista e foi assim que eu encontrei na internet...

Explicação de um operário português à Companhia Seguradora, que estranhou a forma como ocorreu o acidente. Este caso é verídico, e a transcrição abaixo foi feita através de cópia do arquivo da Companhia Seguradora. O caso foi julgado no Tribunal da Justiça da comarca de Cascais.
AO TRIBUNAL JUDICIAL DA COMARCA DE CASCAIS
Exmos Senhores,

Em resposta ao pedido de informações adicionais informo:
No requisito n° 3, da participação do sinistro, mencionei "tentando fazer o trabalho sozinho" como causa do meu acidente. Disseram na vossa carta que deveria dar uma explicação mais pormenorizada , pelo que espero que os detalhes abaixo sejam suficientes.
Sou assentador de tijolos. No dia do acidente, estava a trabalhar sozinho no telhado de um edifício novo de 6 andares. Quando acabei o meu trabalho, verifiquei que tinham sobrado 350 quilos de tijolos. Em vez de os levar a mão para baixo, decidi colocá-los dentro de um barril, com a ajuda de uma roldana, a qual, felizmente, estava fixada num dos lados do edifício, no 6° andar.
Desci e atei o barril com uma corda, fui para o telhado, puxei o barril para cima e coloquei os tijolos dentro. Voltei para baixo, desatei a corda e segurei-a com força, de modo que os 350 quilos descessem devagar (de notar que no requisito 11 indiquei o meu peso de 80 quilos)
Devido a minha surpresa, por ter saltado repentinamente do chão, perdi minha presença de espírito e esqueci-me de largar a corda. É desnecessário dizer, que fui içado do chão a grande velocidade. Na proximidade do 3°andar, eu bati no barril que vinha a descer. Isso explica a fratura do crânio e a clavícula partida.
Continuei a subir a uma velocidade ligeiramente menor, não tendo parado até os nós dos dedos estarem na roldana. Felizmente, à esta altura já tinha recuperado a minha presença de espirito e consegui, apesar das dores, a me agarrar novamente a corda. Mais ou menos nesse instante o barril de tijolos caiu no chão e o fundo partiu-se. Sem os tijolos, o barril pesava aproximadamente 25 quilos (refiro-me novamente ao item 11, que indica meu peso como 80 quilos). Como podem imaginar, comecei a descer rapidamente.
Próximo ao 3°andar, encontro com o barril que vinha a subir. Isto justifica as fraturas e lacerações nas pernas e nos tornozelos. O encontro com o barril diminuiu a minha descida o suficiente, que minimizou os meus sofrimentos, quando caí em cima dos tijolos e felizmente só fraturei 3 vértebras.
Lamento, no entanto, informar que, enquanto me encontrava caído em cima dos tijolos, com dores, incapacitado de me levantar, e vendo o barril acima de mim, no 6°andar, perdi novamente a minha presença de espírito e larguei a corda. O barril, que pesava bem mais que a corda, desceu e caiu em cima de mim, partindo-me as duas pernas.
Espero que estas explicações sejam suficientes para compreenderem o acidente que me vitimou.


