terça-feira, 21 de setembro de 2010

21 de setembro – Dia nacional da luta das pessoas portadoras de deficiência


Depois de ter como membros de minha igreja pessoas portadoras de limitações físicas, tenho que dizer o milagre que se operou em minha vida. Como aquele homem curado por Jesus, eu era cega e agora vejo (João 9.25). É interessante que Jesus certa vez disse aos fariseus que o problema deles era enxergar (João 9.41). De fato, quando achamos que vemos, nos tornamos arrogantes, autossuficientes e, portanto, sujeitos ao pecado.
Mas agora que meus olhos foram abertos, eu consigo ver a dificuldade que os degraus representam para a cadeirante que vem à minha igreja. Consigo perceber que o tapete tão bonito, colocado à porta, é um risco para o irmão que usa muletas para se locomover. Percebo que não podemos ficar mudando os móveis de lugar sem prévio aviso na igreja, pois aquele irmão que não enxerga terá dificuldades para mover-se com liberdade. Agora que vejo, posso perceber que urgência existe em construir um novo salão social, pois aquele no terceiro andar do prédio não dá acesso ao grande número de idosos que frequentam nossa igreja e que têm tanto direito a participar das festividades, dos “comes e bebes” quanto os jovens.
Ter os olhos abertos é uma grande responsabilidade. Já que vejo, não posso ignorar. Tenho de fazer algo a respeito, pois, caso contrário, “subsiste o meu pecado” (João 9.41). Tenho receio de ser como os fariseus, tendo uma aparência de religião mas o coração insensível para celebrar os milagres que acontecem ao meu redor. Milagres que vejo na vida dessas pessoas que superam seus limites para servir a Deus, enquanto eu reclamo dos pequenos obstáculos que se apresentam diante de mim.
Ter os olhos abertos é também um desafio. Pois ao meu redor existem outros que não veem, para os quais aquilo que eu enxergo não é importante. Eles tateiam por projetos fabulosos e se esquecem das pessoas. Eles andam correndo e deixam os pequeninos para trás. Eles favorecem o show e esquecem a instrução. Se depender desses, que ainda não enxergam, as pessoas portadoras de deficiências jamais terão acesso sequer ao templo, às atividades ou celebrações.
Hoje é um dia para refletir sobre os espaços que elas ocupam e, quem sabe, pedir a Deus que faça os verdadeiros coxos (aqueles que ficam emperrados na missão) andarem; os verdadeiros cegos (aqueles que não enxergam o próximo e suas carências) verem; os verdadeiros aprisionados (aqueles que estão nas grades do legalismo) serem libertos e os verdadeiros mudos (aqueles que sabem do mal e não o denunciam) falarem. Sim, este seria o milagre de que verdadeiramente estamos precisando... (H.B.T.)
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Senhor, que Teu povo se sensibilize para as demandas não apenas da alma ou dos interesses, mas também dos corpos das pessoas, em suas necessidades mais elementares de acolhida e acesso, tanto a Ti quanto aos nossos corações. Amém.

O ventre estéril - artigo


Pistas bíblico-pastorais em face das dificuldades conceptivas na família
Revda. Hideide Brito Torres, Bacharel em Teologia e em Comunicação Social pela Universidade Metodista de São Paulo, escritora, jornalista e pastora da IM em Cataguases, MG, 4ª. Região

Introdução

A família moderna passa por várias transformações. Há, inclusive, um aumento significativo dos casamentos sem a pretensão de filhos. Cresce o número de casais que optam por um, ou no máximo, dois filhos. De qualquer modo, a maioria das pessoas tem sonhos a esse respeito. Segundo os médicos e estudiosos, de cada 100 casais que querem um filho, 80 conseguem após um ano e meio de tentativas sem qualquer método de contracepção. Os 20 casais restantes não são bem-sucedidos. Os estudos apontam que cerca de 40% dos problemas de infertilidade são femininos, outros 40% são masculinos e 20% são provocados por causas desconhecidas.[1] Para alcançar seu sonho, os casais recorrem a tratamentos diversos e também à adoção.
Em testemunhos de pessoas que vivem o drama da infertilidade, aparece nitidamente a dor ocasionada pela gravidez de pessoas próximas ou datas comemorativas tais como o dia dos pais, das mães e das crianças. Considerando que a Igreja Metodista tem dedicado grande espaço ao trabalho com crianças, deve-se, pelas linhas que se cruzam, refletir sobre a pastoral da família, sobre o acolhimento aos casais sem filhos e também aos que optam pela adoção, proporcionando sua plena inserção na vida da comunidade de fé.

