E cada instante que passa é um passo a menos e a mais,
Na direção do fim, frio, feroz, o fim de todos nós..." (João Alexandre)
Aquela noite que começou sem pretensões e entrou para a história foi uma noite de fumaça. Fumaça, símbolo do efêmero, sinal de comunicação, aviso de alerta. Fumaça tóxica, embriagante, aniquiladora. Fumaça que representou não apenas o fim da vida dos meninos e meninas de todos os lugares que ali estavam, meninos e meninas do Sul, nossos meninos e meninas... Fumaça que foi o fim da vida deles e dos sonhos, planos, projetos, aspirações de todos os pais e mães e familiares e amigos deste país.
Sim, porque ouvindo tanta gente que perdeu seus queridos, uma lição importante aprendi. Quando se perde um filho jovem, a gente perde o filho presente e o filho futuro. O que ele é e o que a gente sonhava que ele fosse... e a vida da gente precisa de sonhos constantes... Um filho morto é um sonho que não acaba, que fica em suspenso, que a gente não consegue achar o fim da história... Pais e mães que foram roubados dos seus sonhos e nunca mais dormirão da mesma forma... Sem os temores dos filhos lá longe, sem a segurança do filho cá perto, só essa ausência, doída, doida, sem fim.
Por isso mesmo, meu Deus! Vamos ter misericórdia! Não vamos nos colocar a explicar o que não tem explicação. A condenar os mortos, que nada mais sabem dessa vida... Como pode esse povo que diz servir a um Deus de amor ser tão rápido pra jogar a vida dos outros no inferno, a tecer loucuras teológicas, a se meter a entendidos do divino mistério?
Meninos foram roubados, meninas foram sequestradas à existência. Meninos e meninas... estavam vivendo o que a juventude pretensamente deve viver... Não deviam pagar com a vida por isso. É errado sempre, e injusto... A hora é de chorar, chorar, chorar... A hora é de indignar-se pelas condições equivocadas desta vida... De lamentar e de sofrer... De abraçar, de beijar, de manifestar amor e solidariedade...
Jesus mesmo disse que tragédias acontecem a todos e ninguém é melhor ou pior do que o outro... (Lc 13). Estamos sujeitos às perdas... e no meio delas somos todos humanos...
Vidas feitas fumaça numa noite qualquer... uma história pra não se esquecer, pra recontar, pra evitar... Eu peço é que o tempo passe, com seu bálsamo remediador, pra tirar a urgência da dor e abrir espaço para aquele momento mais terno das lembranças que consolam, que confortam... pra recordar, olhando as fotos e, em meio às lágrimas, de repente a gente rindo, rindo de doer a barriga, uma frase engraçada, uma peraltice da infância, uma arte, um poema escrito com letra de criança numa folha de papel... E depois o silêncio de novo, o suspiro, o erguer dos olhos para ver aqueles que continuam vivos e também esperam amor, alegria, novas razões pra sorrir...
Parabens pelo texto. Acho que o momento é de reflexão, oração e de palavras de conforto aos parentes e amigos desses jovens maravilhosos e tão cheios de vida que se foram!!!! Abraços pastora (Thiago e Alessandra)
ResponderExcluirSaudades de vocês! Que tudo vá bem!
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