Reflexões para o ano novo

Eu sou bastante resistente a expor ideias que possam gerar polêmicas. Sou conciliadora ao extremo. Embora algumas pessoas me achem bastante "brava", posso garantir que dou o boi e a boiada para não entrar na briga. Tento até o limite da exaustão ter que dizer um "não" a alguém. O resultado não tem sido muito positivo, para dizer a verdade. Embora as pessoas ao redor possam se sentir felizes, eu muitas vezes pago o preço das minhas mágoas interiorizadas e trago cicatrizes de dores bem profundas.
Choro à toa. Meu Deus! Aproximando-me dos quarenta (bem, ainda falta um tempinho, mas eu tenho mania de sofrer por antecipação!), fico com os olhos vermelhos como adolescente. Sofro pelos outros, que parecem não preocupar-se consigo mesmos e vislumbro suas dores como se minhas fossem. E sofro. Ponto final. Já tentei mudar, mas talvez, ao menos nisso, o Dr. House tenha razão: "People don't change". Embora eu continue crendo que Jesus changes people. Rs...
Por conta de tudo isso supracitado, tenho dificuldades em dizer certas coisas que me vão ao coração. Tenho receio de parecer moralista - mas a moralidade não saiu de moda, mesmo estando em queda nas passarelas da vida.
Eu acredito que as pessoas que seguem trilhas erradas para afirmar pontos de vista que a princípio poderiam estar certos perdem sua razão. Não acredito em gente que quer ser fiel a Deus e, ao mesmo tempo, faz e acontece como se tudo fosse válido em nome da fé, não importam os rótulos que deem a si mesmos ou que recebam dos outros. Na verdade, temos de admitir que muito do que temos defendido como interesse de Deus, do reino ou da Igreja não passa de briguinha particular por poder. E tem cheirado mal às narinas de Deus. Creio que haverá menos rigor para Sodoma e Gomorra do que para nós, que temos envergonhado o nome de Deus em defesa de interesses não mais que humanos. Ou desumanos...
Bem que eu gostaria que fosse ano novo, vida nova... Queria chorar menos em 2011. Talvez assim, eu parecesse menos brava...

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Cortar o tempo

Quem teve a idéia de cortar o tempo em fatias,
a que se deu o nome de ano,
foi um indivíduo genial.

Industrializou a esperança, fazendo-a funcionar no limite da exaustão.

Doze meses dão para qualquer ser humano se cansar e entregar os pontos.
Aí entra o milagre da renovação e tudo começa outra vez, com outro número e outra vontade de acreditar que daqui pra diante vai ser diferente

Carlos Drummond de Andrade

Os ombros suportam o mundo

Chega um tempo em que não se diz mais: meu Deus.
Tempo de absoluta depuração.
Tempo em que não se diz mais: meu amor.
Porque o amor resultou inútil.
E os olhos não choram.
E as mãos tecem apenas o rude trabalho.
E o coração está seco.
Em vão mulheres batem à porta, não abrirás.
Ficaste sozinho, a luz apagou-se,
mas na sombra teus olhos resplandecem enormes.
És todo certeza, já não sabes sofrer.
E nada esperas de teus amigos.
Pouco importa venha a velhice, que é a velhice?
Teus ombros suportam o mundo
e ele não pesa mais que a mão de uma criança.
As guerras, as fomes, as discussões dentro dos edifícios
provam apenas que a vida prossegue
e nem todos se libertaram ainda.
Alguns, achando bárbaro o espetáculo
prefeririam (os delicados) morrer.
Chegou um tempo em que não adianta morrer.
Chegou um tempo em que a vida é uma ordem.
A vida apenas, sem mistificação.

Carlos Drummond de Andrade

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Defesa do Mestrado em Janeiro...

Olá, amigos e amigas... Quero partilhar com vocês a proximidade de uma importante conquista (quer dizer, não fui aprovada ainda, mas isso é só um detalhe... rs...). A defesa da minha dissertação de mestrado será no dia 24 de janeiro de 2011, às 10 horas da manhã, em Juiz de Fora. Compõem a banca a profa. Dra. Magali do Nascimento Cunha e o prof. Dr. Paulo Figueira Leal. Minha orientadora é a profa. Dra. Iluska Coutinho. Orações, presença e chocolates são bem-vindos! Rs... Obrigada por partilhar comigo os diversos momentos desta caminhada, especialmente o Moisés e a Bete, que me hospedaram semanalmente por um ano e meio, durante os créditos... Nunca vou esquecer de vcs!
Um abraço a todos.
Hideide


Título: O telejornalismo na construção da identidade religiosa: Representações evangélicas no Jornal Nacional e Jornal da Record e sua recepção por fiéis metodistas e batistas