Família e bênção no Antigo Testamento

Vários textos bíblicos definem a família abençoada, caracterizando-a, acima de tudo, pela existência de herdeiros. Isso se deve ao contexto cultural da época. Os filhos, especialmente os do sexo masculino, estavam ligados à manutenção das propriedades da família (em geral, apenas os homens herdavam os bens, porque as mulheres, ao se casarem, iam para outra família ou tribo ou eram legalmente inaptas para receber heranças). Outro fator relevante para essa prática era que a mulher herdava o nome do marido e não o do pai. Assim, com o tempo, temia-se que o nome de uma família desaparecesse se não houvesse herdeiros homens.
Nesta lógica, em contrapartida, a ausência de filhos era igualmente interpretada como uma espécie de “maldição” ou de “peso da mão divina”, especialmente sobre a mulher[2]. Narrativas que trazem essa mensagem de um modo peculiar são o episódio de Abraão e Sara junto ao rei Abimeleque (Gn 20.17-18) e o de Mical, filha de Saul, que nunca teve filhos, uma espécie de castigo de Deus por ter desprezado seu escolhido, Davi (2Sm 6.20-23). Oséias profetiza que o castigo de Deus sobre os povos inclui “ventre estéril e seios secos” (9.15).
Na Bíblia, a esterilidade é um problema feminino. A mulher era vista como uma espécie de "terra" na qual o homem depositava sua "semente"[3]. Como mesmo homens estéreis têm emissão de sêmen, ainda que não haja espermatozóides, é fácil compreender que pensassem assim. Com os avanços médicos e científicos atuais, sabemos que tanto homens como mulheres podem ter problemas de saúde que gerem esterilidade. Assim, a chegada de um filho era uma alegria para a família e um “alívio” para a mãe, que se sentia, enfim, segura na estrutura familiar[4].
Na verdade, a síntese de bênção, no contexto da família do Antigo Testamento, tem mais a ver com a quantidade de filhos existentes do que, propriamente, se a relação era boa! Havia muitos conflitos entre filhos, bem como entre os cônjuges, mas desde que houvesse crianças na casa, tudo estaria bem...

Traumas familiares ocasionados pela esterilidade

O primeiro e mais evidente trauma da esterilidade, no contexto bíblico, é o sentimento de inferiorização experimentado pela mulher. Nem mesmo o amor do marido a salvava da aflição. É o que mostra a história de Ana (1Sm 1.1-28). Existe uma conotação social, é claro, mas também de pessoalidade. Ana chega a demonstrar sinais de depressão: chora muito, não se alimenta, nem se alegra (1Sm 1.8). Temos nesse relato a autêntica preocupação do esposo, que a ama e sofre por sua infelicidade. Este fato não costuma transparecer em outros textos similares. Jacó mesmo se aborrece pela “cobrança” de sua mulher, Raquel (Gn 30.2). Abraão sequer questiona Sara a respeito da promessa divina. Ele toma a escrava Agar e a possui, em busca do filho que nunca vem (Gn 16.1-2). Shigeyuki Nakanose afirma: “uma mulher sem filho não tinha herança. Estava condenada ao abandono, à exclusão. [No contexto bíblico] a libertação deste terrível futuro dependia de Javé, do templo e dos sacerdotes”[5].
No mundo patriarcal, o marido poderia tomar outras esposas e concubinas. Assim, as mulheres estéreis colocavam-se em maior fragilidade. Surge outro trauma familiar: a competição entre as esposas[6]. Vemos isso nos relatos de Raquel/Lia (Gn 30), Ana/Penina (1Sm1), Sara/Agar (Gn16).
A competição é tão acirrada que as mulheres envolvidas não podem controlá-la, a ponto de todos os outros valores, incluindo o bem-estar e a união familiar, serem obscurecidos pela disputa. As mulheres continuam a discutir e a se desentender até darem à luz. Elas não conseguem sentir segurança pessoal, mesmo gozando de uma posição elevada na família, a menos que concebam.[7]
E, como ter um filho apenas não bastava, pois a quantidade também indicava a bênção de Deus sobre a família, essas mulheres se arriscavam a outro trauma, este irremediável: a morte. Existem algumas narrativas bíblicas sobre as mulheres que morrem ao dar à luz, o que mostra a fragilidade da vida humana naquele contexto. Era preciso um tempo para que o corpo se recuperasse do processo gestacional e, algumas vezes, isso era posto de lado em nome da necessidade de gerar filhos. Assim, Raquel morre ao dar à luz seu segundo filho (Gn 35.16-17). A severidade para a mulher é tão grande que a parteira quase lhe diz que sua morte não tinha tamanha importância: “Não temas, pois ainda terás este filho” (v.17).

Sentido da palavra bíblica “estéril”

Na Bíblia Hebraica, a palavra “estéril” é ‘aqar. É a mesma raiz de descendente. Apenas as vogais se alteram, demonstrando a proximidade dos sentidos. Ao mesmo tempo, a raiz é a mesma também para designar “infecundo, impotente, desenraizado”. Expressa, portanto, conteúdos sociológicos existentes na sociedade do Antigo Israel. A esterilidade torna a pessoa sem poder e sem raiz, sem identidade no meio do povo. Trata-se de um estado de alienação, de separação, de exclusão. A violência presente no termo é tão forte que em suas declinações, a palavra assume os sentidos de arrancar, desarraigar, ser arrancado e desjarretar. Essa última palavra significa cortar os tendões e ligamentos das pernas e é o que se fazia aos cavalos dos inimigos, nos tempos de guerra, para inutilizá-los[8]. No conceito, nota-se a força da carga emocional que o problema acarretava.[9]

Esperança bíblica da família da fé

Apesar da brutalidade gerada pela esterilidade na sociedade patriarcal, a ausência de filhos não é a última palavra na caminhada do povo de Deus. A bênção é uma possibilidade sempre aberta, é o interesse último de Deus na vida de seus amados.
Um exemplo clássico transparece no Salmo 113.7-9, em que a dignidade da vida humana é recuperada pelo próprio Deus: ele faz o pobre assentar-se ao lado de príncipes e “faz a estéril sentar-se em sua casa, como alegre mãe de filhos”[10]. Arthur Weiser, ao comentar este salmo, faz um resumo da esperança que a Palavra de Deus apresenta a todos os seres que são ou se sentem excluídos:
O fato de Deus acolher a mulher sem direitos porque sem filhos, conceder-lhe o direito de ficar na casa e dar-lhe a bênção dos filhos, mostra que a graça de Deus supera o direito humano; e o fato de que faz da estéril mãe também revela o prodígio do seu poder. Na entrega alegre à soberania de Deus e na confiante certeza de sua graça esconde-se uma força para a fé simples, que foi capaz de suportar aflições, opressão, rebaixamento e injustiça sem desmoronar sob toda essa carga.[11]