Resumo: O presente projeto pretende investigar de que modo a televisão, particularmente no telejornalismo, participa nos processos de construção das identidades evangélicas e de que maneira esta representação é percebida por grupos de batistas e metodistas, que residem numa cidade do interior de Minas Gerais (Cataguases). Assim, sua proposta é analisar de que maneira os evangélicos são representados no Jornal Nacional e no Jornal da Record e verificar como se dá a autopercepção dos grupos evangélicos frente a essa representação ou representações. A pergunta inicial é pela possibilidade de se estabelecer referenciais identitários nesses telejornais, pelo viés da alteridade (no caso do Jornal Nacional, da emissora Rede Globo, não vinculado institucionalmente a um grupo religioso específico) e pelo viés da identidade (no caso do Jornal da Record, vinculado à Igreja Universal do Reino de Deus por meio de seus acionistas). Um importante diferencial na pesquisa é o fato de realizar esta análise junto a pessoas vinculadas ao Protestantismo Histórico (batistas e metodistas), uma vez que a maioria dos estudos contemporâneos sobre mídia e religião contempla preferencialmente os chamados neopentecostais, com foco principal na Igreja Universal do Reino de Deus e similares.

A pesquisa se estruturará em três etapas distintas. Na primeira, uma revisão bibliográfica para aprofundar as temáticas relacionadas ao projeto, como televisão, telejornalismo, identidades dos grupos sociais, as relações entre televisão e audiência e entre televisão e religião; o telejornalismo, como gênero e a circulação de sentidos. Num segundo momento, analisaremos matérias dos dois telejornais pesquisados, a partir da Análise de Discurso Francesa. Num terceiro momento, será feito um estudo de recepção junto aos dois segmentos evangélicos (batistas e metodistas), por meio de grupos focais, buscando perceber a autorreferenciação dos metodistas e batistas frente às matérias exibidas.

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Com o olhar nos montes (Salmo 121)

Há lindas montanhas em Minas e no Espírito Santo, lugares mais frequentes por onde passo, por pertencer à Quarta Região. Enquanto viajamos, podemos contemplar sua grandiosidade e exercitar a imaginação. No Espírito Santo, há uma linda formação montanhosa que o povo chama de “A freira e o frade”. De qualquer ângulo, especialmente ao pôr do sol, é uma paisagem impressionante aos olhos. A formação rochosa dá mesmo a impressão de serem dois personagens olhando um para o outro.
Formações rochosas naturais em todo o mundo desafiam os estudiosos e acendem a imaginação. São produtos do acaso da natureza? São obras esculpidas pelos homens primitivos ou por civilizações desaparecidas? São obras de aliens que visitaram a terra em tempos imemoriais? Bem, as pessoas podem apresentar as mais variadas interpretações e motivações. O povo bíblico, em sua sabedoria, fazia algo mais simples: elevava os olhos e observava, deleitando-se na apreciação e exercitando a fé.


Cântico das subidas
O salmo 121 é um dos preferidos do público cristão. Ele está logo no início dos chamados “cânticos dos degraus”, “cantigas das subidas” (bloco dos salmos 120 a 134). Algumas traduções bíblicas, equivocadamente, chamam-nos de “cantigas de romagem” – mas como o povo estava indo era para Jerusalém mesmo, romagem é uma escolha, no mínimo, engraçada...
As pessoas entoavam esses cânticos enquanto iam de suas casas para as festas populares que aconteciam em Jerusalém. Jesus mesmo vai para lá na Páscoa, e a cidade estava cheia de gente, conforme as narrativas dos evangelhos. Há uma teoria segundo a qual Jerusalém, como cidade sagrada, era entendida pelo povo como “cidade alta”. Independentemente de onde você estivesse, sempre estaria subindo quando fosse para Jerusalém. Por isso, “cântico das subidas”.
Para outros autores, as subidas significavam os tons crescentes dos cânticos no bloco que, ao chegar ao 134, último salmo do bloco, ficariam mais agudos, sinalizando a alegria da chegada ao templo. Há, ainda, uma interessante nota do Talmude (que é uma compilação de tratados dos rabinos, datado de 499 d.C., contendo leis e tradições judaicas, em sessenta e três tratados abordando temas legais, éticos e históricos). Segundo esta nota, os quinze cânticos das subidas corresponderiam aos quinze degraus do Templo.
Seja lá como for, até hoje persiste em nosso imaginário cristão que ir ao encontro de Deus é subir, ascender de uma condição mais abaixo para uma mais alta, acima de nós. Este sentimento é muito forte e toca profundamente nossa vida e nossa perspectiva de espiritualidade. Um exemplo prático disso é que muitos de nós apreciamos a oportunidade de “subir ao monte” para orar... A questão não é onde Deus está, mas onde nós estamos e como nos sentimos ali para estar em comunhão com Ele...