Pistas pastorais frente ao tema

O sentimento de inferioridade assombra muitos casais que não podem ter filhos. A infertilidade causa grande dor pessoal. Para as mulheres, dá um sentido de incompletude, de falibilidade. Para os homens, tem a ver com sua própria masculinidade, já que muitos problemas de fertilidade são confundidos com impotência sexual, fator que muito os humilha nos moldes da sociedade atual. Essa situação gera graves conflitos, podendo pôr fim a muitos relacionamentos, pois a auto-estima repercute diretamente na estima do outro, da outra. A Igreja deve exercer uma pastoral terapêutica e amorosa nesta direção.
Mesmo que a nossa sociedade atual e ocidental não permita a competição no estilo poligâmico, a verdade é que, de alguma forma, casais que não podem ter filhos se sentem como perdedores no jogo da vida. Sentem-se diminuídos frente a outros casais, constrangidos com as notícias de gravidezes e bebês, exilados de festas infantis e comemorações familiares. Para complicar, a pressão social existente é grande. O sofrimento desses casais, para evitar os olhares condoídos ou as expressões ferinas (ainda que não intencionais) passa a ser privado, oculto e muito mais enraizado. Na pastoral da família, este é um assunto do âmbito privado e assim deve ser tratado, com muito respeito pelas vidas envolvidas e seus sentimentos.[12]
O caminho é longo e, em alguns casos, pode dar num beco sem saída. Quando não conseguem superar tal dificuldade, os casais vêem seu relacionamento correr riscos. Longe de querer esgotar o assunto, desejamos apenas pontuar alguns tópicos que devem ser levados em conta ao se tratar o tema na pastoral da família, seja por meio do trabalho do pastor ou pastora propriamente ditos ou em grupos de apoio/aconselhamento.
O primeiro passo, que em geral os casais fazem inteiramente sozinhos, é assumir o problema. Encarar é muito difícil. As pessoas têm de deixar sua privacidade para expor-se diante de médicos, psicólogos, conselheiros. Tratamentos de fertilização em geral envolvem procedimentos médicos dolorosos e, por vezes, constrangedores.
As técnicas modernas de reprodução assistida ainda não são acessíveis a todos. É possível obtê-las gratuitamente, é verdade, mas esse processo é demorado. Trata-se de enfrentar filas, de aguardar encaminhamentos... Os centros que oferecem tais tratamentos em geral se localizam em grandes capitais, dificultando o acesso de quem tem poucos recursos ou mora distante desses locais. Quando possuem os recursos, os casais precisam ainda precisam enfrentar o trauma do insucesso. Cada tentativa frustrada, dizem, é como um aborto. E nem sempre é possível ter o fôlego financeiro de tentar novamente. Além disso, diminuem as chances de sucesso.
Vita Alligood afirma:
Um casal eventualmente resolverá o problema da infertilidade de alguma destas três maneiras: 1) Eles eventualmente (sic) conceberão um bebê. 2) Eles vão parar com os tratamentos de infertilidade e decidir viver uma vida sem filhos. 3) Eles encontrarão uma alternativa para ser pais, como a adoção. Chegar a uma solução pode levar anos.[13]
Algumas posturas são fundamentais para lidar pastoralmente não apenas com este, mas com quaisquer outros problemas que as pessoas enfrentem.
a)      Reconhecer e valorizar a dor do casal: Como quando uma criança cai e se machuca, e lhe dizemos: “Não chore, não foi nada”, as pessoas têm a tendência a querer minimizar o problema. Não podemos saber o que o outro sente até que nos coloquemos em seu lugar. A empatia é fundamental em todas as circunstâncias. Vale o conselho bíblico: “Se um membro sofre, todos sofrem com ele” (1Co 12.26) e “Chorai com os que choram” (Rm 12.15). Enfatizar as desvantagens da maternidade e da paternidade, reclamar de suas dificuldades no caso de ser pai ou mãe são posturas muito comuns e igualmente danosas. É preciso compreender que o casal anseia por toda a experiência da vivência com filhos. Seu desejo intenso é genuíno e não pode ser minimizado.
b)      Não se colocar como intérprete da vontade de Deus: No tempo bíblico, quando  questões fisiológicas, médicas e psicológicas eram desconhecidas, a confiança do povo em Deus o levava a imediatamente dizer: “Foi Deus quem quis assim”. A partir de Cristo, porém, vemos Deus com novos olhos. Alguns sofrimentos, como os de Jó, são inexplicáveis. Não é pelo que tenha feito ou deixado de fazer, mas por condições e contingências próprias deste mundo imperfeito. A relação das pessoas com Deus fica abalada por falas do tipo: “Essa é a vontade de Deus...” Como sabemos disso? Será que Deus deseja a dor de um jovem casal apaixonado que quer constituir uma família e se vê diante da infertilidade? Da mesma forma, como exemplifica Alligood, afirmar que poderia ser pior em nada melhora a condição da pessoa que enfrenta tal dilema. Ser realmente solidário e pastoral pode significar, muitas vezes, tão somente oferecer o abraço e intercessões sinceras, dando à pessoa a segurança de que não está sozinha em sua dor.
c)       Não procurar oferecer soluções: A pastoral não é uma lista de conselhos úteis ou a procura de soluções para as dores das pessoas. É um caminho que se constrói solidariamente. É, principalmente, o estar junto. Questões como tratamentos médicos ou adoção devem ser elaboradas pelo casal, pois contemplam dimensões éticas, comportamentais e relacionais que exigem maturidade de quem os enfrentará. A adoção, se feita precipitadamente, no calor dos sentimentos, poderá trazer seqüelas no relacionamento e à própria criança envolvida. Quando passos como esses forem tomados por decisão exclusiva do casal, cabe à comunidade de fé acolher, interceder, valorizar e amar incondicionalmente. Alligood partilha sua experiência pessoal:
O casal precisa resolver várias questões antes de estarem prontos para se decidir pela adoção. Antes que eles possam tomar a decisão de amar o ‘bebê de um estranho’, eles precisam primeiro passar pelo luto do bebê que teria os olhos do papai e o nariz da mamãe. Os assistentes sociais que trabalham com adoção reconhecem a importância deste processo de luto. Quando meu marido e eu fomos para a entrevista inicial do processo de adoção, nós esperávamos que a primeira pergunta que ouviríamos fosse: ‘Por que vocês querem adotar um bebê?’. Ao invés disso, a pergunta foi: ‘Vocês já superaram a dor de não poder ter seu filho biológico?’ Nossa assistente social enfatizou a importância de se fechar uma porta antes de se abrir a outra.[14]

d)      Respeitar as decisões do casal: É importante valorizar as decisões tomadas, uma vez que são produto de uma caminhada de muita dor, reflexão, experiências traumáticas. Optando por não ter filhos ou encaminhando-se para a adoção, o casal precisa sentir-se acolhido pela comunidade de fé. A própria programação da Igreja deve conter espaços de expressão para pessoas em diferentes estruturas de vida e de família. Da mesma forma que os casais sem filhos, os jovens casais ou as pessoas sozinhas (solteiras, viúvas, divorciadas) possuem demandas específicas. O Ministério de Trabalho com Crianças, como está diretamente envolvido, prestando homenagens a crianças, pais e mães, deve envolver essas pessoas, de modo criativo e alegre, em celebrações e eventos, evitando o sentimento de deslocamento ou não-pertença.

 

Bibliografia

Bíblia Sagrada (tradução revista e atualizada de João Ferreira de Almeida). 2.ed. Barueri, SBB, 1993
BRENNER, Athalya. A mulher israelita: papel social e modelo literário na narrativa bíblica. São Paulo: Paulinas, 2001
CASTRO, Sandra Andrade de. Quando anseio por um filho. São Paulo: Cedro, 2006 (Série Quando)
SCHOKEL, Luis Alonso. Dicionário Bíblico Hebraico-Português. São Paulo: Paulus, 1997
SCHWARTS, Suzana. Uma visão da esterilidade na Bíblia Hebraica. São Paulo: Associação Editorial Humanitas, 2004
VVAA. Criança na Bíblia. Petrópolis: Vozes, 1997 (Revista Estudos Bíblicos, 54)
WEISER, Arthur. Os salmos. São Paulo: Paulus, 1994 (Grande Comentário Bíblico)

Internet:
http://revistacriativa.globo.com/Criativa/0,19125,ETT397952-2246,00.html
http://www.amigasdoparto.org.br/ce_corpo_03_03.asp


[1] Informações extraídas do site: http://revistacriativa.globo.com/Criativa/0,19125,ETT397952-2246,00.html
[2] Sobre isso, é interessante verificar a quantidade de vezes que aparecem na Bíblia expressões tais como: “o Senhor lhe fechou a madre” (1Sm1.5); “Deus me impediu de ter filhos” (Gn 16.2); “seu marido orou por ela ao Senhor, porque era estéril” (Gn 25.21); “Vendo o Senhor que Lia era desprezada, fê-la fecunda; Raquel era estéril” (Gn 29.31); “Deus impediu teu ventre de frutificar” (Gn 30.2); “lembrando-se dela o Senhor” (1Sm 1.19).
[3] Esperma vem do latim sperma, e este do grego spérma (semente). A palavra sêmen vem do latim semens (semente). De fato, o líquido no qual se movem os espermatozóides (palavra que significa: em formato de semente) não é, em si, o gerador da vida, mas esse conhecimento, obviamente, faltava aos povos antigos quando do surgimento dos termos.
[4] Por conta dessa insegurança, vemos os extremos a que algumas mulheres foram forçadas a chegar, para garantir sua prole. Tamar, nora de Judá, disfarçou-se de prostituta e dormiu com o sogro (Gn 38); as filhas de Ló conceberam do próprio pai – uma das mais controvertidas narrativas do Antigo Testamento (Gn 19.30-38)!
[5] NAKANOSE, Shigeyuki. “Javé fechou o útero”. In: VVAA. Criança na Bíblia. Petrópolis: Vozes, 1997 (Revista Estudos Bíblicos, 54), p.38.
[6] Sobre essa competição, é interessante ler BRENNER, Athalya. A mulher israelita: papel social e modelo literário na narrativa bíblica. São Paulo: Paulinas, 2001, p.133-142.
[7] BRENNER, Athalya. A mulher israelita, p.138.
[8] SCHOKEL, Luis Alonso. Dicionário Bíblico Hebraico-Português. São Paulo: Paulus, 1997
[9] Sobre este tema, ver: SCHWARTS, Suzana. Uma visão da esterilidade na Bíblia Hebraica. São Paulo: Associação Editorial Humanitas, 2004
[10] Tradução de WEISER, Arthur. Os salmos. São Paulo: Paulus, 1994 (Grande Comentário Bíblico), p.546.
[11]  WEISER, Arthur. Os salmos, p.548-549.
[12] Sobre isso, leia CASTRO, Sandra Andrade. Quando anseio por um filho. São Paulo: Cedro, 2006. A autora narra sua trajetória conjugal na busca por um filho. De modo comovente, ela aponta suas lutas e oferece pistas do que pode ser uma pastoral da família voltada a casais com problemas para ter filhos.
[13] http://www.amigasdoparto.org.br/ce_corpo_03_03.asp
[14] http://www.amigasdoparto.org.br/ce_corpo_03_03.asp