Elevo os olhos para os montes...
Há uma interessante narrativa em 1 Reis 20.23-30 que pode nos inspirar acerca do entendimento dos montes no Salmo 121. O povo de Deus, nômade que foi durante muito tempo, estava acostumado a viver em montanhas, especialmente por causa da busca de pasto para os animais de pequeno porte que costumavam criar. Os siros são vencidos em batalha e atribuem isso ao fato de “o Deus dos israelitas era Deus dos montes”. Talvez a questão estivesse mais ligada à habilidade de um povo nômade em entender os meandros geográficos, mas existia uma ideia bem fundamentada de territorialidade dos deuses nos povos ao redor de Israel. Volta e meia esta ideia se manifestava no próprio povo de Israel, como Jeremias lhes lembra, dizendo que Deus não estava restrito ao templo (Jeremias 7). E ainda hoje, há aqueles que acreditam nisso, mesmo atribuindo tal territorialidade a demônios ou sacralizando tanto os espaços que se esquecem das pessoas.
O salmista supera tais questões. Permitam-me poetizar sobre a forma pela qual ele faz isso, pois acho que é um pouco parecido com o que ocorre com todos nós em nossas caminhadas pela vida. Ele anda pela estrada para estar em Jerusalém, celebrando. Esta caminhada é, ao mesmo tempo, uma reflexão sobre sua vida, seus sentimentos, sua fé, suas lutas. Ao seu redor, barulho de gente andando, ou às vezes, silêncios compartidos com sons da natureza. A água que escorre nos pequenos oásis onde param para descansar; passarinhos e animais que passam aqui e ali, montanhas altas ao redor de Jerusalém quando se vai chegando. A natureza convida a refletir e ele ergue os olhos, observando o horizonte.


... e olho além dos montes
Grandes montanhas costumam nos tirar o fôlego. Elas nos lembram o esforço a ser feito para vencer a caminhada. Exigem concentração e entrega a cada passo. Como os problemas da vida, às vezes, não dá para contorná-las – a gente tem de encarar a subida. Porém, há momentos em que as forças vacilam e o desafio fica grande demais: De onde virá o socorro? O salmista supera aqui a territorialidade de Deus – ele olha para as montanhas e olha acima delas.
Deus não está restrito a um lugar, mesmo que nós, seres humanos, precisemos de lugares de referência, como o templo. Ele é o criador do céu e da terra e isso O coloca em qualquer espaço e lugar. De modo especial, ele está acima das montanhas. Quando elevamos os olhos ao nível das montanhas, também podemos ver o céu – que é mais amplo, aberto e infinito do que as montanhas queremos nos fazer sugerir que a vida seja. E Deus não se restringe; ao contrário, como diz Paulo, podemos “perfeitamente compreender, com todos os santos, qual seja a largura, e o comprimento, e a altura, e a profundidade, e conhecer o amor de Cristo”. Este é um amor que “excede” e nos deixa “cheios de toda a plenitude de Deus” (cf. Efésios 3). O Senhor que fez o céu e a terra não é apenas alto como as montanhas, mas profundo como as cavernas. Não apenas largo como os lagos, mas comprido como os rios. Qualquer obstáculo, por maior que se apresente, encontrará em Deus formidável adversário, exponencialmente mais capaz.
Pensando nisso, o salmista se acalma. As montanhas não parecem mais tão insuperáveis. Ele sabe que pode sair de casa e a ela retornar, depois da peregrinação, pois Deus “guardará a saída e a entrada” (razão por que as melhores traduções colocam a saída e depois a entrada, nesta ordem), não apenas durante esta viagem, não apenas por este ano, mas “desde agora e para sempre” (Sl 121.8).


O povo do coração aquecido

“O justo viverá pela fé” (Romanos 1:17, Habacuque 2:4, Gálatas 3:11, Hebreus 10.38) Uma experiência de mais de um dia John Wesley era um jov...