O gnosticismo na história cristã


O Gnosticismo é anterior ao Cristianismo. A palavra "Gnose" quer dizer "conhecimento". Os gnósticos entendiam que era possível alcançar um nível superior de vida através do alcance do conhecimento. Não um conhecimento qualquer, de ordem puramente acadêmica ou intelectualista. Ao contrário, seu entendimento era o de um conhecimento elevado, uma percepção ou "forma de sabedoria esotérica que proporcionava conhecimento relativo ao Pleroma [estado anterior ao mundo material, perfeito] e ao caminho que para lá conduzia".
Mas esse conhecimento não era possível a todos; apenas os pneumáticos, isto é, os que possuíam o poder para receber tal conhecimento, poderiam alcançá-lo. Os outros homens, incapazes de realizar tal tarefa, eram denominados pelos gnósticos de materialistas. Ainda havia uma classe intermediária, os psíquicos, dos quais os cristãos faziam parte, que poderia alcançar a salvação. Mas com esse conceito de classes, combatido pelos Pais Apostólicos, os gnósticos pregavam uma forma de predestinação. Além disso, também ensinavam o conhecimento como requisito superior à fé para a salvação e elevavam o homem ao nível da divindade.
O Gnosticismo tomou certas bases cristãs e as introduziu em seu conceito de salvação. Tinham a Cristo como aquele que indicara mais perfeitamente o caminho para alcançar o conhecimento. Contudo, rejeitavam sua morte e ressurreição, introduzindo conceitos mirabolantes para explicar a crucificação. Não era-lhes possível conceber a idéia de um Cristo morto, muito menos, humano, carnal. Consideravam a matéria como algo vil e mau. Sendo Cristo uma essência espiritual e, portanto, superior, jamais poderia ter entrado em contato com a matéria, inferior e corruptível.
Dentre as diversas linhas gnósticas, surgiram várias explicações para o fenômeno da encarnação e da crucificação. Algumas afirmavam que o Cristo tinha apenas uma aparência humana, como um fantasma (Docetismo). Outras teorias sugeriam que o Cristo espiritual apoderara-se do homem Jesus, novamente deixando este corpo quando da crucificação. Ainda havia a idéia de que Simão, o Cireneu, havia sido crucificado por engano no lugar de Cristo, tendo este escapado assim à morte.
Assim, pode-se entender que os gnósticos rejeitavam também a ressurreição do corpo e não possuíam uma visão escatológica (sobre o fim dos tempos): para eles, a alma subia ao pleroma (um local similar ao que entendemos como céu, ou um nível superior de existência) e aí reside a plenitude da vida.
Origens históricas do Credo
Nos primeiros séculos, o texto do credo era utilizado sob a forma interrogativa no momento do batismo. Os batizandos eram indagados quanto à sua fé e deveriam responder a essas perguntas com a expressão: "Creio". O ministro indagava, por exemplo, "Crês em Deus Pai, Todo Poderoso, criador do céu e da terra?" Depois que o batizando respondia afirmativamente a todas as perguntas, ou entre uma resposta e outra, recebia a água do batismo por aspersão ou imersão.
Por volta do séc. III, já se utilizava, no batismo, a pronunciação seguida do credo pelos neófitos. Diversas fórmulas batismais já circulavam no séc. III, algumas delas constantes no Novo Testamento. Tal fato, segundo Wolfhart Pannenberg, pode levar à conclusão de que havia fórmulas batismais já em uso no primeiro século.
Os dados até aqui apresentados podem, portanto, confirmar que o Credo Apostólico não se constitui "na fórmula confessional cristã mais antiga de todas; não é apostólica no sentido de ter sido formulada textualmente pelos mesmos discípulos de Jesus. Pelo que pretende ser apostólica num sentido igualmente válido, o de se constituir num resumo objetivo da mensagem transmitida pelos apóstolos".
O credo apostólico como reação ao gnosticismo
Nos primeiros séculos e na luta contra os gnosticismos, os líderes das comunidades cristãs enfrentaram, principalmente, os debates quanto a questões cristológicas. O conflito entre o Jesus histórico e o Cristo da fé gerou amplas discussões e colaborou para que os primeiros concílios da história da Igreja Cristã fundamentassem a doutrina cristológica em termos teológicos mais definidos.
Provavelmente, foi em Roma que apareceu a fórmula germinativa do Credo. Nessa época, chamava-se "símbolo da fé". Esse nome referia-se ao meio de reconhecimento para os cristãos que desejavam guardar a reta doutrina, no meio de muitas idéias divergentes.
Assim, para que se entenda o valor do Credo como teologia e definição do objeto da fé cristã, suas afirmações fundamentais serão aqui colocadas em paralelo com o entendimento gnóstico. Esse confronto demonstra também, o quanto as doutrinas gnósticas ameaçavam as bases do cristianismo.
Creio em Deus
A primeira afirmação do Credo é : "Creio em Deus Pai, Todo-Poderoso, Criador do Céu e da Terra". Este texto é claramente antignóstico. Isso porque as tendências gnósticas afirmavam que o Deus Criador não era o Deus Pai. Faziam uma distinção entre o Deus do AT e o Deus do NT. Alguns consideravam esse Deus não um Deus mau, como Marcião, um desses pensadores, chega a afirmar. Mas, via de regra, era, pelo menos, um Deus mais fraco ou menor.
A Igreja desejava afirmar um Deus único, que se revelara em Cristo. Era um Deus soberano, detentor de todo o poder. Irineu, um dos pais da Igreja, chega a afirmar que, se assim não fora, a criação não poderia receber Cristo como um Deus encarnado. Diz Irineu:
"A criação teria podido portá-lo, se fosse obra da ignorância e da decadência? Ora, que o Verbo de Deus, após ter-se encarnado, tenha sido suspenso ao lenho é sabido, os próprios hereges confessam o Crucificado. Como, então, o produto da ignorância e da decadência houvera suportado aquele que encerra o conhecimento de todas as coisas e é verdadeiramente perfeito? Como uma criação separada do Pai haveria de suportar o seu Verbo? Ainda que fosse feita pelos anjos — quer estes ignorassem ao Deus superior a tudo, quer o conhecessem, como o Senhor disse "Eu estou no Pai e o Pai está em mim"— como poderia a obra dos anjos suportar simultaneamente o Pai e o Filho? Como uma criação exterior ao Pleroma haveria de suportar aquele que encerra todo o Pleroma? Sendo isso impossível e inverossímil, só é verdadeira a mensagem que a Igreja proclama, segundo a qual a mesma criação, que subsiste pelo poder, pela arte e sabedoria de Deus, se tornou portadora do seu Verbo: no plano invisível ela é sustentada pelo Pai e no plano visível é portadora do seu Verbo."
Além disso, o Pai recebe o título de Todo-Poderoso, que, no grego, quer dizer mais que Onipotente. O termo é pantokrator, que significa governador ou soberano de todas as coisas. Não há nada que fique fora de seu alcance. Com isso, os gnósticos, que pretendiam duas realidades, uma que serve a Deus e outra que se lhe opõe, estavam diante de uma afirmação do total poder de Deus sobre as coisas criadas, até mesmo a corruptível carne humana.
Criador do céu e da terra  é a outra atribuição que lhe é feita para contrapor-se aos ensinos gnósticos. Este era o mesmo Deus e Pai de Jesus Cristo, o mesmo que cria o mundo e que deseja redimi-lo da queda ocasionada pelo pecado por meio da encarnação de seu filho.
Creio em Jesus Cristo
A segunda cláusula do Credo refere-se à figura do Deus encarnado, Jesus Cristo. Sua humanidade no Credo é mais exaltada do que sua divindade, da qual não se duvidava desde o início do confronto gnóstico. A doutrina cristológica era o motivo dos maiores impasses entre a Igreja, Marcião e o gnosticismo. Jesus Cristo é o Filho de Deus, do mesmo Deus anteriormente citado e não de outro. Acentua-se no Credo que seu nascimento é sua inserção evidente na história humana: de fato Cristo nascera. Não havia descido do céu e nem era uma aparição fantasmagórica, como alguns pensadores gnósticos pleiteavam. A afirmação de que ele morrera sob Pôncio Pilatos também tem o propósito de reforçar a historicidade da figura de Jesus, situando-o no tempo e no espaço, datando o evento de sua morte.
Da mesma forma, a crucificação, morte e ressurreição são categoricamente colocadas, para refutar o docetismo dos hereges. Ainda há uma referência à sua volta para julgar as criaturas, outra defesa da fé contra Marcião, que dizia que Deus e Pai de Jesus Cristo era amoroso e, portanto, incapaz de condenar alguém.
  "Mais ainda, os primeiros cristãos, ao se referirem a Jesus como o Filho de Deus, não tinham em mente equacioná-lo com outros homens que sejam filhos de Deus. Jesus era único Filho, num sentido muito diferente daquele em que Pedro, Paulo ou Timóteo eram filhos. Toda a história da doutrina de Cristo  pode bem ser considerada como uma tentativa para  compreender o que significa essa diferença de filiação entre Jesus e o resto dos homens."
Creio no Espírito Santo
Ao se referir ao Espírito Santo, não há no Credo um aprofundamento maior. Realmente, na atualidade é que se tem voltado para as questões pneumáticas (relativas ao Espírito), mas era a Cristologia o que de fato preocupou a igreja nos primeiros séculos. Mas as expressões: "Na Santa Igreja de Cristo" e "ressurreição da carne" são extremamente relevantes.
A primeira frase visa reforçar a autoridade da Igreja, como guardiã das Escrituras e da Tradição Apostólica. Tertuliano afirma em seus escritos a prescrição da igreja, isto é, por muito tempo esta foi a possuidora das Escrituras e, portanto, é a única a ter o direito de tratar sobre esse tema. A própria ameaça das heresias acabou fortalecendo a posição da igreja como receptora do "depósito da fé". Com o tempo, a autoridade episcopal também foi reforçada, contribuindo até mesmo para se chegar a algumas das situações atuais da igreja com relação a isso.
A segunda colocação, referente à ressurreição do corpo, é uma resposta aos gnósticos e a Marcião. Ao professá-la, o fiel se comprometia a reconhecer a importância do corpo e das coisas físicas. A fé cristã não deveria manter-se num nível espiritualizante, mas afirmar como boa a criação de Deus. Os gnósticos, como já foi dito, tinham uma visão altamente negativa da matéria e a consideravam proscrita em relação à esperança de vida eterna. Diante disso, o Credo Apostólico afirma que a esperança cristã não se constitui algo meramente metafísico, mas engloba a totalidade da vida.
A relevância do Credo Apostólico para hoje
Através desse estudo pôde-se perceber como a evolução da fé está intrinsecamente ligada à história. Tudo o que acontece no mundo, de um modo ou de outro, altera a relação da Igreja com sua fé.
Certa vez, em uma sala de aula, um bispo metodista afirmou que a heresia pode ser considerada uma bênção, à medida em que obriga a própria igreja a definir sua fé de forma clara e precisa.
Essa foi uma das funções do Credo Apostólico. Através dele, a Igreja pôde (e ainda pode) definir-se frente a tantas controvérsias e afirmações pseudo-cristãs que, na verdade, buscam negar o firme fundamento deixado pelos apóstolos nas Escrituras do Novo Testamento, bem como a revelação de Deus dada desde o Antigo Testamento.
Ainda hoje, é preciso recorrer a esse suporte fundamental, pois nos dias atuais encontram-se em várias partes idéias gnósticas. O problema se torna ainda maior à medida em que tais coisas, camufladas sob uma forma cristã genuína, penetra nos segmentos cristãos e confundem pessoas desavisadas. O Credo é um chamado à fidelidade e por isso deve estar presente na vida, nos cultos e na fé dos afirmam a fé em Cristo.

Pra. Hideíde Brito Torres

O povo do coração aquecido

“O justo viverá pela fé” (Romanos 1:17, Habacuque 2:4, Gálatas 3:11, Hebreus 10.38) Uma experiência de mais de um dia John Wesley era um jov...